ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal
ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal
Mostrando postagens com marcador Sociologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sociologia. Mostrar todas as postagens

domingo, 5 de maio de 2019

NOVA BANDEIRA PARA O ROTARY


NOVA BANDEIRA PARA O ROTARY
Alberto Bittencourt – agosto de 2007


Erradicar a pobreza extrema é prioridade do milênio.



Dom Helder Câmara, saudoso arcebispo de Olinda e Recife, nosso maior arauto da paz, disse certa vez: "A pobreza, nós podemos aceitar, pois nela, as famílias têm o mínimo, o essencial. Porém, de forma alguma podemos aceitar a miséria, pois nela falta tudo até mesmo o essencial".
A OMS - Organização Mundial de Saúde classificou a pobreza extrema, ou miséria como sendo o mais grave e disseminado flagelo do planeta Terra. Junto com ela advêm a fome, a doença e a violência.
O programa das Nações Unidas para o terceiro milênio fixou como objetivo prioritário, a erradicação da miséria do mundo, como sendo um imperativo de ordem social, ético, político e econômico.
A pobreza extrema, atinge diretamente mais de um bilhão de seres humanos no mundo, o que afeta, de um jeito ou de outro, a vida dos restantes cinco bilhões de pessoas.
Um dos maiores males dos tempos modernos é a concentração da riqueza nas mãos de alguns países, de algumas empresas multinacionais, ou de algumas pessoas. O chamado G-8, grupo dos oito países mais ricos do mundo, consome a quase totalidade dos recursos energéticos do mundo.
No Brasil, quase um terço da população vive abaixo da linha da pobreza. Habitam principalmente em comunidades nos morros ou periferias das grandes cidades, denominadas favelas. A conseqüência é a violência urbana incontrolável, que extravasa para todos os lados.
A pobreza extrema, tanto quanto a guerra, é incompatível com o ideal rotário de Paz Universal. Nada mais natural que o Rotary assuma a liderança mundial de lutar pela sua erradicação da face da Terra.
Combater a pobreza, bem o sabemos, é:
  • lutar por oferecer melhores condições de moradia,
  • melhor acesso aos cuidados médicos.
  • lutar pelo desaparecimento da fome.
  • lutar para fazer baixar a taxa de mortalidade infantil,
  • para prolongar a vida em condições as mais dignas possíveis.
  • É dar conhecimento e educação de qualidade a todos, indistintamente.
Devemos combater a pobreza extrema em duas frentes:
  • lutando contra seus efeitos, com ações pontuais de minoração do sofrimento, de assistência, de ajuda às pessoas, comunidades e instituições beneficentes.
  • confrontando as suas origens e causas, entre elas a falta de uma educação social voltada para uma cultura da paz, para uma melhoria nas relações inter-pessoais, para o convívio harmonioso, respeitando os valores humanos e espirituais.
O ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, disse textualmente em palestra num seminário rotário: "o  grande problema do pobre não é ele ser pobre. É o amigo dele ser pobre. O pobre não tem um amigo que fale com quem decide. Ele não tem amigo que marque uma audiência, que lhe ajude a fazer um projeto, que o ajude a tirar um financiamento. Se não corrigirmos isso, concluiu Jatene, será muito difícil buscarmos o equilíbrio social".
Penso que a causa da injustiça social é a ausência de contra poder. O pobre não tem contra poder. Não se organiza para reclamar, reivindicar, pressionar contra a má gestão do ensino, os esgotos a céu aberto, o atendimento médico caótico... Aí está a origem dos abusos, das violências, das explorações econômicas, sociais e políticas. A ausência de contra poder é que o faz aceitar passivamente o poder paralelo de traficantes e criminosos, numa espécie de revolta muda dos oprimidos, na guerra social urbana que atinge a todos, sem distinções.
A pobreza material sobre a face da Terra é fruto das escolhas, das incoerências e das atitudes tomadas pelos homens e pelos Estados. Pode ser a miséria gritante, soberana, massiva, visível como as de certos países da África  subsaariana, como pode ser a miséria mais escondida, não menos vergonhosa, como a disseminada no Brasil e outras nações,  ou pode ser a miséria aleatória, mas sempre presente, nas calamidades como a seca, nos conflitos armados entre os refugiados, nos movimentos migratórios dos povos, nas epidemias.
No Brasil, uma política macroeconômica, exclusivamente monetarista, refém do chamado "mercado financeiro", em lugar de fortalecer a geração de empregos, desenvolver a infraestrutura, provocou o alargamento da miséria e o empobrecimento da classe média.
A consequência é que as classes mais favorecidas vão ficando cada vez mais isoladas, cada vez mais egocêntricas, cada vez mais exclusivistas. Dissemina-se um outro tipo de pobreza, como uma epidemia -  a pobreza relacional endêmica -  com todas as suas consequências: a desertificação das relações de convivência, de solidariedade, de proximidade. Pobreza das trocas conjugais, familiares, sociais, que se expressa pelos conflitos, pela violência, pelo mal estar, até mesmo pela violência contra si próprio.
É dever dos rotarianos combater a pobreza material e a pobreza relacional. Ambas constituem a doença a mais grave hoje existente em nosso planeta. Elas ameaçam não apenas a existência de muitos, mas, a longo prazo a própria dinâmica da vida que deveria estar sempre crescendo, a serviço da humanidade. Esta poderia muito bem, ser a nova bandeira do Rotary.

xxxx

COMENTÁRIO 5

E-MAIL DO GOVERNADOR DIRCEU LUIZ SCHMITT (99-2000) DO D-
4670, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
 Boa tarde Cidinha

NOVA BANDEIRA PARA O ROTARY.
Sob o título acima, o EGD. Alberto Bittencourt , defende a tese de que
o Rotary deve se posicionar e trabalhar em favor dos excluidos, aqui
entendido no seu mais alto significado, ou seja; em favor das
pessoas situadas na linha da Miséria existencial.
O EGD. Barata, contraditou e, até aqui, mais dois companheiros se
manifestaram; uma contra a maneira do manifestado pelo comp.
Barata e outra de um rotariano em seu favor.
É um embate muito interessante, que, todavia,não abordam o cerne
sobre a problemática MISERIA.
Em vão serão nossos esforços e das demais ONGs e Entidades
governamentais, se não existir um PLANEJAMENTO FAMILIAR
efetivo, com a busca do sucesso nesta empreitada.
É duro dizer, mas proponho que se faça a seguinte análise, que nos
foi transmitida por um engenheiro, em palestra na última
Conferência do nosso Distrito 4670: se pudéssemos promover a
INCLUSÃO total de todos os hoje Excluídos, seria bem possível que
faltariam recursos naturais para suportar tamanho aumento do
consumo global e, ainda, que, provavelmente o aquecimento Global
seria sinistro. ´´E duro pensar assim, mas é uma realidade.
Há que se considerar, ainda, que no Brasil, a maioria dos Estados se
ressentem de recursos financeiros para possibilitar a prestação de
Segurança, Saúde e educação. Aqui no Rio Grande do Sul, estamos
próximos do cáos.
Companheiros Rotarianos, proponho que façamos uma grande
reflexão sobre esta questão. Se for possível se implementar uma
ação efetiva e forte, nos mesmos termos da nossa Campanha contra
a Polio, quem sabe dentro de 10 a 15 a


COMENTÁRIO 4

Prezado Gov. Barata....

Bom dia...

Tbm sou rotariano, não sou EGD...fui presidente do meu clube ano 2001-02  RC SP CENTENÁRIO - SP Capital, e é exatamente como o Companheiro se expressou é  tbm o meu sentimento, e sempre que posso falo exatamente o mesmo  pensamento...precisamos focar num objetivo e se é a FOME...que atacamos  ela...pq sem fome poderemos pensar e pensar no que queremos, desejamos  e  como vamos atuar...agora com o estômago vazio...fica difícil. 

Quero deixar meus PARABÉNS ao Companheiro pela coragem de externar  seus  sentimento coisa que estou sentindo falta aos nossos dirigentes e  companheiros de modo geral. 

Abraço

João Bosco Leite 

RSP-CENTENARIO

DIST. 4420

TEL. 11- 50940825

---------------------------------------

COMENTÁRIO 2

From: EMANUEL BARATA
To: Dirceu Luiz Schmitt
Sent: Thursday, August 09, 2007 7:39 PM
Subject: [Via RS MAX: SPAM] NOVA BANDEIRA PARA O ROTARY
Concordamos com os erros de português, mas temos a certeza de que tais
desvios não levaram ao incorreto, de novo, entendimento, do que seja o
problema. A agressividade do texto está somente na percepção de quem o lê.
O texto é forte, isso sim, quer apresentar-se com o impacto necessário e não
como mais uma opinião que a nada leva. Não há assuntos no meio rotário, ou
do país, onde o santo seja de barro. Aliás, como a designação de santo é
genérica vai em minúscula e se refere especificamente a qualquer um dos
nomeados e não vamos, por isso, deixar de entender.
A resposta veio, e terminará aqui, por que o texto foi forte contra a forma de
enfocar a fome. Precisamos fazer valer a postura de correr com o andor e
quebrar o santo de barro que há muito vem permitindo com que andemos
pelo caminho errado, enganando-nos. Não há agressividade caros rotarianos,
há força, garra, vontade de luta, disposição, muita coisa a ser feita,
principalmente contra os deixa disso, verdadeiro furúnculo nacional. A forma
de um gaúcho se expressar é sempre vista como de faca em punho. Eu até
que sou muito modesto neste particular. Algumas vezes a irritação e coragem
de fazer mais e mais põe-me no pedestal hora colocado. Mais garra e luta é o
que queremos. Mas, cá entre nós, para atacar a fome é preciso ir pela fome
ou pelo caminho indireto proposto pelo texto?
O alerta sobre os desvios de enfoque que todos temos está dado. Uma boa
leitura. Somos EGD portanto pacíficos, ordeiros, mas como um brasileiro,
gaúcho, cheio de vontade, também com muita força nas expressões. Recebi
um comentário de um rotariano que se admirou da posição conformada de D.
Helder em aceitar a pobreza. Talvez esta visão tenha nos tornado caolhos
para a realidade da fome. Precisamos de algo de grande impacto. Basta de
mesmice. Esta expressão aparenta agressividade, sem a ter. Um abraço afetuoso, e como diria o Nelson Rodrigues "toda unanimidade é burra",
apreciamos o comentário, tenho certeza de que essa rotariana não está
adormecida como muitos de nós. Obrigado cara Regina Célia, você foi
especial.
Abraços
EGD Emanuel Barata
Governador do Centenário do D-4670
RC Canoas-Industrial
eebarata@cpovo.net
-------------------------------------------------------------


COMENTÁRIO 3

From: Regina Krogh
To: 'Cidinha do Rotary'
Cc: eebarata@cpovo.net
Sent: Wednesday, August 08, 2007 12:16 PM
Subject: RES: EGD Barata: comentário artigo NOVA BANDEIRA PARA O
ROTARY
Prezada companheira Cidinha:
Li o artigo do EGD Barata e fiquei espantada com tanta agressividade. Sei que vivemos em uma democracia onde podemos nos manifestar quando não concordamos com determinados assuntos, mas "devagar com o andor que o Santo é de barro".  
E mais ainda: O EGD deveria cuidar melhor do seu português , por exemplo –
faltou o r no verbo prover; intenção se escreve com ç e não s como ele
fez e a palavra certa é discernimento e não dissernimento como
aponta o texto.
Como rotariana e vivendo num regime democrático achei-me no direito de,
também , fazer o meu protesto.
Regina Célia Monteiro Krogh
Presidente do RC São Luís 2007/2008 


COMENTÁRIO 1

Prezados Companheiros Rotarianos,
Encaminho, para Conhecimento e Divulgação, comentário do
Governador do Centenário Emanuel Barata, D-4670 (Estado do
Rio Grande do Sul) ao artigo publicado pelo Governador do
Centenário Alberto Bittencourt, D-4500, RC Recife-Boa-Viagem,
Estado de Pernambuco.
Saudações Rotárias,


Amiga e Companheira Cidinha ,
Em referênca ao artigo do meu amigo e companheiro de ano de
governadoria, o Governador do Centenário Alberto Bittencourt,
concordo com partes.
Detesto a parte que aponta soluções via melhoria da saúde, da
educação, ou qualquer desta lista a seguir, retirado do texto.
* lutar por oferecer melhores condições de moradia,
* melhor acesso aos cuidados médicos.
* lutar pelo desaparecimento da fome.
* lutar para fazer baixar a taxa de mortalidade infantil,
* para prolongar a vida em condições as mais dignas possíveis.
* É dar conhecimento e educação de qualidade a todos,
indistintamente.
Acabar com a fome é prove renda condizente à comunidade através da
geração de trabalho e renda. O resto é atacar coisas importantes mas
que não reduzem a fome. Alguém que sabe o que está dizendo
afirmaria que se o povo tiver educação o problema da fome está
resolvido? Não sejamos bobos, educação significa qualificação que
significa melhor remuneração e nada tem a ver com o que estamos
falando. São duas realidades distintas existentes nas mesmas
comunidades. Dizer que com melhor saúde teremos menos fome é
exatamente o contrário doque é a realidade, com menos fome teremos
mais saúde, e não vice-versa.
De discursos politiqueiros, deturpados na realidade, não por má
intensão, tenho certeza de que estes pensadores são honestos.
Também tenho certeza de parcialidade e pequeno dissernimento, ou
por outro lado muita poesia, em suas observações. Chega de enrolação,
se quizermos falar de acabar com a fome, famos acabar com ela e não
nos desviarmos para outras áreas onde temos interesse de realizar. Ou
então desviamos para não termos solução, não é? 

Abraços
EGD Emanuel Barata
Governador do Centenário do D-4670
RC Canoas-Industrial
eebarata@cpovo.net</span 

domingo, 12 de agosto de 2018

COLO PATERNO











COLO PATERNO

Alberto Bittencourt
(baseado em fato real)





Todos os dias Patrícia chega em casa ao cair da noite. Larga a bolsa num canto, chuta os sapatos, deixa o casaco de lado e, apressada, vai direto para o quarto da filha. Evita fazer ruído para não acordá-la. 


Na casinha do Ibura, bairro popular do Recife, moram avó, filha e neta. O espaço, embora pequeno, é limpo e higiênico. Tem dois quartos, banheiro sem porta, isolado por cortina. A sala serve também de cozinha. O piso é de cimento desgastado, no teto se vê a telha vã e nas paredes o tijolo nu. 

Patrícia trabalha o dia inteiro como guardete numa estação do metrô. Consciente de suas responsabilidades, nunca afrouxa a vigilância. Ajuda, orienta, intervém quando há conflito, procura manter a ordem, com energia se faz respeitar. Depois, pena duas horas de ônibus até chegar em casa.

Nesta semana de agosto, a proximidade do dia dos pais lhe traz certa amargura, como um aperto no peito. A menina Sarinha, de sete anos, não sabe o que é ter pai. Nunca teve, nem mesmo chegou a conhecer o que lhe deu a vida. 

Patrícia não consegue controlar as lágrimas, chora sempre ao se lembrar daquele domingo, quando Sarinha, então com apenas dois anos, veio correndo em sua direção, a chamá-la ansiosa: 

Mamãe! Mamãe! 
O bracinho estendido trazia na mão uma nota amarfanhada de dois reais.
Toma, mamãe. Compra um pai pra mim.

O olhar suplicante refletia aflição de algo muito desejado. A princípio, Patrícia, cansada do dia estafante, não percebeu. 
O que é isso minha filha, já devia estar dormindo. 
Em seguida, ao se dar conta, abraçou a filha aos prantos. Pensou:
Como pode ter tanta sensibilidade? 

Aquele pingo de gente, os cabelos pretos e lisos, a tez de uma alvura imaculada, as feições delicadas e meigas, resistia ao sono, à espera da mãe. 

Não queria roupas, nem bonecas, nem brinquedos de qualquer espécie. Queria o bem mais precioso, de que, na tenra idade, já sentia imensa falta. Alguém que ela pudesse tocar, beijar, entregar-se, ser levantada e aparada. Queria sentir-se segura no aconchego do colo paterno. O dinheiro, encontrado num canto qualquer, era uma esperança. 

Toma, mamãe. Compra um pai pra mim!

Na inocência de seus dois aninhos, Sarinha talvez não compreendesse o real significado de ter pai. Muito mais do que a simples presença física masculina, o que ela queria era um colo para deitar a cabeça e dormir, uma mão para segurar e passear, um porto seguro para recolher seu pranto, um Céu verdadeiro onde pudesse receber carinho, afago. 

Hoje, Sarinha, aos sete anos pergunta pelo pai que nunca teve. 
Ele foi embora, filhinha. 
Ele não gosta da gente?
Gosta sim, mas ele mora muito longe. Não dá para nos visitar.
Escreve pra ele, mamãe. Telefona.

Sarinha é fruto do primeiro relacionamento de Patrícia, ainda adolescente. Muito jovem, imatura, a gravidez chegou precoce, inesperada. Caiu como uma bomba. Foi criada pela avó. 

Desde então, Patrícia só teve relacionamentos fugazes, amores fugidios. No momento, está namorando o supervisor da empresa em que trabalha. Ele é jovem, educado, solteiro. Parece sincero ao declarar seu amor pelas duas, mãe e filha. 


Patrícia ora a Deus:

Perdão, Senhor! Que posso eu pedir?
Lança suas bênçãos misericordiosas sobre nós.
Que minha filha não seja órfã de pai vivo,
Dai-lhe o verdadeiro Céu do Teu carinho
Que fulge entre os lábios de quem canta:
Filhinha dorme, dorme filhinha!








quinta-feira, 2 de agosto de 2018

CLANDESTINOS



CLANDESTINOS
Alberto Bittencourt - 2009





Recebi, pela Internet, impressionante e bem elaborado PPS sobre o tema "clandestinos".

O assunto levou-me à reflexão sobre os 74 milhões de clandestinos do mundo, conforme estatística do Banco Mundial. No fundo são todos refugiados de alguma situação, pessoas que largam sua terra natal, sua família, suas raízes. Deixam tudo por uma nova vida, num outro país, onde possam realizar os sonhos e adquirir um lugar ao sol. Muitos tentam a aventura na intenção de fazer o sonhado pé-de-meia, para depois voltar e trazer melhores condições de vida à família. Mesmo submetendo-se a salários baixos, os emigrantes conseguem poupar. Enviam vultosas quantias, cerca de 70 bilhões de dólares anuais a familiares e parentes nos países de origem.

Todos perderam a esperança de um futuro melhor na terra em que nasceram.

Uns são refugiados políticos, perseguidos pela facção que detém o poder em seu país. Outros são tangidos pela pobreza, caso dos africanos de algumas áreas pobres daquele imenso continente.

Muitos brasileiros procuram o tão propalado sonho erqedzzw 
Há muitos jovens brasileiros clandestinos, nos Estados Unidos, Canadá, Europa. Eles não podem voltar ao Brasil, pois sabem que as autoridades de migração do país em que estão não lhes permitiriam o reingresso.


O que leva esses jovens brasileiros a tentarem a vida no exterior, mesmo se arriscando, na condição de clandestinos? Creio que tal fato evidencia uma distorção: a falta de oportunidades de trabalho no Brasil. O sonho dos jovens ou é passar num concurso público ou é sair do país, mesmo na condição de clandestino. 


E as mulheres que emigram para serem, exploradas, prostituídas, vilipendiadas no mercado de escravas brancas que as leva para a Europa? Muitas conseguem chegar aonde jamais chegariam se por aqui ficassem. Deixam a casa, os filhos, e vão para o futuro incerto, sem saber se um dia voltarão. Têm a esperança de casar, de obter a cidadania, um trabalho honesto, o que nem sempre é possível. Sofrem violência sem tamanho. Outras são levadas às drogas à destruição. Quando podem, regressam, trazendo dinheiro, melhorias para a família. Constroem casa, dão presentes para a mãe, para os filhos que aqui ficaram. Depois, partem novamente, na incerteza. É um misto de coragem, sonhos, loucura, mas, sobretudo de esperança numa vida melhor.


Será que eles têm algum direito, os clandestinos? Entre os direitos do homem, que todo o mundo reverencia, os direitos do cidadão são os mais importantes. Será que os clandestinos possuem algum direito de cidadão no país em que vivem, na periferia obscura dos que oficialmente não existem? Talvez a questão seja mais de ordem moral do que política.


Os países do hemisfério norte, alvo principal das migrações, adotaram medidas de maior controle e procuram fechar as fronteiras na medida em que sua população envelhece e os órgãos de previdência social enfrentam problemas financeiros.

O debate se acendeu desde quando o presidente francês Nicolau Sarcozy manifestou a intenção de endurecer com todos os imigrantes clandestinos. A esquerda se dividiu entre a moral e a política. 

O estrangeiro clandestino não é considerado cidadão do ponto de vista moral.

Mas o estado de direito significa que os cidadãos não se encontram indefesos ante os abusos do aparato estatal. Ninguém contesta que os imigrantes, mesmo clandestinos devam se beneficiar integralmente dos direitos do homem. Somente os xenófobos pensam o contrário. Eles têm direito, por exemple, à saúde, à segurança, à educação. Mas, por outro lado, eles não têm o direito de votar nas eleições nacionais já que não são cidadãos do país em que vivem. São ainda passíveis de serem expulsos ou deportados para o país de origem, o que os torna particularmente frágeis e bode expiatório ideal. 

É claro que o estrangeiro é obrigado a respeitar as leis do país em que escolheu para viver. Mas ele não está obrigado a ir à guerra, nem a defender esse país caso ele seja atacado.

A moral, que se define com o jargão moderno do politicamente correto, tende a transigir, a esquecer, a fingir que o problema dos clandestinos não existe. É a tolerância até que, por qualquer motivo, eles infrinjam a lei. Então são presos e expulsos. É como os Estados Unidos procedem com os milhões de clandestinos que vivem na terra acolhedora do Tio Sam. Embora o rigor tenha aumentado para impedir as migrações clandestinas, na fronteira com o México, nas concessões de visto e nos aeroportos, eles têm a tendência a tolerar os clandestinos que cumprem seus deveres de cidadão.

"O meu sonho, como rotariano, é que todos os que hoje são clandestinos, sejam um dia cidadãos plenos do país em que vivem. Que não existam fronteiras nem barreiras nem muros entre as nações, que todos possam ser livres e viver como irmãos." É o sonho que Paul Harris descreveu em "Esta Era Rotária", 1935.


VEJA O POWER POINT "CLANDESTINO" 
(Manu Chao)



Clandestino from Manu Chao



x-x-x-x-x-Xero 

sábado, 28 de julho de 2018

SOCIEDADE SITIADA






SOCIEDADE SITIADA
Alberto Bittencourt – fev 2007


"A segregação não resolve coisa alguma. Se houver em qualquer comunidade uma discórdia, seja ela racial ou religiosa, o modo mais radical de fomentá-la está na fórmula:
_Conservem-se vocês do seu lado e nós nos conservaremos do nosso. Nossa comunidade é anglo-saxônica e nos pertence. Queremos conservá-la assim. Viveremos ao leste, vivam vocês ao oeste. Construam igrejas, façam tudo, contanto que nos deixem em paz."
Oitenta anos depois de haver escrito estas palavras em ESTA ERA ROTÁRIA, (1935), constatamos que Paul Harris tinha razão.
O que encontramos nas grandes cidades de hoje? Uma sociedade dividida, excludente, segregadora, mergulhada em conflitos. De um lado, nos bairros nobres, a classe média, rica e remediada. Do outro lado, na periferia, habita a miséria, o tráfico, o crime, a lei do cão.
"Conservem-se vocês do seu lado e nós nos conservaremos do nosso", parece ser o lema vigente.
Entre condomínios blindados, paredões de 3 a 6 metros de altura, seteiras, guaritas, cercas eletrificadas, cães, circuitos fechados de televisão, seguranças eletrônicas, se esgueiram em passeios estreitos sujos, esburacados, as ameaças potenciais: esses pedestres da periferia, uma multidão de carentes de tudo, até mesmo do essencial.
Uns se defendem como podem: procuram se fechar em si mesmos, em shopping centers, ou até nos cordões de isolamento dos trios elétricos, nesses ambientes em que só se encontram os iguais. Não há interação, nem trocas de experiências, o que existe é a negação do outro que não tem a mesma renda, a mesma instrução. Qual o produto? Violência.
A violência no desfile do bloco Balança Rolha, ocorrida em Boa Viagem, Recife, domingo, dia 04-02-2007, estampada nos jornais do Brasil e do mundo, é apenas um reflexo dessa sociedade excludente em que vivemos.
De um lado, cinco mil foliões tiveram condições de comprar um abadá, pensando: "fiquemos nós protegidos pelos seguranças, dentro dos cordões de isolamento e fiquem os quinhentos mil da periferia do lado de fora. Vivam vocês do seu lado e nós viveremos do nosso. Vocês podem fazer tudo, contanto que nos deixem em paz".
O que se viu na avenida Boa Viagem foi a invasão do bloco. Garrafas de cerveja, muitas com água, voando pelo espaço. Policiais despreparados, em número insuficiente, gente armada, socos, pontapés, gente enfurecida a se agredir mutuamente, a agredir os seguranças, arrastões, cabeças quebradas, tiros, morte.
A periferia mostrou que queria e podia ocupar o lugar dos ricos. Como não tinha dinheiro, o fez através da violência.
O Balança Rolha trouxe o jovem da periferia feito bicho, em fúria, desfigurado pelo recalque, a extravasar revolta. Mostrou uma sociedade sitiada, alienada, aflita, incapaz de se mobilizar.
A segregação não é uma marca das cidades, mas uma marca brasileira. Como disse Paul Harris, não resolve coisa alguma.