Alberto Bittencourt- set 2012
Comecei meu diário ainda
na adolescência. Habituei-me a escrever regularmente em cadernos, nas
madrugadas insones, ao sabor de pensamentos e emoções. Procurava transcrever o
que me afluía, antes do esquecimento, sem premeditações nem racionalizações.
Em geral começava com um
assunto, uma ideia puxando outra, as palavras fluindo, me revelando, me desnudando.
Nunca escrevi na busca de qualquer descoberta, nem de mim nem de ninguém,
apenas deixava rolarem impressões, emoções, sentimentos.
Com o tempo, fui
sofisticando. Hoje uso cadernos franceses – imaginem só – padronizados,
quadrículas pequenas, quarenta páginas cada, fáceis de transportar e de
escrever. No fim do ano tenho preenchidos uns cinco ou seis. Mando encadernar
com capa dura, num só volume e deixo na estante, sem saber deles o que fazer. Somam
mais de quarenta.
Foi a maneira que
encontrei, nos anos de minha juventude, de me defrontar com medos e fantasmas,
de enfrentar inseguranças e ansiedades. Foi a forma de me comunicar comigo mesmo,
de sair da introspecção, do isolamento. Muitas vezes sentia-me mais à vontade
na companhia de meus cadernos do que numa roda de amigos.
O importante era expressar
o que se passava no âmago de meu ser. Podia ser um texto prolongado por páginas
e páginas, ou apenas poucas linhas, ou uma simples frase que fosse.
Na minha mocidade, meu
diário era algo que, de tão íntimo e pessoal, a ninguém mais dizia respeito,
senão a mim próprio. Em última instância, meu diário servia para libertar meu
espírito e salvar minh’alma. Era o jeito de fazer uma pausa no torvelinho de
pensamentos, pedir licença e ouvir a minha voz interior.
Com o passar dos anos, o
foco de meus escritos foi migrando de uma certa tendência vitimista, para a
contemplação das minhas circunstâncias e contingências. Passei a ser mais
objetivo, mais crítico, mais analista de fatos e personagens, tornei-me
cronista de mim mesmo e do dia a dia. Porém, nunca deixei de me confessar. No
meu diário, ouso transcrever meus pensamentos os mais recônditos, sem
julgamentos nem culpas, na pura aceitação do que sou, incondicionalmente.
A recompensa, muito mais
que consequência, é a possibilidade de me conhecer melhor, de me adequar aos
meus defeitos. Com isso, pude ser mais verdadeiro, mais autêntico, sem precisar
jogar, nem representar. Pude ser o que sou, natural, espontâneo.
Através de meu diário
adquiri um grau mais elevado de consciência, integrei-me à natureza e à Deus.
Pude crescer, desenvolver-me, pude me doar por inteiro.
Para mim, meu diário
funciona como uma verdadeira terapia. Estudos recentes dão conta que essa
atividade está ligada à redução do estresse e, portanto, à preservação da boa saúde.
Escrever a respeito dos momentos mais difíceis da vida, está provado, reforça as
defesas imunológicas.
Considero a atividade de escrever um diário, como uma das melhores técnicas de meditação. Portanto, eu recomendo escrever alguns minutos por dia, com discernimento, com honestidade, para melhor progredir no conhecimento de si próprio.
Considero a atividade de escrever um diário, como uma das melhores técnicas de meditação. Portanto, eu recomendo escrever alguns minutos por dia, com discernimento, com honestidade, para melhor progredir no conhecimento de si próprio.
21 comentários:
Muito bom, Beto. Não lhe sabia com um site tão interessante.
Estou seguindo, com prazer.
E se quiser ver o meu, qualquer dia vá lá: http://arabesquedesonhos.blogspot.com
Só que o meu é de poesia (como deve ter imaginado).
Abraço grande de parabéns
Jade
Grande amigo e compº Alberto,
Mais uma vez me vejo frente a frente com você, seus textos deixam claro o grande amigo que conquistei sem ao menos conhecer pessoalmente. Aliás quero me penalizar por andar distante, tenho recebido periodicamente seus escritos, mas com o problema do acidente da Bia,8 meses de retorno a São Caetano do Sul,1 mês e 1/2 de retorno a Rotary, problemas seguidos com meu computador, local novo de trabalho, não tenho feito contato.
Agora que já estou conhecendo um pouco melhor meu novo clube, seu modus operandi, sua cultura interna, comecei a organizar o Boletim "A TOCHA", do RC de São Caetano do Sul Olímpico, meu computador estando em ordem começo a edita-lo.
No meu local de trabalho tenho acessado o face.
Mas,sigo seguindo os seus trabalhos, muito bom este seu texto "Meu Diário".
Forte e fraterno abraço,
Vindo a SP entre em contato para nos encontrarmos.
Ainda lhe fazemos uma surpresa ai em Recife.
Marangoni
Valeu pelo texto de incentivo...Principalmente neste momento em que mamãe, com 102 anos de idade, se encontra na UTI com infecção respiratória...Minha fé permanece naquEle que tudo pode.
Abraços da amiga
Sylvia Amelia
Como sempre, muito bom.
Bjs.
Olá Bittencourt.
Delícia de texto. Se lê com a facilidade de um suspiro.
Enfatizo novamente, minha admiração pela sua coragem em despir a alma, tendo como veículo, o coração. Penso da mesma forma. E, pegando aqui seu gancho, diria aos seus seguidores que, só pelas tentativas de conhecer-se, se pode ter a posse de um trãnsito livre consigo mesmo. Ao seu texto é dado também uma cientificidade. Ela chega pelas técnicas da psicologia e da psicanálise que recomendam aos pacientes, uma escrita sobre seus dias,destacando-se os sentimentos usados ou que se percebam em si imbutidos. Alguns deles podem estar na linha tênue e divisória entre o pré-conciente, onde luta para chegar ao consciente. Mais uma vez parabéns, amigo. E, continue nos brindando com seu diário ou crônicas, deliciosamente degustáveis. Sempre. Um grande abraço.
Lúcia Vasconcelos Lopes.
Querido amigo Alberto,
você não faz ideia de como me agradou ler mais este seu texto.
Também tive um diário, alguns estão empilhados em minhas desordenadas estantes (elas à minha imagem e semelhança).
Para mim, escrever para mim mesmo sempre foi uma maneira de fugir a esse mundo insensato. Aos setenta, pouco tenho escrito, até porque a tecnologia me atrapalhou a caligrafia. E não me sinto tão íntimo gravando minhas mazelas (e sonhos) num computador como me deleitava a elucubrar num caderno os meus problemas existenciais.
Comungo, por fim, dos seus pensamentos sobre a vida, sobre o Homem, sobre a missão que nos foi delegada, enquanto vivemos.
Abraço afetuoso,
Toinho Portela
Que beleza!
Obrigado.
Osvaldo Pereira Rocha.
Querido Alberto,
Adorei a sua postagem.
Obrigada e um grande abraço da Áustria.
Suzy
Meu nobre Alberto
Sensibilo-me profundamente quando assisto a nudez de uma alma... interessante é que isto me constrange, pela coragem, e me concita à admiração, pela mesma coragem, em expor-se à sombra da naturalidade franca de seu ser.
A poesia pode ser irmã da essencia do poeta, e nesse caso o é, ao admitir a ferramenta quase transcendental, pela "coleção de seus próprios fragmentos", na escrita desabafante e preciosa da memória de um diário.
Que o Senhor nosso DEUS, pela unção reveladora do poder do Espirito Santo continue a curar sua alma (todos os dias), renovando-se assim como as misericórdias do Altíssimo, a cada novo e instigante amanhecer.
Bençãos de LUZ e de uma excepcional PAZ... aquela que transcende a todo entendimento.
Com carinho, registre meu mais fraternal amplexo,
Jayme Lielson
Tenho acompanhado os seus escritos no blog FEIXES DE VARAS, com muita atenção e sensibilidade pela vasto conhecimento do inteligente escritor.
Nessa matéria de alto significado pessoal e social para os seus leitores, vi uma frase que, quando professor de Educação Moral e Cívica, todos os anos e com todas as turmas da primeira série do segundo grau, solicitava um trabalho com o título: QUEM SOU EU. O resultado me dava uma ampla visão do perfil de cada aluno, permitindo, desta forma, elaborar um planejamento mais adequado para a elaboração de um plano-de-aula eficiente, dentro das minhas modestas possibilidades para desenvolver um trabalho capaz de transmitir conhecimentos e obter resultados satisfatórios.
Você com a sabedoria que lhe é peculiar, desempenhando todas as funções dentro do Rotary, inclusive de Governador do Distrito 4.500, com absoluto êxito, continua prestando relevantes serviços a nossa comunidade rotariana em todos os sentidos, principalmente transmitindo conhecimentos para todos nós. Muitos diários o companheiro irá escrever. Parabens. Abraços
Manoel Morais
RC Campina Grande
Sempre admirei as pessoas que escrevem diário. Até tentei, por orientação de Frei Fuigêncio, quando seminarista da Ordem Franciscana dos Menores (OFM), ainda no Coléhio Seráfico de João Pessoa, mnas não tive sucesso.
E por quê? Porque, nas poucas madrugadas, que ia andar e escrever alguma coisa no claustro era uma assombração só! Alma por todo o lado, batiam em mim, me puxavam pela camisa do pijama, ô aperreio danado! Pois bem, até hoje tenho medo de almas. Só me levanto a nolite, para fazer xixi se de modo algum puder segurar até o amanhecer.
Reconheço a terapia do "diario" mas, como tenho medo de alma, não posso me aproveitar desse meio de saúde emocional e espiritual. Pensa num cristão aibda hoje assombrado com alma!... Um forte abraço - Assis
É, você realmente encontrou um meio de se encontrar e ali consta o que lhe passava na mente,portanto não haveria constatação.
Estava alí e ponto final.
Servia até mesmo para a sua alto análise e constar que somos ao longo do tempo sujeitos a transformações que seriam comprovadas em suas declarações e por escrito.
Gostaria eu de ter usado este mesmo modo de me encontrar e ,quem sabe ,a minha cuca seria menos problematica?
Parabens Bittencourt.
Seu amigo
Florimar.
Prezado Alberto,
mais uma vez minhas congratulações. Excelente seu tesmunho de coragem e transparência PESSOAL! "MEU DIÁRIO" é um incentivo p/ tantos que necessitam de um mergulho íntimo, uma fonte alternativa de expressar sonhos, mágoas, alegrias, perdão e ... , tantos outros sentimentos abarrotados dentro de nós esperando emergir, boiar, nadar e pisar em terra firme numa direção escolhida e partilhada com outros:
VIVER !!!
Abrs. p/ você e sua/nossa querida família.
Su...
Gratidão por abrir o coração e a alma e trazer ensinamentos tão preciosos e necessários para a uma vida consciente!
Abraço fraterno e Namastê,
Companheiro Alberto,
Vc é grannnnnnnde: um filósofo, numa literatura admirável! Preciso beber da sabedoria desse seu Diário.
Abraços
Elizabeth
Parabéns! Li no seu Blog o MEU DIÁRIO.
Os seus netos devem conhecer esse "mergulho íntimo e pessoal".
Li também todos os outros escritos.
O meu amigo tem veia de escritor. Por que não editar em livros, além do virtual?
Forte abraço. Em oração.
Salomão Azulay
Isso... se não for uma causa que abraçamos, nada de significativo vamos fazer.
beijos
ah
Dr. Alberto;
Tenho lido com atenção várias coisas do seu bolg. PARABÉNS pelo currículo! Além de tudo que tem por hábito fazer. Senti uma "inveja boa, branca" da forma como deve organizar o seu dia e aproveita-lo integralmente! Com toda essa formação, não podia ser diferente!
Fiquei encantada com os 40 volumes que possui dos diários e a organização com que são encadernados, ao final de cada ano. Imagino o orgulho dos seus filhos, em possuir um acervo deste porte.
Minha irmã é casada com o filho de um médico do Exército (hoje falecido) que também morou no Rio Grande do Sul. Uma pessoa muito boa e generosa, Dr. Jabes Affonso de Mello. Não sei, mas deve ter sido conhecido do seu avô.
Caro companheiro e amigo Bittencourt.
É sempre um prazer renovado receber seus textos e obter novos conhecimentos. Essa revelação de seu diário é simplesmente incrível. Mais uma vez se comprova que a perseverança é fator de prosperidade. Um exemplo de determinação de fazer inveja. Só pode resultar num cidadão como você companheiro: comprometido com tudo que faz. Grande abraço amigo e saudações rotarias e rubro negra.
Serafim Carvalho Melo
Prezado Alberto, parabéns pelo seu depoimento, dedicação e lição passada aos amigos. Um abraço Wellington Pereira.
Grande Bittencourt, filósofo da idade Moderna e também Conteporanea. Grande feito. Parabéns Companheiro.
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