SOCIEDADE MIDIÁTICA
Alberto Bittencourt - julho de 2009
Alberto Bittencourt - julho de 2009
Um boi indo beber água num charco pisou uma ninhada de rãs e esmagou uma delas.
A mãe das rãs veio e, dando pela falta de um dos seus filhos, perguntou aos seus irmãos o que havia acontecido.
- Ele foi morto mãe. Ainda há pouco uma grande besta com quatro enormes pés veio à lagoa e pisou-o com a sua pata que era rachada no meio.
A mãe, inchando-se toda perguntou:
- A besta era maior do que estou agora?
- Pare mãe, pare de se inchar - disse o seu filho - e não fique aborrecida, eu lhe asseguro que explodirá antes que consiga imitar o tamanho daquele monstro.
Moral da História:
Muitas vezes, coisas insignificantes desviam-nos a atenção do verdadeiro problema.
Fábula: O Boi e a Rã. Autor: Esopo
Há uma grande transformação no mundo. Vivemos hoje em dia numa sociedade midiática. A mídia hoje desempenha um papel muito mais importante que no passado.
O que tivemos nas últimas décadas, foi um desenvolvimento sem precedentes dos meios de comunicação e de informação. Uma carta, nos tempos de Júlio César, levava dois meses para chegar ao destino, se é que chegava. Há menos de um século, quem estava na França, por exemplo, nada sabia sobre o que se passava na China e vice-versa. Hoje, o que temos é o império das ondas, das redes, dos sites, dos blogs que fazem tour ao redor do mundo, instantaneamente. Um terremoto no Japão, um crash da bolsa do México, uma revolta na Síria, uma guerra aqui, um massacre acolá, a morte de um astro, o desaparecimento de um avião, o lançamento de uma moda, tudo é mostrado diretamente, instantaneamente, de perto. Tudo se instala em nossos monitores, em nossas telas, tudo se mescla em nossas mentes. A imagem da jovem no Iran, em seus momentos de agonia, mostrada pelas TVs do mundo resta viva em nossas consciências.
Dessa mistura de fatos e notícias, com frequência se denuncia a arbitrariedade, a desordem. Tudo o que pode ser moralmente condenável vem à tona. Voyeurismo, diriam uns. O homem passou a ser um espetáculo para o próprio homem. Quando certos interesses são expostos, cunham-se clichês do tipo: espetacularização da mídia, estado policialesco.
Acessos a sites de fontes confiáveis, como jornais, passam a ser cobrados para gerar recursos. Recentemente decidiram publicar na mídia as folhas de pagamentos de servidores públicos, com nomes, cargos e salários. Servirá para mostrar que um ascensorista do Senado pode ganhar mais do que um general de Exército. Ou que um motorista do Congresso pode valer mais do que um piloto de avião a jato. O povo, que paga a conta, tem o direito de saber.
Pelo menos essa mundialização e essa instantaneidade têm seu lado positivo. A verdade torna-se mais disponível, mais visível, mais transparente. Deixam de existir atos secretos, currículos maquiados. Mostrar os fatos como realmente aconteceram, é mais eficiente que a simples denúncia. Isso contraria os interesses dos opressores, dos aproveitadores, dos que se locupletam. É bom mostrar o que os incomoda. Tal aproxima os homens do lado de cá da mídia.
Quando um visinho pede socorro, quem não se sente culpado por não fazer nada? E quem são nossos visinhos de hoje, se as câmaras se multiplicam ao redor do mundo? Que tal constatação complica e torna mais pesada a nossa vida, é evidente.
Como ser feliz quando milhões de homens são oprimidos, deportados, roubados, quando centenas de milhares de homens e mulheres são massacrados, quase que diante de nossos olhos? Como ser feliz se extremistas e terroristas se imolam, levando consigo multidões de inocentes? Como ser feliz se uns são cada vez mais ricos e outros cada vez mais espoliados? Como ser feliz quando a jovem agoniza diante de nós?
Nós nos transformamos graças à mídia. Esta vem com tudo o que queremos e tudo o que não queremos. Somos contemporâneos de todos os acontecimentos. Habitamos no mesmo mundo, no mesmo tempo, no mesmo instante presente. Ter essa consciência nos impede de sermos mais egoístas, nos leva a sermos mais solidários uns com os outros. Graças à mídia.
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