ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DISCIPLINA


DISCIPLINA


Alberto Bittencourt - junho de 2018
                     

         
                            


A disciplina militar prestante,
Não se aprende, senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando

                                                                      Camões                                      


Os versos de Camões, apostos na pérgola sul do Conjunto Principal 1 da   AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras, são um chamamento e um lembrete do sagrado princípio da disciplina militar. Cunhada na Casa da Moeda, a placa de bronze foi inaugurada por ocasião da transferência da Escola Militar do Realengo para Resende, RJ. São as quatro últimas estrofes do Canto X dos Lusíadas, cujo teor original é o seguinte:


            De Phermião, philosopho elegante, 
            Vereis como Annibal escarnecia, 
             Quando das artes bellicas diante
             D’elle com larga voz tratava e lia. 
             A disciplina militar prestante
             Não se aprende senhor, na phantasia, 
             Sonhando, imaginando ou estudando;
             Senão vendo, tratando e pelejando.

               Luiz Vaz de Camões
               (Canto X, estrofe CLIII - Lusíadas)

A disciplina é base de toda organização militar. Compreende a disciplina externa e a disciplina interna. A primeira, significa o respeito aos superiores hierárquicos, obediência às leis, normas e regulamentos. A segunda, também chamada de auto disciplina, é a convicção de agir da forma correta. É o amor à Pátria, ao Exército, à Família.

Assim como a liderança, a disciplina só se aprende praticando.
Desde cedo, aprendi a dar valor aos conceitos de disciplina. Filho de família de militares, eu cursava a primeira série ginasial do CMRJ quando um ataque  do coração tirou a vida de meu pai. Tornei-me então aluno da categoria gratuito órfão. 

Costumo dizer que tudo o que sou devo ao Exército. Do Colégio Militar, fui para a AMAN, onde me formei em 1963, oficial da Arma de Engenharia, e depois cursei o IME – Instituto Militar de Engenharia, graduando-me em 1971, engenheiro militar, de Construções e Fortificações.

O PÁTIO TENENTE MOURA - PTM






O pátio de formaturas do Conjunto Principal da AMAN tinha o nome de Pátio Tenente Moura, comumente chamado pelos cadetes de PTM. Sendo quase desconhecido o Tenente Moura, resolveram mudar o nome do Pátio para Pátio Marechal Mascarenhas de Morais. A cadetada imediatamente o batizou como P3M, por analogia com PTM e sonoridade parecida. Posteriormente, o antigo nome foi restabelecido.  Nesse pátio, o PTM, diariamente o corpo de cadetes realiza sua formatura matinal, nas frias manhãs da  cidade de Resende.
Ao som da banda militar, os desfiles se realizam sob a frase, afixada no alto do Pavilhão Principal, de forma a ser bem visível pela tropa em marcha:

Cadetes, ides comandar, aprendei a obedecer.

A frase sintetiza todo uma filosofia de ensino e aprendizagem. Associa-se à outra frase, que está sempre aposta nas reuniões de Treinamento de Governadores eleitos do Rotary.

Entre para aprender, saia para servir.

Assim como obedecer está para comandar,
aprender está para servir.
quem obedece, está servindo;
quem serve está aprendendo.
Tudo implica em disciplina.

COLÉGIOS MILITARES

Quando eu era menino, as mães de meus colegas de rua, olhavam-me naquele incômodo uniforme de brim caqui e vermelho, túnica abotoada até o pescoço e quepe, com uma ponta de inveja. Elas diziam que estudar no Colégio Militar era um raro privilégio pelas seguintes razões:

  • qualidade de ensino
  • prestação de serviço militar – reservista de 2ª categoria
  • disciplina
Sendo que esta última era, sem dúvida, a mais importante.

A disciplina do corpo docente sempre foi uma característica dos Colégios Militares.
Mais tarde verificou-se o valor da disciplina, pelos resultados das provas do ENEM em que os Colégios Militares do Brasil figuram sempre nos primeiros lugares, de Norte a Sul. 

Se hoje eu posso dizer que sei escrever graças ao que aprendi no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Desde a quinta série do curso ginasial, até a terceira série científica, hoje Ensino 
Fundamental 2 e Ensino Médio, havia a tarefa semanal de fazer uma redação. Nas aulas, nas provas de português, em casa. Todas as redações eram corrigidas em detalhe por professores bem motivados, que assinalavam erros, gramaticais, ortográficos, de concordância e outros. No final davam o grau, variando de zero a dez.

Como não aprender a escrever? Quando vejo hoje faculdades de direito ou de jornalismo em que os alunos nunca ou raramente escrevem, e dali saem semi-analfabetos, ou quase analfabetos funcionais em termos de linguagem, dou valor ao ensino que recebi do Exercito por professores militares da melhor competência.

Mas não foi apenas em português – Nas ciências exatas também o ensino era levado muito a sério. Ciências Naturais, Física, Química, Matemática, Descritiva, era preciso realmente estudar, praticar, fazer exercícios e tarefas. Que diferença para o que se vê hoje em dia, principalmente no ensino público, em que professores inescrupulosos entram em greve, por dois ou três meses, insuflados por sindicalistas interesseiros, na busca de novas conquistas trabalhistas ou melhores salários.

Por isso, a minha geração os militares tanto prezam a disciplina.


AMAN - ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS

Ao chegar à AMAN, os novos cadetes, vindos de todos os recantos do Brasil, de origens bem diversas, posto que alguns vieram dos diversos Colégios Militares, outros das Escolas Preparatórias e havia ainda os oriundos do meio civil, dos vários estados do Brasil.  Para homogeneizar o grupo, a primeira semana era dedicada à ordem unida. Seis horas por dia, sendo as duas outras reservadas para educação física. O efetivo, em torno de 300 ou mais alunos por turma, era dividido em pelotões, cada um sob o comando de um tenente. Assim ficávamos horas e horas marchando no pátio de cimento, sob um sol às vezes escaldante, no início sem banda, a tropa evoluindo ao comando da voz do tenente. 

Naquele momento, as individualidades eram sufocadas pelo coletivo. Quarenta jovens perfeitamente sincronizados, em que o movimento de cada um era o movimento do todo, em que cada aluno deixava de ser um e passava a ser uno. E cada um queria que o seu pelotão fosse o melhor. Ninguém podia errar, para não comprometer o conjunto. E a tropa evoluía quase que sozinha, reagindo aos comandos da voz com precisão e automatismo.

Assim, quando o todo passa a vigorar sobre a individualidade, quando o conjunto, o coletivo passa a ser mais importante que a unidade, o objetivo é alcançado. Mesmo sincronizados os movimentos ao final de horas e horas de treinamento intenso, não se podia relaxar. Havia que se manter a sinergia. 

Atingindo o que se chama, na tropa de Espírito de Corpo, não se podia, em momento algum esmorecer, pois o Espírito de Corpo, assim como a disciplina militar prestante têm que ser praticadas diariamente, em todos os instantes, a todo momento, sob pena de se diluir no tempo e no espaço. 

Pode parecer difícil, para quem de fora observa, mas para o soldado ou o cadete, que vivencia, que está dentro do contexto, torna-se fácil. Ele se adapta perfeitamente à esse novo modo de vida e passa a se alimentar dele e a alimentá-lo, para ter sucesso e viver.

O Espírito de Corpo no Exército, tem que ser levado até as últimas  conseqüências. Ninguém pode titubear ou ser fraco ante o inimigo, no inferno da guerra. Se o treinamento tiver sido falho, se o Espírito de Corpo não prevalecer, o foco pode ser desviado para outros objetivos, por outros agentes, para causas não tão nobres.

Para tanto, há que se treinar, preparar, ensinar, aprender. Um jovem de 20 e poucos anos, colocado com poder na mão, em território hostil, se não estiver muito bem preparado, pode perder o foco dos objetivos mais nobres da missão que recebeu e se deixar levar pelas paixões que se entrelaçam.

Para preservar a autoridade do uniforme que veste, da missão que recebeu ele não pode perder de vista os objetivos maiores do serviço que presta.
Isso explica os excessos e desvios que por vezes são praticados por militares durante as guerras. Eles deixaram de se considerar unos com o todo, com o coletivo e foram aliciados pelas paixões exacerbadas.

O que fazer? Todo excesso deve ser punido exemplarmente . Não  pode comprometer o sucesso da missão, mas deve evitar que fatos indesejados aconteçam. Deve-se inclusive verificar se os mesmos foram devidamente instruídos a respeito da nobreza da missão que lhes cabe desempenhar. Qual o papel de cada um, qual a razão da tarefa a se desincumbir, os tipos de procedimentos em cada caso, as consequências passíveis de ocorrerem. 

O que fazer em casos de desarticulação, individual ou coletiva? O emprego das armas deve ser muito bem estudado, porque, em se tratando de vidas humanas, nenhuma missão é menor ou secundária.  Quando o meio em que se vai atuar é diferente do meio em que se está habituado, há que se manter a qualquer custo a ordem, disciplina, o respeito à autoridade. 

Quando as pessoas se consideram vítimas do estado, algoses da sociedade, submissas ao poder paralelo dos traficantes, ante a omissão e o descaso dos poderes constituídos, tudo pode acontecer.




CASTRO ALVES.


"Não cora o livro de ombrear co'o sabre

E nem cora o sabre de chamá-lo irmão."

Castro Alves

 

Esta frase, está escrita na pérgola da AMAN- Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, Estado do Rio.

Nela, Castro Alves reporta-se à compatibilidade entre as ações militares / esportivas e as intelectuais.

Comprovei a veracidade de tal assertiva durante o meu curso de formação de Oficial do Exército.

Na AMAN os mais brilhantes alunos na parte intelectual são também os mais destacados atletas na parte esportiva.

Uma comprovação da máxima aposta no muro do campo de futebol do CMRJ – Colégio Militar do Rio de Janeiro:

MENS SANA IN CORPORE SANO




3 comentários:

Unknown disse...


Alberto, mais um texto antológico, testemunho de um um soldado. Nós, SOLDADOS, jamais deixamos de sê-lo. Para nós, disciplina e hierarquia não são servidão e arbítrio, mas competência e responsabilidade. Não há subordinado maior do que o próprio comandante, subordinados todos do dever. MacArthur, ao se despedir no Congresso dos EUA repetiu um adágio secular, que diz mais ou menos assim: "....um soldado não morre. Apenas some no tempo após cumprir o seu dever..."

Alberto Bittencourt disse...

Obrigado, caro chefe e amigo Carneiro. Suas palavras muito me emocionam.

Alberto Bittencourt disse...

CEL DOURADO, EM 13 JUL 2023

Fui ao blog li e gostei do que escreveu. Sugiro acrescentar vivências pessoais como oficial subalterno e depois como engenheiro de construção . Caso você queira, poderá incluir vivências de companheiros durante sua caminhada. Você é um guerreiro e se mantém coerente com os valores recebidos em casa e nas Escolas de Formação de jovem no CMRJ, na AMAN e no IME. Parabéns, continue com determinação e destemor!
Selva!