ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

terça-feira, 4 de junho de 2024

CARTA A UM COMPANHEIRO

 

CARTA A UM COMPANHEIRO

Alberto Bittencourt - abril 2005

 

Caro companheiro               

 

Tomei conhecimento, com pesar, de seu desligamento do clube. Para nós, militantes rotários, a perda de um companheiro é sempre momento penoso, mormente nestes tempos em que o sofrimento da humanidade aumenta, quando o trabalho dos rotarianos é cada vez mais requisitado.

Desconheço se suas motivações foram de natureza rotária, particular ou profissional. A comunicação pública, seca e direta, abre caminho à especulações. Nas entrelinhas notei um certo amargor que deixou dúvidas quanto aos relacionamentos no seu clube.

Foi falta de companheirismo? A prestação de serviços, sem a contrapartida do companheirismo, é sempre precária. Talvez tenha faltado liderança da parte dos dirigentes. Pode não ter havido instrução rotária suficiente.

Os companheiros de seu clube talvez tenham perdido a oportunidade de fazer de cada reunião plenária um momento agradável, onde a Família Rotária comparece pelo simples prazer de estar junto e não para cumprir uma obrigação rotineira.

Infelizmente, ao deixar o Rotary Club, o companheiro perdeu uma rara oportunidade - a chance do convívio fraterno, amigável, caloroso, que aproxima pessoas de categorias profissionais distintas, que, de outra maneira, jamais se tornariam sequer conhecidas.

Quem já viu um engenheiro bater no ombro de um juiz, chamá-lo pelo prenome ou apelido, no lugar do tratamento formal dado nos tribunais, de Vossa Excelência, Excelentíssimo? Quem já viu um jovem de 20 e poucos anos tratar por você a um circunspeto senhor, com anos de experiência, no final de carreira, ou aposentado? Pois em Rotary tudo isso acontece, sem que se perca o respeito e a consideração.

Alguns clubes não escolhem com o devido cuidado seus integrantes. O fazem mais para preencher números do que para buscar pessoas de qualidade, com vontade de trabalhar, líderes em suas comunidades. Todo clube é o reflexo de seus sócios. Clubes de qualidade correspondem a homens de qualidade, devotados ao ideal de servir.

É preciso municiar sempre o novo sócio de literatura, artigos, folhetos, informações que esclareçam o verdadeiro papel dos rotarianos no mundo. As obrigações financeiras devem ser sempre bem esclarecidas e conscientizadas. Da mesma forma quanto ao papel da Fundação Rotária, braço financeiro do Rotary International, que tem aquinhoado os distritos do Brasil com mais do dobro de suas contribuições anuais, voluntárias.

É preciso que se tenha consciência que a condição de ser rotariano não é para um cidadão qualquer, eu diria que é mesmo para uma elite, no bom sentido. Uma elite voltada para o serviço voluntário, capaz de disponibilizar parte de seus momentos de lazer em favor do próximo, uma elite que “dá de si, antes de pensar em si”.

Que podemos fazer sozinhos? Pouco ou quase nada. Como podemos legar aos nossos filhos e netos, um mundo melhor que o atual? Dom Helder, o nosso grande arauto da Paz, respondeu, num programa de tv a que assisti: “Não fique só”, disse apenas. Juntos, unidos, podemos sonhar o sonho impossível, realizar milagres, mudar o futuro de muita gente.

Esse é o papel dos rotarianos, o de reunir pessoas de bem, dispostas a ajudar o próximo, para fazer a diferença, num mundo de violência, miséria, exploração, injustiça social.

A doação pura e simples do que nos sobra, dinheiro, roupas, objetos usados, certamente tem o seu valor para os despojados de tudo, mas não tem méritos. O mérito está na doação de si próprio, na doação de seu tempo, de sua energia, de sua atenção. Aí está a verdadeira vocação dos rotarianos e é isso que os faz serem diferentes.

Ao deixar o trabalho voluntário, ao deixar “de olhar além de si mesmo”, o companheiro está dizendo não à vida, não à esperança, não ao amor.

O Rotary só chegou aos cem anos, porque é importante para o mundo. Graças a Deus, a consciência do serviço voluntário tem aumentado substancialmente no Brasil.

Queira Deus que os jovens, os líderes, os profissionais de todas as estirpes, tenham a visão maior de que não podemos ficar só na esperança, nem apenas na fé.  “Fé sem obras é morta”, disse Madre Tereza de Calcutá.

É preciso agir, aqui e agora, sair na frente, tomar iniciativas, liberar o grito incontido de nossa indignação, bradar aos quatro ventos toda a nossa revolta, manifestar toda a nossa inquietude, arregaçar as mangas, trabalhar cônscios de que juntos, unidos, como um “Feixe de Varas”, tudo será mais fácil.

Que Deus proteja a você e a todos os companheiros de boa vontade de seu Rotary Club. Quem sabe, um dia, o teremos de volta, com o raiar de uma nova esperança?

Conte sempre com este seu amigo. Com um abraço fraterno,

 

Alberto Bittencourt

Governador do Centenario D-4500


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