ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sábado, 1 de agosto de 2020

ELYETTE, MINHA MÃE

ELYETTE, MINHA MÃE. 
 Alberto Bittencourt, abril de 2014 


Minha mãe, em outubro de 1991


HOJE, dia 31 de março de 2014, seria dia do aniversário de minha mãe, Elyette de Freitas Brandão BIttencourt . Nascida no ano de 1920, estaria completando 94 anos de Idade. 

Minha mãe parecia uma pessoa frágil, física e psicologicamente. No entanto, possuía uma fortaleza interior impressionante, e sempre conseguia o que queria. Utilizava com maestria as ferramentas de que dispunha: a aparente fragilidade e uma certa dose de chantagem afetiva. Nenhum filho a contrariava. Todos a amavam intensamente. Tínhamos extremos cuidados com ela. Éramos felizes. 

O que minha mãe mais procurava preservar era a união da família que ela sempre defendeu e pregou. Com o passar dos anos, depois que os filhos cresceram e casaram, ela ficou morando sozinha. Vendeu dois apartamentos e comprou outro, em Ipanema. 

Em 1998, aos 78 anos, sofreu uma queda na rua e fraturou a bacia. Ela já estava bem fragilizada. Um medicamento anti-inflamatório causou-lhe perfuração do estômago, acarretando uma infecção generalizada. Após passar 30 dias na UTI, em coma induzida, tomando antibióticos de última geração, ela, afinal, teve alta, mas nunca mais voltou a ser a mesma. No ano 2000, realizou o grande sonho: comemorar os oitenta anos com uma festa, reunindo toda a família. Foi na sede do Clube Militar da Lagoa. Depois foi ficando cada dia mais frágil. Ainda comemorou os noventa anos com outra festa, mas já não era a mesma. 

O Mal de Alzheimer, incipiente, começava a mostrar seus efeitos. Passou a morar com a Elaine e o Sérgio, onde sempre recebeu todo o conforto, carinho e amor da família. 

 Apesar da viuvez precoce, aos 34 anos de idade, pois meu pai Kelvin morrera em 1954, aos 41 anos, ela foi feliz. Conseguiu realizar todos os seus sonhos, formar e casar os filhos: Elaine como professora do Instituto de Educação, e eu e o Claudio como Oficiais do Exército. Na visão dela, estavam todos garantidos para o futuro. Tinha a mais plena razão. 

Saímos de casa cedo, para cursar a AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras . Depois de formado, eu ainda morei em casa, na rua Clóvis Bevilaqua, por um ano e meio, antes de casar com a Helena. O apartamento 202 do edifício Querência, de quadro pavimentos, sobre pilotis, tinha um elevador e dois apartamentos por andar. Olívia, nossa colaboradora doméstica, ainda viva, morou todos esses anos conosco. Ela limpava a casa, fazia a comida, lavava e passava os uniformes pesados de brim caqui do CMRJ, Colegio Militar do Rio de Janeiro, e deixava o uniforme de normalista da Elaine um brinco, com as saias de azul marinho plissadas e as camisas brancas de mangas compridas impecáveis. 

Nunca vi minha mãe brigar com ninguém. Era sempre aquele jeitinho manso, delicado. Usava dessa habilidade, para conseguir as coisas. O dinheiro, embora contado, nunca chegou a constituir problema. Ela recebia a pensão de viúva de Général de Brigada de meu pai, à qual depois foi acrescida de um terço da pensão de meu avô Brandão, também General de Brigada. Graças ao Exército, ela pode nos dar uma vida digna e equilibrada até o fim. 

 Agradecemos a Deus ter permitido à Elaine e ao Sérgio cuidarem dela. Dado o carinho e o conforto que ela merecia. De alma pura e sem maldade, Elyette nunca foi enganada nem maltratada. Dedicou-se integralmente aos filhos e nunca cogitou de novo relacionamento. Ainda teve oportunidade de fazer algumas excursões turísticas pelo mundo. Conheceu a China, a Rússia nos tempos da guerra fria, foi à Disneyworld, sempre em grupos de excursão organizados por sua amiga Terezinha, agente de viagens. . 

Em 1973, aos cinquenta e três anos, fez uma cirurgia plástica que lhe mudou um pouco o formato do rosto, mas a rejuvenesceu, o quê a fazia feliz. Rejuvenesceu também, depois, quando precisou extrair todos os dentes. Estavam com abcessos nas raizes. Ela ficou outra pessoa. Muito melhor. O resto de sua vida era preenchido com rotina, à qual se adaptou perfeitamente.


REPRESENTANTE DO PRESIDENTE DO RI

Em 2012, recebi uma importante missão do Rotary International: a de representar o presidente mundial numa Conferência Distrital. Uma honraria muito desejada e esperada por todos os Rotarianos que um dia foram governadores de distrito. 

Infelizmente tive que declinar da missão. Minha mãe, que já vinha doente, faleceu na véspera do evento, no Rio de Janeiro. Segue abaixo a carta que enviei ao governador e companheiros do distrito onde iria representar o presidente. 

 CARTA AO GOVENADOR DO DISTRITO 4710

De: Alberto Bittencourt 

Quarta-feira, 25 de Abril de 2012 

Assunto: Representante do Presidente do RI.

 QUERIDOS AMIGOS

Estamos, Helena e eu, absolutamente constrangidos em informar que, infelizmente não poderemos exercer a honrosa missão de representar o presidente de RI, Kalyan Banerjee e esposa Binota na Conferência do Distrito 4710, dias 27 a 29 de abril de 2012, na cidade de Arapongas, PR. 

Minha mãe, Elyette, 92, encontra-se em estado terminal numa UTI hospitalar no Rio de Janeiro. O estado de saúde dela agravou-se após a internação há uma semana, motivada por infecção urinária e desidratação. O que parecia ser coisa simples, complicou-se. Após uma parada cardíaca, os rins e outros órgãos entraram em falência, os membros gangrenaram, sem que se pudesse tomar mais nenhuma medida. O desenlace é inevitável. 

Embora habitemos no Recife há 40 anos, as origens minha e da Helena estão no Rio de Janeiro, onde nos encontramos neste momento. Aqui, no Rio, residem nossas mães, irmãos e cunhados, além de uma filha e dois netinhos. Em 1954, com a morte de meu pai, aos 41 anos de idade, minha mãe ficou viúva com apenas 34 anos, e 3 filhos pequenos, dos quais eu era o mais velho, com 12 anos recém completados. Durante toda a vida ela dedicou-se à nossa criação e educação. Superou inúmeras dificuldades, inclusive financeiras. 

Minha mãe jamais pensou em casar-se novamente. Toda a sua vida se resumia nos três filhos. Sua história e seu exemplo sempre foram o nosso guia. Por sermos uma família incompleta, ela nos ensinou que o nosso maior patrimônio residia justamente na união da família. Ela nos deu a base moral e espiritual que balizou nosso comportamento desde a infância, passando pela adolescência, até hoje. Com sua bênção crescemos, casamos, lhe demos netos e bisnetos e podemos dizer que, com ela, desfrutamos de muito amor e felicidade. 

Sabemos, Helena e eu, da responsabilidade de bem corresponder à confiança que nos foi depositada pelo presidente Banerjee e Binota. Tendo sido governador do Distrito 4500 no ano do Centenário do Rotary, 2004-05, há muito esperava por este momento, para a qual me preparei com afinco e antecedência. Lamentamos muitíssimo o que aconteceu e pedimos a compreensão de todos os nossos amigos e companheiros. Resta-nos, apenas, rogar a Deus por minha mãe ELYETTE. 

Obrigado. 

 Alberto Bittencourt 

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