ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sábado, 6 de janeiro de 2018

O PROFESSOR HERMÓGENES



O Professor Hermógenes

Alberto Bittencourt








Soube recentemente do falecimento do professor José Hermógenes de Andrade. Morreu no dia 13 de março de 2015, no Rio de Janeiro, aos 94 anos de idade, completados dia 9. A causa não foi divulgada, mas a partir do momento em que completou 90 anos entrou em processo degenerativo acentuado culminado com o desenlace.



Hermógenes é considerado o pai da YOGA no Brasil. Autor de mais de 30 livros, dentre eles "Yoga para Nervosos" e "Autoperfeição com Hata Yoga", primeiro manual de Yoga em língua portuguesa, lançado no país em 1960.



Hermógenes nasceu em Natal (RN) e seguiu carreira militar, chegando ao posto de tenente-coronel. Aos 35 anos foi diagnosticado com tuberculose avançada, que quase o matou. Foi aí que descobriu os ensinamentos da Yoga, cujas posturas e respirações passou a praticar em casa. Hermógenes dizia que a yoga salvou a sua vida. Sua transformação fora tamanha que resolveu dedicar o resto da vida a mostrá-la aos outros, começou a dar aulas em uma garagem e seu trabalho de divulgação o fez ser tratado como mestre. Ele deixa duas filhas, seis netos e nove bisnetos. Foi cremado às 15h do dia 15 de março, no Rio.


Ele obteve reconhecimentos e títulos, como o de doutor em Yogaterapia pelo World Development Parliament da Índia.

Em 1998 foi escolhido Cidadão da Paz do Rio de Janeiro, e, em 2000, recebeu a Medalha Tiradentes, maior honraria oferecida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.



Hermógenes era oficial do Exército da arma de Infantaria.
_Logo eu que tenho alergia a poeira, dizia, fui ser infante pé de poeira. E infante com alergia a poeira, continuava, é a mesma coisa que carneirinho com alergia a lã.
Sua vocação humanística o fez distanciar-se de armas mais técnicas como a Engenharia. Confessava que teve grande dificuldades com a tal da Descritiva. 

No posto de capitão, prestou concurso para magistério do Exército e foi professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde lecionou Educação Moral e Cívica, História e Filosofia.

Eu o conheci no ano de 1953, aos onze anos de idade, quando cursei o CAD/CMRJ- Curso Preparatório de Admissão ao Colégio Militar, que preparava os alunos para a difícil competição que era o concurso de admissão do CMRJ, onde cerca de 4 mil candidatos disputavam 300 vagas. 

O Capitão Hermógenes, ensinava História. Revelou sua vocação de escritor e professor, editando em forma de apostila, um livro intitulado "A Pergunta que Ensina", além de outras.
Ao mesmo tempo em que dava aulas no CMRJ, Hermógenes mantinha na garagem da sua casa, à rua Almirante Cockrane, um cursinho preparatório ao concurso de admissão do Colégio Militar. Meu pai soube da existência e matriculou-me. O professor Hermógenes dava aulas de Matemática, História e Geografia, enquanto a esposa Ione, professora primária estadual, formada no Instituto de Educação, ensinava Português.
Foram dias felizes e de estudo intenso. Aos onze anos eu frequentava o CAD/CMRJ pela manhã e à tarde ia para o cursinho do Capitão Hermógenes. Os frutos do esforço foram colhidos. Fui aprovado no difícil concurso para a 1a. série do curso ginasial do CMRJ. Meu pai dizia que recebera mais congratulações por esse feito, do que por ocasião de sua promoção ao posto de Major.

Lembro-me bem, quando, aos onze anos, pela mão de meu pai, visitamos o Capitão Hermógenes no leito do hospital. Ele fora acometido de tuberculose galopante e chegou a ser desenganado pelos médicos. Hermógenes falou que havia tomado conhecimento de uma ciência milenar, da Índia, que começara a praticar e sentia o poder e os efeitos curativos dessa ciência, principalmente da parte respiratória. Graças à Yoga, Hermógenes recuperou-se e ficou bom.

A Hatha Yoga salvou a minha vida, dizia posteriormente.

No Colégio Militar, Hermógenes passou a fazer palestras sobre essa arte. Ele praticava então a Hatha Yoga, a parte física da filosofia, constituída de quatro partes:

- Pranayana - exercícios respiratórios
- asanas - Posturas físicas
- meditação
- relaxamento

Começou a fazer palestras e demonstrações na década de 50 em clubes sociais, como o Tijuca Tênis Clube, clubes de mães, Associação Cristã de Moços, e no próprio CMRJ.

Na quarta série ginasial, fui novamente seu aluno, desta vez na cadeira de História.

Durante esse tempo, nunca me afastei de seus ensinamentos e de suas palavras de mestre, de seus conselhos e opiniões.
No curso científico, no 1°ano, fui novamente seu aluno, na cadeira de Filosofia. Hermógenes aliava os ensinamentos dos grandes mestres da humanidade, à questões práticas, promovendo debates sobre temas da atualidade entre alunos, como o divórcio,  educação sexual, e outros considerados tabus na época. 

O CMRJ era um colégio masculino, o que trazia distorções de comportamento para alguns alunos. Adolescentes, ou eram muito tímidos ou acentuadamente atirados com as garotas. Nas suas palestras, Hermógenes procurava esclarecer, eliminar mitos e tabus. 

Era um professor querido e procurado por toda a nossa geração. 

Eu costumava visita-lo em casa, para conversas de "pai para filho", já que eu perdera meu pai aos 12 anos recém completados, e como adolescente, sentia falta de uma orientação e do apoio paterno. 

Hermógenes sempre me recebia, sentava comigo na varanda, acendia a luz do aquário cuja paisagem viva, calmante e harmonizada, gerava confiança e sintonia.

Um dia me interessei por começar a praticar Yoga. Ele me levou à sua biblioteca. Havia vários livros em inglês, espanhol, francês, sobre o tema. Puxou um, que me emprestou, com a indicação de onde poderia adquirir, à livraria Leonardo da Vinci, na Av. Rio Branco, RJ.

O livro era "Sport et Yoga", de Selvarajah Yesudien e Elizabeth Haich. Era a melhor obra, com um método fácil de seguir e praticar. Imediatamente comprei-o e ainda o mantenho em minha biblioteca. 

Posteriormente o livro foi editado em português sob o título "Yoga e Saúde".

Nessa época, eu já lia e compreendia com facilidade o francês, graças ao Colégio Militar. Francês e Inglês eram ensinados desde a 1° série ginasial, além do Latim. Ainda tínhamos Espanhol no curso Científico.

Hermógenes marcou a minha juventude. Cheguei a cogitar ir embora para Índia, me internar num mosteiro budista, mergulhar na filosofia e nos ensinamentos hindus.

Tinha o exemplo de Victor Binot, filho de uma conhecida atriz, Iara Sales, que seguira esse caminho.

Não tive coragem, entretanto. Estava atrelado ao Brasil, minha mãe viúva, com dois irmãos mais novos, nem pensar.

Meus caminhos estavam traçados, em direção do mais certo e seguro, orientava ela, terminar o Colégio Militar e seguir a carreira militar, segundo a tradição familiar.

Lá pelo ano de 1960, Hermógenes fundou a Academia Hermógenes, na cobertura da rua Uruguaiana, 118, que eu frequentava regularmente. Acompanhei as reuniões para leitura e comentários de textos de seu primeiro livro: "Auto Perfeição com Hatha Yoga".

Na época, eu era amigo das meninas, Heloisa Helena e outras, que ilustram a capa e as fotos dessa primeira edição. Elas moravam em Vila Isabel e eu, morador da Tijuca, voltava para casa nas madrugadas dos sábados, vindo de festinhas, arrasta pés, nas casas delas. Nem sempre tinha ônibus, ia a pé, em ruas desertas e escuras sem nenhum medo de assalto. Descia a rua Pereira Nunes, subia a rua Uruguai, pegava a rua Conde de Bonfim até chegar em casa, na rua Clóvis Beviláqua, depois das 2h da manhã.

Eram outros tempos, naquele final dos anos 50. Ninguém pensava em namorar, apenas se divertir e curtir a vida.

Quis o destino que eu me afastasse de todos eles. Segui para AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras, Resende, em janeiro de 1961. Na carreira militar, outros horizontes e perspectivas me aguardavam. Meu futuro era outro. Acho que todos temos um dia que efetuar uma escolha. Chega uma época em que nos deparamos na encruzilhada da vida; em que temos que optar por um caminho ou outro. 

Dadas as minhas circunstâncias, eu não tinha escolha, segui a carreira militar por onde começou o professor Hermógenes. Depois, como ele ingressei no Magistério Militar, na cadeira de Matemática, no Colégio Militar do Recife e hoje considero-me um discípulo do Professor Hermógenes.

Como voluntário, no Rotary, prefiro fazer palestras evolutivas, para construção e desenvolvimento do homem. Durante a vida, sempre pratiquei Yoga. As vezes esporadicamente, as vezes com mais intensidade. Seguindo os ensinamentos do mestre, tornei-me vegetariano e meditante.

Tudo aprendi com o professor Hermógenes.



NAMASTÊ



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