Alberto Bittencourt
O Rotary International celebra hoje, 23 de fevereiro de 2021, 116 anos de existência. O primeiro Rotary Club foi fundado na cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América no ano de 1905.
Nada melhor do que transcrever as palavras do idealizador e fundador do Rotary, o advogado norte-americano, Paul Percy Harris, de seu livro autobiográfico, intitulado Meu Caminho para o Rotary.
"A melhoria nas atividades humanas só vem pelo trabalho, O homem que visualizara uma necessidade qualquer através da propria vivência, terá que assumi-la, ele próprio e ninguém mais. Eu senti a profundeza da solidão como jamais a teria sentido, sem a formação espiritual que me fora proporcionada. Talvez isso encerre uma parcela da fatalidade cósmica. Da minha parte, estou absolutarmene certo de que o homem deveter, atraves da vida, a companhia de outros: o homem é um ser gregário."
"Veio-me persistente pensamento: estava vivendo a mesma inquietuda de milhares de outros seres que vieram para a cidade grande. Eu sabia que muitos outros jovens haviam deixado o meio rural ou as pequenas comunidades para tentar a vida ali em Chicago Alguns deles eu conhecia. Por que nao reuni-los? Se eles estivessem se sentindo sós, como eu, seria fácil e proveitoso para todos.
“Uma noite – conta ele – fui com um amigo profissional até sua casa nos arrabaldes (de Chicago). Depois do jantar, enquanto passeávamos pela vizinhança, o meu amigo saudava pelo nome vários comerciantes que estavam nos seus estabelecimentos. Isto fez-me lembrar a minha aldeia da Nova Inglaterra. Ocorreu-me então: por que não arranjar em Chicago uma roda de companheiros de diferentes ocupações, sem restrições de política ou religião, com ampla tolerância pelas opiniões uns dos outros? Não poderia vir a existir nesse companheirismo um mútuo auxílio?”
“Não agi imediatamente segundo o meu impulso. Meses e até anos se passaram. Caminhei sozinho, mas por fim, em fevereiro de 1905, convidei três jovens homens de negócios para se reunirem comigo e expus-lhes um plano muito simples de mútua cooperação e amizade, sem constrangimentos, tal como havíamos outrora conhecido em nossas aldeias. Concordaram com meu plano, Sylvester Schiele, comerciante de carvão, o meu amigo mais íntimo de Chicago e um dos três que primeiro se reuniram comigo. Foi escolhido como nosso primeiro presidente, e tem sido um membro permanente do clube. Gustavus Loehr, engenheiro de minas e Hiran Shorey, dono de alfaiataria, eram os outros dois, mas, não continuaram. Porém outros que rapidamente se juntaram ao grupo com entusiasmo, ajudaram a desenvolver o projeto.”
“Crescemos em número, em companheirismo, no espírito de auxílio à nossa cidade. Aprendemos o quanto tínhamos em comum. Sentíamos prazer em podermos ajudar-nos uns aos outros.”
“Na terceira reunião do grupo, apresentei várias sugestões quanto ao nome a dar ao clube, entre elas o de Rotary, e esse foi o nome escolhido, visto que nos reuníamos nessa altura, em rotação, nos nossos escritórios e locais de negócios. Mais tarde, ainda em rotação, reuníamo-nos em hotéis e restaurantes. Assim, começamos como “rotarianos” e como tal continuamos a ser.”
“No terceiro ano fui eleito presidente e as minhas ambições então eram primeiro, desenvolver o clube de Chicago, segundo, estender o movimento a outras cidades, terceiro, intensificar o serviço à comunidade como um dos objetivos do clube.”
Até aqui foram palavras do próprio Paul Harris ao contar como foi o início do Rotary em seu livro autobiográfico.
O crescimento do Rotary foi incrivelmente rápido. Em 1908 foi fundado o segundo clube na cidade de São Francisco, longe, na costa oeste dos Estados Unidos. Logo no ano seguinte, o terceiro, no outro lado da baía de São Francisco, na cidade de Oakland. O quarto clube foi em Seattle e o quinto em Los Angeles. Em 1910 já havia 15 Rotary Clubs no país. Foi nesse ano que se realizou a primeira convenção rotária em Chicago, onde foi criada a Associação Nacional do Rotary Clubs. Estiveram presentes cerca de 1.500 rotarianos.
Nesse ano de 1910, o Rotary cruzou a fronteira do Canadá, com a fundação do clube de Winnipeg. E em 1911 cruzou o Atlântico e chegou à Irlanda e Grã-Bretanha. Em 1912 a organização passou a denominar-se “Associação Internacional dos Rotary Clubs”. A designação “Rotary International” só foi adotada a partir da convenção de 1922, em Los Angeles.
A primeira convenção realizada fora dos Estados Unidos foi a de Edinburgo, na Escócia, e essa convenção teve uma importância extraordinária para os destinos do Rotary. É que os delegados decidiram criar uma comissão especial para estudar a estruturação de um estatuto único, bastante flexível, para todos os Rotary Clubs.
O presidente dessa comissão declarou: “A razão pela qual fomos convocados, decorreu do tremendo crescimento do Rotary. Estávamos tratando de tornar um grande sucesso em um sucesso ainda maior.”
Foi o resultado do trabalho dessa comissão, e de outras que se seguiram, que foi discutido e aprovado o estatuto único do Rotary International.
Na verdade, o Rotary caminhava rapidamente em direção a outros países e outros continentes. A partir de certo momento, era o próprio Rotary International que enviava emissários a determinados países para realizarem a tarefa de fundar novos clubes. Em muitos casos financiava as despesas de abnegados construtores de clubes, como fez com o casal Davidson, um rotariano canadense, que passou cerca de dois anos fundando clubes no sul da Europa, no Egito, no Sião, na Índia e no Japão. Outro construtor de clubes foi o Secretário Geral do RI na época, Cheley Perry. Entre as dezenas de clubes que fundou, está o Rotary Club do Rio de Janeiro, em 1923, o primeiro do Brasil, às vésperas de completar seus 90 anos.
No século XX o Rotary teve um crescimento vertiginoso, a despeito de todos os conflitos: duas Guerras Mundiais, Guerra Fria, Guerra da Coreia, Crack da bolsa de Nova York, Guerra do Vietnan. Em 1985, o número de rotarianos no mundo chegou a 1 milhão. Dez anos depois, em 1995, esse número chegou a 1,2 milhão. Em dez anos o Rotary cresceu 200 mil associados, cerca de 20 mil por ano. Dois fatos podem ter contribuido para isso, ambos ocorridos em 1989: -o ingresso da mulher em Rotary e a queda do muro de Berlim, abrindo novas fronteiras para o Rotary. Hoje, 26 anos depois, o número de associados ainda permanece no patamar de 1,2 milhão. Criatividade, inovação e flexibilidade passaram a ser as palavras de ordem. Novos tipos de Associações surgiram, além do RC tradicional e do E-Club: RC Corporativo, RC ligado a uma causa, Rotary Club Satélite, RC Passaporte, Rotaract Club, RC vinculado a uma instituição. E novos tipos de associados: associado corporativo, associado adjunto, associado familiar.
Antes de falecer, em 27 de janeiro de 1947, Paul Harris pode ver o Rotary em volta do mundo. Ele nunca exerceu o cargo de presidente da Associação Internacional dos Rotary Clubs, ou do Rotary International. Mas a sua influência e os seus ideais, estavam sempre presentes na expansão do movimento. Ele tinha o título vitalício de “Presidente Emérito do Rotary International.
É o momento de voltarmos ao relato que fez o próprio Paul Harris no seu livro autobiográfico já referido. São palavras de Paul Harris:
“Conquanto o enorme desenvolvimento expansional do Rotary constitua um dos mais interessantes capítulos da sua história, também o desenvolvimento de seus ideais e práticas tem caminhado rapidamente. As ações precederam a palavra escrita. Depois de terem prestado serviços sob múltiplas formas, a palavra “servir”, com todas as suas conotações e acepções foi introduzida no movimento rotário. O Rotary deixou de ser aquele grupo local reunido na cidade de Chicago, para benefício próprio e mútua ajuda, para se expandir em uma organização de visão internacional e inegável nobreza de fins”.
“Muitos rotarianos, continua ele, especialmente os do Brasil, afirmam que há na realidade um único objetivo no Rotary, e que esse é o conceito de servir. O Secretário Geral do RI, Cheley Perry, considera o servir como a via suprema do Rotary.”
A opinião de Paul Harris sobre a sadia influência dos ideais rotários no mundo, tinha uma dimensão que precisa ser cultivada, sobretudo nesses momentos em que vivemos.
“O Rotary, escreveu ele, é uma força de integração, num mundo em que as forças de desintegração são demasiado preponderantes. O Rotary é um microcosmo de um mundo em paz, um modelo que as nações fariam bem em seguir.”
Que diria hoje o fundador do Rotary, quando somos hoje mais de 1 milhão e 195 mil rotarianos espalhados em 36.442 clubes agrupados em 527 distritos rotários em 218 países e regiões geográficas?
A entrada do Rotary International no Brasil, ocorreu com a admissão do Rotary Club do Rio de Janeiro no Rotary International em 28 de fevereiro de 1923, data esta que passou a ser a data de aniversário da organização no Brasil.
A semente plantada em 1923 pelo RC do Rio de Janeiro, germinou e deu frutos: hoje, são 31 distritos no Brasil, com 2.411 unidades rotárias, das quais fazem parte 52.291 rotarianos.
Tres convenções internacionais já foram realizadas no Brasil: uma em 1948, na cidade do Rio de Janeiro, com 7.511 participantes, outra na cidade de São Paulo, em 1981, com 15.222 participantes, a terceira também na cidade de São Paulo, em 2015, reuniu 15 mil participantes de 150 países.
Três ilustres rotarianos brasileiros também já ocuparam a posição de Presidentes de Rotary International: Armando de Arruda Pereira (1940-41), Ernesto Imbassahy de Mello (1975-76) e Paulo Viriato Correa da Costa (1990-91), todos já falecidos.
Temos, é certo, o dever de nos mantermos fiéis aos ideais pelos quais lutou Paul Harris. E não podemos perder de vista a advertência que ele nos deixou, na última mensagem que em vida pronunciou, por ocasião do aniversário do Rotary. Disse ele:
“Acredito que os dias pioneiros do Rotary apenas começaram. Há ainda tantas coisas novas a serem feitas hoje como em qualquer outra época da história. O Rotary deve certamente continuar a ser pioneiro ou se verá abandonado na retaguarda do progresso”.
Na verdade surgiram coisas novas no Rotary. A Fundação Rotária criada como um fundo de dotações em 1917, por Arch Klumph, para fazer o bem no mundo, e que recebeu o nome pelo qual é conhecida, na convenção rotária de 1928, foi uma delas. Iniciou um programa de Bolsas de Estudo de Pós Graduação no ano rotário de 1947-48, como um tributo à memória do fundador, Paul Harris.
As ações da Fundação Rotária multiplicaram-se no correr dos tempos e abrangem hoje muitos campos, sempre coerente com a MISSÃO, constante de seus Estatutos:
“A missão da Fundação Rotária do Rotary International é capacitar os rotarianos para que possam promover a boa vontade, paz, compreensão mundial, por meio do apoio à iniciativas de melhoria da saúde, da educação e do combate à pobreza.”
Entre os programas da Fundação Rotária, destaca-se o da Pólio Plus, que todos nós conhecemos e para o qual muitos de nós colaboram.
Com sua rede mundial de contatos, o Rotary é uma autoridade em serviços voluntários e primeiro contribuinte do setor privado a participar da parceria global dedicada à erradicação da pólio. Desde seu lançamento em 1988, a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio – liderada pela OMS, Rotary International, CDC e Unicef – diminuiu em mais de 99,9 % os casos de pólio em todo o mundo. Na época, a pólio era endêmica em mais de 125 países e mais de 350.000 crianças ficavam paralisadas anualmente por causa dessa doença. Mais de 2 bilhões de crianças foram imunizadas, prevenindo 5 milhões de casos de paralisia e 250.000 mortes. .
Grande progresso foi feito: no ano de 2020, até o dia 25 de novembro, apenas 139 casos foram reportados no mundo, em dois países são endêmicos: Afganistão com 56 casos e Paquistão , com 83 casos.
O Rotary e seus parceiros integrantes da GPEI – Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, criada em 1988, a saber: OMS – Organização Mundial de Saúde; UNICEF- Fundo das Nações Unidas para a Infância; CDE - Centro Norte-Americano de Prevenção e Controle de Doenças; Fundação Bill e Melinda Gates; além dos governos de 37 países, trabalham para alcançar essa meta.
Além disso, o Rotary com o Fundo Pólio Plus, já contribuiu com mais de 1,3 bilhões de dólares nesse esforço. Estas verbas são utilizadas para fornecer vacina antipólio, apoio operacional, equipe médica, equipamento de laboratório e materiais educacionais para agentes de saúde e pais das crianças.
Embora mais visível, a Pólio Plus não empana o brilho de outros programas dos setores da educação, da saúde pública, do desenvolvimento comunitário no mundo. Os Centro Rotary para a Paz Mundial, atualmente em número de 8, já formaram, desde a primeira turma em 2002-04, mais de 1300 pacifistas que hoje militam em órgãos de governos, empresas privadas e ONGs muitas de sua própria criação.
Os recursos financeiros para a realização de serviços e compra de equipamentos em projetos que emparceiram clubes rotários em todo o mundo, realizam verdadeiros milagres, sobretudo porque os projetos são formulados com finalidades humanitárias.
Pode-se dizer que a Fundação Rotária é o braço forte do Rotary na realização do objetivo de SERVIR. Não há rotariano que não se sinta feliz por sua contribuição financeira espontânea, voluntária.
Paul Harris teria ficado orgulhoso com o Projeto Pólio Plus e outros programas voltados para a Paz Mundial.
Para encerrar, deixamos esta bela reflexão de Paul Harris, que consta de sua autobiografia:
“Certa vez, durante os primeiros anos do movimento, o secretário Chess Perry veio ao meu escritório para apresentar os ótimos rotarianos canadenses que tinham sido encarregados de fundar clubes na Austrália e na Nova Zelândia. Eles haviam expressado o desejo de me conhecer, designando-me como “O Fundador do Rotary”. Agradeci e aceitei a honra, mas sugeri que meu papel tivesse sido posto demasiadamente em relevo. Perry respondeu pelos meus visitantes e disse: Suponho que os visitantes vão ver, Paul, mais ou menos com o mesmo espírito com que vão visitar a nascente de um grande rio.
“Tenho muitas vezes pensado naquelas palavras: constituíram um grande cumprimento feito na forma de uma bela analogia. Aceitei o cumprimento segundo a sua intenção, mas pergunto: Será verdade que a corrente de um grande rio provém somente de uma nascente especial? Não, o grande rio é a soma total da contribuição de centenas, talvez de milhares de pequenos ribeiros e riachos, que vêm montanha abaixo, cantando enquanto correm, ansiosos por se lançarem no canal do grande rio. Pois é tal o crescimento do Rotary. Tornou-se grande em virtude das contribuições desinteressadas de milhares de rotarianos de muitas nações.
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