ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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sábado, 16 de março de 2024

INTENÇÃO FOCADA

 

INTENÇÃO FOCADA

Alberto Bittencourt

 

Qualquer ação é uma sequência de estados físicos, mentais, emocionais e espirituais, a partir de um ou mais estímulos iniciais, até alcançar o objetivo pretendido.

A seqüência desses estados interiores do indivíduo, começa com o chamamento da atenção, que pode provocar interesse, despertar a vontade, passa pela decisão de realizar, seguida da intenção focada até terminar na ação propriamente dita.

A intenção focada é exatamente aquela atitude em que nos encontramos logo após a tomada da decisão e imediatamente antes da ação.

A intenção focada é o momento irreversível que precede à ação ou à consumação do ato.

A intenção focada é a atitude do arqueiro quando, tencionado o arco, contraídos os músculos, mobilizados os nervos, atenção direcionada para o alvo, concentração total, fração de segundo antes do disparo certeiro e preciso.

A intenção focada é o instante final que não admite retrocesso ou desistência.

A intenção focada é que ocupa o espaço, o intervalo, o interregno entre o estímulo e a reação. "Quem dominar esse espaço dominará o mundo", disse alguém.

O domínio do intervalo em que se situa a intenção focada é o que diferencia a pessoa reativa da proativa.

O reativo reage automaticamente aos estímulos.

O proativo age na direção do seu alvo, do seu objetivo superior na vida, tem uma intenção focada consciente, não permite que seu comportamento seja determinado por estímulos externos.

Contam uma pequena história, que reproduzo, em rápidas palavras, como

ilustração:

Um cidadão todos os dias pela manhã passava na banca de jornais para comprar o seu exemplar. Dirigia-se ao jornaleiro:

_ Bom dia, seu João. Lindo dia, não? Dê-me o de sempre. Obrigado, bom trabalho, Deus o abençoe. 

Seu João dava um muxoxo, virava a cara e invariavelmente o deixava sem resposta.

A cena se repetia todos os dias, até que um amigo, percebendo a situação,

perguntou:

_  Por que você é sempre cordial com alguém que não lhe tem a menor consideração? O cidadão respondeu:

_ Não vou deixar que o meu comportamento seja determinado pelo comportamento dos outros.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

PRINCIPAIS REQUISITOS DA LIDERANÇA

PRINCIPAIS REQUISITOS DA LIDERANÇA
Alberto Bittencourt - 24 set 2010



1_ Saber delegar:


Implica em saber instruir, supervisionar, avaliar, reconhecer.

Há uma estória que ilustra a forma errada de delegar:
O capitão de um navio chamou um menino e pediu que tomasse o leme. Apontando para a Estrela do Norte, instruiu-o a rumar em direção a ela. Com orgulho e segurança, o menor assumiu sua posição. Por alguns minutos, o navio seguiu seu curso e depois, imperceptivelmente, mudou de rota. Em breve, a estrela podia ser vista ao lado da embarcação, e no fim de uma hora, posicionava-se diretamente à popa. Nesse momento o capitão voltou e foi recebido pelos brados entusiasmados da criança: “Capitão, aponte outra estrela, pois já passamos aquela.

2_ Saber correr riscos

Líderes deverão ser não só corajosos, mas também audaciosos. Audácia difere de coragem. Coragem é a capacidade de enfrentar o perigo, as adversidades e o sofrimento de forma resoluta. Audácia, por outro lado, e a disposição de correr riscos, de engajar-se no desconhecido, de embarcar nas aventuras e não temer o fracasso na busca do sucesso.

É célebre a expressão cunhada por Theodore Roosevelt: “É preferível arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que não gozam muito nem sofrem muito, porque vivem na penumbra obscura dos que não conhecem nem vitoria nem derrota”.

Há também a estória do Jacó: Jacó todas as noites rezava a Deus: Senhor, fazer Jacó ganhar loteria. Jacó promete ajudar muita gente. Senhor, fazer Jacó ganhar Megasena. E todos os dias Jacó repetia a mesma oração. Até que uma noite ouviu uma voz: Jacó! Jacó! Pelo menos joga, Jacó. Eu quero te ajudar, mas pelo menos, joga, Jacó.

3_ Pensar grande

Não custa nada pensar grande. Pensar grande significa pensar além do próprio tempo, no tempo dos outros. Não com arrogância, mas com humildade. Vale a pena pensar grande.

4_ Agir com velocidade e simplicidade.

Só assim o líder poderá vencer a concorrência, hoje acirrada e selvagem. 
Aplicar a Prova Quadrupla Rotária em suas tomadas de decisão é a certeza de não errar. 
 A Prova Quádrupla é um simples questionamento, são apenas quatro perguntas,  diferente dos complexos códigos de ética. Tem a simplicidade de uma jangada, nunca afunda. Já os grandes transatlânticos, como o Titanic...

5_ Atuar sempre pelo exemplo.

As palavras motivam, mas o exemplo arrasta. Gandhi foi o líder maior a agir pelo exemplo. Ele arrastava multidões. Contam que o Vice Rei da Índia lançou um imposto sobre o sal. Ora, o sal na Índia é colhido naturalmente nas praias. Gandhi procurou o Vice Rei e disse:_Vou iniciar um movimento contra o imposto sobre o sal. Ele foi numa praia com uma tijela, encheu de sal e começou uma marcha em direção ao palácio. As pessoas começaram a segui-lo. Quando chegou no palácio, uma enorme multidão estava com ele. Foi o suficiente para o VR mandar revogar o imposto.

6_ Proatividade
O líder pode ser um líder reativo ou proativo.
O líder reativo é aquele que toma as providências depois que o incêndio começa a arder. É chamado líder bombeiro ou circunstancial.
O líder proativo toma as providências para evitar que o incêndio ocorra, toma as medidas preventivas. Este é o verdadeiro líder, o que toma as providências antes dos fatos acontecerem, se antecipa.

7_ Saber que jamais terá unanimidade.

Sempre haverá alguém que tenha uma crítica, alguém que diga que existe algum modo de fazer melhor, alguém que diga que não está certo. Mas isso é o normal. Um dos ensinamentos que o líder deve ter ao assumir qualquer posição de liderança, é que ele deve ter jogo de cintura e deve aprender a engolir sapos.

8_ Conhecer a diferença entre eficácia e eficiência.

Um líder-empreendedor tem que ser eficaz. Um bom gerente pode ser apenas eficiente.
O líder-empreendedor ensina o melhor caminho para o êxito. O gerente faz o melhor trabalho para seguir o caminho indicado.
Nem sempre o gerente é líder, mas o líder deve procurar ser um bom gerente.

Um bom exemplo é a Universidade do Hambúrguer da rede fast food, McDonald’s: todo empreendedor ao adquirir a franquia tem que passar 3 meses nos Estados Unidos, aprendendo a fazer sanduíches, batatas fritas, estudando a composição de cada ingrediente, aprendendo a contabilidade, até como deve ser feita a limpeza, enfim, todo o processo. Eles têm a consciência de que, para poder exigir dos funcionários, o empreendedor precisa conhecer o grau de dificuldade de cada tarefa.

9_ Destemor

Um grande líder é aquele que nada teme, nem mesmo uma ideia nova.

10_ Escolha metas mensuráveis e factíveis. 

O General Patton dizia:_ Para não ser desmoralizado, jamais dê uma ordem que não possa ser cumprida. 

11_ Saber impor limites

Saber dizer não e impor limites, é um dos requisitos da liderança responsável. 
O presidente John Kennedy disse: Eu não conheço o segredo do sucesso, mas o segredo do insucesso é, com certeza, tentar agradar a todo mundo.

12_ Sanidade

Einstein disse:_ O cúmulo da insanidade é procurar obter resultados diferentes e continuar a fazer a mesma coisa, do mesmo jeito, sempre. 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A PRIMEIRA CHAMA


A PRIMEIRA CHAMA
Alberto  Bittencourt - 26 dez 2012



Nos anos do regime militar em Duque de Caxias

Área da Fábrica Nacional de Motores – Xerém




Foto enviada pelo comp Antônio J. C. da Cunha, do RC Duque de Caxias

   Recém formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, ainda no posto de aspirante a oficial da Arma de Engenharia, já no comando de um pelotão, fui designado em abril de 1964, para manter a ordem e dar segurança à Fábrica Nacional de Motores. Situada no distrito de Xerém, município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro, no sopé da serra de Petrópolis, limite da baixada fluminense, a fábrica vivia momentos de grande tensão e agitação que chegavam a afetar a produção industrial.

   Ali se fabricava o famoso caminhão FNM, mais conhecido como Fenemê. Naquele tempo, a quase totalidade do transporte rodoviário de carga no Brasil era feito pelos caminhões Fenemês. Valentes, robustos, possantes, esses veículos varavam o país de ponta a ponta, dominavam absolutos as estradas de terra e lama, levavam o progresso aos quatro cantos do país. Ainda não haviam chegado os Mercedes, Volvos, Scânias, Fords, Chevrolets, Volks, tudo era feito pelos Fenemês, produzidos, para orgulho nosso , por uma fábrica genuinamente brasileira, do governo, a Fábrica Nacional de Motores.

   Originariamente, muito antes da EMBRAER existir, a Fábrica Nacional de Motores fora construída para fabricar motores de avião, com o fim de garantir mercado de trabalho para os engenheiros aeronáuticos formados pelo ITA. Em seguida, foi transformada em fábrica de caminhões. Anos mais tarde foi vendida para a Alfa Romeu que, por sua vez, a vendeu para a Fiat que, posteriormente, a fechou. Ali se fabricou o famoso carro, top de linha, marca Alfa Romeu, modêlo JK.

   Numa noite escura e fria, às duas da madrugada, eu rondava de jipe pelos postos de sentinelas, acompanhado apenas do motorista. Ao contornar a fábrica pelo lado de fora, notei uma sombra fugidia a se esgueirar no escuro, junto aos muros. A chuva fina e cortante dificultava a visão. A figura de pronto despertou-me suspeita. Com cautela, fui me aproximando. Aos poucos, foi se delineando um vulto enrolado em panos dos pés à cabeça. A cada passo trôpego, seu corpo estremecia. Encandeada pela luz dos faróis, divisei um rosto de mulher. Transportava nos braços um volume amorfo, indefinível e chorava.

   Para onde vai?, perguntei.
   Estou indo para casa, respondeu entre soluços.
   O que aconteceu?
   O hospital não quis receber o meu bebê.
   Por quê?
   Meu bebê morreu.
    
  Fixei o olhar com atenção. Envolto nos trapos, havia um bebê de no máximo dois meses. A chuva fria apertava. Ofereci-lhe carona.

  Só então verifiquei que o corpo franzino, pequenino, jazia inerte nos braços da mãe. Certamente essa fora a razão pela qual o hospital não quis recebê-lo. A criança já estava sem vida quando lá chegou.

   Meu bebê morreu dormindo, sufocado, disse a mulher.

   No pequeno barraco em que viviam pude constatar a dimensão da tragédia humana.  Espremidos em apenas um vão insalubre e mal ventilado, moravam a mulher e quatro filhos, idades entre 2 meses e 4 ou 5 anos. O chão de terra batida, as paredes e o teto de restos de tábuas, pedaços de zinco, misturados com plástico e papelão. Para chegar ao pequeno fogão no fundo do quarto, tinha que levantar um estrado. O bebê morrera asfixiado, porque todos dormiam embolados naquele arremedo de cama.

 Tal aconteceu em 1964. O Brasil tinha uma população de apenas 80 milhões de habitantes. Os jornais da época já noticiavam constantemente que: crianças eram vítimas de deslizamentos de barreiras, pois moravam em lugares perigosos; bebês eram roídos por ratos, porque viviam em lugares infectos; crianças morriam de disenteria por falta de água potável; esgotos serpenteavam a céu aberto, nas chamadas valas negras; padrastos estupravam enteadas, habitantes de um só vão; adolescentes eram abusadas por irmãos mais velhos, porque dormiam todos na mesma cama. Nas guerras, nas calamidades, nos cataclismos, as primeiras vítimas são sempre as crianças.

   Hoje, quase cinquenta anos depois, nossa população pulou de 80 para 200 milhões, e o que mais aumentou foi justamente essa camada mais pobre, excluída, despojada e desprovida de tudo.

   O que fazer?

  O fato, ocorrido na minha juventude, acendeu em meu coração a primeira chama, despertou a vontade de servir, de fazer algo que pudesse mudar esse estado de coisas.  Anos depois eu encontrei no Rotary o caminho que buscava.




   

O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO



O SERVIR ATRAVÉS DA PROFISSÃO
ALBERTO BITTENCOURT – 09 de junho de 2015

Convenção Internacional do Rotary, em São Paulo -   
Palestra proferida no workshopp 
"Serviços Profissionais - Melhores Práticas". 
Baseada em palestra homônima de José Otávio Patrício de Carvalho.


SUMÁRIO

1 –    Introdução
2 –    Desenvolvimento
2.1 – Definição do Rotary.
2.2 – Objetivo da Av. Serviços Profissionais
2.3 – A Volta às Origens
2.4 – Declaração para Executivos e Profissionais Rotarianos.
2.5 – O Dar de Si Antes de Pensar em Si.
2.6 – Voluntários do Rotary e outros programas.
3 –    Aspectos do servir através da profissão
3.1 - Aspecto subjetivo
3.2 - Aspecto econômico social
3.3 – Aspecto ético e moral
3.4 – A Prova Quádrupla
4 –    Conclusão

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1 – Introdução

O Rotary consagra o mês de janeiro de cada ano aos Serviços Profissionais. O tema Servir Através da Profissão  é extremamente importante para o movimento rotário, porquanto, é através da profissão que se constrói o progresso de uma nação. Porém, através da profissão, também pode se originar a corrupção e desvios de conduta que vemos estampados diariamente nos jornais e noticiários televisivos. 

Todos os rotarianos, sem exceção, já ingressam na instituição como profissionais, mas muito poucos encaram a profissão como forma de servir ao próximo, de modo livre e consciente. 

Após a instituição do PLC – Plano de Liderança de Clubes, que criou as cinco Comissões Executivas e deu um caráter filosófico e inspirativo às cinco Avenidas de Serviços, a maioria dos Rotary Clubs deixou de dar a devida importância e de executar os programas da Avenida de Serviços Profissionais, considerada a primeira avenida e o berço do Rotary. 

Paul Harris já dizia em sua autobiografia – “Meu Caminho para o Rotary”:

Cada rotariano é um elo de ligação entre o idealismo do Rotary e seu negócio ou profissão.

2 – Desenvolvimento

2.1 – DEFINIÇÃO DO ROTARY

O mandamento “servir através da profissão” está inserido no próprio conceito do Rotary:

O Rotary é uma organização de homens de negócios e profissões, unidos no mundo inteiro, que prestam serviços humanitários, fomentam um elevado padrão de ética em todas as profissões e ajudam a estabelecer a boa vontade e a paz no mundo. 

Diz-se que “é uma organização de homens de negócio e profissões”

Este é um pressuposto básico para sermos rotarianos, tanto que a classificação do rotariano, dada pela profissão, é um dos componentes imprescindíveis para a sua identificação no seio da instituição. Para que cada Rotary Club seja um extrato da sociedade, a diversidade de profissões é outro ponto importante, que vem desde a fundação, quando Paul Harris chamou seus três amigos, e fundou o Rotary, sendo cada um de uma categoria profissional. 

O segundo elemento do conceito – “Unidos no mundo inteiro” – concede o caráter universal do movimento, o congregar de forças em todo planeta para se atingir um objetivo comum, mediante a obediência às mesmas regras de procedimento. São mais de 1.200.000 profissionais de todo o mundo unidos numa engrenagem de serviço representada pelo símbolo da roda rotária.

Prossegue o conceito proclamando os objetivos básicos da instituição: “que prestam serviços humanitários”. Este é o móvel central do Rotary.

Organização de homens de negócios ou profissionais existem várias; de caráter universal, existem algumas. Entretanto, com o objetivo precípuo de prestar serviços humanitários, existem pouquíssimas organizações, as quais irão se distinguir uma das outras pela forma de servir.

O servir através da profissão, contudo, está condicionado pelo conceito do Rotary, posto que, deve o rotariano “fomentar um elevado padrão de ética em todas as profissões”.

Assim, a ação, por si só, será desprovida de valor, se o seu agente não preservar, e mais, fomentar, os princípios éticos profissionais, o que será visto mais adiante.

Por fim, o rotariano deverá visar, ainda, ao estabelecimento da boa vontade e da paz mundial sendo essa a alavanca da Avenida de Serviços Internacionais.

2.2 – OBJETIVO DA AVENIDA DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS

É o segundo objetivo do Rotary.

A Avenida de Serviços Profissionais do Rotary, antes comemorada no mês de outubro de cada ano e que, a partir de 2015-16 passa a ser comemorada no mês de janeiro, visa:

Estimular e promover o reconhecimento do mérito de toda a ocupação útil e a difusão das normas de ética profissional.

Estimular e promover o reconhecimento não significa uma simples postura subjetiva, passiva. Implica antes numa atitude objetiva, pragmática, altruística, em suma, em servir.

A regra reconhecer o mérito de toda ocupação útil. 

Para nós a ocupação útil, aqui entendida como atividade profissional, a ser reconhecida e valorizada, pressupõe um conteúdo ético. Assim, o serviço do varredor de rua, o gari, enquanto preserva a saúde da população e a estética das cidades, constitui uma ocupação útil que deve ser estimulada; também o serviço de um cientista que pesquisa novos caminhos para a saúde e o bem da humanidade, constitui para o Rotary mais um exemplo de ocupação útil que deve ser estimulada. 

Em contrapartida o tráfico de drogas, apesar de ser uma ocupação, não será útil para a humanidade, pelo que deve ser desestimulada. Um advogado que se dedica ao serviço de proteger e acobertar quadrilhas de delinquentes, apesar de ser uma ocupação, não é útil do ponto de vista moral, e, por conseguinte rotário. E se o dinheiro dos honorários provier da corrupção? O que dizer do médico que prescreve próteses e medicamentos, nem sempre os mais indicados, em troca de favores dos laboratórios? Ou do engenheiro que coloca materiais de qualidade inferior para obter maiores lucros? E da relação promíscua entre empresários e gestores públicos? Ou do juiz quando deixa de ser imparcial? A lista é longa e vai desde o cidadão comum até a cúpula de governos.

2.3 - A VOLTA ÀS ORIGENS: 

No dia 23 de fevereiro de 1905, quando o Rotary foi criado, aqueles quatro profissionais e homens de negócios reuniram-se com dois objetivos principais: companheirismo e mútua ajuda profissional. A prestação de serviços só viria a ser adotada alguns anos depois. A Volta às Origens, que hoje se preconiza, é exatamente no sentido de que prevaleça uma relação de confiança nos negócios entre rotarianos que, em igualdade de condições, passariam a ter preferência nos contratos, reconhecendo a condição de solidários no serviço ao próximo. 

Entretanto, algumas pessoas ingressam no Rotary com a intenção de tirar vantagem ou proveito dos relacionamentos e pensando em obter lucros profissionais. 

Cito como exemplo um caso verídico, ocorrido em minha cidade. Um companheiro, presidente de um Rotary Club, foi à Caixa Econômica solicitar empréstimo. O gerente, que era também companheiro do mesmo clube, verificou que o cadastro do cliente não permitia. O presidente apelou para a condição de rotariano e conseguiu que o gerente se responsabilizasse pessoalmente pela concessão do empréstimo. Resultado: quem teve que pagar foi o gerente, para não ser demitido da Caixa. Em consequência ambos deixaram o Rotary: um por falta de princípios e outro por desilusão.

2.4 – DECLARAÇÃO PARA EXECUTIVOS E PROFISSIONAIS ROTARIANOS

O item 8 da Declaração procura evitar essa prática. Entretanto, é preciso analisar cada caso individualmente , antes de se fazer um juízo de valor que pode ser equivocado. 

Não procurar obter de um rotariano, nem lhe outorgar, privilégios ou vantagens que não sejam normalmente concedidos em um relacionamento comercial ou profissional.

2.5 – O DAR DE SI ANTES DE PENSAR EM SI.

Servir através da profissão, não poderá ser um ato egoísta, visando a recompensas. É antes, um servir altruísta, pois sendo voluntário, o rotariano pratica o lema do Rotary: Dar de si antes de pensar em si.

Por outro lado, servir sem pensar no aspecto profissional, decerto levará a pensar que Rotary é, apenas, mais um clube de filantropia, uma associação de benemerência voltada para amparar creches, asilos e orfanatos. Decerto que essas são atividades nobres que devem ser estimuladas e aplaudidas e que constituem modos de atuação da Avenida de Serviços à Comunidade. Contudo, inúmeras instituições já se propõem a isso.

Rotary faz tudo isso, mas faz muito mais. Para praticar a caridade não precisamos estar no Rotary. Para enfiar a mão no bolso e dar uma esmola, quase sempre tirada do supérfluo, não precisamos ser rotarianos.

O Dar de si, antes de pensar em si é antes, a doação de algo tirado do coração, é um esforço contínuo, uma renúncia, e, principalmente, a eterna vigilância de servir no dia a dia. 

Podemos, assim, dizer, sem medo de afrontar os princípios rotários, que o servir através da profissão é a mais difícil forma de servir, mas é a que distingue o rotariano do filantropo.

Cabe-nos, neste momento, indagar:
  • O que posso fazer no meu trabalho para melhor servir aos outros?

2.6 – VOLUNTÁRIOS DE ROTARY E OUTROS PROGRAMAS

Com tantos cataclismos naturais ocorrendo no mundo, terremotos, enchentes, deslizamentos, tornados, tsunamis, erupções vulcânicas, uma maneira de servir através da profissão é como Voluntário do Rotary. Engenheiros, arquitetos, urbanistas, médicos, enfermeiros, jornalistas, nunca foram tão necessários. Anos depois as cidades e vilas, continuam arrasadas, com vias de acesso precárias, sem suprimento de água ou energia. Trabalhar como voluntário na reconstrução de casas, escolas, ou hospitais, ou em campanhas de vacinação, é uma das mais nobres maneiras de servir à humanidade através da profissão. 

Além deste, o Rotary oferece inúmeras outros programas de serviços profissionais: RYLAs, Grupos de Companheirismo, Rotarianos em Ação, Intercâmbios da Amizade, Equipes de Formação Profissional, Programas Vocacionais para Jovens entre outros, oferecem oportunidades de Servir Através da Profissão.

3 – Aspectos do Servir Através da Profissão 

3.1 - ASPECTO SUBJETIVO.

Sabemos todos que o exercício profissional é encarado precipuamente como a única forma de sobrevivência do homem. 

O açodamento cada vez maior, principalmente nas grandes cidades, as dificuldades econômicas, as complexidades crescentes decorrentes do desenvolvimento, tudo isso tende a materializar cada vez mais os objetivos do trabalho. 

A simples consciência da importância de cada atividade para os outros e para a comunidade constitui o primeiro passo para o servir. A consciência de que outras pessoas vão se beneficiar daquilo que estamos fazendo é imprescindível para que o homem valorize mais a si próprio, valorize mais a sua profissão e, em consequência, seja compelido a fazer melhor aquilo que lhe é proposto.

Esse despertar da consciência, irá, decerto, transformar nossa profissão de uma maneira de ganhar a vida em uma maneira de viver a vida.

É importante, pois, periodicamente, fazermos uma introspecção, frente à nossa mesa de trabalho e refletir:
  • Qual a importância deste meu trabalho para a comunidade?
  • Como os outros irão se beneficiar desta minha atividade?
  • Será que, dentro dessa importância do meu trabalho para os outros, estou fazendo bem o meu mister? 
3.2 – ASPECTO ECONÔMICO–SOCIAL.

Esse é um aspecto objetivo do servir, de inquestionável importância, mas que não constitui o núcleo de preocupação do rotariano.

Do ponto de vista econômico-social, os homens, através de suas atividades profissionais são responsáveis pela produção de riqueza e, em consequência promovem o atendimento das necessidades básicas da sociedade. 

O rotariano deverá ter a consciência de que exerce uma atividade produtiva e que essa atividade é importante e imprescindível para o desenvolvimento social. Entretanto, o mais importante, é a forma como se exerce essa profissão. O que o distingue é a preocupação de servir às pessoas, individualmente consideradas, ou mais precisamente, àquelas pessoas com as quais se convive, a exemplo de subordinados, chefes, colegas, clientes, fornecedores, órgãos de classe, concorrentes e outros. 

3.3 – ASPECTO ÉTICO E MORAL.

Esse é o aspecto de maior relevância do tema ora abordado, e a viga mestra dos serviços profissionais.

Ressalta-se, em primeiro lugar, que a sociedade aprende o que venha a ser Rotary mediante a análise comportamental do rotariano. Daí asseverar-se que o rotariano é a vitrine do Rotary.

O rotariano deve ser um elemento de transformação da sociedade e para tanto deve ser um exemplo vivo daquilo a que se propõe. 

Enquanto a ética é um conceito filosófico que busca fundamentar o comportamento humano, a moral é um conjunto de regras que regulam esse mesmo comportamento.

A evolução e a diversidade da natureza humana fez coexistirem duas morais: a moral permanente e a moral mutável. 

A moral mutável depende não só dos costumes, das tradições, da cultura de povos e nações, mas também dos interesses de grupos, classes e categorias sociais. 

São conflitantes a moral do empresário, que visa o lucro, e a moral do sindicalista, que procura o aumento de salário. 

Existem as morais das várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos comerciantes, dos catadores de lixo, entre outras. 

Existem sistemas morais que permanecem inalterados por séculos como a poligamia entre os árabes e a monogamia das culturas ocidentais. 

Existem outros que evoluem como as que se referem ao meio ambiente, onde a moral dos conservacionistas passou a sobrepujar a dos progressistas. 

As maiores mudanças, nos últimos 50 anos, ocorreram no campo sexual. A homoafetividade, antes considerada imoral, passou a ser normal para uns, e o fim do mundo para outros.

Todas essas morais têm de estar a serviço da ética.

Essa moral mutável no tempo e no espaço não impediu a eclosão dos conflitos, das divergências, das guerras. 

Surgiu um novo conceito de moral. Um conceito de moral permanente, sem a qual nenhuma grande civilização teria sido construída, sem a qual o desenvolvimento da vida em sociedade não teria sido possível. 

O novo conceito de moral, permanente, não é apenas um conjunto de regras e proibições, mas a consideração em primeiro lugar, dos direitos e interesses do outro. 

A moral não existe para nos impedir de agir, mas para nos impedir de fazer o mal, de fazer sofrer, de humilhar, de oprimir, de explorar, de subjugar. 

A moral não é contra o prazer, que é um bem, mas contra o egoísmo, que é um mal. 

Em resumo, a moral permanente é um conjunto de valores que regulam o comportamento humano, a fim de que este não prejudique nem interfira nos direitos e interesses do outro. 

3.4 – A PROVA QUÁDRUPLA

Com relação à ética profissional, Herbert Taylor em 1932 legou a todos nós a PROVA QUÁDRUPLA, a qual não podemos chamar de um código de ética, mas sim, de uma reflexão, de uma auto-avaliação.

A “Prova Quádrupla” é de uma simplicidade enorme no seu enunciado, facilitando o seu entendimento. Não é um código complicado, cheio de artigos, parágrafos e itens, com palavras difíceis. É de uma objetividade singular. Devemos aplicá-la, em nosso dia a dia, em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos:
  1. É Verdade?
  2. É justo para todos os interessados?
  3. Criará Boa Vontade e Melhores Amizades?
  4. Será Benéfico para todos os Interessados?
O rotariano não precisa de Conselhos de Ética para julgar os seus passos. Não há necessidade de ninguém apontar-lhe erros, pois, ele mesmo, pela aplicação da “Prova Quádrupla” em sua vida, se autoanalisa. E jamais o homem poderá fugir de si mesmo.

4 - Conclusão

Companheiros, devemos nos preocupar, hoje, com a apatia, com a omissão, com a indiferença e com a acomodação que estão imobilizando os homens.

É terrível ouvirmos de pessoas que nos são queridas e próximas a assertiva:

O que adianta sermos bons, espalhar a boa vontade e a Justiça, servir, se a sociedade continua egoísta, hipócrita e má, se os governantes continuarão insensíveis, incompetentes e locupletando-se do Poder?

Essa postura somente contribui para o agravamento da crise econômica, moral e social.

Deverá haver, sobretudo na vida profissional e na vida econômica, um conjunto de reações sadias, de movimentos saudáveis. O Rotary nos compele a isso.

Transportando esse pensamento para servir através da profissão, temos a consciência de que, mesmo sem a expectativa de solucionar todos os problemas, deveremos fazer a nossa parte, na certeza de que minoraremos, ao menos, o sentimento coletivo negativo e colaboraremos para o resgate parcial dos valores sociais positivos. 

Para concluir, vale repetir a frase de Paul Harris, dita em 1912: 

De todas as mil e uma maneiras que o homem pode escolher para ser útil à sociedade, sem dúvida, as mais viáveis e, na maioria dos casos as mais eficientes, serão aquelas no âmbito de suas próprias ocupações.



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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

COMPETITIVIDADE X SOLIDARIEDADE


Competitividade x Solidariedade

Alberto Bittencourt - out 2008


Dois caçadores, um americano e um japonês, se perdem na savana. Exaustos, sentam-se em um tronco e com os pés doloridos pelo cansaço tiram os sapatos. Nisso, ouvem apavorados o rugido de um leão, certamente faminto.
O caçador japonês imediatamente começa a vestir o sapato e é interpelado pelo americano:
-É inútil calçar o sapato, companheiro. Você acredita que pode correr mais rápido que um leão faminto?
Resposta do japonês:
- Que leão que nada. Estou pensando que posso correr mais rápido que você...

A anedota ilustra, de forma singela, o que no mundo das empresas é chamado de competitividade, ou concorrência, hoje cada vez mais acirrada. Uma empresa, ao chegar ao mercado, não chega apenas para competir, para disputar clientes, chega para destruir a concorrência.
Para as empresas a concorrência virou questão de vida ou morte. Todos têm de estar preparados. Para disputar um mercado há que ser o melhor, oferecer melhor produto, pelo menor preço, com maior qualidade.
Já no Rotary é diferente. Aqui a competitividade, que divide e separa, dá lugar à mutua cooperação, que soma e une, à solidariedade, ao amor.
Enquanto as empresas, por seu turno, trabalham em função de três objetivos principais: produto, cliente e lucro, no Rotary as metas visam atingir: pessoas, pessoas e pessoas.
1.  As pessoas à que ajudamos, as beneficiárias de nossos projetos e de nossas ações são nossos clientes finais, ou público alvo. A elas dedicamos nossa solidariedade e amor.
2.  As pessoas que ombreiam conosco, comungam nossos objetivos e metas, os companheiros membros da Família Rotária, são nossos clientes internos, ou público interno. A esses devemos oferecer um ambiente saudável de companheirismo e amizade.
3.  As pessoas que nos observam, são nossos clientes externos ou público externo. Cabe-nos fazer com que conheçam nossas ações, divulgar Rotary, dar-lhe visibilidade.
Segundo pesquisas, três coisas motivam um empregado a não sair de uma empresa: Em primeiro lugar as perspectivas de futuro; em seguida vem o ambiente de trabalho; por último, o salário.
No Rotary, não há perspectivas de futuro, ninguém espera fazer carreira, obter promoções, receber maior fatia de poder ou de autoridade. Tampouco no Rotary existe salário. O rotariano é antes de tudo um voluntário. Ele paga para trabalhar.
Duas coisas apenas mantêm o rotariano em seu clube: o ambiente de companheirismo e a prestação de serviço.
O ambiente deve ser o mais agradável possível. Um ambiente que dê prazer somente pelo simples prazer de estar lá, entre os companheiros. Um ambiente que envolva as famílias, do qual todos participem com a maior alegria.
Outro fator que prende o rotariano, que o faz ficar ligado ao seu clube é o envolvimento nos serviços. Quanto mais engajado estiver alguém nos trabalhos do clube, quanto mais ele permanecer ligado, atuante, mais rotariano ele será, maior nível de responsabilidades ele assumirá.
A maior recompensa é justamente a satisfação do dever cumprido, a consciência tranqüila de haver feito a sua parte, a consciência de haver trabalhado para mudar o Brasil, para mudar o mundo.












sexta-feira, 31 de julho de 2020

DESENVOLVER O HÁBITO DE CONTAR ESTÓRIAS 




Tirei de meu diário o texto a seguir, escrito em 2014. Coloco como sugestão às escolas e professores nos dias de hoje. Nas escolas bilíngues, o que menos importa são as legendas em inglês, posto que a partir das gravuras é que os pais devem inventar as estórias e contar para os filhos que as reproduzirão nas salas de aulas. Fica a sugestão. Vamos adotar essa prática para ver o resultado?

DESENVOLVER O HÁBITO DE CONTAR ESTÓRIAS. 
Alberto Bittencourt - março de 2014

 Toda criança pequena gosta de ouvir estórias.  Entretanto, o antigo hábito da mamãe contar uma estória para o filho na hora de dormir, parece-me, está desaparecendo do quotidiano das famílias.  Nos tempos atuais, o fato da esposa ter que trabalhar para ajudar no sustento da casa, faz com que ela chegue cansada e estressada ao fim do dia. E aí não sobra tempo, nem energia, nem ao menos um pouco de paciência, para sentar ao lado das crianças, dar asas à imaginação inventar um personagem, criar um enredo, tecer uma trama, por mais simples que seja para, com voz suave e doce, na penumbra do quarto, fazer o sono chegar e a criança adormecer.  Infelizmente tal hábito está praticamente abolido nas relações familiares, o que é uma pena. Deveria ser cultivado e incentivado por país, mestres e educadores, nas escolas do ensino fundamental.

Lembro de ter lido em algum lugar onde havia uma escola que incentivava tal prática.  A professora entregava a um aluno escolhido um livro. Era um livro simples, com fotos e gravuras e poucas legendas, apenas o essencial. O aluno levava o livro para casa.  A tarefa era pedir à mamãe para contar a estória do livro. Como a maioria dos pais nessas escolas públicas e do interior eram analfabetos, ele deveria inventar a narrativa,  a partir das  gravuras do livro. Assim se estimulava a imaginação do pai ou da mãe e o contato, a aproximação a criação de um canal de comunicação entre pai, ou mãe e filho. 

Estabelecia-se então um elo que jamais seria quebrado, um elo de amor, de aceitação de um e do outro, certamente um elo transformador que teria enorme influência na formação da personalidade e no caráter daquela criança.  Seu futuro estaria sendo moldado  no contato, na comunicação, na solidariedade e no amor. A criança jamais esqueceria desses momentos, uma imagem que guardaria para o resto de sua vida.  Aí está um papel da maior importância desempenhado por uma pequena escola do interior.  As crianças ficavam loucas para levarem os livros para casa. 

No dia seguinte, caberia à criança contar para a classe a estória que ouvira de sua mãe.  Um estímulo para o cérebro, para a mente, para a imaginação criativa da mãe e do filho.   Eis uma prática que todas as escolas deveriam adotar. Haveria menos violência no mundo, não tenho a menor dúvida, se a prática fosse disseminada. Os adultos seriam mais humanos, mais amorosos, menos frios, e mais calorosos, mais amigos e mais solidários, porque a semente do amor fora plantada no coração das crianças na sua infância.

Nos dias atuais é mais fácil entregar um celular a cada filho. Eles se isolam num mundo virtual e deixa-se de cultivar o hábito da leitura crítica e da escrita criativa.


CONTANDO ESTÓRIAS PARA DORMIR

Mais, mais, conta outra, mais uma, exige a criança, apoiada no travesseiro, as mãos espalmadas  sobre a cama.  A mãe tem que rapidamente inventar uma outra estória improvisada que faça sua filha dormir.  Ela mistura os personagens dos irmãos Grimm, com outros inspirados nos desenhos animados, formando uma fábula simpática, com um ensinamento moral no fim.  A mamadeira cai para um lado, os pés se aquietam, os olhos começam a fechar. A criança enfim dorme. Vitória da mãe.
Fora do quarto a esperam muitas horas de trabalho doméstico.  Lavar a louça, colocar o feijão de molho. Pelo menos a criança dormiu.

Malgrado a pressão da vida moderna e os problemas de moradia, muitos pais antigamente contavam estórias aos seus filhos na hora de dormir. Alguns liam contos, enquanto outros os inventavam, ou evocavam os que escutaram em suas infâncias.  Os filmes de vídeo e os filmes de Disney trouxeram novas situações e novas personagens para contar.  Não é de se estranhar que Tom e Jerry tenham se tornado amigos nessas estórias, ou que Harry Potter seja vítima de uma maçã envenenada.
O esperado é que as pálpebras fiquem mais pesadas e o sono chegue o mais rápido possível.

 Há alguns dias, um amigo me contou que a filha lhe pedira para contar uma nova estória.
Uma estória, papai, que não está nos livros.
O pai, fatigado de uma jornada de trabalho, incapaz de inventar uma nova ficção, decidiu contar sua própria rotina. Começou assim:
Era uma vez um homem que levantava todos os dias às seis horas da manhã.
Enquanto ia falando, os olhos de sua filhinha revelavam expectativa.
Ele ia comprar o pão para o café e, em seguida, partia para o trabalho.  O ônibus às vezes passava dentro do horário, às vezes atrasava.
 Um pequeno sinal de impaciência começava a se esboçar na fisionomia da pequena. Mas ele continuava:
No fim do mês ele recebia um salário que dava apenas para pagar a conta de eletricidade, comprar um pouco de alimento, para garantir a sobrevivência.
Um muxoxo de frustração interrompeu a monótona narrativa.
Papai, eu quero uma estória onde são os bons que ganham.

Outro amigo contou-me que a filha de cinco anos lhe pediu para contar uma historia de princesas.
Ele perguntou:
De quais princesas você gosta mais?
A menina respondeu:
Eu gosto das que desmaiam...


terça-feira, 28 de julho de 2020

TORCIDAS EM FÚRIA.

TORCIDAS EM FÚRIA

Alberto Bittencourt- 13 set 2016 



As cenas foram dantescas. Dezenas de jovens munidos de pedaços de pau, a se agredirem mutuamente nas ruas, antes da realização da partida de futebol , de um desses clássico das multidões.

O chefe de uma das torcidas foi literalmente massacrado, já caído por terra, indefeso, atacado por torcedores rivais, até com pá, chutes, pisoes e porretes. Foi internado em estado grave. Escapou por um tris. Podia ter morrido.

Toda a barbárie foi filmada. Os autores da chacina foram identificados, protagonistas da violência. Os "de maior" já estão presos, recolhidos, enquanto os "de menor" foram aprisionados nas Funases. A partir daí passarão a contar com a assistência integral do estado: casa, comida e até mesada. Dentro em pouco estarão de volta às ruas, onde continuarão a praticar atos de barbarismo.

O chefe de uma das torcidas, cinicamente vestindo a camisa do clube de futebol, assinou no hospital um Termo de Responsabilidade, para poder voltas às ruas, em liberdade. Que se passa na cabeça dele? Teria medo de ser assassinado, caso permanecesse no hospital? Ou pretende exercer o papel de vingador e acionar os asseclas na cruel missão de dar o troco aos algozes? Ninguém sabe a quem interessa toda essa guerra das torcidas organizadas, na verdade, gangues a tudo dispostas.

Ontem, a torcida de um clube saiu em motos na direção do principal estádio de futebol da cidade. Eram mais de 400. Para quê? Qual a finalidade de todo esse aparato?

Quem são esses jovens, anônimos, que não estudam , não trabalham, tampouco têm oportunidades na vida? Desprovidos de ideal, nem mesmo aspiram a uma vida útil e produtiva. Tampouco são tocados pela crença, pela fé num Deus superior, o quê, pelo menos os afastaria da violência.

Antes eram os bailes Funks, o objeto das investidas dessas gangues.

Antes ainda, num carnaval fora de época, quem não lembra do bloco Balança Rolha?
Uma turba enfurecida baixou da periferia, em ataque contra os foliões protegidos pelos cordões de isolamento. Os que puderam pagar o abadá, viraram alvos da raiva e do ódio dos que nada tinham. Foram as manchetes daquele tempo.

O que faltou nesse Brasil que não deu certo?

Apenas uma coisa: EDUCAÇÃO.

Se a eles tivesse sido dada alguma educação de qualidade, em escolas bem instaladas, com professores motivados, provavelmente eles hoje teriam outras metas e objetivos na vida.

Não me refiro a essa educação de fachada, em que os professores fingem ensinar, os alunos fingem aprender e os pais fingem acreditar. E o aluno, termina o curso, se não evadiu-se antes, como analfabeto funcional, mal sabendo assinar o próprio nome. Frequentou escolas, mas não conseguiu aprender.

É a dura realidade do nossos ensino público, que se contrapõe à propaganda oficial de Escola de Referência, ou Ensino Integral. É uma lástima e uma tragédia ao mesmo tempo. A maioria daqueles jovens, sem outras oportunidades, vai se meter com traficantes, com drogas, e não passará dos vinte e quatro anos de vida. As estatísticas estão aí para confirmar. Uma pena .

Vivemos em permanente crise. Ou será que a crise neste país é apenas crise de autoridade? Se for, basta mostrar aos vândalos, aos baderneiros, onde está a autoridade, de verdade: "escreveu, não leu, o pai comeu". É isso aí, bicho.

Presumivelmente a grande maioria dos jovens das torcidas organizadas dos clubes de futebol pertencem à chamada periferia. Vivem em favelas, moram em barracos insalubres, num meio deturpado pela pobreza, pela fome, pela doença, pela violência, desprovidos de água, de esgoto, do mínimo razoavelmente tolerável. Vivem e habitam em condições sub humanas e sub normais. Cresceram ao Deus dará, abandonados à própria sorte. A maioria, filhos de mães adolescentes, desconhece o pai.

Nos momentos de conflitos, quando se juntam em bandos, ou gangues, surgem os aproveitadores, a quem interessa o acirramento dos ânimos. São os integrantes dos chamados movimentos sociais,  e outros, vivandeiros do caos, da barbárie, cultores da anarquia, do quanto pior melhor. É a triste realidade do Brasil do futuro.

NOTA: A partir de 2020 as torcidas organizadas levantaram a falsa bandeira da defesa da democracia, se autodenominaram "antifas", e partiram para o vandalismo.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

EXISTE VIDA ALÉM DA MORTE?





EXISTE VIDA ALÉM DA MORTE?

Alberto Bittencourt - agosto 2009





“Enquanto a morte é a coisa mais certa da vida, a hora da morte é a mais incerta”. 

O falecimento de pessoas queridas, devotadas à vida, à família, aos amigos, o sentimento de perda de todos os que ficam, cônjuges, filhos, parentes, colegas, fazem-nos refletir sobre a antiga questão: “Existe vida além da morte?”

Para o terço da humanidade que acredita que além da morte apenas há o vazio, que nada mais existe depois desta limitada vida material, resta curtir saudades, cultivar a memória e viver, enquanto não é chegada a própria hora, o fim de seu corpo e de sua consciência. 

Para outro terço da humanidade que crê na vida eterna, certamente a pessoa amada está ao lado do Criador, a zelar, a velar pelos entes queridos que continuam sua missão na Terra. 

Para o terceiro terço da humanidade que acredita na reencarnação, nas vidas sucessivas, determinadas pelo karma, a união das almas transcende esta vida, vem de muitas vidas em comum e de muitas outras vidas que viverão juntos, cumprindo o dharma ou destino de cada um.

Porém ninguém sabe como é do lado de lá. Tudo é mistério.

Ao percorrer os estandes da III Bienal Internacional do Livro em Pernambuco, deparei-me com dois importantes livros, escritos pelo médico psiquiatra Dr. Raymond Moody Jr.: Vida Após a Vida, sucesso editorial, com mais de 13 milhões de exemplares vendidos e A Luz que Vem do Além.

O dr. Moody realizou pesquisas com pessoas consideradas clinicamente mortas que retornaram ao mundo dos vivos. Apresenta inúmeros casos em que essas pessoas contam suas experiências, as radicais mudanças de personalidade que sofreram, além de, a partir daí, terem deixado de sentir medo da morte.

Há no mundo, centenas, talvez milhares dessas pessoas que colocaram um pé, chegaram a dar os primeiros passos nesse outro mundo e retornaram. Elas estão vivas para contar. São as pessoas que atravessaram o que no mundo científico chama-se “NDE – Near Death Experience”, ou “EQM - Experiências de Quase Morte”. São pessoas cujo eletro encefalograma por minutos transformou-se numa linha reta e contínua. O coração deixou de pulsar, o cérebro deixou de receber oxigênio, a vida parou por um tempo determinado. A seguir veio a ressuscitação. 

Seus relatos constam dos compêndios científicos. “Encontramos descrições desse tipo em todas as culturas e em todas as épocas da humanidade”, diz o dr. Moody. 

Os relatos são mais ou menos coincidentes. A provação os transformou para sempre. Eles tiveram a consciência de estarem mortos e de terem passado para o “outro lado”. Encontraram “Seres de Luz”, ou uma luz muito brilhante e viva que veio lhes acolher e da qual emanava muito amor e proteção. É comum reencontrarem com pessoas falecidas há bastante tempo que os tratavam carinhosamente e lhes disseram que seu tempo ainda não havia chegado e que eles deveriam voltar. Eles a princípio lamentavam esse retorno à vida e se recordavam do sofrimento no momento de tomar seu lugar no interior do corpo morto. 

Certos elementos, como a alegria, a sensação de flutuar dentro de um túnel e a presença de uma luz muito viva – são tão freqüentes que não se pode imaginar que sejam devidas às alucinações de um cérebro com falta de oxigênio. 

Como explicar, por exemplo, os detalhes notados pelos pacientes quando se vêem flutuando sobre os médicos que os tentam reanimar e dos quais eles podem, em certos casos, repetir as palavras pronunciadas? Quando estava totalmente inconsciente um homem disse a uma enfermeira o local preciso onde ela guardara a sua dentadura, retirada antes da intubação, na tentativa de reanimação. 

Essa experiência os mudou profundamente, eles se tornaram capazes de melhor falar de suas emoções, ficaram mais abertos aos outros, mais tocados pelo prazer simples de sentir a presença da vida no seu entorno e, sobretudo eles perderam definitivamente o medo do que poderia lhes esperar após a morte.

Para nós, que acreditamos na vida após a morte, quatro mantras budistas transmitem fé, esperança, amor e imensa força espiritual: ENTREGO, CONFIO, ACEITO e AGRADEÇO.


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