ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

PALESTRA : A PROVA QUÁDRUPLA

PALESTRA : A PROVA QUÁDRUPLA
Alberto Bittencourt
(Palestra realizada no Rotary Clube do Recife, no dia  07 de abril de 2005)

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O Rotary foi fundado em 1905 numa época em que a palavra empenhada tinha um valor muito forte. O que prevalecia, acima dos contratos  escritos e assinados, era o acordo de cavalheiros, garantido  apenas pelo fio do bigode. O que se dizia "apalavrado" era sagrado, seu cumprimento, uma questão de honra.  Era esse o código de ética em vigor   naquela Chicago conturbada pela corrupção e pela violência do gangsterismo.
Os primeiros códigos sobre ética remontam às origens da civilização,  à Grécia antiga.
Faltam-me  formação, cultura,  conhecimentos, para discorrer teorias sobre ética. A ética que tem sido objeto de tantos tratados, de tantos códigos, a ética que se tornou inclusive uma palavra eclética, abrangente.
Frei Beto identificou algumas éticas com as quais  devemos nos preocupar: a ética da alimentação, num mundo dominado por múltiplas opressões; a ética da justiça, nessa realidade estruturalmente injusta; a ética da gratuidade, nesta cultura mercantilista, onde impera o interesse e o negócio; a ética da compaixão, num mundo marcado pela dor de tantas vítimas; a ética da acolhida, já que há tantas exclusões à nossa volta; a ética da solidariedade, numa sociedade fortemente competitiva; a ética da vida,  num mundo ameaçado pela violência, pelos sinais de morte, na natureza e nos povos. São muitas  as éticas, todas elas visando, a harmonia, a  universalidade, a excelência ou a perfexibilidade,  nos disse Frei Beto.
Na minha formação de Oficial do Exército, aprendi a respeitar um código de ética que é o Regulamento Militar. O que está escrito no regulamento deve ser cumprido fielmente, do contrário o transgressor recebe punição, podendo até ir para a cadeia. Essa é a minha formação de militar.
Os rotarianos têm seus comportamentos baseados no Estatuto e no Regimento Interno do Rotary Internacional que  completou agora cem anos de idade. 
Uma das razões da longevidade do Rotary é justamente a ética. Em questões de ética o Rotary é inflexível, imutável. O Rotary de hoje é igual ao de 1905, quando foi fundado por Paul Harris. A ética em Rotary é um princípio que não pode ter fim, e é graças aos seus elevados padrões de ética, que o Rotary  certamente  chegou aos 100 anos, e aspira alcançar mais cem anos de sucesso, chegar ao seu segundo século de existência.
O primeiro código de ética rotário data de 1915. A Prova Quádrupla foi criada em 1932, ano em que a economia americana se recuperava do crash da bolsa de valores de Nova York A companhia de panelas dirigida por Herbert Taylor estava em situação difícil, quando conseguiu, através de uma mudança na sua filosofia, de uma mudança do seu relacionamento com os empregados, com seus clientes, com seus fornecedores, reverter a situação, e se tornar uma multinacional forte, importante, acompanhando a recuperação da economia americana, se  inserindo dentro dessa recuperação.
Em 1943, uma resolução do Conselho Diretor do Rotary International adotou a Prova Quádrupla como um código de comportamento. Em 1954-1955, quando Herbert Taylor foi presidente do Rotary International, ele doou ao Rotary os direitos autorais da Prova Quádrupla, e ela se tornou então definitivamente a ética rotária.
Mas eu não afirmo que a Prova Quádrupla seja um código, nem um tratado de ética. A Prova Quádrupla, é apenas uma reflexão, é um teste, é uma indagação, é um questionamento sobre o que nós pensamos, dizemos e fazemos, não é nada mais do que isso.
Eu comparo muito a simplicidade da Prova Quádrupla, face à complexidade dos códigos de ética, comparando uma jangada, a um   transatlântico. Uma jangada é simples e perfeita, não afunda. Leva o pescador, horas e horas a alto mar, para ganhar o seu sustento. Pode passar uma tsunami por cima que ela continua a flutuar. Já o maior transatlântico, o mais perfeito, como se dizia ser o Titanic, em 1912, um navio impossível de afundar, afirmavam os engenheiros, não passou da primeira viagem. Eles tinham tanta certeza que o Titanic jamais afundaria, que o número de lugares dos botes salva-vidas,  comportava apenas 1/3 dos passageiros e  tripulação. Resultaram do naufrágio 1.500 mortos e 750 pessoas salvas. 
A  Prova Quádrupla, é como a jangada, fácil, simples, não tem nada dos tratados complexos, porque quanto mais complexo é um tratado, mais difícil ele se torna de ser aplicado.
Se alguém disser aqui para vocês que vai falar sobre a Prova Quádrupla, porque tem anos de  estudo e pesquisas sobre códigos de ética, pode ter certeza de que ele não vai falar sobre a Prova Quádrupla, porque a Prova Quádrupla, é apenas uma reflexão, são apenas quatro perguntas.
Nós diríamos que a Prova Quádrupla pode ser comparada a quatro peneiras de malhas diferentes. Tudo que pensamos, dizemos ou fazemos,  colocamos na primeira peneira: "É a verdade?" Passou, cai  na segunda peneira de malhas mais estreitas:  "É justo para todos os interessados?" Passou nessa peneira, vem a terceira peneira: "Criará boa vontade e melhores amizades?" Passou nessa, vem a quarta e última peneira:  "Será benéfico para todos interessados?". Passou nas quatro peneiras, pode fazer, pode aplicar. 
Uma vez em uma visita, uma companheira, presidente de clube me perguntou o seguinte: "governador, aqui no clube há uma proposta para atrair novos sócios, jovens profissionais, que estão no início da carreira, ainda sem poder se comprometer com uma mensalidade mais elevada, de adotarmos  durante dois ou três anos para novos sócios, uma mensalidade mais barata, metade da mensalidade em vigor no clube. É legal, é lícito fazer isso?"  Eu pensei, e disse para a presidente: "aplique a Prova Quádrupla: _É justo para todos os interessados?"  Ela pensou e respondeu: "não é." "Então, se não passa na segunda peneira, não aplique."
Uma vez perguntei a um  comandante como fazer para não cometer uma injustiça, ele respondeu apenas o seguinte: basta ter  bom senso, se tiver bom senso não cometerá injustiça.
Se nós levarmos a Prova Quádrupla para todas as nossas ações, para nosso trabalho, nossas relações familiares, relações comerciais, nós teremos a certeza de estarmos agindo corretamente.
A primeira pergunta da Prova Quádrupla: "É a verdade?" "Quid est veritas?", perguntou Pilatos, " O que é a verdade?" A questão é simples, não admite discussão. Ou é verdade ou não é verdade.
A gente ouve por aí qualificações sobre a verdade. Já chegaram até a  proclamar a "verdade verdadeira",   como se a verdade pudesse não ser verdadeira.
"Verdade insofismável". Toda verdade é insofismável,  não existe verdade sofismável.
 "Verdade inquestionável". Toda verdade é inquestionável, ou  ela é verdade, ou não é.
"Verdade absoluta", como se existisse uma verdade relativa. Toda  verdade é  sempre única, exclusiva, absoluta, não é como aquela música que .diz: "mamãe estou ligeiramente grávida". Ou está grávida, ou não está, assim é a verdade. Ou é verdade, ou não é.
Agora, existem certos profissionais que não aceitam  a Prova Quádrupla, porque  não pautam sua conduta pela verdade, como por exemplo, um mau político, para o qual a verdade muitas vezes é deturpada em favor de seus interesses eleitorais. Já dizia o falecido senador  Roberto Campos: "em política o que interessa não é o fato mas a versão". Muitas vezes um dirigente de órgão público, um ordenador de despesas que malversa os fundos públicos, esse não  comunga com a Prova Quádrupla, já no seu primeiro quesito, porque honestidade é sinônimo de verdade.   Desonestidade não é  verdade, a desonestidade não se coaduna com a Prova Quádrupla. A verdade é uma só. Para algum advogado militante, muitas vezes, a verdade é a do cliente que o contratou. Seu trabalho é fazer prevalecer uma interpretação, ainda que contrarie a Prova Quádrupla
O segundo quesito, a segunda peneira, "É justo para todos os  interessados?" Eu encaro a justiça como uma coisa que deva ser sempre objetiva, e não subjetiva. Eu encaro a justiça como uma relação de causa e efeito. Se determinado assunto é justo, tem que ser justo para todos os interessados. Se você considera a justiça como algo subjetivo, como algo que não seja  uma relação de causa e efeito, o que é justo para um, poderá não ser justo para outros. O que era justo para Hitler não era justo para os povos perseguidos, o que é justo perante  a ótica de Busch não é justo  para  a ONU que não apoiou a invasão do Iraque. O que era justo para os ingleses no tempo de Gandhi, não era justo para  os indianos. A Prova Quádrupla, nos diz: tem que ser justo para todos os interessados. Foi o caso da pergunta da mensalidade que citei, todos os interessados quem são? são os rotarianos daquele clube. Essa pergunta passa a ser objetiva, deixa de ser subjetiva, passa a ser uma relação de causa e efeito.
A terceira peneira: "Gerará boa vontade e melhores amizades?" Nessa pergunta reside a finalidade do Rotary: a solidariedade, o companheirismo. Tudo que nós fazemos deve somar. A solidariedade, a mútua-ajuda unem, a competição divide, a não ser a competição de um jogo de futebol de salão, uma brincadeira, um gincana, mas o que compete separa, por isso não está de acordo com a Prova Quádrupla.
A quarta peneira, "Será benéfico para todos os interessados?". Gerar o bem é também finalidade do Rotary.
Gandhi, uma vez, foi à presença do Vice-Rei da Índia, manifestar seu protesto contra o imposto sobre o sal, recém instituído. O sal, em certas regiões da Índia, é uma coisa que se colhe facilmente na praia. A coroa  Britânica lançara um imposto sobre o sal. Gandhi compareceu à frente do Vice-Rei e disse: "vim participar a V. Excia. que vou iniciar um movimento contra o imposto do sal". Aí foi embora. Chegou na praia, pegou uma tigela de sal e começou a caminhar.  Juntou-se o primeiro, juntou-se outro, outro, e em pouco tempo tinha se formado uma multidão de 10 mil pessoas marchando silenciosamente com Gandhi, pacificamente em direção ao palácio.   Logo depois o Vice-Rei, revogou o imposto do sal, porque ele não era benéfico para população.
O imposto que o governo lance, pode ser benéfico para o governo mas pode não ser benéfico para quem paga, como os aposentados por exemplo. Por isso  tem que ser benéfico para todos os interessados.
 Numa sociedade em que o egoísmo prevalece, o egocentrismo é expresso na lei de Gerson, da qual o então maior meia- armador do mundo, tri-campeão mundial de futebol em 1970, não tem culpa, pois foi uma propaganda de cigarro que fez na televisão: "como sou brasileiro, gosto de levar vantagem em tudo". Essa lei prevalece nas relações, cada um quer tirar proveito maior, vantagem maior, mas não é isso que a Prova Quádrupla prescreve.
Então companheiros, a ética da Prova Quádrupla  também prescreve o comportamento de cada um dentro de seu clube. Quando nós tomamos posse,  assumimos como rotarianos o compromisso  de pagar em dia as mensalidades, freqüentar o clube, ou recuperar as faltas através de visitas de a outro clube, de inclusive assumir uma posição de liderança, como a de presidente uma vez chegado o momento. Se a gente se nega a isso e alguns clubes têm grande dificuldades em escolher seus dirigentes, estamos despresando a Prova Quádrupla, pois quando colocamos o distintivo  nos comprometemos a um dia aceitar a presidência ou qualquer outro cargo para o qual fôssemos convocados.
Já disse um diretor do Rotary Internacional, que a oportunidade de dizer não é  uma só, é quando se é convidado para ser rotariano. Aí pode dizer não. A partir do momento em que ele se torna rotariano, a sua obrigação é dizer sim a todas as convocações,  a todos os chamamentos  de trabalho, a todos compromissos de servir.  Se alguém aceitou assumir uma função qualquer que seja, no clube, no distrito, se aceitou a função, não pode depois se escusar, dizer não, ou fazer corpo mole, ou pior ainda, resistência passiva. No momento em que ele aceitou aquele compromisso,  passa a ser uma obrigação. Muita gente  dentro do nosso próprio relacionamento não cumpre isso.
Eu comparo a nossa Prova Quádrupla a um mantra. Vocês sabem que as filosofias orientais, nas meditações, repetem durante milênios palavras sagradas que se tornam pela sua força,  palavras que captam, concentram uma energia muito forte. São os mantras. Eu sugiro aqui a todos vocês  que tenham a Prova Quádrupla, como mantras. Se você repetir 500 vezes: “é verdade,” você nunca vai cometer nenhuma ação que não seja verdadeira. Se você repetir 500 vezes em pensamento: “é justo para todos os interessados”, você nunca fará uma injustiça. Se você repetir:  “criará  boa vontade e melhores amizades” 500 vezes, você sempre agirá assim, se você repetir nas suas meditações: “é benéfico par todos os interessados” você jamais vai fazer alguma coisa que não seja benéfico, e aí você terá se tornado um verdadeiro rotariano, um pacifista  como foram Gandhi, Paul Harris e  tantos outros mestres pacifistas.

Obrigado presidente por essa oportunidade, eu espero ter transmitido meu ponto de vista. 


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F  I  M

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