MEU
OBJETIVO.
Alberto Bittencourt -
01 nov 2018
Não
ando em busca de mordomias, de conforto, nada disso.
Antes
de tudo sou soldado, acostumado a me virar.
Fui
paraquedista militar e mestre de saltos.
Certa
feita saltei de paraquedas na Amazônia para abrir clareiras para pouso de
helicópteros. Aos 25 anos eu era o comandante de 30 soldados. Ficamos isolados,
acampados. Já não conseguíamos comer a ração fria que l eváramos. Passamos a nos
alimentar então, apenas com castanha do Pará e carne de macaco, orientados pelo
Sub-ten. Solon, especialista em Operações Especiais e sobrevivência nas selvas. Ele estava lá, com sua equipe de precursores há mais de um mês. Dormíamos no chão duro, sentindo calor, frio, picadas de insetos, sem água para
banho, pegando nas ferramentas de sapa o dia todo (pá, foice, enxada). Ninguém
morreu. Cumprimos a missão e saímos fortalecidos.
Em
1964, no que as esquerdas chamam de golpe e nós chamamos de revolução, fiquei
dois dias dentro de um buraco em que eu só cabia em pé. Era uma trincheira às
margens do rio Barra Mansa. Tinha 21 anos. Meu comandante defendia o regime
comunista do João Goulart.
Nossos
canhões e metralhadoras apontavam para os soldados, brasileiros também,
entrincheirados na outra margem, vindos de Minas, enviados pelo governador
Magalhães Pinto e sob o comando do Gen. Olímpio Mourão Filho, e de São Paulo,
cujo governador Ademar de Barros já aderira ao movimento, com as tropas do II Exército
sob o comando do Gen. Amaury Kruel para depor o governo.
Entre
eles estava o meu irmão, Cláudio
Bittencourt, aluno da Academia Militar das Agulhas Negras, situado no município
de Resende, Est. do Rio. .
Um
garoto com apenas 19 anos.
Pense
num drama.
O
que fazer? Cumprir as ordens e atirar contra nossos irmãos de sangue e contra
as nossas convicções ideológicas? Ou aderir ao movimento vindo de Minas Gerais.
Mas resisti e fiquei até o fim, quando o general Humberto de Alencar Castelo
Branco assumiu o comando das tropas do I Exército e mandou voltarmos para os
quartéis
João
Goulart havia abandonado o governo e fugira para o Uruguai.
Conheço
na pele as condições em que vivem muitas pessoas.
Uma
pessoa só pode dizer que sabe o que é a miséria quando sentir o cheiro da
miséria. É parecido com o cheiro das alas dos hospitais públicos. Só não tem o
odor dos medicamentos.
Meu Rotary
Meu
Rotary não é uma reunião de pessoas ricas que ficam em intermináveis discursos
que não servem para nada. Meu Rotary não vive em palácios. Ele está nas praças,
nas ruas, nas favelas, nos hospitais, nas creches, nos ônibus superlotados, no
barraco de um vão, onde adolescentes são estrupadas por irmãos mais velhos
porque dormem juntos, na única cama.
Onde
enteadas engravidam de padrastos, pelo mesmo motivo.
Onde
o bebê morre sufocado pela mãe que se joga drogada sobre ele, no único estrado
que existe.
Onde
não tem água potável, nem banheiros, nem papel higiênico.
Esse
é o meu Rotary.
Vivi
muitas histórias, reais, verdadeiras. Daria para colocar num livro.
Conto
isso para dizer que o meu objetivo não é o conforto. Meu objetivo é viver
dignamente e tornar mais digna a vida do próximo.
Essa
é a minha missão.
Essa
é a minha razão.
VIVA
O EXÉRCITO BRASILEIRO!
VIVA O ROTARY!
VIVA O BRASIL!