ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PEQUENOS GESTOS - GRANDES MUDANÇAS


PEQUENOS GESTOS - GRANDES MUDANÇAS


Alberto Bittencourt

   


O velho homem vivia enclausurado. Dorso encurvado, faces encarquilhadas, cabelos em desalinho, roupas surradas, mal postas, nada fazia lembrar o empresário dos colégios, postos de combustíveis, concessionárias de autos. 

A debacle foi manchete em todos os jornais. Empregados e credores se disputavam, na esperança de pegar um naco do que lhes era devido. Triste fim do homem de negócios, no exato momento em que aspirava ao repouso dos aposentados. 

Sentia medo, depressão, angústia. Para ele, os dias tinham a escuridão das tormentas que lhe fustigavam a alma. 

A esposa, companheira de tantos anos, fora embora, tangida pela penúria e pelas incertezas. Os dois filhos se distanciaram, cada qual a cuidar da própria vida. O velho colhia o que plantou por ter sido marido e pai ausentes. 

Certa manhã, ao tomar café, a campainha soa. O velho estremece. Quem poderia ser? Ele pousa a xícara sobre a mesa e, com os dentes crispados, vai atender. À porta entreaberta, depara-se com um homem, idoso, de expressão familiar, embora não o reconhecesse de pronto. Ao topar com o olhar e o sorriso, identificou o vizinho do mesmo andar. 

Jamais haviam se falado, apenas de quando em quando se cruzavam nos corredores. Nem mesmo se cumprimentavam. Agora ele estava ali, sorridente, a estender uma pequena cesta. 

Senhor, desculpe incomodar, mas há pouco ganhei esta cesta com frutas. Eu não poderia comer tudo sozinho e venho perguntar se aceitaria dividir comigo. Elas estão no ponto, infelizmente algumas um pouco machucadas pelo transporte. 

Quis agradecer, mas o visitante, esboçando um gesto de deixa prá lá, se retira rapidamente. 

Lentamente o velho fecha a porta e permanece imóvel, com a cesta nas mãos, enquanto escuta os passos do vizinho a se afastar. 

A seguir, com as mãos trêmulas, coloca a cesta sobre a mesa, debaixo da luz. Peras verdejantes, maçãs vermelhas, pêssegos amarelos, estão meticulosamente arranjados em duas fileiras, sobre um guardanapo de linho branco. 

O velho nem mesmo pensa nas frutas suculentas. Sentado diante do inesperado presente, ele se emociona ao lembrar da mão estendida, do sorriso amigo. 

Então, num repente se levanta: Vou esvaziar e devolver a cesta. 

Naquele momento um céu azul afastou as nuvens negras de seus pensamentos. O dia se abriu radioso. O sol voltou a brilhar 



sábado, 4 de outubro de 2014

ALBERTO E MONIQUE TROCAM E-MAILS


1) MONIQUE JOLY ESCREVEU A ALBERTO 
em 03 out 2014:


(Clique nos marcadores "Monique Joly" e "Criança Urgente", para saber mais sobre a atuação da AEB - Association Enfants du Brésil e do CRVV - Centro de Recuperação e Valorização da Vida)


Monique Joly, entre as crianças do CRVV
Monique Joly e Marcos Sena
Diretoria da AEB no projeto Criança Urgente
Demonstração de capoeira
Apresentação de danças populares




Querido Alberto.


Muito lamentei não poder vê-lo durante minha última viagem no Brasil pela Associação Enfants du Brésil. A história da Associação é uma página que se vira, mas que me deixa tantas lembranças!

Estive no CRVV - Centro de Recuperação e Valorização da Vida, sede do projeto “Criança​ Urgente”, ​na favela do Bode. ​O que vi ali casou-me uma grande aflição! Foi uma verdadeira estupefação! Desde dois anos quase nada mudou.

Alberto, é tão importante que as crianças da favela 
do Bode possam aproveitar de um lugar onde podem viver e comer em segurança. Um terreno para jogar é também indispensável. Se eu dispusesse de mais recursos, imediatamente procuraria terminar as obras! É simplesmente impossível viver assim!

As irmãs Anatília e Zena dão provas de uma paciência admirável trabalhando em circunstâncias tão deploráveis.

Infelizmente, a "Associação Enfants du Brésil” vem de encerrar suas atividades.​ É sempre muito difícil obter doações, mas mesmo assim, eu gostaria de saber quanto custariam as últimas etapas da reforma do projeto da favela do Bode, visto que fomos os compradores das duas casas.

Alberto, você não pode pedir ao “Rotary” que faça um gesto generoso para as crianças da Favela de Bode? Você é um personagem importante, respeitado, honrado. Estou certa que em Recife você pode fazer milagres, sem bastão mágico!

Permito-me escrever-lhe isso, e por favor desculpe me, mas desde meu regresso a ideia de completar a construção na favela do Bode, obceca-me – e só posso confiar isso a você.

Espero ansiosa suas notícias.
Saudações calorosas,
Monique


2) ALBERTO RESPONDEU A MONIQUE JOLY, 

                   em 03 out 2014:​


Querida Monique


Também lamentei muitíssimo não estar no Recife quando desta sua última viagem ao Brasil pela Association Enfants du Brésil. 

Gostaria de prestar a você e aos membros da AEB as homenagens que lhes são devidas, e expressar toda a nossa gratidão pelo imenso bem que fizeram nesses vinte anos de atuação da AEB. 

Sei, entretanto, que vocês não nos abandonarão e continuarão conosco, nos brindando a cada ano com o seu sorriso iluminado, cheio de esperança, com o seu coração transbordante de amor, abençoando-nos com suas preces, orando a Deus por um futuro melhor para as nossas crianças. 

Compreendo seu desalento ao ver que, ao longo de todos esses anos, pouca coisa ou quase nada mudou a esse respeito, no Brasil. ​As crianças continuam a ser sempre as primeiras e maiores vítimas.​

Na minha adolescência, nos anos cinquenta, eu tinha ​dois​ livros​ de cabeceira, ambos do mesmo autor: Michel Quoist - "Poemas para Rezar" e "Construir o Homem e o Mundo". 

Foram livros que encantaram minha juventude. Livros que despertaram em mim a primeira crise - o desejo de mudar, de construir o homem e o mundo. 

No primeiro livro, Michel Quoist ao retratar o drama da moradia, reproduzia em poema, as manchetes​, verídicas, dos jornais da época, que transcrevo com minhas próprias palavras: a criança morreu no deslizamento da barreira; a criança desapareceu tragada pela torrente; a criança morreu de disenteria porque bebeu água contaminada; a criança morreu asfixiada porque na cama dormiam emboladas a mãe e quatro crianças; a adolescente foi estuprada pelo padrasto; a criança teve a cabeça roída pelo rato.

O livro foi escrito em 1957, mas parece que foi hoje.
O Brasil é um país rico, tem um povo generoso, trabalhador. Por que essas manchetes continuam atuais? 

Vocês, da Association Enfants du Brésil nos ensinaram que não podemos permanecer indiferentes. Vocês nos mostraram que não podemos aceitar o sofrimento das crianças, a exploração e o descaso. Vocês nos deram o exemplo de que precisávamos para manifestar toda a nossa indignação, o nosso inconformismo. Vocês nos ensinaram a nunca perder a esperança.

O projeto Criança Urgente na favela do Bode​ está em obras. A empresa de telefonia VIVO banca a maior parte, mas há outros colaboradores, como o Tribunal de Contas de PE, através de seu braço social, denominado Tribunal Solidário. Esperamos inaugurar ate'o fim do ano. 

Pedirei à irmã Anatília para levantar a necessidade de recursos para terminar. Verei o que posso fazer para mobilizar os ​companheiros ​rotarianos.

Nunca esqueceremos que foi a Association Enfants du Brésil que comprou as duas casas, sede própria do projeto Criança Urgente, e que, desde o início, vem bancando a maior parte das despesas.

Muito obrigado, queridos amigos, Monique, Werner, Liza, Marie Louise, e todos os que fazem a AEB. 

Que Deus os proteja. 
Afetuosamente,
Alberto