CARTA A UM
COMPANHEIRO
Alberto Bittencourt - abril 2005
Caro
companheiro
Tomei conhecimento, com pesar, de seu
desligamento do clube. Para nós, militantes rotários, a perda de um companheiro
é sempre momento penoso, mormente nestes tempos em que o sofrimento da
humanidade aumenta, quando o trabalho dos rotarianos é cada vez mais
requisitado.
Desconheço se suas motivações foram de
natureza rotária, particular ou profissional. A comunicação pública, seca e
direta, abre caminho à especulações. Nas entrelinhas notei um certo amargor que
deixou dúvidas quanto aos relacionamentos no seu clube.
Foi falta de companheirismo? A prestação
de serviços, sem a contrapartida do companheirismo, é sempre precária. Talvez
tenha faltado liderança da parte dos dirigentes. Pode não ter havido instrução
rotária suficiente.
Os companheiros de seu clube talvez tenham
perdido a oportunidade de fazer de cada reunião plenária um momento agradável,
onde a Família Rotária comparece pelo simples prazer de estar junto e não para
cumprir uma obrigação rotineira.
Infelizmente, ao deixar o Rotary Club, o
companheiro perdeu uma rara oportunidade - a chance do convívio fraterno, amigável,
caloroso, que aproxima pessoas de categorias profissionais distintas, que, de
outra maneira, jamais se tornariam sequer conhecidas.
Quem já viu um engenheiro bater no ombro
de um juiz, chamá-lo pelo prenome ou apelido, no lugar do tratamento formal dado
nos tribunais, de Vossa Excelência, Excelentíssimo? Quem já viu um jovem de
20 e poucos anos tratar por você a um
circunspeto senhor, com anos de experiência, no final de carreira, ou
aposentado? Pois em Rotary tudo isso acontece, sem que se perca o respeito e a
consideração.
Alguns clubes não escolhem com o devido cuidado
seus integrantes. O fazem mais para preencher números do que para buscar
pessoas de qualidade, com vontade de trabalhar, líderes em suas comunidades. Todo
clube é o reflexo de seus sócios. Clubes de qualidade correspondem a homens de
qualidade, devotados ao ideal de servir.
É preciso municiar sempre o novo sócio de
literatura, artigos, folhetos, informações que esclareçam o verdadeiro papel
dos rotarianos no mundo. As obrigações financeiras devem ser sempre bem
esclarecidas e conscientizadas. Da mesma forma quanto ao papel da Fundação
Rotária, braço financeiro do Rotary International, que tem aquinhoado os distritos
do Brasil com mais do dobro de suas contribuições anuais, voluntárias.
É preciso que se tenha consciência que a
condição de ser rotariano não é para um cidadão qualquer, eu diria que é mesmo para
uma elite, no bom sentido. Uma elite voltada para o serviço voluntário, capaz
de disponibilizar parte de seus momentos de lazer em favor do próximo, uma
elite que “dá de si, antes de pensar em si”.
Que podemos fazer sozinhos? Pouco ou quase
nada. Como podemos legar aos nossos filhos e netos, um mundo melhor que o
atual? Dom Helder, o nosso grande arauto da Paz, respondeu, num programa de tv
a que assisti: “Não fique só”, disse apenas. Juntos, unidos, podemos sonhar o
sonho impossível, realizar milagres, mudar o futuro de muita gente.
Esse é o papel dos rotarianos, o de reunir
pessoas de bem, dispostas a ajudar o próximo, para fazer a diferença, num mundo
de violência, miséria, exploração, injustiça social.
A doação pura e simples do que nos sobra,
dinheiro, roupas, objetos usados, certamente tem o seu valor para os despojados
de tudo, mas não tem méritos. O mérito está na doação de si próprio, na doação
de seu tempo, de sua energia, de sua atenção. Aí está a verdadeira vocação dos rotarianos
e é isso que os faz serem diferentes.
Ao deixar o trabalho voluntário, ao deixar
“de olhar além de si mesmo”, o companheiro está dizendo não à vida, não à
esperança, não ao amor.
O Rotary só chegou aos cem anos, porque é
importante para o mundo. Graças a Deus, a consciência do serviço voluntário tem
aumentado substancialmente no Brasil.
Queira Deus que os jovens, os líderes, os
profissionais de todas as estirpes, tenham a visão maior de que não podemos
ficar só na esperança, nem apenas na fé. “Fé sem obras é morta”, disse Madre Tereza de
Calcutá.
É preciso agir, aqui e agora, sair na
frente, tomar iniciativas, liberar o grito incontido de nossa indignação,
bradar aos quatro ventos toda a nossa revolta, manifestar toda a nossa
inquietude, arregaçar as mangas, trabalhar cônscios de que juntos, unidos, como
um “Feixe de Varas”, tudo será mais fácil.
Que Deus proteja a você e a todos os
companheiros de boa vontade de seu Rotary Club. Quem sabe, um dia, o teremos de
volta, com o raiar de uma nova esperança?
Conte sempre com este seu amigo. Com um
abraço fraterno,
Alberto Bittencourt
Governador
do Centenario D-4500
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