ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A CONQUISTA DE MONTE CASTELO





A CONQUISTA DE MONTE CASTELO
Alberto Bittencourt

(Palestra realizada para oficiais e graduados 
da cadeia de comando da 7a. RM/7a DE)






Recebi o honroso convite do Exmo Sr. Gen Div Marcelo Flávio Oliveira Aguiar, comandante da 7ª. RM/7ª. DE, Região Matias de Albuquerque, para falar sobre Monte Castelo. P or feliz coincidência, estou, juntamente com o dr. Petrônio Gonçalves Muniz, presidente do Pátria, Instituto Brasileiro de Cidadania Ativa, do qual tenho a honra de ser diretor, escrevendo o livro “De Bello Annis” – Anos da Guerra – sobre a participação da FEB na Itália e sua orientação sábia e segura, me permitiu atender ao convite.
A guerra, como síntese de todas as ações humanas, é algo complexo. Não se pode falar em Monte Castelo sem se pensar na campanha que a precedeu.
Hitler, o “Fuher” alemão, desejava dominar o mundo e impor a ideologia nazista, que acreditava na supremacia da raça alemã. Em 1º. de setembro de 1939, invadiu a Polônia, dando início à II Guerra Mundial.
O Continente Americano declarou-se neutro e criou uma zona de segurança marítima continental para preservar os transportes de cabotagem entre seus países. Os alemães não concordaram com essa medida e, por isso, os Chanceleres americanos declararam, na cidade de Havana, em junho de 1940, que “todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou inviolabilidade do território e contra a soberania ou independência de qualquer Estado Americano será considerado como um ato de agressão contra os signatários daquela declaração”.
A conquista da França pelos nazistas consolidou seu domínio sobre a Europa e a aliança feita com os fascistas italianos, projetou seu poder sobre a África do Norte e criou condições para a invasão da América através do Saliente Nordestino Brasileiro, o que levou à sua militarização, com a instalação de diversas bases aeronavais naquela região.
O ataque japonês aos americanos em Pearl Harbour, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, e o afundamento de 31 navios de transporte brasileiros, ocasionando a perda de 971 vidas, levaram o Brasil a declarar guerra aos países do Eixo - Alemanha, Japão e Itália, em e22 de agosto de 1942.
O Brasil, na época da guerra, era um país de economia agrária, com cerca de 40 milhões de habitantes. Convocou cem mil homens para compor a Força Expedicionária Brasileira, dos quais, selecionou 25.334  homens para combaterem o inimigo no Teatro de Operações da Itália. Eles compunham a 1ª. Divisão de Infantaria Expedicionária, o contingente logístico e administrativo, incluindo aí o Depósito de Pessoal, destinado a repor as perdas em combate (mortos, feridos, doentes e aprisionados pelo inimigo).
O primeiro escalão da FEB partiu, por via marítima, do Rio de Janeiro, em 5 de julho de 1944, com 5.081homens, e desembarcou 11 dias após, em 16 de julho, no porto de  Nápoles, no sul da Itália. Três meses depois chega ao TO o restante da 1ª.Divisão de Infantaria Expedicionária, que, com seus 15 mil homens foi incorporada ao V Exército norte-americano, o qual compunha, junto ao VIII Exército Inglês a tropa aliada em combate aos nazistas na Itália. Por via aérea, antecipando-se ao transporte marítimo, chegaram ao Teatro de Operações os membros do Comando da FEB, acompanhados das nossas 64 enfermeiras, dos auditores e juízes, dos elementos do Banco do Brasil e dos correspondentes de Guerra.
O espaço de tempo de dois anos, entre a declaração de guerra em 22 de agosto de 1942  e a partida do 1º. Escalão da FEB, em 05 de julho de 1944, levou a imprensa a publicar a charge: “É mais fácil uma cobra fumar do que a FEB embarcar” que deu origem ao emblema e ao lema da FEB: “A cobra está fumando”.
Nossa Divisão Expedicionária iria combater ao lado de americanos, ingleses, indianos, franceses, poloneses, neo-zelandeses, e dos “partizans” italianos.
Pouco antes da chegada dos pracinhas brasileiros, ocorreram as maiores batalhas da Itália, na frente de Monte Casino, onde morreram 200 mil homens, entre aliados e alemães. A violência da batalha foi tão grande que o general Alexander, então Comandante Geral no TO, em correspondência para Churchill, disse que estava enfrentando os melhores soldados do mundo.
Após Monte Casino, a tropa alemã recuou e foi fixar-se nos Apeninos Italianos, onde a FEB os encontrou.
Nesse TO, o efetivo alemão era superior ao dos aliados que, por sua vez, levavam a vantagem de possuírem equipamentos superiores. O sistema alemão de defesa era um sistema montado em profundidade, com emprego de muitas metralhadoras, uma cobrindo a outra, sem deixar um ponto a descoberto. Por isso, os brasileiros sofreram os primeiros reveses em Monte Castelo.
O batismo de fogo da FEB foi na região de Camaiore, localizada na extremidade ocidental dos Apeninos, uma cadeia de montanhas muito altas, que separa a península italiana da região do Vale do Rio Pó, o grande e rico vale, ao norte da Itália, onde estavam situadas as grandes indústrias daquele país, alimentadoras do esforço de guerra nazista.
Os aliados planejaram romper a linha fortificada dos Apeninos, denominada de Linha Gótica, no início de novembro e conquistar Bolonha, no Vale do Pó, antes do inverno.
Nessa operação coube aos brasileiros a missão de conquistar a região de Monte Castelo, um morro com 977m de altitude, situado a 61,3 km sudoeste de Bolonha, de onde os alemães controlavam a rodovia nº 64, que, no Vale do Rio Reno, conduzia ao Vale do Pó e à região de Bolonha.
Durante os meses de novembro e dezembro, enfrentando a chuva, a lama, o frio e a neve, os pracinhas brasileiros atacaram por diversas vezes o infernal baluarte.
           Em novembro de 1944, o General Mascarenhas de Moraes, havia montado seu QG avançado na localidade de Porreta-Terme, cuja área era cercada por montanhas sob controle dos alemães. Esse perímetro tinha um raio aproximado de 15 quilômetros. As posições alemãs eram consideradas privilegiadas e submetiam os brasileiros a uma vigilância constante, dificultando qualquer movimentação. Estimativas davam que o inverno prometia ser rigoroso, além do frio intenso, as chuvas transformaram as estradas, já esburacas pelos bombardeiros aliados, em verdadeiros mares de lama.

A Operação

          A Tomada de Monte Castelo marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram cinco ataques, com grande número de baixas devido a vários fatores, entre os quais as temperaturas extremamente baixas. Quatro dos ataques não tiveram êxito, por falhas e estratégia.
          O General Mark Clark, comandante das Forças Aliadas na Itália, pretendia direcionar sua marcha com o 4º Corpo de Exército rumo a Bolonha, antes que as primeiras nevascas de 1944 começassem a cair. Entretanto, a posição de Monte Castelo se mostrava extremamente importante do ponto de vista estratégico, além de dominado pelos alemães dava pleno controle sobre a região.
         Caberia, então, aos brasileiros a responsabilidade de conquistar o setor mais combativo de toda a frente Apenina. Porém havia um problema: a 1ª DIE era uma tropa ainda sem experiência suficiente para encarar um combate daquela magnitude. Mas como o objetivo de Clark era conquistar Bolonha antes do Natal, o jeito seria o de aprender na prática, ou seja, em combate.
       No segundo dia de ataques tudo indicava que a operação seria exitosa: soldados americanos chegaram até a alcançar o cume de Monte Castelo, depois de conquistarem o vizinho Monte Belvedere.
Entretanto, em uma contra-ofensiva poderosa, os homens da 232ª Divisão de Infantaria germânica, responsável pela defesa de Castelo e do Monte Della Torracia, recuperaram as posições perdidas, obrigando os soldados brasileiros e americanos a abandonar as posições já conquistadas - com exceção do Monte Belvedere.
        Em 29 de novembro, planejou-se o 2º ataque ao monte. Nesta contra-ofensiva a formação de ataque seria quase em sua totalidade obra da 1ª DIE - com três batalhões - contando apenas com o suporte de três pelotões de tanques americanos. Todavia, um fato imprevisto ocorrido na véspera da investida comprometeria os planos: na noite do dia 28, os alemães haviam efetuado em contra-ataque contra o Monte Belvedere, tomando a posição dos americanos e deixando descoberto o flanco esquerdo do aliados.
          Inicialmente a DIE pensou em adiar o ataque, porém as tropas já haviam ocupado suas posições e deste modo a estratégia foi mantida. Às 7 horas uma nova tentativa foi efetuada.
As condições do tempo mostravam-se extremamente severas: chuva e céu encoberto impediam o apoio da força aérea e a lama praticamente inviabilizava a participação de tanques. O grupamento do General Zenóbio da Costa no início conseguiu um bom avanço, mas o contra-ataque alemão foi violento. Os soldados alemães barraram os avanços dos soldados. No fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram à estaca zero.
        Em 5 de dezembro, o general Mascarenhas recebe uma ordem do 4º Corpo: "Caberia à DIE capturar e manter o cume do Monte Della Torracia - Monte Belvedere." Ou seja, depois de duas tentativas frustradas, Monte Castelo ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, a qual havia sido adiada por uma semana.
         Mas em 12 de dezembro de 1944, a operação foi efetivada, data que seria lembrada pela FEB como uma das mais violentas enfrentadas pela tropas brasileiras no Teatro de Operações na Itália.
Com as mesmas condições meteorológicas da investida anterior, o 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria fizeram, inicialmente, milagres. Houve inicialmente algumas posições conquistadas, mas o pesado fogo da artilharia alemã fazia suas baixas. Mais uma vez a tentativa de conquista se mostrou infrutífera e, o pior, causando 150 baixas, sendo que 20 soldados brasileiros haviam sido mortos. A lição serviu para reforçar a convicção de Mascarenhas de que Monte Castelo só seria tomada dos alemães se toda a divisão fosse empregada no ataque - e não apenas alguns batalhões, como vinha ordenando o 5º Exército.
Com o agravamento do inverno no final de 1944, o gen. Mark Clark que ascendera ao comando do XV Grupamento do Exército, em substituição ao gen. Alexander, determinou à tropa brasileira a suspensão da ofensiva. Na plenitude do inverno, as temperaturas chegavam a cair até a 20 graus negativos. O terreno, normalmente verde em outras épocas do ano, apresentava-se completamente branco, em função das precipitações de neve.
O soldado brasileiro, oriundo das terras quentes e amenas, foi se adaptando ao clima e ao terreno e aprendeu a conviver com a adversidade do frio intenso e da neve. Um dos aspectos a ressaltar nessa fase defensiva, foi o intenso emprego de patrulhas. Estas podiam ser de reconhecimento, (valor GC ou Pel) ou de combate, (valor Pel). Estas ações de pequenos efetivos tiveram um papel preponderante na segurança do dispositivo defensivo que dependia fundamentalmente do cumprimento das missões por natureza, perigosas e difíceis, exigindo dos combatentes, qualidades acentuadas de inteligência, coragem, astúcia e sangue frio. Embora com pequenos efetivos, essas patrulhas estavam sempre muito bem armadas, com fuzis, fuzis-metralhadoras, metralhadoras de mão, granadas e rádios portáteis, para ligação com a retaguarda. Do tenente ao mais moderno dos soldados, o nosso combatente encontrou nessa atividade uma maneira positiva de reabilitar o seu ânimo, bastante desgastado face aos reveses sofridos em Monte Castelo.
Infiltrando-se na retaguarda do inimigo, em audaciosas ações de surpresa, reconhecendo, executando emboscadas e golpes de mão com rara eficácia, o nosso combatente foi incrementando de modo intensivo o seu preparo técnico profissional.
Quando em fevereiro, a Divisão reiniciou as operações ofensivas, o nosso homem já não era mais aquele soldado tímido, vacilante e inexperiente das primeiras jornadas, mas sim, um verdadeiro combatente de escol, confiante na sua capacitação, prudente e experiente, capaz de sobrepujar conscientemente as mais complexas e perigosas situações que se lhes apresentassem no decurso do combate. 
Somente em 19 de Fevereiro de 1945, após a melhora do inverno o comando do 5º Exército determinou o início de uma nova afensiva para a conquista do monte. Tal ofensiva utilizaria as tropas aliadas, incluindo a 1ª DIE, ofensiva que levaria as tropas para o Vale do Pó, até a fronteira com a França.

O Ataque Final

         Novamente a ofensiva batizada de Encore, ou Bis, utilizaria a formação brasileira para a conquista do Monte e a consequente expulsão dos alemães. Desta vez a tática utilizada, seria a mesma idealizada por Mascarenha de Moraes em 19 de Novembro. Assim, em 20 de Fevereiro as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo a Castelo. À esquerda do grupamento verde-amarelo, avançaria a 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos, tropa de elite, que tinha como responsabilidade tomar o Monte della Torracia e garantir, dessa forma, a proteção do flanco mais vulnerável do setor.
       O ataque começou às 6 horas da manhã, o Batalhão Uzeda seguiu pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal ao Monte e o Batalhão Sizeno Sarmento aguardava, nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Conforme descrito no plano Encore, os brasileiros deveriam chegar ao topo do Monte Castelo às 18 horas, no máximo - uma hora depois do Monte della Torracia ser conquistado pela 10ª Divisão de Montanha, evento programado para as 17 horas. O 4º Corpo estava certo de que o Castelo não seria tomado antes que Della Torracia também o fosse.
        Entretanto, às 17h30, do dia 21 de fevereiro de 1945, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento conquistaram o cume do Monte Castelo, os americanos ainda não haviam vencido a resistência alemã. Só o fariam noite adentro, quando os pracinhas há muito já haviam completado sua missão, e começavam a tomar posição nas trincheiras e casamatas recém-conquistadas. Grande parte do sucesso da ofensiva foi creditada à Artilharia Divisionária, comandada pelo General Cordeiro de Farias, que efetuou um fogo de barragem perfeito contra o cume do Monte Castelo, permitindo a movimentação
         A tomada do Monte Castelo, foi a mais significativa vitória da FEB, demonstrando o valor do soldado brasileiro, sua versatilidade, sua persistência, seu estoicismo e sua coragem. Foi a vitória da superação e da raça.
A campanha prosseguiu. A conquista do baluarte de Castelnuovo, em 5 de março, consolidou a posse do Vale do Rio Reno e garantiu o livre trânsito na Rodovia nº 64.
No mês de abril, os aliados atacaram em toda a frente dos Apeninos, para chegarem ao Vale do Rio Pó. Foi a Ofensiva da Primavera. Aos brasileiros coube conquistar a região de Montese, objetivo situado na porção da frente de combate mais à esquerda de todo o dispositivo aliado. Foi a nossa vitória mais sangrenta, efetivada em 14 de abril.
O acesso à Planície do Pó permitiu que o êxito da Linha Gótica fosse aproveitado, levando à perseguição, à captura e à total desorganização do dispositivo alemão na Itália.
A FEB participou dessa operação e, em 28 de abri, capturou a 148ª Divisão de Infantaria alemã, tropas blindadas de uma Divisão Panzer e remanescentes fascistas da Divisa Bersagliere. Foram aprisionados 14.779 homens e vultoso material de guerra.
No dia 1º de maio, os brasileiros ocuparam a cidade de Turim e, no dia seguinte, 2 de maio, a guerra terminou na Itália.
O tributo de sangue brasileiro em combate contabilizou 443 mortos e 1.577 feridos. Foi o preço da luta pela liberdade e pela democracia, no mundo e no Brasil. A guerra deixou 60 milhões de mortos. Foi criada a Organização das Nações Unidas, (ONU), na esperança de se viver num mundo melhor.

O legado da FEB

O nosso esforço de guerra permitiu que o Brasil começasse sua industrialização. A instalação e a operação de bases militares no Nordeste nos permitiu receber uma usina siderúrgica, que foi instalada em Volta Redonda.
A industrialização estimulou a urbanização, possibilitou a emergência da economia do petróleo, induziu a interiorização da nossa capital, com a criação de Brasília, o que estimulou, nas décadas seguinte, a marcha para o oeste.
O Exército brasileiro mostrou aos americanos, o quão danosa era a prática da segregação racial, com batalhões constituídos somente de elementos da raça negra. A mistura, a integração de todas as raças dentro das unidades brasileiras provou ser mais eficiente e eficaz pois mantinha elevado o moral da tropa e conseguia os melhores resultados no campo de batalha.
O soldado brasileiro, admirado e respeitado pela sua coragem e pela sua cordialidade, ganhou notoriedade e passou a ser requisitado para compor as Forças de Paz da ONU e OEA. Suez, São Domingos, Timor Leste, Haiti, com a Minustah, são exemplos da atuação do soldado brasileiro em defesa da paz. 

BIBLIOGRAFIA:

1. DE BELLO ANNIS - Petrônio Muniz e Alberto Bittencourt, ainda não editado.
2.  O NORDESTE NA II GUERRA MUNDIAL; Gen Ex R1, Paulo de Queiroz  Duarte. Ed. Record, 1971.
3.  O BRASIL E MONTE CASTELO – Fundação Armando Alvares Penteado.
4.  TRINTA ANOS DEPOIS DA VOLTA – Octavio Costa
5.  O Exército na História do Brasil (vol. III, República).  Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,
6.  Marechal Mascarenhas de Morais, Memórias (Volume 1)- Bibliex, 1984
7.  Joel Silveira, O Inverno na Guerra - Objetiva,2005








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