ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO



O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO
ALBERTO BITTENCOURT – 09 de junho de 2015

Convenção Internacional do Rotary, em São Paulo -   
Palestra proferida no workshopp 
"Serviços Profissionais - Melhores Práticas". 
Baseada em palestra homônima de José Otávio Patrício de Carvalho.


SUMÁRIO

1 –    Introdução
2 –    Desenvolvimento
2.1 – Definição do Rotary.
2.2 – Objetivo da Av. Serviços Profissionais
2.3 – A Volta às Origens
2.4 – Declaração para Executivos e Profissionais Rotarianos.
2.5 – O Dar de Si Antes de Pensar em Si.
2.6 – Voluntários do Rotary e outros programas.
3 –    Aspectos do servir através da profissão
3.1 - Aspecto subjetivo
3.2 - Aspecto econômico social
3.3 – Aspecto ético e moral
3.4 – A Prova Quádrupla
4 –    Conclusão

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1 – Introdução

O Rotary consagra o mês de janeiro de cada ano aos Serviços Profissionais. O tema Servir Através da Profissão  é extremamente importante para o movimento rotário, porquanto, é através da profissão que se constrói o progresso de uma nação. Porém, através da profissão, também pode se originar a corrupção e desvios de conduta que vemos estampados diariamente nos jornais e noticiários televisivos. 

Todos os rotarianos, sem exceção, já ingressam na instituição como profissionais, mas muito poucos encaram a profissão como forma de servir ao próximo, de modo livre e consciente. 

Após a instituição do PLC – Plano de Liderança de Clubes, que criou as cinco Comissões Executivas e deu um caráter filosófico e inspirativo às cinco Avenidas de Serviços, a maioria dos Rotary Clubs deixou de dar a devida importância e de executar os programas da Avenida de Serviços Profissionais, considerada a primeira avenida e o berço do Rotary. 

Paul Harris já dizia em sua autobiografia – “Meu Caminho para o Rotary”:

Cada rotariano é um elo de ligação entre o idealismo do Rotary e seu negócio ou profissão.

2 – Desenvolvimento

2.1 – DEFINIÇÃO DO ROTARY

O mandamento “servir através da profissão” está inserido no próprio conceito do Rotary:

O Rotary é uma organização de homens de negócios e profissões, unidos no mundo inteiro, que prestam serviços humanitários, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a boa vontade e a paz no mundo. 

Diz-se que “é uma organização de homens de negócio e profissões”

Este é um pressuposto básico para sermos rotarianos, tanto que a classificação do rotariano, dada pela profissão, é um dos componentes imprescindíveis para a sua identificação no seio da instituição. Para que cada Rotary Club seja um extrato da sociedade, a diversidade de profissões é outro ponto importante, que vem desde a fundação, quando Paul Harris chamou seus três amigos, e fundou o Rotary, sendo cada um de uma categoria profissional. 

O segundo elemento do conceito – “Unidos no mundo inteiro” – concede o caráter universal do movimento, o congregar de forças em todo planeta para se atingir um objetivo comum, mediante a obediência às mesmas regras de procedimento. São mais de 1.200.000 profissionais de todo o mundo unidos numa engrenagem de serviço representada pelo símbolo da roda rotária.

Prossegue o conceito proclamando os objetivos básicos da instituição: “que prestam serviços humanitários”. Este é o móvel central do Rotary.

Organização de homens de negócios ou profissionais existem várias; de caráter universal, existem algumas. Entretanto, com o objetivo precípuo de prestar serviços humanitários, existem pouquíssimas organizações, as quais irão se distinguir uma das outras pela forma de servir.

O servir através da profissão, contudo, está condicionado pelo conceito do Rotary, posto que, deve o rotariano “fomentar um elevado padrão de ética em todas as profissões”.

Assim, a ação, por si só, será desprovida de valor, se o seu agente não preservar, e mais, fomentar, os princípios éticos profissionais, o que será visto mais adiante.

Por fim, o rotariano deverá visar, ainda, ao estabelecimento da boa vontade e da paz mundial sendo essa a alavanca da Avenida de Serviços Internacionais.

2.2 – OBJETIVO DA AVENIDA DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS

É o segundo objetivo do Rotary.

A Avenida de Serviços Profissionais do Rotary, antes comemorada no mês de outubro de cada ano e que, a partir de 2015-16 passa a ser comemorada no mês de janeiro, visa:

Estimular e promover o reconhecimento do mérito de toda a ocupação útil e a difusão das normas de ética profissional.

Estimular e promover o reconhecimento não significa uma simples postura subjetiva, passiva. Implica antes numa atitude objetiva, pragmática, altruística, em suma, em servir.

A regra reconhecer o mérito de toda ocupação útil. 

Para nós a ocupação útil, aqui entendida como atividade profissional, a ser reconhecida e valorizada, pressupõe um conteúdo ético. Assim, o serviço do varredor de rua, o gari, enquanto preserva a saúde da população e a estética das cidades, constitui uma ocupação útil que deve ser estimulada; também o serviço de um cientista que pesquisa novos caminhos para a saúde e o bem da humanidade, constitui para o Rotary mais um exemplo de ocupação útil que deve ser estimulada. 

Em contrapartida o tráfico de drogas, apesar de ser uma ocupação, não será útil para a humanidade, pelo que deve ser desestimulada. Um advogado que se dedica ao serviço de proteger e acobertar quadrilhas de delinquentes, apesar de ser uma ocupação, não é útil do ponto de vista moral, e, por conseguinte rotário. E se o dinheiro dos honorários provier da corrupção? O que dizer do médico que prescreve próteses e medicamentos, nem sempre os mais indicados, em troca de favores dos laboratórios? Ou do engenheiro que coloca materiais de qualidade inferior para obter maiores lucros? E da relação promíscua entre empresários e gestores públicos? Ou do juiz quando deixa de ser imparcial? A lista é longa e vai desde o cidadão comum até a cúpula de governos.

2.3 - A VOLTA ÀS ORIGENS: 

No dia 23 de fevereiro de 1905, quando o Rotary foi criado, aqueles quatro profissionais e homens de negócios reuniram-se com dois objetivos principais: companheirismo e mútua ajuda profissional. A prestação de serviços só viria a ser adotada alguns anos depois. A Volta às Origens, que hoje se preconiza, é exatamente no sentido de que prevaleça uma relação de confiança nos negócios entre rotarianos que, em igualdade de condições, passariam a ter preferência nos contratos, reconhecendo a condição de solidários no serviço ao próximo. 

Entretanto, algumas pessoas ingressam no Rotary com a intenção de tirar vantagem ou proveito dos relacionamentos e pensando em obter lucros profissionais. 

Cito como exemplo um caso verídico, ocorrido em minha cidade. Um companheiro, presidente de um Rotary Club, foi à Caixa Econômica solicitar empréstimo. O gerente, que era também companheiro do mesmo clube, verificou que o cadastro do cliente não permitia. O presidente apelou para a condição de rotariano e conseguiu que o gerente se responsabilizasse pessoalmente pela concessão do empréstimo. Resultado: quem teve que pagar foi o gerente, para não ser demitido da Caixa. Em consequência ambos deixaram o Rotary: um por falta de princípios e outro por desilusão.

2.4 – DECLARAÇÃO PARA EXECUTIVOS E PROFISSIONAIS ROTARIANOS

O item 8 da Declaração procura evitar essa prática. Entretanto, é preciso analisar cada caso individualmente , antes de se fazer um juízo de valor que pode ser equivocado. 

Não procurar obter de um rotariano, nem lhe outorgar, privilégios ou vantagens que não sejam normalmente concedidos em um relacionamento comercial ou profissional.

2.5 – O DAR DE SI ANTES DE PENSAR EM SI.

Servir através da profissão, não poderá ser um ato egoísta, visando a recompensas. É antes, um servir altruísta, pois sendo voluntário, o rotariano pratica o lema do Rotary: Dar de si antes de pensar em si.

Por outro lado, servir sem pensar no aspecto profissional, decerto levará a pensar que Rotary é, apenas, mais um clube de filantropia, uma associação de benemerência voltada para amparar creches, asilos e orfanatos. Decerto que essas são atividades nobres que devem ser estimuladas e aplaudidas e que constituem modos de atuação da Avenida de Serviços à Comunidade. Contudo, inúmeras instituições já se propõem a isso.

Rotary faz tudo isso, mas faz muito mais. Para praticar a caridade não precisamos estar no Rotary. Para enfiar a mão no bolso e dar uma esmola, quase sempre tirada do supérfluo, não precisamos ser rotarianos.

O Dar de si, antes de pensar em si é antes, a doação de algo tirado do coração, é um esforço contínuo, uma renúncia, e, principalmente, a eterna vigilância de servir no dia a dia. 

Podemos, assim, dizer, sem medo de afrontar os princípios rotários, que o servir através da profissão é a mais difícil forma de servir, mas é a que distingue o rotariano do filantropo.

Cabe-nos, neste momento, indagar:
  • O que posso fazer no meu trabalho para melhor servir aos outros?

2.6 – VOLUNTÁRIOS DE ROTARY E OUTROS PROGRAMAS

Com tantos cataclismos naturais ocorrendo no mundo, terremotos, enchentes, deslizamentos, tornados, tsunamis, erupções vulcânicas, uma maneira de servir através da profissão é como Voluntário do Rotary. Engenheiros, arquitetos, urbanistas, médicos, enfermeiros, jornalistas, nunca foram tão necessários. Anos depois as cidades e vilas, continuam arrasadas, com vias de acesso precárias, sem suprimento de água ou energia. Trabalhar como voluntário na reconstrução de casas, escolas, ou hospitais, ou em campanhas de vacinação, é uma das mais nobres maneiras de servir à humanidade através da profissão. 

Além deste, o Rotary oferece inúmeras outros programas de serviços profissionais: RYLAs, Grupos de Companheirismo, Rotarianos em Ação, Intercâmbios da Amizade, Equipes de Formação Profissional, Programas Vocacionais para Jovens entre outros, oferecem oportunidades de Servir Através da Profissão.

3 – Aspectos do Servir Através da Profissão 

3.1 - ASPECTO SUBJETIVO.

Sabemos todos que o exercício profissional é encarado precipuamente como a única forma de sobrevivência do homem. 

O açodamento cada vez maior, principalmente nas grandes cidades, as dificuldades econômicas, as complexidades crescentes decorrentes do desenvolvimento, tudo isso tende a materializar cada vez mais os objetivos do trabalho. 

A simples consciência da importância de cada atividade para os outros e para a comunidade constitui o primeiro passo para o servir. A consciência de que outras pessoas vão se beneficiar daquilo que estamos fazendo é imprescindível para que o homem valorize mais a si próprio, valorize mais a sua profissão e, em consequência, seja compelido a fazer melhor aquilo que lhe é proposto.

Esse despertar da consciência, irá, decerto, transformar nossa profissão de uma maneira de ganhar a vida em uma maneira de viver a vida.

É importante, pois, periodicamente, fazermos uma introspecção, frente à nossa mesa de trabalho e refletir:
  • Qual a importância deste meu trabalho para a comunidade?
  • Como os outros irão se beneficiar desta minha atividade?
  • Será que, dentro dessa importância do meu trabalho para os outros, estou fazendo bem o meu mister? 
3.2 – ASPECTO ECONÔMICO–SOCIAL.

Esse é um aspecto objetivo do servir, de inquestionável importância, mas que não constitui o núcleo de preocupação do rotariano.

Do ponto de vista econômico-social, os homens, através de suas atividades profissionais são responsáveis pela produção de riqueza e, em consequência promovem o atendimento das necessidades básicas da sociedade. 

O rotariano deverá ter a consciência de que exerce uma atividade produtiva e que essa atividade é importante e imprescindível para o desenvolvimento social. Entretanto, o mais importante, é a forma como se exerce essa profissão. O que o distingue é a preocupação de servir às pessoas, individualmente consideradas, ou mais precisamente, àquelas pessoas com as quais se convive, a exemplo de subordinados, chefes, colegas, clientes, fornecedores, órgãos de classe, concorrentes e outros. 

3.3 – ASPECTO ÉTICO E MORAL.

Esse é o aspecto de maior relevância do tema ora abordado, e a viga mestra dos serviços profissionais.

Ressalta-se, em primeiro lugar, que a sociedade aprende o que venha a ser Rotary mediante a análise comportamental do rotariano. Daí asseverar-se que o rotariano é a vitrine do Rotary.

O rotariano deve ser um elemento de transformação da sociedade e para tanto deve ser um exemplo vivo daquilo a que se propõe. 

Enquanto a ética é um conceito filosófico que busca fundamentar o comportamento humano, a moral é um conjunto de regras que regulam esse mesmo comportamento.

A evolução e a diversidade da natureza humana fez coexistirem duas morais: a moral permanente e a moral mutável. 

A moral mutável depende não só dos costumes, das tradições, da cultura de povos e nações, mas também dos interesses de grupos, classes e categorias sociais. 

São conflitantes a moral do empresário, que visa o lucro, e a moral do sindicalista, que procura o aumento de salário. 

Existem as morais das várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos comerciantes, dos catadores de lixo, entre outras. 

Existem sistemas morais que permanecem inalterados por séculos como a poligamia entre os árabes e a monogamia das culturas ocidentais. 

Existem outros que evoluem como as que se referem ao meio ambiente, onde a moral dos conservacionistas passou a sobrepujar a dos progressistas. 

As maiores mudanças, nos últimos 50 anos, ocorreram no campo sexual. A homoafetividade, antes considerada imoral, passou a ser normal para uns, e o fim do mundo para outros.

Todas essas morais têm de estar a serviço da ética.

Essa moral mutável no tempo e no espaço não impediu a eclosão dos conflitos, das divergências, das guerras. 

Surgiu um novo conceito de moral. Um conceito de moral permanente, sem a qual nenhuma grande civilização teria sido construída, sem a qual o desenvolvimento da vida em sociedade não teria sido possível. 

O novo conceito de moral, permanente, não é apenas um conjunto de regras e proibições, mas a consideração em primeiro lugar, dos direitos e interesses do outro. 

A moral não existe para nos impedir de agir, mas para nos impedir de fazer o mal, de fazer sofrer, de humilhar, de oprimir, de explorar, de subjugar. 

A moral não é contra o prazer, que é um bem, mas contra o egoísmo, que é um mal. 

Em resumo, a moral permanente é um conjunto de valores que regulam o comportamento humano, a fim de que este não prejudique nem interfira nos direitos e interesses do outro. 

3.4 – A PROVA QUÁDRUPLA

Com relação à ética profissional, Herbert Taylor em 1932 legou a todos nós a PROVA QUÁDRUPLA, a qual não podemos chamar de um código de ética, mas sim, de uma reflexão, de uma auto-avaliação.

A “Prova Quádrupla” é de uma simplicidade enorme no seu enunciado, facilitando o seu entendimento. Não é um código complicado, cheio de artigos, parágrafos e itens, com palavras difíceis. É de uma objetividade singular. Devemos aplicá-la, em nosso dia a dia, em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos:
  1. É Verdade?
  2. É justo para todos os interessados?
  3. Criará Boa Vontade e Melhores Amizades?
  4. Será Benéfico para todos os Interessados?
O rotariano não precisa de Conselhos de Ética para julgar os seus passos. Não há necessidade de ninguém apontar-lhe erros, pois, ele mesmo, pela aplicação da “Prova Quádrupla” em sua vida, se autoanalisa. E jamais o homem poderá fugir de si mesmo.

4 - Conclusão

Companheiros, devemos nos preocupar, hoje, com a apatia, com a omissão, com a indiferença e com a acomodação que estão imobilizando os homens.

É terrível ouvirmos de pessoas que nos são queridas e próximas a assertiva:

O que adianta sermos bons, espalhar a boa vontade e a Justiça, servir, se a sociedade continua egoísta, hipócrita e má, se os governantes continuarão insensíveis, incompetentes e locupletando-se do Poder?

Essa postura somente contribui para o agravamento da crise econômica, moral e social.

Deverá haver, sobretudo na vida profissional e na vida econômica, um conjunto de reações sadias, de movimentos saudáveis. O Rotary nos compele a isso.

Transportando esse pensamento para servir através da profissão, temos a consciência de que, mesmo sem a expectativa de solucionar todos os problemas, deveremos fazer a nossa parte, na certeza de que minoraremos, ao menos, o sentimento coletivo negativo e colaboraremos para o resgate parcial dos valores sociais positivos. 

Para concluir, vale repetir a frase de Paul Harris, dita em 1912: 

De todas as mil e uma maneiras que o homem pode escolher para ser útil à sociedade, sem dúvida, as mais viáveis e, na maioria dos casos as mais eficientes, serão aquelas no âmbito de suas próprias ocupações.



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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

HÁ QUARENTA ANOS

 

HÁ QUARENTA ANOS

Alberto Bittencourt – março, 2004

 

         Agora só se fala em golpe militar de 1964. De repente todo mundo começou a jogar a culpa de todas as mazelas e atribulações em cima do movimento que culminou com a deposição do Presidente da República, João Goulart.

         Quem, como eu, viveu intensamente aqueles dias, sabe como foi. Há quarenta anos, na flor dos 21 anos, eu, tenente recém egresso da Academia Militar das Agulhas Negras, AMAN, servia em plena Vila Militar do Rio de Janeiro, palco dos acontecimentos mais marcantes. Ali, antes de 31 de março, passamos semanas e mais semanas de prontidão, preparados para intervir a qualquer momento nas agitações que assolavam a cidade. Dali partimos muitas vezes, os tenentes, com seus pelotões de choque, em operações chamadas de “controle de tumulto”, para evitar os quebra-quebras nas estações de trem e em outros pontos vitais. Que eu saiba, nunca foi preciso disparar um só tiro.

         A classe média, as classes produtoras, a maioria da população que vivia a insegurança daqueles dias, passou a desenvolver um medo, um quase terror, quando as propaladas “reformas de base” lhes ameaçaram o direito de propriedade, os direitos adquiridos, as conquistas de suas muitas lutas.

         Quando o líder comunista, Luiz Carlos Prestes, afirmou: “temos o poder, falta-nos apenas o governo”, o descontrole total já persistia. Os sindicatos se haviam lançado na transformação do país em república sindicalista, os soldados, os marinheiros, se rebelavam dentro dos quartéis. Assisti estarrecido, no início da carreira, à subversão daquilo que me ensinaram ser o mais sagrado dos princípios: o da hierarquia militar. Vi um almirante que se dizia popular ser carregado nos ombros por fuzileiros navais indisciplinados. Assisti discursos inflamados dos sargentos da Aeronáutica. Vi a demagogia interesseira campear nos comícios da Central do Brasil.

         A tudo presenciei, em noites de prontidão, adivinhando aonde queriam levar o Brasil. 

Naquele mês de março, a inflação chegou a mais de 80% ao mês, numa época em que ainda não existia correção monetária, nem indexação. Então vi a classe média explodir numa passeata de mais de 500 mil pessoas, chamada de “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Vi panelaços das donas de casa em protestos contra o custo de vida.

         Foram dias de tensão, quando as tropas irmãs se defrontaram em Barra Mansa, Estado do Rio. De um lado, entrincheiradas, estavam as forças do Rio, em defesa do que chamavam de legalidade. Do outro, avançando, as tropas de Minas, sob o commando do general Olímpio Mourão Filho, incentivadas pelo governador Magalhães Pinto e de São Paulo, comandadas pelo general Kruel, com o incentivo do governador Ademar de Barros. A separar, apenas o rio Barra Mansa.

         Somente o espírito pacífico, conciliador, tradicional inimigo de guerras fraticidas do brasileiro evitou, por um triz, o derramamento de sangue irmão. Castelo Branco assumiu o comando e determinou que todos voltassem para seus quartéis. A ordem soou como uma benção. Ninguém queria lutar, ninguém queria o confronto, a guerra. Foi um alívio geral. Pode-se dizer que praticamente não houve derramamento de sangue.

         Semanas depois, ao retornar para casa, após dias e mais dias em campanha, nos quartéis e nas ruas, fui recebido com honras de herói pela família, parentes, vizinhos. Todos me deram os parabéns, por haver participado do processo que defenestrou os agitadores, os corruptos, os que queriam implantar o regime comunista, tabu monstruoso que se constituíra na grande ameaça.

         Minha mãe afirmou: - “Que grande experiência, meu filho!” E foi mesmo. A partir daí, passamos a torcer pelos rumos do que se chamou no meio militar de “revolução democrática de 31 de março de 1964”.

         Revolução, contra-revolução, golpe, que importa o nome? Na realidade, tudo foi conseqüência de um processo revolucionário que vinha amadurecendo no seio da maioria dos brasileiros. Na realidade tudo aconteceu como resposta a um anseio que emergiu da classe média.

         Acompanhamos, a partir daí, erros e acertos da revolução. O Brasil progrediu. A inflação foi drasticamente controlada logo no primeiro ano. Instituições foram criadas que mudaram a vida dos brasileiros. O país avançou tecnologicamente. Criaram-se indústrias, fortaleceram-se empresas. Infelizmente houve disputa de poder, houve torturas, vieram os anos de chumbo. Por não entenderem de macro-economia os militares entregaram a condução da política econômica a técnicos e especialistas civis. E o resultado, que no começo foi bom, deu no que deu. Em quarenta anos, de 1942 a 1982, o crescimento médio do PIB foi de 8% ao ano. De 1982 a 2002, a média foi de apenas 2% ao ano. Duas décadas perdidas. Conseqüência de 1964?  Ou quem sabe, de uma nova ordem econômica mundial, da globalização? Ninguém sabe. Mas, chega de botar a culpa nos outros, chega de transferir responsabilidades. É culpa sim, da nossa incompetência. Um dia o Brasil ressurgirá num Novo Mundo, onde todos serão irmãos, não haverá mais guerras, nem violência urbana, nem fome, nem miséria. É apenas um sonho. Só nos resta sonhar e trabalhar.

 

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

COLÓQUIOS DE ANÔNIMA INTIMIDADE

COLÓQUIOS DE ANÔNIMA INTIMIDADE

Alberto Bittencourt - 14 ago 2020


Desculpe-me discordar, querida. Os petistas sofreram lavagem cerebral. Não enxergam nem as mais claras e elementares evidências. Lula é um desclassificado, um bandido que deveria estar preso, que responde a mais sete inquéritos, tendo sido condenado em três. Ele causou tremendos males ao país. Foi pior que muitos ataques terroristas. 

Foram treze anos de desgovernos do PT, Treze anos de  atraso, de vergonha, de dinheiro guardado em apartamentos, carregado em malas. Dinheiro desviado da saúde, do saneamento, da segurança, da Petrobrás, da Eletrobrás, do BNDES, dos fundos de pensão, uma verdadeira farra. 

Cerca de um trilhão de reais foram desviados dos cofres públicos. Parece que todo mundo já esqueceu. Quase acabaram com o Brasil. Ninguém mais fala nada? Querem que volte a roubalheira? Esqueceram dos roubos milionários da Assembleia Legislativa do Rio e concentram as baterias no Flávio Bolsonaro. Esqueceram as falcatruas da mulher do Sérgio Cabral e outras.  

A questão é que a imprensa só fala no Queirós. E os outros mais de vinte deputados estaduais do RJ que praticaram rachadinhas de valores muito superiores na mesma época, sendo o presidente da ALERJ o campeão de todos? Ninguém fala neles. O único investigado e preso é o Queiroz. Justiça e política podre a nossa. 

Na educação então foi um caos. Quiseram implantar a tal da ideologia de gênero, a iniciação sexual precoce, a doutrinação política, a rebeldia contra pais e mestres, a destruição do código moral das famílias, tudo segundo a doutrina de Antonio Gramsci. O tal do método Paulo Freire - A Pedagogia do Oprimido -  mostrou-se um engodo. A escola pública, na maior parte, formou analfabetos funcionais. Resultado: a juventude pobre está aí, sem trabalho, sem oportunidades. Até hoje a máquina governamental, as secretarias de educação e universidades federais estão impregnadas dessa ideologia marxista cultural..

Felizmente o povo escolheu Bolsonaro, pela via democrática e incontestável do voto. Bolsonaro deu um basta em tudo isso.  Sinto muito, querida, mas um dia você vai enxergar a realidade do que fizeram de mal neste país. Paulo Francis, Nelson Mota, os fundadores do tabloide O Pasquim, foram morar nos Estados Unidos e entenderam que o socialismo é uma grande ilusão. Você já morou na Austrália. Conheceu uma nova realidade, do que é a verdadeira democracia, em um país do primeiro mundo. Um dia o Brasil vai chegar lá. 

 O passado já passou. Agora o que importa é desconstruir presidente Jair Bolsonaro, que procura acertar, que barrou a corrupção, que governa para o bem do povo, que inaugura obras, que executa uma política externa pragmática, que pretende desburocratizar, diminuir o tamanho do estado. Querem continuar transferindo rios de dinheiro para ditaduras insignificantes, só porque são socialistas? O que eu exalto não são as pessoas, são os valores e princípios defendidos pelo atual governo. A imprensa e os esquerdistas estão desesperados e ficam inventando factoides. 

 Se Michele Bolsonaro errou, ela vai responder por isso. Mas, se tal fato realmente ocorreu, foi numa época em que os políticos transformavam habitualmente verbas públicas em privadas sem a menor cerimônia. Bolsonaro foi um dos poucos que passaram incólumes. Aqui em Pernambuco temos exemplos de políticos respeitáveis, como Marco Antônio Maciel, Roberto Magalhães e outros que nunca se locupletaram do dinheiro público. Enquanto os políticos transformaram dinheiro público em privado, nós, militares e rotarianos, por formação e por fé, transformamos dinheiro privado em público.

Sabe a origem da palavra "candidato"? Pois é, vem de "cândido". Na Grécia antiga, todos os que postulavam e ocupavam cargos públicos tinham que usar uma capa branca, pura, imaculada, em sinal de honestidade no trato da coisa pública. Essa capa branca, imaculada, era chamada de cândida, que, na época significava pureza. Daí surgiu o nome candidato para quem a usava. Com o passar do tempo, essa capa, cândida, foi se toldando de impurezas e chegou a ficar preta de tão maculada. Aí mudaram o nome para "toga", hoje usada nos tribunais. É tão cheia de máculas que, só mesmo sendo preta para não mostrar as improbidades que vão n’alma dos que lhe fazem uso.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

ONDE NÃO EXISTE AMANHÃ

ONDE NÃO EXISTE AMANHÃ
Alberto Bittencourt


Favela no Rio de Janeiro




1. No Recife - palafitas
Não conheço nada comparável à algumas favelas do Recife. As casas, de vão único, feitas de restos de madeira e plástico, infectas, promíscuas, se equilibram sobre palafitas fincadas no lodaçal. Não têm água encanada, nem banheiros, nem geladeiras, mas, paradoxalmente, não falta televisão, DVD, ou mesmo vídeo game. O lixo se espalha, vindo da maré ou do rio, a prefeitura nunca recolhe. O esgoto está nas portas, no chão, por onde se anda.

A favela dos Coelhos é apenas uma, entre tantas do Grande Recife. Situa-se no centro, em área nobre, ao lado de edifícios empresariais modernos, perto de hospitais que, como se diz, fazem do Recife o terceiro maior pólo médico do país.

Aí habita uma população marginalizada, abandonada, refém da droga, do crack, onde adolescentes dos 13 aos 18 anos trabalham como avião. Ninguém se lembra de construir moradias dignas e humanas para essa gente esquecida. 

Só na catástrofe a solidariedade se manifesta. Quando as enchentes, os deslizamentos ceifam vidas, destroem moradias, todos se mobilizam. A sociedade recolhe doações, o governo começa a construir novas casas, em locais mais seguros, em ritmo eleitoreiro.

2. No Rio de Janeiro - UPPs
Nem no Rio de Janeiro, onde estão as maiores favelas da América do Sul, subjugadas por traficantes e milícias, a degradação é tamanha. Lá, a maior parte dos barracos é de alvenaria, de tijolo nu, sem revestimento, dizem, para não pagar imposto à prefeitura. Nessas comunidades o comércio da droga floresce, se desenvolve abertamente, à luz do dia. Quando a polícia aparece, com seu aparato de uniformes, viaturas, sirenes, os traficantes se enfiam nas tocas como um bando de ratos. Terminada a incursão, tudo continua como dantes.

O Rio de Janeiro mostrou que poderia ser diferente. Lá, um dia, as favelas sonharam com amanhãs radiantes de paz. O Estado decidiu reconquistar comunidades há muito dominadas por traficantes e milícias. 

A ação se dava em três etapas. Primeiro avisavam que tropas de choque da Polícia Militar invadiriam o morro, de forma a garantir a segurança local. Os traficantes se evadiam, sob os olhos complacentes da mesma Polícia. Três meses depois, as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, se instalavam de modo permanente e preparavam a terceira fase, o restabelecimento do poder público com seus serviços econômicos e sociais.

Até 2008, oito UPPs foram instaladas e quarenta outras estavam programadas para os quatro anos seguintes. Em 2011 seria a vez da favela da Rocinha, anunciou o governo do Rio de Janeiro.

A presença contínua da Polícia mudava significativamente a vida dos habitantes das favelas. Os traficantes desapareciam, a violência diminuía.

Provou-se que só a ocupação permanente nos morros cariocas, foi capaz de livrar em definitivo os habitantes das mãos dos traficantes e das milícias.

Incursões esporádicas, não levam a nada. A Polícia chega, eles se entocam e, quando ela sai, eles retornam. Com a ocupação permanente realizada pelas UPPs, da Polícia Militar, as coisas mudaram.

3. Traficantes e milicianos.
Há uma grande diferença no Rio, entre os traficantes e as milícias. Os traficantes não são guerrilheiros, são vendedores de drogas, capazes de agir com violência para preservar seu negócio. As milícias são grupos de bandidos, interessados em extorquir a população, agindo com extrema violência. Os dois são perigosos, os dois fazem parte do crime organizado. Somente a expulsão desses indivíduos é capaz de trazer e implantar a paz.


4. Para um amanhã de paz.
O que é preciso para que a paz reine em definitivo nas comunidades?
  1. Em primeiro lugar, uma política permanente de construção de moradias dignas, decentes, de erradicação de palafitas, de favelas insanas. Estes novos bairros devem ser aquinhoados com redes de água e esgoto, com projeto urbanístico funcional, providos de áreas de lazer e equipamentos comerciais e comunitários essenciais, servidos por linhas de transportes coletivas acessíveis e integrados à malha viária urbana.
  2. Em seguida, uma política educacional séria, em que os alunos, crianças e adolescentes, fiquem em regime de tempo integral nas escolas, que aí recebam refeições, com atividades escolares, culturais e esportivas e, inclusive, formação profissional, tudo isto a partir de professores capacitados e avaliados sistematicamente, com proventos condizentes com seus esforços e resultados.
  3. Em terceiro lugar, com a ocupação permanente das comunidades pela polícia, como no Rio, com as UPPs.
  4. E, finalmente, com uma política de planejamento familiar que incentive o controle efetivo da natalidade, com orientação permanente, educação para a conscientização dos riscos e responsabilidades pela vida sexual promíscua, com ênfase nos deveres e na responsabilidade de gerar, prover e educar um novo ser.
Somente assim, garantindo o amanhã dessas comunidades, poderemos ter a certeza de que estaremos garantindo o amanhã de nossos filhos e netos e do nosso Brasil.

5. Corrupção.
Lamentavelmente a corrupção pôs tudo a perder. Destruiu a política das UPPs que parecia dar certo. A ganância imperou entre ministros do Tribunal de Contas do RJ, políticos, governadores que hoje respondem processos e parte está na cadeia. As favelas voltaram a ser dominadas por gangues de traficantes e milicianos. O crime organizado voltou a imperar.

6. Um novo amanhã.
Somente em 2019 uma nova política de repressão ao crime mostrou eficácia. Com tolerância zero, em seis meses os assassinatos foram reduzidos em 22% no Brasil.
A violência, o crime organizado, voltou a ser combatido, por ação da Policia Militar, através de snipers, heróis bem treinados, que destroem o mal, onde quer que se instale.
Os traficantes, milicianos, bandidos e exterminadores que se cuidem.

Alberto Bittencourt. 
Oficial do Exército, 
Engenheiro civil, professor, palestrante, escritor, biógrafo pessoal. 
Governador 2004/05 D-4500

Rotary Club do Recife-Boa Viagem
E-mail: abitt9@gmail.com
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Sobre Ética e Moral

Sobre Ética e Moral

Alberto Bittencourt - maio 2017


Encontrei meu amigo Alfredo, um companheiro associado do Rotary. Ele estava agitado com a falta de ética e moral que assola nosso país. Questionou a postura contemplativa dos rotarianos:
Sinto falta de um protagonismo és Rotário maior. Estamos muito apagados neste momento de crise ética e moral.
Pensei e respondi:
O Rotary, desde sua origem, é um arauto da ética, da moral, dos bons costumes. Através da Prova Quadrupla, defende a verdade, a honestidade, a justiça, a boa vontade, a amizade, o bem comum. Entretanto, por questões de princípios, não pode entrar em discussões de política partidária, nem de religião.
O motivo é simples: a política partidária, assim como as religiões, dividem, geram disputas, competição. Ao contrário, o Rotary prega a união, a solidariedade, a compreensão entre homens e nações.

O Rotary não discrimina ninguém, por cor política, religião, seita, raça, local de nascimento, estado de riqueza ou pobreza, questões de gênero.
O Rotary não tem códigos nem sinais secretos.

No Rotary, tudo é claro, transparente, para ser compartilhado com a humanidade.
Alfredo retrucou com veemência:
O conceito colocado com relação à política partidária e religiosa não se aplica quando os problemas a serem tratados são institucionais.
Continuou:
Devemos participar influir, lutar, para que se resolvam problemas políticos nacionais tais como educação, segurança, saude, corrupção, leviandade de nossos governantes em quaisquer níveis, incluindo até o judiciário. Não podemos e nem devemos ficar calados, covardemente nos esquivando, com a desculpa de que não podemos nos envolver.

Somos brasileiros, profissionais, consumidores, eleitores, pagadores da maior derrama de impostos neste país.
Finalizou:

Meus amigos, paremos de falar que não podemos fazer todo e qualquer tipo de movimento para salvar o nosso PAÍS.
Admiti que Alfredo tinha razão. Disse-­lhe:

Eu ia sugerir a realização de fóruns ou mesas redondas nos Rotary Clubs para discutir a temática da ética e da moral.
Mas, por outro lado, não podemos ficar eternamente em discussões e reuniões teóricas que tomam tempo e nada resolvem. Sinto a necessidade de sermos mais rápidos, objetivos.

O quê fazer então? Deixo aqui a pergunta.
Os homens do bem são lentos. Ficam enrolados em burocracia, em reuniões improdutivas que todos esquecem no dia seguinte. Enquanto isso, os homens do mau são rápidos. Trocam dois olhares e formam uma quadrilha para assaltar, matar, destruir.

O contrário da paz não é guerra, não é violência, não é luta. O contrário da paz é OMISSÃO.

São sabias as palavras de Martin Luther King:

_O que me assusta não é o grito dos homens maus. O que me assusta é o silêncio dos bons.
Alfredo concluiu:

Em junho, estaremos juntos na grande conferência Rotária do Distrito 4500 em Campina Grande. Será a oportunidade de discutirmos o assunto. Vamos em frente.
Despedimo­--nos:
_Ate lá.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

ECOS DA CASERNA -1

ECOS DA CASERNA _ 1
Alberto Bittencourt

Recém declarado Aspirante a Oficial do Exercito, assumi, em janeiro de 1964 o comando de um pelotão  no quartel do BESE - Batalhão Escola de Engenharia, unidade de elite, situado na Vila Militar, Rio de Janeiro. 
Eram 40 soldados recrutas, pobres, sem estudo, 40% ou mais analfabetos, vindos da periferia e incorporados ao Exército Brasileiro. 
Recebi a missão de transformar aqueles meninos de dezoito anos,  inconsequentes, mal ajambrados, brancos ou negros, gordos ou magros, em homens de verdade. 

O treinamento militar começava com ordem unida, pesada, intensa, sob sol, chuva, de forma a transformar as individualidades díspares em um corpo de prevalência da vontade coletiva. 

Assisti pela TV, de prontidão, sem tirar os coturnos nem para dormir, pistola 45 engatilhada e travada na cintura, os comícios da era Jango. 

Meus recrutas não fugiam ao humor carioca:
_  Nao confundam jugular do capacete com João Goulart e seus macetes, diziam. 

Vi o Almirante Aragão, comandante dos fuzileiros navais ser ovacionado e conduzido nos braços por uma turba ululante, numa afronta a um dos mais sagrados princípios que me ensinaram na AMAN: o da hierarquia militar. 

Comandei operações de "Controle de Tumulto", aplicando uma técnica hoje  superada, por perigosa que é: 
Quebra-quebra na Central do Brasil, e os havia a todo instante. Meu pelotão era dividido em  grupos de combate. Dez soldados em cada grupo, cada qual com um terceiro sargento no comando. 
Baionetas caladas, fuzis apontados, carregados e engatilhados. 
_Avançar! 
Alinhados, em passo de ganso alemão, olhar fixo para a frente, os soldados avançavam sem demonstrar medo. O espírito de corpo se fazia presente. 

Via de regra, o quê acontecia? 
A turba amotinada começava a debandar feito um bando de ratos assustados, de volta para as suas tocas. 
Nunca precisei disparar um só tiro,  de advertência que fosse.  

Deflagrado o movimento militar a 31 de março, as tropas do Rio de Janeiro, fiéis ao princípio camoniano da Disciplina Militar Prestante, posicionaram-se numa das margens do rio Barra Mansa, para enfrentamento das tropas vindas de São Paulo, sob o comando do general Kruel e de Minas, comandadas pelo gen. Mourão Filho. 

O Primeiro Batalhão de Engenharia de Combate, Batalhão Vilagran Cabrita, sediado em Santa Cruz, RJ, se não estou enganado, recebeu a missão de destruir a ponte sobre o rio Barra Mansa, na BR-116. 

Na outra margem os cadetes da AMAN, sob o comando do general Emilio Garrastazu Medice, que, em dezembro de 1963 me entregara um prêmio, por ocasião de minha formatura, apontavam as armas em nossa direção. 

Meu irmão, cadete, estava de um lado. Eu, aspirante, estava do outro. O conflito fratricida se fazia iminente. Eu decidira aderir. 

De repente, para alívio geral, chegou a ordem: 
_o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assumiu o comando das  tropas do Primeiro Exercito e mandou que recuassem para seus quartéis.  

De volta pra casa, fomos recebidos como heróis.  cumprimentados por toda a família, parentes e amigos.  Salvamos a Patria do comunismo internacional e evitamos a guerra fratricida. 

A jugular do capacete fugira para o Uruguai. 

Com a evolução dos acontecimentos, verificou-se que a corrupção, já naquela época,  era muito maior do que a subversão

Então, firmei a convicção de que a democracia não é outorgada pelos poderes constituídos, nem por uma oligarquia dominante. Ao contrário, a democracia emana do povo e em seu nome é exercida. 



Por isso, temos governantes ricos e governados pobres. 

Aprendi também que a democracia só se aperfeiçoa pelo exercício da própria democracia. 

A ruptura, a interferência, tende a criar uma voz que se considera dona da verdade. Somente ela pode falar em nome do Estado Democrático de Direito. 

Na minha opinião, deixa cair de podre. Do esterco hão de nascer brotos fortes, revigorados com a têmpera de nossos heróis.  Fortalecidos com a riqueza da nossa terra

Uma nova nação há de surgir, cujas raízes estão fincadas nos valores maiores da ética, da verdade, da honestidade.  Uma nação solidária, uma nação de amor e paz.

terça-feira, 8 de março de 2016

CORRUPÇÃO



CORRUPÇÃO






No Brasil, corruptos e corruptores causam mais devastação que o terrorismo internacional. São muitos milhões de mortes, um verdadeiro genocídio.

Somos um país rico, arrasado pela corrupção. 
São escândalos e mais escândalos, todos os dias. 
A corrupção contagia dos altos aos menores escalões.

Não consigo entender como pessoas, inteligentes e cultas, possam defender um governo que institucionalizou a corrupção. Cujo projeto único é de poder a qualquer custo. Que é causa de desempregos, de sofrimentos, de mortes. Que enxovalhou a imagem do Brasil no mundo.

Como autômatos, essas pessoas ficam repetindo velhos e encarquilhados clichês, de uma esquerda fracassada no tempo e no espaço.

Não há como negar  que nunca antes na história deste país se roubou tanto. 

Não há como negar que nunca antes na história deste país se avançou, com tamanha desfaçatez sobre o dinheiro do povo. 

Mas, para compensar, não há como negar que nunca antes na história deste país, um corruptor foi parar na cadeia.

Minha esperança é que, um dia, um lampejo de lucidez possa aclarar as mentes dessas pessoas e que nossos filhos e netos possam ter orgulho de viver num país digno e honrado.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CORRUPÇÃO NA CRUZ VERMELHA BRASILEIRA


CORRUPÇÃO NA CRUZ VERMELHA BRASILEIRA





A notícia foi publicada no Jornal do Commercio, Recife, dia 14 de outubro de 2014, meio escondida num pé de página. 
Infelizmente a corrupção, como causa primária de todos os males, causou falência de gestão da maioria dos órgãos da administração pública no Brasil e, por conseguinte, da privada. Como uma epidemia de grande virulência contaminou órgãos que deveriam estar acima de interesses pessoais e imediatistas, como a Cruz Vermelha Brasileira, a CBF, Comebol, entre outros. 

A Cruz Vermelha Brasileira está ameaçada de ser cortada da Cruz Vermelha Internacional, que tem sede em Genebra, na Suíça. Seus dirigentes, ora afastados, desviaram 25 milhões de Reais em dois anos de gestão, de 2010 a 2012. Da Suíça chegou o recado: não basta afastar nem punir os maus gestores. Queremos a devolução de um dinheiro que foi generosamente aportado por entidades humanitárias para ser empregado em prol das vítimas de catástrofes naturais no Brasil e não para engordar o bolso dos diretores. 

Sou brasileiro, gosto de levar vantagem em tudo, certo? 

Esta é a máxima cunhada por Gerson, o maior meia armador do mundo, veiculada na propaganda dos cigarros Camel, na época da vitória do Brasil na copa de 1970. 

A falta de seriedade é uma constante em todas as esferas. Falta transparência, honestidade, competência. 

Há que se desconfiar até das notícias, pois nem mesmo a mídia é confiável neste país. 

Só nos resta rezar. Pedir a Deus que de todo esse mar de lama ressurja um Novo Brasil. Um Brasil resiliente, um Brasil digno de nossos filhos e netos. 

Amém.

Jornal do Commercio, Recife, 14 de outubro de 2014


segunda-feira, 20 de abril de 2015

CORRUPÇÃO – O QUE FAZER ?




CORRUPÇÃO - O QUE FAZER?

Alberto Bittencourt
Escrito em 11/08/2012




O presidente de Rotary International 1996-1997, o argentino Luiz Vicente Giay, disse certa vez:


_A diferença entre o político e o rotariano é que o político torna privados bens que são públicos, enquanto que o rotariano torna públicos bens que são privados.

Esta é uma afirmativa que tem o gosto da verdade, não apenas na Argentina, mas em todo o mundo, principalmente no Brasil.

A corrupção é um mal que afeta a toda a sociedade. É tão antigo quanto ela, ocorre em países ricos ou pobres, qualquer que seja o regime, democrático ou ditatorial, capitalista ou socialista. 

Na China, a corrupção já acarretou até execuções em praça pública. No Japão, vez por outra acontece o suicídio de um membro do governo flagrado em prevaricação com o dinheiro público. 

Na Itália, a venda de proteção remonta à idade média, dando origem às várias máfias, como a Cosa Nostra, a Camorra, a Napolitana, entre outras. Lá, havia uma vasta rede de corrupção, que se estendia por todos os níveis da administração e do governo, até que um pequeno grupo de magistrados deu início à operação “Mãos Limpas” em 1980. O preço pago foi muito alto, pois 24 juízes e promotores foram assassinados. Mas, foram feitas prisões de vários chefões da Máfia, e também de vários empresários e políticos do partido no poder e o resultado foi o desmantelamento dessas organizações criminosas.

A corrupção no Brasil tem características próprias. É diferente do que ocorreu na Itália, mas também forma uma verdadeira máfia, difícil de acabar e nunca ocorreu de forma tão avassaladora como nas últimas décadas. Alcança todos os poderes, todos os setores da administração pública, não importa o nível.

A corrupção brasileira ocorre sob as vistas indiferentes e omissas do cidadão comum que se habituou a considerar normal comprar produtos piratas, oferecer suborno ao policial, burlar regras de trânsito, transgredir normas da boa educação e de civilidade. Nas empresas privadas, o famoso caixa dois é corriqueiro, bem como adquirir notas fiscais falsas tornou-se solução trivial para justificar despesas sem comprovação. Sonegar impostos, no Brasil, passou a ser encarado como maneira de sobrevivência.

Nesse quadro de corrupção vertical e horizontal, com a banalização do fenômeno, vem o sentimento de que o desvio no plano moral e ético está em toda a parte. É de Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta a frase lapidar: Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos.

Casos pontuais são levantados diariamente pela mídia, as revistas semanais a cada edição divulgam novas denúncias. Gabinetes são derrubados, cabeças rolam sob a pressão da opinião pública. A Polícia Federal, em incursões tão hercúleas quanto cinematográficas, parece investir contra moinhos de vento. Não se consegue extirpar um mal em que os resultados compensam os riscos.

De certa forma, a democracia encoraja a corrupção, ao limitar os poderes do Estado. Os políticos são contumazes em tais práticas, quando necessitam recursos para se eleger, acima do que possam dispor dos salários e acima do que possam receber de doações legais. O Brasil tem um sistema político clientelista, que privilegia o tráfego de influência e o lobby. Alguns corruptos acumularam fortunas tão colossais que, não tendo como gastá-la, tiveram que investir o dinheiro excedente em paraísos fiscais. 

Vários fatores favorecem o aumento da corrupção. Um deles é a excessiva centralização administrativa, concentrando o poder de decisão nas mãos do governo central. Quanto mais o Estado intervém na vida econômica, maior o risco de corrupção. Outro é a proliferação das leis e regulamentos, em que a gestão pública prioriza o controle da forma, antes dos resultados.

Nunca fui adepto do Estado mínimo, mas também não sou a favor de um Estado deformado, agigantado, com 39 ministérios, 22 mil cargos comissionados. Se contarmos estados e municípios, os cargos comissionados somam mais de 60 mil. Sou a favor do Estado necessário.

Podemos afirmar com segurança que quanto mais fechado é o regime, maior é a corrupção. O segredo em relação à transparência, o conchavo, os acordos de bastidores, favorecem grupos restritos de iniciados em detrimento da massa dos cidadãos. É a liberdade de expressão e a educação e consciência política do cidadão que combatem e minimizam os efeitos nocivos dessa prática.

Eu não tenho a menor dúvida de que a causa do nosso atraso está no que poderíamos chamar de Tripé do Subdesenvolvimento: Desigualdade Social, Violência e Corrupção, envolvidos pelo manto da Impunidade.

Aqui, uma pequena minoria enriquece rapidamente por meios escusos, não ligados à produção, enquanto a maioria da população, que paga os seus salários, sofre os efeitos desse Tripé do Subdesenvolvimento.

Somos um país rico, com abundância de recursos naturais, temos um povo ordeiro e trabalhador, não bastasse isso, temos a maior extensão contínua de terras agricultáveis do mundo, possuímos um parque industrial moderno e competitivo.

É injustificável que continuemos marcando passo no subdesenvolvimento, tendo por ano, mais de 50.000 mortes em acidentes de trânsito, e mais de 50.000 vítimas fatais por homicídios, com mortes de crianças por falta de saneamento e água potável, milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema.

Com a quantidade de impostos que se paga, ninguém precisaria pagar planos de saúde extorsivos, escolas particulares, segurança privada. Afinal, é responsabilidade do Estado prover educação, saúde e segurança.

Não fosse a corrupção, talvez o Brasil integrasse as nações do Primeiro Mundo.

O que fazer para extirpar essa máfia de nossa sociedade ? 

Em primeiro lugar, a grande diferença é que nos países desenvolvidos, a corrupção, quando descoberta, tem como consequência a punição tanto dos corruptos quanto dos CORRUPTORES. 

Aqui no Brasil, por maior que seja o escândalo, nunca se ouve falar em punir ou investigar o corruptor. Somos um país em que se subverte até a verba da merenda escolar, a cargo das prefeituras municipais, as propinas, as comissões, sobem com frequência a patamares superiores a 50%.

Onde estão os corruptores? 

Por que o Ministério Público, a Receita Federal e a Polícia não procedem a uma devassa fiscal e criminal nas empresas corruptoras, imputando-lhes penas de impedimento de participar de novas licitações públicas ? 

Por que os Tribunais de Contas, que não param de denunciar obras super faturadas, não denunciam também as empresas responsáveis ou coniventes com esse super faturamento ? 

Por que não se investigou aquela empreiteira que pagava as despesas da amante do senador, com a qual ele tinha uma filha? De onde saiu esse dinheiro? Como foi contabilizado? 

A segunda forma de combate à corrupção é a volta dos caras pintadas. É a manifestação do povo nas ruas cobrando moralidade, honestidade dos gestores públicos, exigindo a punição para os responsáveis. 

Enquanto isto, vamos chafurdando nesse mar de lama, denunciando um caso aqui, outro acolá, num troca-troca de ministros e gestores, mas sempre terminando em pizza, infelizmente. 

O perigo é a perpetuação do errado, o relaxamento da ética e da moral, fazendo dessa prática, um hábito, enfim, deseducando a todos. 






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