ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

ASSOCIATION ENFANTS DU BRÉSIL

 

ASSOCIATION ENFANTS DU BRÉSIL

Alberto Bittencourt -  ago 2006

 

Os suíços estão de volta. MONIQUE JOLY, presidente da Association Enfants du Brésil. Sediada em Neuchatel Suíça. LISA WUILLEMIN: tesoureira. WERNER KELLER, intérprete e CASSANDRE, jovem neta de Monique, chegaram há uma semana, decorridos dois anos de sua última viagem ao Brasil. Em todo esse tempo nunca se descuidaram das nossas crianças, com a mesma preocupação sempre de ajudar, de melhorar a qualidade de vida de seus filhos adotivos brasileiros.

A Associação Enfants du Brésil formada pelos pais adotivos de crianças brasileiras foi constituída num tempo em que adoções internacionais eram viáveis. Aí está um grande argumento contra aqueles que impedem ou dificultam essas adoções internacionais (nunca se provou nada quanto à denúncia de tráfico de órgãos).  Como se isso não bastasse, os pais adotivos na Europa ainda se preocupam em estender esse benefício às crianças que aqui ficaram que não tiveram a mesma oportunidade de seus filhos. Sou testemunha do quanto eles têm ajudado a creches, orfanatos, instituições e de uma coisa inconcebível para a nossa cultura: eles sempre os pais biológicos de seus filhos para dar alguma ajuda, para atender às suas necessidades imediatas.

Há um sem número de menores por eles apadrinhados, para cujas famílias eles remetem periodicamente certa quantia destinada a ajudar na educação, na saúde, na alimentação e no vestiário, em Pernambuco e na Paraíba.

Quando de sua última estada em nosso país, há 2 anos, conheceram Jaqueline, numa visita à favela do Bode, no Pina, conduzido pelas irmãs do Patronato N. Srª da Conceição, Jaqueline então com nove anos, foi-lhe apresentada como sendo uma pequena prostituta das ruas, juntamente com outras menores um pouco mais velhas. Que indignação! Que emoção! Uma verdadeira comoção tomou conta daquelas almas bondosas que se preocupam com o próximo, que amam sem restrições, incondicionalmente. Tiraram fotos, um boletim da Association foi dedicado à Jaqueline, artigos, cartas e mais cartas insistiam que o Patronato N. Sr.ª da Conceição a acolhesse, a tirasse das ruas. As irmãs que de início diziam que a família dela é que não permitia, terminaram por aceitá-la. Filha de pais separados, a mãe prostituta, o pai drogado, ex-presidiário, traficante, vivendo em extrema pobreza, Jaqueline, apadrinhada pela Association Enfants du Brésil, recebe através das irmãs certa importância em dinheiro para custear suas necessidades básicas, o que lhe possibilita estudar em escola particular, ter um plano de saúde, material escolar e roupas. Em apenas seis meses aprendeu a ler e a escrever. Dotada de uma inteligência privilegiada, uma vivacidade incomum, de um olhar esperto e matreiro, líder mesmo entre crianças mais velhas, Jaqueline começou a fazer progressos notáveis. Muito esperta, gosta de causar inveja nas outras crianças, dizendo que um dia vai para Europa, para a casa dos seus padrinhos, o que cria certo problema para as irmãs.

Mas, Monique Joly trouxe uma contribuição para a Instituição, resolveu também ajudar as demais crianças, a critério das irmãs, entregando-lhes substancial quantia.

Em seguida, fizeram questão de voltar à favela do Bode. Com dificuldade se equilibraram andando em tábuas velhas, mal pregadas, quase soltas, sobre palafitas na maré. Passaram por estreitos labirintos, apelidados “avenidas”, espremidos entre fétidos barracos. Entravam nos barracos, falavam com as pessoas, se indignaram que passados dois anos, desde a última vez que aqui estiveram nada, absolutamente nada foi feito para amenizar aquele quadro. Pelo contrário, a situação piorou e muito. O lixo se acumula sob as casas, por entre as palafitas, numa quantidade impressionante, nunca houve, por menor que fosse um serviço de limpeza, de remoção. Os esgotos são vertidos diretamente, “in natura” na maré. Só não grassa uma epidemia por verdadeiro milagre. Viram homens em pleno vigor físico na maior ociosidade, embriagados ou se embriagando pelas esquinas, uma tristeza. As irmãs foram o nosso passaporte. “Na paz de Deus” uma espécie de senha para obter o salvo conduto, poder ali andar com segurança.

A que ponto chegou o nosso querido Brasil. Enquanto isso, nós, classe média, ricos e remediados, vivemos numa ilusão, como se nada disso existisse. Quantos de nós já penetraram no âmago de uma favela? Quantos já adentramos num barraco feito de restos de madeira? papelão e plástico, chão de terra batida ou de tábuas velhas, por sobre a maré? Quantos de nós sentimos o odor da sujeira, do lixo, da falta de higiene, da promiscuidade em que aquela gente vive? Quantos conhecemos essa realidade abandonada, escondida, esquecida do nosso Brasil? Só nos lembramos quando a violência penetra a soleira de nossas casas, golpeia nossas famílias, nessa guerra social não declarada.

É preciso que um grupo de suíços, vindo de longe, de um país rico, onde tudo já está construído, onde todos têm escolas, alimentos, saúde, chegue para abrir nosso olhos, para nos fazer conscientes das sombras, das trevas que existem em nossos próprios quintais.

O LAR DE CÁRITAS é outra instituição desde o início de sua existência assistida pela Association Enfants du Brésil, lá os suíços viram a fossa e o filtro anaeróbico construídos a a partir de sua ajuda financeira. Pediram que façamos um orçamento para a construção de um espaço para jogos e recreação e de um castelo d’água em concreto armado, se preocupam com a melhoria das salas de aula e outros detalhes. Há algum tempo pagam o salário da enfermeira NANCY, contratada para cuidar dos bebês e das crianças. Dão o mesmo suporte para outras instituições da Paraíba que se ocupam em tirar os menores da rua e a lhes dar alguma iniciação profissionalizante.

Que nos sirva de exemplo o espírito altruístico de compaixão e solidariedade humana destes senhores que vêm de outra cultura, movidos unicamente pela força do amor, trazendo o que há de melhor em si, em prol de um Brasil mais humano, mais justo. Enquanto houver uma só criança necessitada, sem amor, eles estarão presentes, sem jamais esmorecer, mesmo tendo sofrido alguns revezes, o que lhes causou enorme decepção. Foi o caso de uma senhora no Janga, em Paulista, depositária de sua confiança que se apoderou do dinheiro, de cerca de quinze mil reais, destinados a famílias carentes. Foi o caso do Lar de Cáritas Bom Pastor, em João Pessoa, que teve suas contas bancárias arrestadas pela justiça para pagamento de dívidas, levando treze mil reais que a Association enviara para benefício das crianças, foi o caso do container enviado da Suíça com 20m3 e 6 toneladas de doações, contendo material escolar, roupas, material médico hospitalar, máquinas de costura, brinquedos, que levou dois anos para ser liberado pela alfândega só o sendo depois da intervenção do presidente da CNBB. Eles continuam ajudando com a mesma alegria, a mesma dedicação. Não podemos esquecer de JEAN PIERRE NAUDON E CLAUDY, que ficaram na Suíça, dois pilares dessa instituição humanitária.

Sejam bem-vindos nossos benfeitores que alegram o Brasil como segunda pátria, que amam nossa terra, nosso povo, nossas cidades, que se encantam com as belezas das nossas praias, do nosso clima, que se apaixonam pela riqueza da nossa cultura, que são cativos da amizade, do calor humano, do nosso povo, que amam nossa terra, nosso povo, que adoram nossa cultura, que são cativos da amizade, do calor humano, do nosso povo, que adotam nossas crianças. Muito obrigado, que Deus os abençoe.

Contem conosco.

 


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

O SENTIDO DA VIDA

O SENTIDO DA VIDA

Alberto Bittencourt - 07/10/2014



          



Jamais esquecerei uma cena que assisti no Lar de Cáritas há mais de dez anos. 
Eu trabalhava como voluntário, rotariano, na construção de novas instalações, quando uma mãe desesperada chegou com um bebê no colo. 
Todos ali já conheciam o drama que aquela mulher vivia há cerca de três meses. Foi num dia de chuva torrencial, em que a pequena favela situada na frente da creche ficou inundada pelas águas e pelos esgotos que corriam a céu aberto, in natura, nas chamadas valas negras. 



A CRECHE LAR DE CÁRITAS





A FAMÍLIA

















VALAS NEGRAS




A casa onde morava a familia










 
O barraco de vão único, chão de terra batida e paredes de plástico e restos de madeira, foi invadido pela água da chuva. O bebê, de apenas três meses, deitado no estrado que servia de cama, rolou e caiu naquela água infecta, putrefacta e mal cheirosa. Foi o suficiente para dar um gole. Escapou de morrer afogado, mas contraiu septicemia, uma infecção generalizada, que o deixou três meses internado numa UTI infantil.



O BEBÊ


Ele viera de ter alta, mas, malgrado todos os cuidados médicos e nutricionais, o estado geral não apresentava melhoras. O bebê continuava prostrado, sem vida, sem reação, sem emoção. A mãe ao que parecia, havia perdido as esperanças. Numa última tentativa, queria agora deixá-lo no Lar de Cáritas, onde poderia ser melhor cuidado. 
Foi entregue a uma enfermeira prática, de nome Nancy, humilde, magra, funcionária da creche, que cuidava das crianças como se filhos fossem.


A ENFERMEIRA NANCY











A mulher tomou o bebê nos braços, friccionou-o vivamente. Tenta fazê-lo rir, brinca com ele. Nada acontece. Com cuidado, apertou o corpinho quase inerte contra seu coração, enquanto lhe dizia palavras doces. Ela fica assim, longo tempo imobilizada, os olhos fechados. Uma força espantosa emana dela.

A seguir, lentamente, suas mãos começam a pegar o bebê. Sem preguiça, ela o massageia da cabeça aos pés, com uma mistura perfeitamente dosada de força e delicadeza. Ela senta a criança no seu colo, saltita com ela, como se fosse um cavalinho. Naquele momento, o ar grave do bebê, aos poucos, vai se anuviando.

Então, sob os nossos olhos, um milagre se produziu. O olhar da criança começou a clarear, a se encher de luz. O pequenino ser, que estava ausente, de repente se torna presente. E, docemente, um sorriso aparece, acompanhado de pequenos gritos de alegria, até se transformar numa cascata de risos. O bebê havia escolhido viver. Seu sorriso testemunhava que o amor é a única razão que dá verdadeiramente sentido a uma existência. 

CONCLUSÕES

Um bebê não pode crescer e se desenvolver sem laços afetivos, no sentido mais amplo do termo. Se ninguém o olha de modo especial, não o toca, nem se interessa por ele, ele morre. 

Os pobres não se questionam sobre o sentido da vida. Eles tentam, simplesmente sobreviver a cada dia, mas, o que os ajuda a viver, tanto quanto a alimentação, são os laços familiares, amigáveis, tribais, comunitários. 

O que dá sentido verdadeiramente à vida, sejam ricos ou sejam pobres, ontem, como hoje, aqui ou alhures, é o amor. A vida, só é viável, porque alguém, nem que tenha sido pelo menos uma vez, nos olhou com amor.


DANIELLE


DANIELLE com o pai, na creche LAR DE CÁRITAS


 DANIELLE, COM  A MÃE
.


A despeito dos cuidados praticados, não se conseguiu resgatar aquelas crianças. Elas cresceram no mundo de violência, de miséria, na rua. Danielle, ao completar quatorze anos, morreu na Av. Conselheiro Aguiar, no bairro de Boa Viagem, no Recife, numa briga de gangues, atingida por uma pedrada, desferida por eles mesmos. 




O SENTIDO DA VIDA.

Comentários de José Bezerra de Moura , fundador do RC de Presidente Prudente Alvorada.

Prezado Companheiro de Rotary Alberto Bittencourt, inteligente Rotariano Servindo ao RI.

Li e absorvi com imenso prazer a história que trouxeste a lume, tua vida em comunidade e o teu verdadeiro projeto humanitário em prol do Brasil. Parabéns pelo formato desenvolvido ao longo do tempo e o desejo para que não se perca ou se extravie nessa prodigiosa e louvável caminhada rotária.

0 Brasil  e o seu Povo Livre do Socialista e do Comunismo maroto, acima de tudo, fazendo chegar a cada recanto por onde passas, a tua palavra abalizada, gentil, lúcida e democrática, mostrando, sem medo e fértil autoridade civil, o verdadeiro desencanto político, econômico, moral, ético e cívico que os detratores e esquerdistas de plantão, nocivamente  levaram o país para o lamaçal fedido e abjeto em que se encontra sem saída. Seja porta voz da recuperação e tiragem do país do fosso da improbidade e corrupção desenfreada no território nacional.


Pertinho de ti, Bittencourt, veja o que ocorreu no Executivo e Legislativo da cidade de Cabedelo, na Paraíba, trazida a lume pelo Fantástico da Globo, na noite de ontem, 8 de abril de 2018. A imagem pública e privada do Brasil , interna e internacionalmente, vem sendo afetada e destruída  a cada momento pelos maus brasileiros e governantes eleitos pelo povo servil.

Que Deus vigore e amplie tua sabedoria humana para bem e melhor servir este país maltrato por servis e aproveitadores do erário público,  popularmente travestidos  de nacionalistas, democratas e patriotismo.

José Bezerra de Moura - Fundador do Rotary Clube Presidente Prudente Alvorada

Bela história, Governador Bittencourt.

Abraço.


Valdemar L. Armesto


















sábado, 26 de dezembro de 2020

PRESENTE DE NATAL




PRESENTE DE NATAL
Alberto Bittencourt - 11 mar 2009
Fragmentos de meu diário



Manuela (14) e Bruna (12)


Fim do ano, em nossa casa. Papai Noel nos trouxe um presente especial. Foi-nos oferecido pela companheira Núbia Mesquita, recém aclamada por unanimidade, presidente 2007-08 do Rotary Club do Recife- Boa Viagem. O presente chegou na forma de duas criaturinhas adoráveis, que vieram passar conosco o dia de Natal. São elas as duas jovens irmãs, adolescentes, Manuela, 14 e Bruna, 12, ambas moradoras do ESPAÇO DA CRIANÇA, instituição da qual Núbia é presidente.

Chegaram no dia 24. Helena foi buscá-las. Fizeram o mesmo Flori Barbalho, Mônica Lima, Marcela Oliveira, atendendo a um pedido de Núbia, numa das últimas plenárias de 2004. Núbia pediu que cada família convidasse uma ou duas se irmãs, das crianças internas, para uma noite de Natal diferente, na casa dos companheiros, no convívio das famílias.

Segundo Núbia, a expectativa era enorme entre as crianças. Desde cedo, dia 24, aguardavam com ansiedade, prontas, arrumadas, a chegada de quem elas próprias batizaram de madrinhas.

Bruna e Manuela chegaram em nossa casa bonitas, vestindo suas melhores roupas. Curiosas, desconfiadas, posso imaginar as dúvidas que atravessavam suas cabecinhas. Afinal, como seriam essas pessoas, suas casas, como será o Natal no meio delas? 

Encontraram a família reunida para a ceia de Natal. Filhos e netos, os do Recife e os vindos da Bahia, aguardavam com alegria a chegada de Papai Noel, tradição em nossa família, desde os tempos de meus avós, nos anos cinquenta.

A mais velha, Manuela, mostrou-se a princípio reservada. Pouco falava, a todos cumprimentou, mas permaneceu a maior parte do tempo quieta, observando curiosa o ambiente, o movimento de todos.

Bruna, ao contrário, revelou-se de pronto falante, comunicativa. Dotada de inteligência viva, raciocínio rápido, encantou-nos de saída. Cursa a Quarta Série, mas sabe ler e escrever com precisão, o que é admirável, em se tratando de escolas públicas. Gosta de desenhar. Faz desenhos artísticos, coloridos, com mensagens afetuosas, muito bonitas, em retribuição ao acolhimento que lhe demos. Demonstrou certa carência afetiva, ao procurar mais a companhia dos adultos, dar as mãos, abraçar, enquanto a irmã, permanecia seca e séria.

Precisamente à meia-noite, Papai Noel chegou, tocando sineta. Gordo, barba branca, gorro e roupas vermelhas, barriga proeminente, arrastava enorme saco de presentes. A agitação tomou conta das crianças. Algumas manifestaram medo, outras a euforia de quem já conhecia o bom velhinho de outros natais.

Sentado, esbaforido, numa poltrona, enquanto puxava os presentes de dentro do saco, Papai Noel chamava os pequenos pelo nome que ia lendo nos embrulhos. A cada um fazia um afago, dirigia-lhes a palavra de carinho, o conselho, o elogio.

Bruna e Manuela não ficaram de fora. Também receberam de Papai Noel presentes, roupas, sapatos novos. Esboçavam sorrisos de felicidades cada vez que seus nomes eram pronunciados.

Foram dormir felizes. Dia seguinte se esbaldaram na piscina. No final da tarde fomos todos ao cinema, assistir “O leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, ou “Crônicas de Nárnia” no Shopping Guararapes, com direito a pipocas, refrigerantes e outras iguarias, após o quê,  as devolvemos à sua casa, o Espaço da Criança.

Paira no ar a pergunta de Bruna, ao despedir-se: “Tio, vocês vão ser nossos padrinhos? A questão trás no ar a esperança do aconchego familiar, a falta da referência doméstica, o quão importante é a família na construção da identidade do ser humano.

Qual seria a biografia dessas duas meninas, entregues pela justiça ao Espaço da Criança? O que teria ocorrido, para que o juiz determinasse a destituição do Pátrio Poder? Que importa? Imagino a mesma história de sempre: a mãe sozinha, parceiros variados, violência doméstica, promiscuidade, exploração. Manuela, certamente mais sofrida, criou seu círculo de proteção, fechando-se em si própria. Bruna, na terceira infância, tem a alma e o coração abertos para o convívio fraterno, ainda confia nas pessoas.

Bruna e Manuela, seu lugar está reservado em nossa consciência, em nossa casa. Pedimos a Deus que lhes dê a chance. Que elas possam crescer e progredir, aprender a ganhar a vida honestamente, amando ao próximo e a Deus. Que aprendam os valores mais altos da vida. Que Deus as abençoe. Obrigado, Núbia, obrigado ao Espaço da Criança.

Bruna e Manuela foi o presente que recebemos neste Natal.





sexta-feira, 23 de novembro de 2018

ETICA E VOLUNTARIADO


ÉTICA E VOLUNTARIADO
Alberto  Bittencourt





Meu amigo Sergio integra uma dessas associações humanitárias que, todas as noites, distribui uma tigela de sopa quente e nutritiva a moradores de rua. Concentra suas atividades na rua do Imperador, uma artéria de grande movimento no centro do Recife, bem perto da majestosa e imperial sede do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Ali, cerca de 40 pessoas, entre idosos e crianças, há décadas vive nas calçadas. Moram debaixo das marquises, dormem na frieza do cimento forrado com um pedaços de papelão. Tiram o sustento como flanelinhas, convivem com a sujeira, com a falta de higiene, ficam ao relento, sem a menor proteção. Mas não querem sair dessa situação. 

Há alguns anos, a ABCC- Associação Beneficente Criança Cidadã, fundada pelo desembargador Nildo Nery dos Santos no início do ano 2000, numa iniciativa louvável, conseguiu removê-los. Numa área cedida pela prefeitura, fez construir cerca de 20 casas que foram doadas para aquelas famílias, na esperança de lhes dar condições dignas de existência. Junto com as casas, as famílias receberam material de higiene, alimentação, instrução, cuidados médicos e tiveram os filhos matriculados na escola. A Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque, que encanta o mundo, é cria da ABCC.

O sonho de ver a rua do Imperador sem miséria, contudo, durou pouco. Novas famílias logo se instalaram nas mesmas calçadas.

Dia desses, encontrei com Sergio. Como sempre, ele apregoou os benefícios do que considera ser sua missão de alimentar os pobres. 

_ Você não faz ideia de como nos faz verdadeiramente bem, trabalhar desinteressadamente em favor dos mais necessitados. Doar uma parcela de nosso tempo, dinheiro e energia para aquelas pessoas, remoça, dá mais disposição, mais alegria na vida. 

Sergio é adepto de filosofias orientais. Ele acredita que os atos de caridade geram créditos que um dia nos libertarão da roda de nascimentos e mortes, quando então teremos alcançado o plano espiritual mais elevado. 

_ Mas é claro, meu amigo, respondi ao Sergio. É impossível doar sem receber algo em troca, mesmo quando se trata dos pobres. Afinal, não está na Oração de São Francisco que é dando que se recebe? 

A frase causou impacto em Sergio. 

_ Você está enganado, disse ele. Meu objetivo é aliviar o sofrimento dessas pessoas. A caridade é um fim em si. A recompensa, nesta ou em outra vida, é consequência. 

_ Pois vou lhe mostrar que não é possível dar sem receber nada em troca, disse eu. Costumo doar roupas velhas, objetos usados que não me servem mais, para o bazar da irmã Anatília. Ela dirige uma instituição denominada CRVV- Centro de Revitalização e Valorização da Vida, no bairro do Pina, que cuida de 150 crianças, em horário complementar ao da escola. O bazar revende de tudo, a um preço quase simbólico. Cada cabide de roupa, por exemplo, custa R$ 3,00 em média. O dinheiro apurado paga a funcionária encarregada e ainda ajuda no custeio da instituição. 

_ Em casa, vez por outra, eu e Helena fazemos uma limpeza em nossos armários, em benefício do CRVV. Nenhuma daquelas crianças sabe que somos nós os benfeitores. Nada recebemos em troca das doações.

Sergio retrucou:

_ Bem, qualquer ação tem que ser totalmente anônima, para não correr o risco de gerar agradecimentos, de se tornar um favor. Ao me contar isso, você se tornou credor de minha admiração. Receba os meus parabéns e minhas congratulações, em troca de sua doação desinteressada. 

A pequena história mostra como são tênues os limites éticos do voluntariado.

Eu e Helena integramos o Rotary International, a maior rede de voluntários do mundo. Pertencemos ao Rotary Club do Recife-Boa Viagem. Tivemos oportunidade de conhecer o IAVE – International Association for Volunteer Effort ao participarmos como convidados de uma conferência mundial realizada no ano de 1998 na cidade de Edmonton, Canada, a convite do Rotary Club de Edmonton, parceiro internacional do nosso clube em diversos projetos humanitários. 

O IAVE foi fundado no ano de 1970, por um grupo de idealistas que encontrou no serviço voluntário um meio de conectar nações e culturas. A organização cresceu e hoje possui representações em mais de 70 países, a maior parte em desenvolvimento. O objetivo único do IAVE é promover, fortalecer e celebrar o crescimento do voluntariado no mundo inteiro. As conferências mundiais ocorrem de dois em dois anos.

A partir daí, eu e Helena temos acompanhado diversos movimentos internacionais de voluntários que congregam pessoas interessadas nos trabalhos comunitários. 

O Canadá é seguramente o país mais desenvolvido no mundo nesse campo. Lá, 80% de sua população desempenha algum tipo de trabalho voluntário. 

Outro exemplo são os Departamentos de Bombeiros americanos. Há cidades dos Estados Unidos em que 100% do efetivo é voluntário, outras, em que 100% é profissional e há as que adotam um sistema misto.

Os firefighters voluntários nada recebem de remuneração. Têm alto senso de responsabilidade, encaram o trabalho com a mesma dedicação dos servidores profissionais. Desempenham sua missão com o maior afinco, tanto no que diz respeito ao cumprimento do horário, quanto no zelo pelos materiais, pois operam sofisticadas e complexas viaturas e equipamentos com a maior seriedade.

Em todos os museus e centros históricos americanos que visitamos, havia sempre a presença marcante de voluntários, geralmente pessoas idosas, aposentadas, que trabalhavam como guias ou na administração.

Aprendemos que a palavra voluntário tem uma conotação, um peso, uma responsabilidade enorme.

Aprendemos que a oportunidade de se dizer não, é apenas quando se é convidado. Uma vez aceito o convite para qualquer missão, para qualquer função, para membro de qualquer organização, então tudo passa a ser obrigação. A partir desse momento, o encargo, a missão, o trabalho deixa de ser voluntário e passa a ser um compromisso assumido. O voluntário cumpre horários com seriedade, como qualquer funcionário que tenha de bater o ponto. 

No Brasil, a cultura do voluntariado ainda é incipiente. Muitas vezes o voluntário brasileiro dá a impressão de estar prestando um favor. Não quer ter obrigação de horário, compromisso de tempo, acha que pode trabalhar quando quiser e bem entender. É comum a figura do voluntário que entope a função. Sabem o que é na linguagem popular, entupir uma função? Pois o entupidor de função é a pessoa que aceita a missão, aceita o encargo, porém a partir daí não faz mais nada. Não faz e nem deixa fazer. Tampouco se pode recorrer a outra pessoa para ajudar, pois ele está lá entupindo a função, com os braços cruzados, fazendo resistência passiva, sem cumprir sua obrigação de voluntário. O que ele almeja é o reconhecimento, o status, os elogios e as homenagens. Para ele, o egocentrismo e a vaidade estão acima de tudo. 

A ONU decretou o ano de 2001 como o Ano Internacional do Voluntário e adotou a Declaração Universal do Voluntariado, uma espécie de Código de Ética que estabelece uma série de deveres e de procedimentos do voluntário para com: a sociedade, o meio ambiente, o público alvo, os outros voluntários, a própria entidade e em catástrofes naturais. 

A Declaração Universal do Voluntariado visa estabelecer uma cultura do voluntariado, baseada na formação técnica indispensável e, principalmente, na ética, para dar continuidade e sustentabilidade às ações voluntárias. 

O voluntariado preenche a lacuna deixada pelo Estado nas questões sociais. Integra as chamadas organizações do terceiro setor. 

Podemos dizer que, se não fossem os voluntários, o mundo seria um verdadeiro caos.


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quinta-feira, 24 de maio de 2018

SOU SIM, SOU DO ROTARY


SOU SIM, SOU DO ROTARY

Alberto Bittencourt
(Fato ocorrido em 2004, quando eu e Helena, como governador do 
Rotary visitamos o Rotary Club de Serra Branca, PB, Distrito 4500)


   Ao descermos de carro para mais uma visita a uma dessas instituições assistidas por Rotary Clubs do interior, senti um puxão pelo braço. Alguém, com insistência, tentava pegar minha mão, me agarrar. Numa reação natural, imediatamente entrei um guarda. Procurei me defender, proteger-me. Retirei com rispidez a mão, virei as costas, na tentativa de livrar-me do golpe iminente, do assédio invasivo de um desses meliantes de rua, sempre prontos para roubar, levar o que quer que fosse e estivesse ao seu alcance.
   Então, no momento em que o repudiava, em que me esquivava da incômoda aproximação, uma expressão mágica eclodiu de sua boca, que se abriu num largo sorriso:
 _ É do Rotary?
    Estanquei surpreso.
 _ É do Rotary?
    Só aí foi que olhei para ele com mais atenção.
 _ É do Rotary?
  A pergunta soava afirmativa, exclamativa, na alegria espontânea de um encontro há muito esperado.
  Compreendi de imediato tratar-se de um cidadão interno da instituição a qual iríamos visitar: o abrigo São Vicente de Paulo, assistido pelo Rotary Club de Serra Branca, um clube do interior da Paraíba, pequeno em número de sócios, mas grande em ações.
   Voltei-me, estendi  a mão, respondi:
 _Sou sim. Sou do Rotary, disse com orgulho e confiança
   Logo soube que o nome dele era Tião. Tião apenas.  Nenhuma referência de vida, nem família, nem passado e nem futuro, um mero deficiente mental abandonado pelos parentes, já passando da idade útil, cuja vida se resume ao instante presente e nada mais, a consciência única de que o Rotary existe.
 Parentes? Que parentes?  Tião não tem mais ninguém na vida, apenas conhece o Rotary.
   A todos perguntava:
 _É do Rotary? _Sou sim. A essa resposta  sua  fisionomia se transformava no mesmo sorriso largo e alegre. Com insistência queria cumprimentar, apertar a mão amiga, estar junto, agradecer, abraçar.
 _ Chega Tião, deixe as visitas em paz, alguém disse.
 _ É do Rotary?
 _ Sou sim, afirmei, enquanto olhava para aquele ser humano em frangalhos, restos do que um dia fora gente, trastes de homem que ninguém conhece, nem sabem da existência, a não ser o Rotary Club de Serra Branca.
_ Sou sim, disse eu, enquanto, com entusiasmo repentino cumprimentava os demais, idosos, deficientes, internos do abrigo.
_ Sou sim, sou do Rotary, eu me ocupo de você, você pode confiar em mim, estou disponível para servir.
_ Sou sim, sou do Rotary, estou aqui para ajudar, para melhorar suas condições de vida.
_ Sou sim, sou do Rotary, vim para doar, para me doar.
_ Sou sim, sou do Rotary, não precisa me chamar, nem precisa me pedir. Eu trabalho por você, eu zelo e velo pela sua integridade.
_ Sou sim, sou do Rotary. Agradeço a Deus a oportunidade de poder servi-lo, porque foi servindo que aprendi a amar, e porque eu amo, posso dizer e repetir: 
_ Sou Feliz!