NUNCA MAIS
Alberto Bittencourt
A vida é feita de de encontros e de separações.
Em cada encontro a
paz, a alegria.
Em cada separação a
tristeza a dor.
Separações costumam
causar grandes vazios.
Assim é, também, no
reino animal. Vez por outra recebemos pela internet imagens de passarinhos,
cães, macacos e outros bichos em manifestação de sofrimento pela perda de um
semelhante. Qualquer filhote, desprovido da mãe se queda triste, abatido, capaz
de morrer.
Como eles nós,
mamíferos sociais, somos extremamente sensíveis à separação dos entes queridos.
A dor de uma separação pode ser até mesmo maior que a dor do sofrimento físico.
As separações fazem
parte da vida. São inevitáveis. Tanto as grandes separações, definitivas, como
a morte, o divórcio, quanto as menores, temporárias ou não, como deixar um
trabalho, os amigos, enviar as crianças para um período de férias. Todas trazem
o sentimento da perda, podem ser mais ou menos traumáticas.
Resilientes são os que
superam a dor de uma grande perda, um grande trauma, o vazio de uma separação
definitiva e retomam a vida normal e produtiva. Os resilientes aprenderam, de
uma forma ou de outra, a dizer adeus. A superar o desconsolo dessas duas
palavras: _Nunca mais.
Alguns procuram
disfarçar, se mascaram de falsos sentimentos do tipo: _não gosto de despedidas. _Ora,
ora, não vamos fazer melodramas.
Muitos buscam amparo nos braços da fé.
Outros fingem, como o
poeta Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras
sente.
Há
os que extravasam na arte, na poesia, na música, de várias formas.
Há os que engolem
seco, se fecham na introspecção, na solidão interior.
Talvez os mais corajosos
sejam os que se debulham em lágrimas, choram, sem ter palavras para expressar a
tristeza que lhes vai n’alma.
Na separação de um
ente querido, não ficar triste é que seria realmente triste. Significa que nada
de importante se viveu junto.
No "Pequeno Príncipe"
a raposa encontra um novo sentido na cor dos campos de trigo, quando ela
percebe a semelhança com os cachos dourados dos cabelos do menino que se
tornara seu amigo.
Saint Exupéry descreve
a separação:
– Ah! Disse a raposa, eu vou chorar.
_ A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te
fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
– Quis , disse a raposa.
– Agora tu vais perder, disse o principezinho. E vais
chorar.
– Vou, disse a raposa.
– Então não sais lucrando nada!
– Eu lucro, disse a raposa. Eu tenho a cor dos
campos de trigo.
Como nos mostrou a
raposa, existe uma maneira de se dizer adeus. Não é apenas expressando a
tristeza, mas cultivando o que se guarda do outro. É uma maneira simples de
mostrar que a relação é mais forte que o tempo e o espaço.
Um poeta definiu: saudade é tudo aquilo que fica de alguém que
já se foi.
Nunca mais. No adeus
do poeta, ao sentir que seu amor continua a animá-lo interiormente, ele procura
o sentimento que preenche o vazio dessas duas palavras:
Estarei sempre triste com a tua ausência, mas, ao sentir a
tua falta, direi para consolo de cada dia: _Eu te amo.
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