ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal
ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal
Mostrando postagens com marcador Serviços Profissionais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Serviços Profissionais. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO



O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO
ALBERTO BITTENCOURT – 09 de junho de 2015

Convenção Internacional do Rotary, em São Paulo -   
Palestra proferida no workshopp 
"Serviços Profissionais - Melhores Práticas". 
Baseada em palestra homônima de José Otávio Patrício de Carvalho.


SUMÁRIO

1 –    Introdução
2 –    Desenvolvimento
2.1 – Definição do Rotary.
2.2 – Objetivo da Av. Serviços Profissionais
2.3 – A Volta às Origens
2.4 – Declaração para Executivos e Profissionais Rotarianos.
2.5 – O Dar de Si Antes de Pensar em Si.
2.6 – Voluntários do Rotary e outros programas.
3 –    Aspectos do servir através da profissão
3.1 - Aspecto subjetivo
3.2 - Aspecto econômico social
3.3 – Aspecto ético e moral
3.4 – A Prova Quádrupla
4 –    Conclusão

X-X-X-X-X-X

1 – Introdução

O Rotary consagra o mês de janeiro de cada ano aos Serviços Profissionais. O tema Servir Através da Profissão  é extremamente importante para o movimento rotário, porquanto, é através da profissão que se constrói o progresso de uma nação. Porém, através da profissão, também pode se originar a corrupção e desvios de conduta que vemos estampados diariamente nos jornais e noticiários televisivos. 

Todos os rotarianos, sem exceção, já ingressam na instituição como profissionais, mas muito poucos encaram a profissão como forma de servir ao próximo, de modo livre e consciente. 

Após a instituição do PLC – Plano de Liderança de Clubes, que criou as cinco Comissões Executivas e deu um caráter filosófico e inspirativo às cinco Avenidas de Serviços, a maioria dos Rotary Clubs deixou de dar a devida importância e de executar os programas da Avenida de Serviços Profissionais, considerada a primeira avenida e o berço do Rotary. 

Paul Harris já dizia em sua autobiografia – “Meu Caminho para o Rotary”:

Cada rotariano é um elo de ligação entre o idealismo do Rotary e seu negócio ou profissão.

2 – Desenvolvimento

2.1 – DEFINIÇÃO DO ROTARY

O mandamento “servir através da profissão” está inserido no próprio conceito do Rotary:

O Rotary é uma organização de homens de negócios e profissões, unidos no mundo inteiro, que prestam serviços humanitários, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a boa vontade e a paz no mundo. 

Diz-se que “é uma organização de homens de negócio e profissões”

Este é um pressuposto básico para sermos rotarianos, tanto que a classificação do rotariano, dada pela profissão, é um dos componentes imprescindíveis para a sua identificação no seio da instituição. Para que cada Rotary Club seja um extrato da sociedade, a diversidade de profissões é outro ponto importante, que vem desde a fundação, quando Paul Harris chamou seus três amigos, e fundou o Rotary, sendo cada um de uma categoria profissional. 

O segundo elemento do conceito – “Unidos no mundo inteiro” – concede o caráter universal do movimento, o congregar de forças em todo planeta para se atingir um objetivo comum, mediante a obediência às mesmas regras de procedimento. São mais de 1.200.000 profissionais de todo o mundo unidos numa engrenagem de serviço representada pelo símbolo da roda rotária.

Prossegue o conceito proclamando os objetivos básicos da instituição: “que prestam serviços humanitários”. Este é o móvel central do Rotary.

Organização de homens de negócios ou profissionais existem várias; de caráter universal, existem algumas. Entretanto, com o objetivo precípuo de prestar serviços humanitários, existem pouquíssimas organizações, as quais irão se distinguir uma das outras pela forma de servir.

O servir através da profissão, contudo, está condicionado pelo conceito do Rotary, posto que, deve o rotariano “fomentar um elevado padrão de ética em todas as profissões”.

Assim, a ação, por si só, será desprovida de valor, se o seu agente não preservar, e mais, fomentar, os princípios éticos profissionais, o que será visto mais adiante.

Por fim, o rotariano deverá visar, ainda, ao estabelecimento da boa vontade e da paz mundial sendo essa a alavanca da Avenida de Serviços Internacionais.

2.2 – OBJETIVO DA AVENIDA DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS

É o segundo objetivo do Rotary.

A Avenida de Serviços Profissionais do Rotary, antes comemorada no mês de outubro de cada ano e que, a partir de 2015-16 passa a ser comemorada no mês de janeiro, visa:

Estimular e promover o reconhecimento do mérito de toda a ocupação útil e a difusão das normas de ética profissional.

Estimular e promover o reconhecimento não significa uma simples postura subjetiva, passiva. Implica antes numa atitude objetiva, pragmática, altruística, em suma, em servir.

A regra reconhecer o mérito de toda ocupação útil. 

Para nós a ocupação útil, aqui entendida como atividade profissional, a ser reconhecida e valorizada, pressupõe um conteúdo ético. Assim, o serviço do varredor de rua, o gari, enquanto preserva a saúde da população e a estética das cidades, constitui uma ocupação útil que deve ser estimulada; também o serviço de um cientista que pesquisa novos caminhos para a saúde e o bem da humanidade, constitui para o Rotary mais um exemplo de ocupação útil que deve ser estimulada. 

Em contrapartida o tráfico de drogas, apesar de ser uma ocupação, não será útil para a humanidade, pelo que deve ser desestimulada. Um advogado que se dedica ao serviço de proteger e acobertar quadrilhas de delinquentes, apesar de ser uma ocupação, não é útil do ponto de vista moral, e, por conseguinte rotário. E se o dinheiro dos honorários provier da corrupção? O que dizer do médico que prescreve próteses e medicamentos, nem sempre os mais indicados, em troca de favores dos laboratórios? Ou do engenheiro que coloca materiais de qualidade inferior para obter maiores lucros? E da relação promíscua entre empresários e gestores públicos? Ou do juiz quando deixa de ser imparcial? A lista é longa e vai desde o cidadão comum até a cúpula de governos.

2.3 - A VOLTA ÀS ORIGENS: 

No dia 23 de fevereiro de 1905, quando o Rotary foi criado, aqueles quatro profissionais e homens de negócios reuniram-se com dois objetivos principais: companheirismo e mútua ajuda profissional. A prestação de serviços só viria a ser adotada alguns anos depois. A Volta às Origens, que hoje se preconiza, é exatamente no sentido de que prevaleça uma relação de confiança nos negócios entre rotarianos que, em igualdade de condições, passariam a ter preferência nos contratos, reconhecendo a condição de solidários no serviço ao próximo. 

Entretanto, algumas pessoas ingressam no Rotary com a intenção de tirar vantagem ou proveito dos relacionamentos e pensando em obter lucros profissionais. 

Cito como exemplo um caso verídico, ocorrido em minha cidade. Um companheiro, presidente de um Rotary Club, foi à Caixa Econômica solicitar empréstimo. O gerente, que era também companheiro do mesmo clube, verificou que o cadastro do cliente não permitia. O presidente apelou para a condição de rotariano e conseguiu que o gerente se responsabilizasse pessoalmente pela concessão do empréstimo. Resultado: quem teve que pagar foi o gerente, para não ser demitido da Caixa. Em consequência ambos deixaram o Rotary: um por falta de princípios e outro por desilusão.

2.4 – DECLARAÇÃO PARA EXECUTIVOS E PROFISSIONAIS ROTARIANOS

O item 8 da Declaração procura evitar essa prática. Entretanto, é preciso analisar cada caso individualmente , antes de se fazer um juízo de valor que pode ser equivocado. 

Não procurar obter de um rotariano, nem lhe outorgar, privilégios ou vantagens que não sejam normalmente concedidos em um relacionamento comercial ou profissional.

2.5 – O DAR DE SI ANTES DE PENSAR EM SI.

Servir através da profissão, não poderá ser um ato egoísta, visando a recompensas. É antes, um servir altruísta, pois sendo voluntário, o rotariano pratica o lema do Rotary: Dar de si antes de pensar em si.

Por outro lado, servir sem pensar no aspecto profissional, decerto levará a pensar que Rotary é, apenas, mais um clube de filantropia, uma associação de benemerência voltada para amparar creches, asilos e orfanatos. Decerto que essas são atividades nobres que devem ser estimuladas e aplaudidas e que constituem modos de atuação da Avenida de Serviços à Comunidade. Contudo, inúmeras instituições já se propõem a isso.

Rotary faz tudo isso, mas faz muito mais. Para praticar a caridade não precisamos estar no Rotary. Para enfiar a mão no bolso e dar uma esmola, quase sempre tirada do supérfluo, não precisamos ser rotarianos.

O Dar de si, antes de pensar em si é antes, a doação de algo tirado do coração, é um esforço contínuo, uma renúncia, e, principalmente, a eterna vigilância de servir no dia a dia. 

Podemos, assim, dizer, sem medo de afrontar os princípios rotários, que o servir através da profissão é a mais difícil forma de servir, mas é a que distingue o rotariano do filantropo.

Cabe-nos, neste momento, indagar:
  • O que posso fazer no meu trabalho para melhor servir aos outros?

2.6 – VOLUNTÁRIOS DE ROTARY E OUTROS PROGRAMAS

Com tantos cataclismos naturais ocorrendo no mundo, terremotos, enchentes, deslizamentos, tornados, tsunamis, erupções vulcânicas, uma maneira de servir através da profissão é como Voluntário do Rotary. Engenheiros, arquitetos, urbanistas, médicos, enfermeiros, jornalistas, nunca foram tão necessários. Anos depois as cidades e vilas, continuam arrasadas, com vias de acesso precárias, sem suprimento de água ou energia. Trabalhar como voluntário na reconstrução de casas, escolas, ou hospitais, ou em campanhas de vacinação, é uma das mais nobres maneiras de servir à humanidade através da profissão. 

Além deste, o Rotary oferece inúmeras outros programas de serviços profissionais: RYLAs, Grupos de Companheirismo, Rotarianos em Ação, Intercâmbios da Amizade, Equipes de Formação Profissional, Programas Vocacionais para Jovens entre outros, oferecem oportunidades de Servir Através da Profissão.

3 – Aspectos do Servir Através da Profissão 

3.1 - ASPECTO SUBJETIVO.

Sabemos todos que o exercício profissional é encarado precipuamente como a única forma de sobrevivência do homem. 

O açodamento cada vez maior, principalmente nas grandes cidades, as dificuldades econômicas, as complexidades crescentes decorrentes do desenvolvimento, tudo isso tende a materializar cada vez mais os objetivos do trabalho. 

A simples consciência da importância de cada atividade para os outros e para a comunidade constitui o primeiro passo para o servir. A consciência de que outras pessoas vão se beneficiar daquilo que estamos fazendo é imprescindível para que o homem valorize mais a si próprio, valorize mais a sua profissão e, em consequência, seja compelido a fazer melhor aquilo que lhe é proposto.

Esse despertar da consciência, irá, decerto, transformar nossa profissão de uma maneira de ganhar a vida em uma maneira de viver a vida.

É importante, pois, periodicamente, fazermos uma introspecção, frente à nossa mesa de trabalho e refletir:
  • Qual a importância deste meu trabalho para a comunidade?
  • Como os outros irão se beneficiar desta minha atividade?
  • Será que, dentro dessa importância do meu trabalho para os outros, estou fazendo bem o meu mister? 
3.2 – ASPECTO ECONÔMICO–SOCIAL.

Esse é um aspecto objetivo do servir, de inquestionável importância, mas que não constitui o núcleo de preocupação do rotariano.

Do ponto de vista econômico-social, os homens, através de suas atividades profissionais são responsáveis pela produção de riqueza e, em consequência promovem o atendimento das necessidades básicas da sociedade. 

O rotariano deverá ter a consciência de que exerce uma atividade produtiva e que essa atividade é importante e imprescindível para o desenvolvimento social. Entretanto, o mais importante, é a forma como se exerce essa profissão. O que o distingue é a preocupação de servir às pessoas, individualmente consideradas, ou mais precisamente, àquelas pessoas com as quais se convive, a exemplo de subordinados, chefes, colegas, clientes, fornecedores, órgãos de classe, concorrentes e outros. 

3.3 – ASPECTO ÉTICO E MORAL.

Esse é o aspecto de maior relevância do tema ora abordado, e a viga mestra dos serviços profissionais.

Ressalta-se, em primeiro lugar, que a sociedade aprende o que venha a ser Rotary mediante a análise comportamental do rotariano. Daí asseverar-se que o rotariano é a vitrine do Rotary.

O rotariano deve ser um elemento de transformação da sociedade e para tanto deve ser um exemplo vivo daquilo a que se propõe. 

Enquanto a ética é um conceito filosófico que busca fundamentar o comportamento humano, a moral é um conjunto de regras que regulam esse mesmo comportamento.

A evolução e a diversidade da natureza humana fez coexistirem duas morais: a moral permanente e a moral mutável. 

A moral mutável depende não só dos costumes, das tradições, da cultura de povos e nações, mas também dos interesses de grupos, classes e categorias sociais. 

São conflitantes a moral do empresário, que visa o lucro, e a moral do sindicalista, que procura o aumento de salário. 

Existem as morais das várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos comerciantes, dos catadores de lixo, entre outras. 

Existem sistemas morais que permanecem inalterados por séculos como a poligamia entre os árabes e a monogamia das culturas ocidentais. 

Existem outros que evoluem como as que se referem ao meio ambiente, onde a moral dos conservacionistas passou a sobrepujar a dos progressistas. 

As maiores mudanças, nos últimos 50 anos, ocorreram no campo sexual. A homoafetividade, antes considerada imoral, passou a ser normal para uns, e o fim do mundo para outros.

Todas essas morais têm de estar a serviço da ética.

Essa moral mutável no tempo e no espaço não impediu a eclosão dos conflitos, das divergências, das guerras. 

Surgiu um novo conceito de moral. Um conceito de moral permanente, sem a qual nenhuma grande civilização teria sido construída, sem a qual o desenvolvimento da vida em sociedade não teria sido possível. 

O novo conceito de moral, permanente, não é apenas um conjunto de regras e proibições, mas a consideração em primeiro lugar, dos direitos e interesses do outro. 

A moral não existe para nos impedir de agir, mas para nos impedir de fazer o mal, de fazer sofrer, de humilhar, de oprimir, de explorar, de subjugar. 

A moral não é contra o prazer, que é um bem, mas contra o egoísmo, que é um mal. 

Em resumo, a moral permanente é um conjunto de valores que regulam o comportamento humano, a fim de que este não prejudique nem interfira nos direitos e interesses do outro. 

3.4 – A PROVA QUÁDRUPLA

Com relação à ética profissional, Herbert Taylor em 1932 legou a todos nós a PROVA QUÁDRUPLA, a qual não podemos chamar de um código de ética, mas sim, de uma reflexão, de uma auto-avaliação.

A “Prova Quádrupla” é de uma simplicidade enorme no seu enunciado, facilitando o seu entendimento. Não é um código complicado, cheio de artigos, parágrafos e itens, com palavras difíceis. É de uma objetividade singular. Devemos aplicá-la, em nosso dia a dia, em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos:
  1. É Verdade?
  2. É justo para todos os interessados?
  3. Criará Boa Vontade e Melhores Amizades?
  4. Será Benéfico para todos os Interessados?
O rotariano não precisa de Conselhos de Ética para julgar os seus passos. Não há necessidade de ninguém apontar-lhe erros, pois, ele mesmo, pela aplicação da “Prova Quádrupla” em sua vida, se autoanalisa. E jamais o homem poderá fugir de si mesmo.

4 - Conclusão

Companheiros, devemos nos preocupar, hoje, com a apatia, com a omissão, com a indiferença e com a acomodação que estão imobilizando os homens.

É terrível ouvirmos de pessoas que nos são queridas e próximas a assertiva:

O que adianta sermos bons, espalhar a boa vontade e a Justiça, servir, se a sociedade continua egoísta, hipócrita e má, se os governantes continuarão insensíveis, incompetentes e locupletando-se do Poder?

Essa postura somente contribui para o agravamento da crise econômica, moral e social.

Deverá haver, sobretudo na vida profissional e na vida econômica, um conjunto de reações sadias, de movimentos saudáveis. O Rotary nos compele a isso.

Transportando esse pensamento para servir através da profissão, temos a consciência de que, mesmo sem a expectativa de solucionar todos os problemas, deveremos fazer a nossa parte, na certeza de que minoraremos, ao menos, o sentimento coletivo negativo e colaboraremos para o resgate parcial dos valores sociais positivos. 

Para concluir, vale repetir a frase de Paul Harris, dita em 1912: 

De todas as mil e uma maneiras que o homem pode escolher para ser útil à sociedade, sem dúvida, as mais viáveis e, na maioria dos casos as mais eficientes, serão aquelas no âmbito de suas próprias ocupações.



x-x-x-x-x-x-x

sábado, 26 de dezembro de 2020

A VOLTA ÀS ORIGENS


A VOLTA ÀS ORIGENS


Alberto Bittencourt - 10 de outubro de 2012
 
Muito se tem apregoado “A VOLTA ÀS  ORIGENS” como um fator capaz de, não apenas diminuir a evasão de sócios, como também tornar o Rotary mais  atraente para líderes e profissionais de todas as categorias.

A VOLTA ÀS ORIGENS, significa retomar o elo que reuniu aqueles quatros profissionais e homens de negócios no dia 23 de fevereiro de 1905. Paul Harris, ao criar o Rotary, o fez com dois objetivos principais: companheirismo e mútua ajuda profissional.

Nascido numa cidade pequena, em Wisconsin, EUA e criado em outra pequena localidade, a cidade de Wallingford, em Vermont, Paul Harris ao chegar em 1900 à Chicago para exercer o ofício de advogado, após ter passado cinco anos como nômade a percorrer a Europa e os Estados Unidos de costa a costa para adquirir experiência, sentiu o isolamento e as dificuldades de quem não conhecia e tampouco tinha amigos na cidade grande.

Certo dia, chamou seu único amigo, Silvester Schiele para um passeio e ficou  deveras impressionado ao ver seu companheiro de caminhada cumprimentar pelo nome e ser correspondido  pelos donos de estabelecimento comerciais à frente dos quais passavam. Paul Harris admirou-se porque não tinha amigos. Aí nasceu a inspiração para a fundação do Rotary, ideia que Paul Harris amadureceu por cinco anos.

O Rotary oncebido para ser um clube que reunisse profissionais, um por categoria, para, na base do companheirismo, se ajudarem mutuamente, vencerem o isolamento da grande cidade e ainda desenvolverem um círculo de amizades capaz de trazer confiança e fortalecimento aos seus negócios e contratos comerciais.

Somente anos depois é que os objetivos do Rotary foram estendidos para a prestação de serviço.

Mas foi com base no companheirismo e na mútua ajuda que o Rotary teve grande crescimento inicial, transpôs fronteiras e iniciou a expansão pelo mundo.

A VOLTA ÀS ORIGENS que hoje se preconiza, nesse mundo egoísta, em que às vezes nos sentimos sós, é exatamente que prevaleça entre rotarianos a relação  de confiança nos negócios. Que  as portas da  direção  de uma empresa de rotarianos estejam sempre abertas para os companheiros do Rotary. Que em igualdade de condições, possamos sempre dar preferência ao cliente rotariano, firmar contratos com empresas de rotarianos, e porque não, reconhecendo a condição de correligionários do serviço ao próximo,  oferecer descontos pelo simples fato de ser rotariano? 

Nas minhas empresas os companheiros têm descontos. É como conceder pequena vantagem a um membro da família, com o qual temos uma relação maior de confiança. Aliás, é o mesmo desconto que damos aos funcionários de empresas e entidades públicas, com as quais fazemos convênios.

Outra coisa: qualquer rotariano pode subir à tribuna do clube para oferecer  produtos ou serviços de sua empresa que possam ser  de interesse geral. É o caso, por exemplo, do companheiro agente de viagens que oferece um pacote turístico para uma convenção ou conferência internacional, ou do agente de seguros que anuncia um  novo produto.

Se tal não pudesse ocorrer, tampouco poderíamos anunciar nossas empresas nos boletins dos clubes e nem colocar estandes em Conferências Distritais para divulgar e oferecer produtos.

Agora, é preciso nunca esquecer os princípios da ÉTICA, para que ninguém queira tirar vantagem pessoal, alegando ser  rotariano e abusar da confiança depositada.

Cito aqui 2 fatos ocorridos, ambos verídicos dos quais me reservo o direito de resguardar os nomes e a procedência.

Fato n° 1: Um companheiro tenta entrar num banco após o horário de fechamento das portas. Da rua acena, faz sinais, gestos, e tenta telefonar para o gerente, seu conhecido e amigo, companheiro do mesmo Rotary Club. O companheiro gerente fez que não viu, não tomou conhecimento, nem deu a mínima atenção. Resultado: no outro dia, indignado o companheiro que queria entrar e não conseguiu, pediu desligamento do clube. Esse não era rotariano na verdadeira acepção da palavra. Queria aproveitar-se do fato de ser rotariano para conseguir vantagem  normalmente não  concedida. Tempos depois o outro companheiro, gerente de banco também pediu  afastamento. Faltava-lhe o espírito rotário. Devia ter dado uma satisfação: “olhe companheiro as normas do banco são claras e infelizmente eu não posso transgredir”. O que custava? Ter-se-ia evitado maiores problemas. O diálogo resolve tudo.

Fato nº 2: O companheiro se prevalece da condição de rotariano para tomar empréstimo bancário que normalmente não conseguiria por ter cadastro insuficiente. Usou de influência junto ao gerente que também era rotariano. Resultado: recebeu o empréstimo e não pagou. E quem teve que arcar com o prejuízo foi o pobre do gerente rotariano que se responsabilizara pessoalmente pelo cliente companheiro.

Considerando aspectos como esses, é que a ÉTICA  deve prevalecer acima de tudo, consoante a Prova Quádrupla e a Declaração para Executivos e Profissionais Rotarianos, cujo artigo VIII prescreve:

         “Não procurar obter de um rotariano, nem lhe outorgar, privilégio ou vantagem que não sejam normalmente concedidos num relacionamento comercial ou profissional”.

 

   

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

CLANDESTINOS



CLANDESTINOS
Alberto Bittencourt - 2009





Recebi, pela Internet, impressionante e bem elaborado PPS sobre o tema "clandestinos".

O assunto levou-me à reflexão sobre os 74 milhões de clandestinos do mundo, conforme estatística do Banco Mundial. No fundo são todos refugiados de alguma situação, pessoas que largam sua terra natal, sua família, suas raízes. Deixam tudo por uma nova vida, num outro país, onde possam realizar os sonhos e adquirir um lugar ao sol. Muitos tentam a aventura na intenção de fazer o sonhado pé-de-meia, para depois voltar e trazer melhores condições de vida à família. Mesmo submetendo-se a salários baixos, os emigrantes conseguem poupar. Enviam vultosas quantias, cerca de 70 bilhões de dólares anuais a familiares e parentes nos países de origem.

Todos perderam a esperança de um futuro melhor na terra em que nasceram.

Uns são refugiados políticos, perseguidos pela facção que detém o poder em seu país. Outros são tangidos pela pobreza, caso dos africanos de algumas áreas pobres daquele imenso continente.

Muitos brasileiros procuram o tão propalado sonho erqedzzw 
Há muitos jovens brasileiros clandestinos, nos Estados Unidos, Canadá, Europa. Eles não podem voltar ao Brasil, pois sabem que as autoridades de migração do país em que estão não lhes permitiriam o reingresso.


O que leva esses jovens brasileiros a tentarem a vida no exterior, mesmo se arriscando, na condição de clandestinos? Creio que tal fato evidencia uma distorção: a falta de oportunidades de trabalho no Brasil. O sonho dos jovens ou é passar num concurso público ou é sair do país, mesmo na condição de clandestino. 


E as mulheres que emigram para serem, exploradas, prostituídas, vilipendiadas no mercado de escravas brancas que as leva para a Europa? Muitas conseguem chegar aonde jamais chegariam se por aqui ficassem. Deixam a casa, os filhos, e vão para o futuro incerto, sem saber se um dia voltarão. Têm a esperança de casar, de obter a cidadania, um trabalho honesto, o que nem sempre é possível. Sofrem violência sem tamanho. Outras são levadas às drogas à destruição. Quando podem, regressam, trazendo dinheiro, melhorias para a família. Constroem casa, dão presentes para a mãe, para os filhos que aqui ficaram. Depois, partem novamente, na incerteza. É um misto de coragem, sonhos, loucura, mas, sobretudo de esperança numa vida melhor.


Será que eles têm algum direito, os clandestinos? Entre os direitos do homem, que todo o mundo reverencia, os direitos do cidadão são os mais importantes. Será que os clandestinos possuem algum direito de cidadão no país em que vivem, na periferia obscura dos que oficialmente não existem? Talvez a questão seja mais de ordem moral do que política.


Os países do hemisfério norte, alvo principal das migrações, adotaram medidas de maior controle e procuram fechar as fronteiras na medida em que sua população envelhece e os órgãos de previdência social enfrentam problemas financeiros.

O debate se acendeu desde quando o presidente francês Nicolau Sarcozy manifestou a intenção de endurecer com todos os imigrantes clandestinos. A esquerda se dividiu entre a moral e a política. 

O estrangeiro clandestino não é considerado cidadão do ponto de vista moral.

Mas o estado de direito significa que os cidadãos não se encontram indefesos ante os abusos do aparato estatal. Ninguém contesta que os imigrantes, mesmo clandestinos devam se beneficiar integralmente dos direitos do homem. Somente os xenófobos pensam o contrário. Eles têm direito, por exemple, à saúde, à segurança, à educação. Mas, por outro lado, eles não têm o direito de votar nas eleições nacionais já que não são cidadãos do país em que vivem. São ainda passíveis de serem expulsos ou deportados para o país de origem, o que os torna particularmente frágeis e bode expiatório ideal. 

É claro que o estrangeiro é obrigado a respeitar as leis do país em que escolheu para viver. Mas ele não está obrigado a ir à guerra, nem a defender esse país caso ele seja atacado.

A moral, que se define com o jargão moderno do politicamente correto, tende a transigir, a esquecer, a fingir que o problema dos clandestinos não existe. É a tolerância até que, por qualquer motivo, eles infrinjam a lei. Então são presos e expulsos. É como os Estados Unidos procedem com os milhões de clandestinos que vivem na terra acolhedora do Tio Sam. Embora o rigor tenha aumentado para impedir as migrações clandestinas, na fronteira com o México, nas concessões de visto e nos aeroportos, eles têm a tendência a tolerar os clandestinos que cumprem seus deveres de cidadão.

"O meu sonho, como rotariano, é que todos os que hoje são clandestinos, sejam um dia cidadãos plenos do país em que vivem. Que não existam fronteiras nem barreiras nem muros entre as nações, que todos possam ser livres e viver como irmãos." É o sonho que Paul Harris descreveu em "Esta Era Rotária", 1935.


VEJA O POWER POINT "CLANDESTINO" 
(Manu Chao)



Clandestino from Manu Chao



x-x-x-x-x-Xero 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

PIEDADE, CARIDADE E COMPAIXÃO

  

PIEDADE, CARIDADE E COMPAIXÃO.
Alberto Bittencourt

Abro os jornais e identifico egoísmo e egocentrismo nas ações de grupos corporativos, movidos pelos próprios interesses. Pouco importa o sofrimento e a dor que possam causar ao próximo. As pessoas só pensam em si. Agora, somente alguns choram, breve todos choraremos. Somos vítimas de nossa própria insensibilidade.
Certas categorias profissionais costumam fazer movimentos coletivos reivindicatórios abusivos. Médicos, professores, policiais, fiscais, motoristas, bancários e muitos outros funcionários, principalmente do setor público. 

Gente que é paga com dinheiro do povo, para servir ao povo, para garantir os direitos individuais, cuja paralisação sempre prejudica a terceiros, principalmente às camadas mais pobres da população, deveria ser proibida de fazer greve.

Sindicalistas de propósitos obscuros insuflam greves por meses e meses. Para eles só interessa o poder. Pouco importa quão elevados sejam os níveis salariais, o que importa são as novas conquistas. Não estão nem aí para o sofrimento alheio. O povo que se defenda. Os humildes, os excluídos que se adaptem.
Professores paredistas deixaram milhares de estudantes  nas ruas, sem aulas, por mais de noventa dias. Estes, na ociosidade, frequentaram outras escolas, do vício, do roubo, da violência.  Os mestres têm o privilégio de entrar na mente dos alunos, de moldar seu caráter, prepará-los para a vida. São enormes suas responsabilidades.
Controladores de voo, para manifestar seu inconformismo, pouco se lixaram para o sofrimento do povo nos aeroportos.
Para os médicos, o maior reconhecimento é a cura. Não há dinheiro que pague uma vida. Seu trabalho paira acima das recompensas materiais.

Agora a categoria dos caminhoneiros, a partir de uma reivindicação justa, de redução dos aumentos abusivos nos preços dos combustíveis, paralisou o Brasil todo. Os prejuízos da população foram imensos. Milhões de aves e animais morreram por falta de ração. Como soe acontecer, agentes infiltrados de outras origens, interessados no caos, bloquearam as estradas e retardaram o retorno à normalidade.

O Brasil é campeão mundial de mortes por armas de fogo,  por acidentes de trânsito, frutos da violência urbana. Mata-se mais no Brasil do que nas guerras da Ásia e do Oriente Médio. 
Após um século em que duas guerras mundiais e centenas de outras menores produziram 60 milhões de mortos, deveríamos ser, mais do que nunca, cônscios do respeito à vida e aos direitos do homem. Pena que o homem tivesse que mergulhar a fundo na destruição do próprio homem para descobrir o caráter sagrado do ser humano e perceber este sentimento de fraternidade universal, expresso nas três atitudes: piedade, caridade e compaixão.

A piedade é um sentimento interior, uma forma de demonstrar que o sofrimento nos afeta, que somos solidários com as vítimas.
A caridade é uma maneira burguesa de ajudar o próximo, de lhe dar o pão, as roupas, de satisfazer suas necessidades imediatas.
A compaixão, que anteriormente se confundia com caridade ou piedade, adquire hoje um novo conceito moral, graças à filosofia budista.

Hoje a compaixão é mais do que uma sensibilidade aos direitos do homem, mais do que uma simpatia com todas as vítimas dos genocídios, das guerras civis, dos atos de terrorismo e barbárie, das catástrofes naturais, das injustiças de todos os gêneros.
A compaixão, ao contrário da piedade que é estática, é dinâmica, ativa e respeitosa. Ela consiste em se colocar no lugar do outro, em sintonizar com seu sofrimento e ajudar, na medida do possível, a superar as dificuldades, dando-lhe a palavra justa, o gesto salvador.
Essa mensagem budista faz coro com as grandes tradições religiosas, e com o ideal rotário de Dar de si antes de pensar em si.
A compaixão é uma verdadeira joia que mostra que as religiões, assim como o Rotary e outros clubes de serviço são verdadeiras ferramentas da paz.
Que a evolução mais significativa deste terceiro milênio seja a sensibilidade aos direitos do homem, a simpatia pelos que sofrem, pelos que padecem.
Que essa simpatia se transforme em compaixão desde o momento em que percebemos as exigências e os deveres que o sofrimento do outro nos impõe.

A verdadeira compaixão é também ação.
É o que faz a roda rotária girar.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

A ETICA ROTARIA





A  ÉTICA  ROTÁRIA
Alberto Bittencourt

O movimento Rotário, sendo um movimento mundial, está em constante evolução, em constante atualização. O Rotary de hoje é diferente do Rotary de 30 anos atrás em muitos aspectos, mas há uma coisa dentro do Rotary que não muda, que é imutável desde o primeiro dia da sua existência.   Chama-se ética. No que se refere à ética o Rotary é rígido, inflexível. Os princípios éticos de hoje são os mesmos de 1905, da época da criação do Rotary.

A Ética, um princípio que não pode ter fim, é o mais imutável dos princípios. Um verdadeiro dogma.

A ética rotária é expressa pela relação comportamental entre as pessoas, dentro e fora do Rotary. É a ética no exercício profissional, a ética na relação comercial, a ética nas relações familiares, a ética nos clubes.

O comportamento ético, representado pela Prova Quádrupla, é um princípio a ser sempre lembrado, constantemente exaltado, principalmente nos dias de hoje, em que se valoriza a "lei  de Gerson" – o "gosto de levar vantagem em tudo" -  quando se preconiza a competição entre as pessoas, entre as empresas, onde a concorrência visa não apenas vencer, mas  destruir, quando os fins justificam os meios, lícitos ou ilícitos.

É preciso averiguar permanentemente se a Prova Quádrupla está cumprindo o seu papel de melhorar as relações profissionais ou comerciais, se está sendo corretamente difundida na sociedade pelos Rotary Clubs. Precisamos meditar sempre sobre como poderá esse teste de procedimentos contribuir para melhorar o mundo, verificar o que nós, rotarianos do centenário podemos fazer para que ela seja um norteador de procedimentos entre os homens, em suas relações sociais, políticas, familiares, de trabalho e de lazer.

Dentro do clube o Pilar da Ética não é menos importante que os demais, pois sem ele a casa cai. A ética no clube o que é? É o cumprimento das obrigações que nós assumimos ao colocarmos o distintivo rotário. Quais são essas obrigações?

A primeira é a frequência financeira, o pagamento em dia das mensalidades do clube. Ao adentrarmos um clube de Rotary, tomamos ciência das responsabilidades financeiras que assumimos. Ao sermos empossados como rotarianos firmamos o compromisso de pagar corretamente todas as mensalidades. A inadimplência financeira de quem quer que seja fere os princípios da verdade e da justiça, de vez que sobrecarrega os demais companheiros do clube.

A segunda obrigação é a frequência funcional, porque não se faz companheirismo, nem se troca energia, nem se interage uns com os outros, com as cadeiras vazias. Para que se tenha novas idéias, novas inspirações, é preciso estar presente. Faz parte da ética rotária a frequência mínima de 50% das reuniões rotárias do semestre. Assim, a inadimplência funcional, é o não cumprimento dos requisitos mínimos de frequência. O pilar da ética é quebrado com a ausência às atividades do clube, sejam às reuniões plenárias semanais, sejam às reuniões de companheirismo, de trabalho ou de representação. Aquele que não comparece, não participa, não colabora, nem tampouco diz a que veio, fere a ética rotária da verdade, da justiça, da amizade, da boa vontade.

Tudo dentro do clube faz parte da ética rotária, inclusive a aceitação de missões, como a de presidente. Todos vocês que entraram neste clube sabem que um dia chegará sua vez de serem convocados por seus colegas para novas e desafiantes funções e a recusa significa omissão, o não cumprimento da ética rotária. Fere a ética quem sistematicamente se recusa a assumir cargos como o de presidente do clube, ou mesmo de diretor de avenida ou comissão. Quem entra no Rotary, já entra sabendo que chegará a sua vez, um dia ele será convocado para servir ao clube. Ao recusar uma convocação, chegada a hora, significa que o companheiro está sendo, no mínimo, omisso.

Também fere a ética rotária aquele grupinho de companheiros que constituem a chamada "turma do cupim". São aqueles que em toda reunião ficam no fundo da sala batendo papo, conversando, freqüentemente bebendo cerveja ou uísque, alheios ao que se passa na reunião plenária, numa evidente desconsideração, falta de respeito e de educação, pelos palestrantes e convidados.

Não podemos contemporizar nem amenizar os rigores da prova Quádrupla nas reuniões rotárias e na vida dos clubes. Jamais podemos esquecer do slogan cunhado pelo publicitário Aroldo Araujo, companheiro do Rotary Club do Rio de Janeiro: 


Ética - Um Princípio que não pode ter Fim.


sábado, 6 de janeiro de 2018

A PROVA QUÁDRUPLA CONTADA POR SEU CRIADOR


A PROVA QUÁDRUPLA POR SEU CRIADOR


O Relato abaixo é do rotariano Herbert J. Taylor, presidente do RC Chicago em 1939-40 e do Rotary International em 1954-55. Ele viveu de 1893 a 1978. Escreveu a Prova Quádrupla, (Four Way Test) durante uma crise em seus negócios no ano de 1932.
A Prova Quádrupla foi adotada por RI em janeiro de 1943.  Apesar de ter sido criada naqueles tempos, ela mostra-se atual e pertinente ao dia-dia de todo rotariano.
















Em 1932, fui encarregado pelos credores da Club Aluminum Company, da qual passei a presidir, de evitar a falência e conseqüente fechamento da empresa. Atuava a mesma como distribuidora de utensílios de cozinha e de outros artigos para uso doméstico.


A empresa devia na época uma importância superior a US$400.000 além de seu próprio ativo total. Ou seja: ESTAVA QUEBRADA mas ainda sobrevivia.
Nessa ocasião, um banco de Chicago emprestou-nos US$6.100, parcos recursos com os quais deveríamos prosseguir operando.
Conquanto tivéssemos um bom produto, nossos competidores também comercializavam com material de excelente qualidade e de marcas largamente anunciadas. Nossa empresa dispunha de ótimos empregados, mas a concorrência igualmente os possuía. E, além disso, se achavam, naturalmetne, em condições econômicas muito mais sólidas do que a nossa.
Com tremendos obstáculos e desvantagens a enfrentar, sentimos a necessidade de criar em nossa organização algo com que os competidores não contassem em idênticas proporções.
Decidimos, então, que teria de girar em torno do caráter, da noção do dever e do espírito de servir do nosso pessoal.
Começamos por selecionar cuidadosamente os nossos colaboradores e, em seguida, ajudá-los a se tornarem melhores homens e mulheres, à medida que avançassem nas suas carreiras. Acreditávamos na "força da razão" e resolvemos tentar o máximo para que estivesse ela sempre do nosso lado.
A indústria em que trabalhávamos, como acontecia com várias outras, tinha um código de ética, mas esse era muito longo e quase impossível de ser memorizado e, portanto, impraticável.
Concluímos, assim, que precisávamos de um padrão simples para avaliar a correção de nossa maneira de proceder e, do qual todos na empresa pudessem rapidamente lembrar-se. Entendíamos que o texto proposto não deveria apontar aos nossos empregados o que lhes competia fazer, porém dirigir-lhes perguntas que lhes facilitassem verificar se os seus planos, normas e ações estavam certos ou errados.
Havíamos procurado nas publicações disponíveis uma medida de ética curta mas não conseguimos encontrar nada satisfatório.
Um dia, em julho de 1932, resolvi pedir uma luz divina. Comecei a orar...
Naquela manhã, debrucei-me sobre a minha escrivaninha e pedi a Deus que nos ajudasse a pensar, falar e fazer o que fosse certo.
Imediatamente peguei um cartão em branco e escrevi "A Prova Quádrupla" do que nós pensamos, dizemos ou fazemos, assim:

1 - É a Verdade:
2 - É justo para todos os interessados:
3 - Criará boa vontade e melhores amizades?
4 - Será benéfico para todos os interessados?

Coloquei esse pequeno elenco de perguntas sob o vidro de minha mesa de trabalho e deliberei ensaiá-la por alguns dias, antes de abordar o assunto com qualquer funcionário da empresa. O resultado foi deveras desencorajador. Por pouco não lancei-a na cesta de lixo.
Logo no primeiro dia quando comparei tudo que passou com o quesito: "É a verdade?" Nunca me havia, até então, percebido de quanto estava frequentemente afastado da verdade e do número de inexatidões que figuravam nos documentos, cartas e propaganda da empresa.
Depois de cerca de dois meses de um sincero e constante empenho de minha parte, eu estava completamente convencido de seu valor e, ao mesmo tempo, imensamente humilhado, e às vezes desanimado, com o meu próprio desempenho como presidente da empresa.
Tinha, entretanto, progredido bastante naquele propósito de respeitar o teste para julgar-me autorizado a mencioná-lo a meus associados.
Discuti-o com os quatro chefes de departamento,que curiosamente, eram de quatro religiões ou crenças distintas: um era católico, o segundo cristão cientista, o terceiro judeu ortodoxo e o quarto presbiteriano. Indaguei a cada um deles se notava algum detalhe na Prova Quádrupla contrário à doutrina e aos ideais de sua particular devoção. Todos concordaram que o culto da veracidade, equidade, amistosidade e prestimosidade não só se ajustava a seus princípios mas que, se permanentemente observados nos negócios, essas virtudes lhes asseguravam maior sucesso e aperfeiçoamento.
Anuíram então em averiguar se os planos, normas, informes e publicidade do estabelecimento se enquadravam aos ditames da Prova Quádrupla.
Posteriormente, pediram eles que o pessoal decorasse e adotasse em suas relações com os demais.
A investigação da linguagem dos nossos anúncios, à luz da Prova Quádrupla, resultou na eliminação de expressões cuja autenticidade não podia ser demonstrada. Superlativos como "o melhor", "o maior", "o único", desapareceram de nossa propaganda.
Como consequência, o público gradativamente passou a depositar crescente fé que declarávamos nos anúncios e a comprar mais das nossas mercadorias.

O uso ininterrupto da Prova Quádrupla levou-nos a alterar nossa orientação atinente às relações com os competidores. Abolimos de nossa literatura e reclames quaisquer comentários adversos ou prejudiciais aos produtos da concorrência. Quando se oferecia uma oportunidade de elogiar nossos colegas não hesitávamos em fazê-lo. Assim, conquistamos sua consideração, respeito e amizade.
A obediência aos preceitos da Prova Quádrupla no trato com nossos empregados, fornecedores e clientes garantiu-nos a sua estima e boa vontade.
Aprendemos que a afeição e confiança daqueles com quem nos associamos são essenciais ao êxito duradouro dos negócios.
Graças ao leal esforço dos nossos servidores por mais de vinte anos, atingimos com firmeza os alvos a que a Prova Quádrupla se propunha atingir.
Fomos recompensados com um contínuo aumento de nossas vendas e lucros, das quais, passaram a participar desta remuneração todos os funcionários da empresa.
Falida em 1932, conseguimos, em poucos anos, saldar todas as dívidas da firma, e ainda recompensamos os acionistas com o pagamento de mais de um milhão de dólares em dividendos. De uma dívida de US$400.000, atingimos um ativo superior a US$2.000.000.000 (dois milhões de dólares). Todos esses resultados se originaram de um investimento inicial de apenas US$ 6.100, da observância da Prova Quádrupla e do labor intenso de algumas dedicadas criaturas que acreditaram na bondade divina e atuaram sob a inspiração de elevados ideais.
Os dividendos intangíveis, derivados da adoção da Prova Quádupla, são ainda mais significativos do que os financeiros.
Vimos crescer, a nosso favor, a boa vontade, a estima e a confiança dos clientes, dos concorrentes e do público em geral e, o que é mais valioso, assinalamos um grande aprimoramento dos predicados morais do nosso corpo de funcionários e empregados.
Descobrimos que a Prova Quádrupla podia ser aplicada a todas as modalidades de contatos, no setor dos negócios, no curso da própria vida doméstica, social e cívica.
E, dessa forma, passamos a ser melhores pais, melhores amigos e melhores cidadãos.

=============================


A PROVA QUÁDRUPLA E AS NOSSAS LIBERDADES



 A PROVA QUÁDRUPLA E AS NOSSAS LIBERDADES

Alberto Bittencourt



Na vida de cada um a liberdade representa a autonomia, a independência de ir e vir, o poder de si sobre si mesmo.

A Prova Quádrupla Rotária é um conjunto de princípios e valores que regem a convivência entre pessoas livres. Como um código de ética, ela visa regular a vida em sociedade, com o objetivo maior de preservar a dignidade do outro e a própria dignidade de quem a aplica.

O fato do ser humano ser dotado de autonomia, não significa que seja soberano. Não podemos nem devemos agir puramente por instinto ou emoção. Devemos, antes, agir por reflexão, juízo, decisão e avaliação. 

A Prova Quádrupla tem o formato de quatro quesitos para serem aplicados sempre no momento presente. São quatro perguntas, quatro testes, quatro questões, destinadas a nos capacitar para melhor refletir, julgar, decidir, avaliar.

Aqui e agora, de modo singelo, a Prova Quádrupla oferece regras comportamentais para o relacionamento entre os seres humanos.

A Prova Quádrupla, reconhecendo nossa autonomia, parte de três diferentes tipos de liberdades: liberdade de pensar, liberdade de falar e liberdade de fazer. São três diferentes modos de ser livre: pensar, falar e fazer o que se quer.

A Prova Quádrupla disciplina e regula essas três liberdades, na busca da dignidade, da harmonia e da paz entre homens e nações.

A liberdade de pensamento é a mais simples, a mais legítima das liberdades, a mais independente e autônoma. Pode-se aprisionar o homem, mas nunca seus pensamentos ou suas idéias. A liberdade de pensamento é uma questão filosófica. Eu diria que a liberdade de pensamento é a liberdade da vontade.

Ser livre é pensar o que se quer, mas não é falar, nem tampouco fazer o que se quer. O comportamento humano é condicionado pelo trilema: QUERO? POSSO? DEVO? A paz interior é a resposta afirmativa a essas três questões: o que eu quero deve ser o que eu posso e o que eu devo. Porém, tal nem sempre é realidade, pois, muitas vezes eu quero, mas não posso, ou se eu posso, não devo. Outras vezes eu posso querer uma coisa e ser obrigado a fazer outra, que não quero.

A liberdade de fazer, ou de ação, é a mais comum. Eu sou livre para agir quando posso e quando devo, ou seja, quando nada me impede ou bloqueia. A liberdade de ação é o contrário da repressão, da opressão, da escravidão, no sentido político do termo. Cabe ao Estado, através da lei, o poder de garantir e também de restringir as liberdades individuais. O princípio da vida em coletividade, para a harmonia da convivência social é: "A liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro". 

Até nas crianças, na sua espontaneidade primordial, sem limites nem condicionantes, o "quero porque quero", a liberdade da vontade, é relativa. Ela depende das características hereditárias, ambientais, culturais, de DNA, das condições de saúde, sociais, econômicas, circunstâncias essas que não lhes foram dadas escolher. Mas são reais.

A afirmação de Ortega y Gasset: "Eu sou eu e minhas circunstâncias" ou "Eu sou o que sou" significa que restamos prisioneiros do que somos, já que nosso pensamento não é nem mais nem menos livre do que a vontade. Quero mas não posso, ou posso mas não devo, são fatores limitantes da vontade, constituem a nossa ética comportamental.

Senão, vejamos a PROVA QUÁDRUPLA:




Estes quatro quesitos da Prova Quádrupla Rotária nos capacitam a refletir, decidir, julgar e avaliar. São o que podemos chamar de razão ou bom senso. É onde se encontra a verdadeira liberdade. Quando submetido à razão, meu pensamento não obedece nem mesmo à mim, nem à minha vontade, nem  ao meu inconsciente, nem à ninguém, ou a quem quer que seja. Ele se submete à ele mesmo ou à sua própria necessidade.

A razão é fruto do livre arbítrio individual. Livre e arbitrária, a razão escapa à prisão de nosso ego vaidoso e egoísta. Nossos pensamentos, guiados pela razão, conduzem à vontade, para que nossas falas e nossas ações se pautem pela ética, pela dignidade, pelos valores morais. Sem a razão, a vontade, as falas e as ações não seriam senão reflexos do ego.

Restam, portanto, três liberdades essenciais: liberdade do pensamento, liberdade da vontade e liberdade da razão. Destas, a única que prevalece é a liberdade da razão.

E cada um é livre, na medida em que compreende que não é, nem nunca será livre. Jamais.