Alberto
Bittencourt - ago 2006
Os
suíços estão de volta. MONIQUE JOLY, presidente da Association Enfants du
Brésil. Sediada
A
Associação Enfants du Brésil formada pelos pais adotivos de crianças
brasileiras foi constituída num tempo em que adoções internacionais eram
viáveis. Aí está um grande argumento contra aqueles que impedem ou dificultam
essas adoções internacionais (nunca se provou nada quanto à denúncia de tráfico
de órgãos). Como se isso não bastasse,
os pais adotivos na Europa ainda se preocupam em estender esse benefício às
crianças que aqui ficaram que não tiveram a mesma oportunidade de seus filhos.
Sou testemunha do quanto eles têm ajudado a creches, orfanatos, instituições e
de uma coisa inconcebível para a nossa cultura: eles sempre os pais biológicos
de seus filhos para dar alguma ajuda, para atender às suas necessidades
imediatas.
Há
um sem número de menores por eles apadrinhados, para cujas famílias eles
remetem periodicamente certa quantia destinada a ajudar na educação, na saúde,
na alimentação e no vestiário, em Pernambuco e na Paraíba.
Quando
de sua última estada em nosso país, há 2 anos, conheceram Jaqueline, numa
visita à favela do Bode, no Pina, conduzido pelas irmãs do Patronato N. Srª da
Conceição, Jaqueline então com nove anos, foi-lhe apresentada como sendo uma
pequena prostituta das ruas, juntamente com outras menores um pouco mais
velhas. Que indignação! Que emoção! Uma verdadeira comoção tomou conta daquelas
almas bondosas que se preocupam com o próximo, que amam sem restrições,
incondicionalmente. Tiraram fotos, um boletim da Association foi dedicado à
Jaqueline, artigos, cartas e mais cartas insistiam que o Patronato N. Sr.ª da Conceição
a acolhesse, a tirasse das ruas. As irmãs que de início diziam que a família
dela é que não permitia, terminaram por aceitá-la. Filha de pais separados, a
mãe prostituta, o pai drogado, ex-presidiário, traficante, vivendo em extrema
pobreza, Jaqueline, apadrinhada pela Association Enfants du Brésil, recebe
através das irmãs certa importância em dinheiro para custear suas necessidades
básicas, o que lhe possibilita estudar em escola particular, ter um plano de
saúde, material escolar e roupas. Em apenas seis meses aprendeu a ler e a
escrever. Dotada de uma inteligência privilegiada, uma vivacidade incomum, de
um olhar esperto e matreiro, líder mesmo entre crianças mais velhas, Jaqueline
começou a fazer progressos notáveis. Muito esperta, gosta de causar inveja nas
outras crianças, dizendo que um dia vai para Europa, para a casa dos seus
padrinhos, o que cria certo problema para as irmãs.
Mas,
Monique Joly trouxe uma contribuição para a Instituição, resolveu também ajudar
as demais crianças, a critério das irmãs, entregando-lhes substancial quantia.
Em
seguida, fizeram questão de voltar à favela do Bode. Com dificuldade se equilibraram
andando em tábuas velhas, mal pregadas, quase soltas, sobre palafitas na maré.
Passaram por estreitos labirintos, apelidados “avenidas”, espremidos entre
fétidos barracos. Entravam nos barracos, falavam com as pessoas, se indignaram
que passados dois anos, desde a última vez que aqui estiveram nada,
absolutamente nada foi feito para amenizar aquele quadro. Pelo contrário, a
situação piorou e muito. O lixo se acumula sob as casas, por entre as
palafitas, numa quantidade impressionante, nunca houve, por menor que fosse um
serviço de limpeza, de remoção. Os esgotos são vertidos diretamente, “in
natura” na maré. Só não grassa uma epidemia por verdadeiro milagre. Viram
homens em pleno vigor físico na maior ociosidade, embriagados ou se embriagando
pelas esquinas, uma tristeza. As irmãs foram o nosso passaporte. “Na paz de
Deus” uma espécie de senha para obter o salvo conduto, poder ali andar com
segurança.
A
que ponto chegou o nosso querido Brasil. Enquanto isso, nós, classe média,
ricos e remediados, vivemos numa ilusão, como se nada disso existisse. Quantos
de nós já penetraram no âmago de uma favela? Quantos já adentramos num barraco
feito de restos de madeira? papelão e plástico, chão de terra batida ou de
tábuas velhas, por sobre a maré? Quantos de nós sentimos o odor da sujeira, do
lixo, da falta de higiene, da promiscuidade em que aquela gente vive? Quantos
conhecemos essa realidade abandonada, escondida, esquecida do nosso Brasil? Só
nos lembramos quando a violência penetra a soleira de nossas casas, golpeia
nossas famílias, nessa guerra social não declarada.
É
preciso que um grupo de suíços, vindo de longe, de um país rico, onde tudo já
está construído, onde todos têm escolas, alimentos, saúde, chegue para abrir
nosso olhos, para nos fazer conscientes das sombras, das trevas que existem em
nossos próprios quintais.
O
LAR DE CÁRITAS é outra instituição desde o início de sua existência assistida
pela Association Enfants du Brésil, lá os suíços viram a fossa e o filtro anaeróbico
construídos a a partir de sua ajuda financeira. Pediram que façamos um
orçamento para a construção de um espaço para jogos e recreação e de um castelo
d’água em concreto armado, se preocupam com a melhoria das salas de aula e
outros detalhes. Há algum tempo pagam o salário da enfermeira NANCY, contratada
para cuidar dos bebês e das crianças. Dão o mesmo suporte para outras
instituições da Paraíba que se ocupam em tirar os menores da rua e a lhes dar
alguma iniciação profissionalizante.
Que
nos sirva de exemplo o espírito altruístico de compaixão e solidariedade humana
destes senhores que vêm de outra cultura, movidos unicamente pela força do
amor, trazendo o que há de melhor em si, em prol de um Brasil mais humano, mais
justo. Enquanto houver uma só criança necessitada, sem amor, eles estarão
presentes, sem jamais esmorecer, mesmo tendo sofrido alguns revezes, o que lhes
causou enorme decepção. Foi o caso de uma senhora no Janga, em Paulista,
depositária de sua confiança que se apoderou do dinheiro, de cerca de quinze
mil reais, destinados a famílias carentes. Foi o caso do Lar de Cáritas Bom
Pastor,
Sejam
bem-vindos nossos benfeitores que alegram o Brasil como segunda pátria, que
amam nossa terra, nosso povo, nossas cidades, que se encantam com as belezas
das nossas praias, do nosso clima, que se apaixonam pela riqueza da nossa
cultura, que são cativos da amizade, do calor humano, do nosso povo, que amam
nossa terra, nosso povo, que adoram nossa cultura, que são cativos da amizade,
do calor humano, do nosso povo, que adotam nossas crianças. Muito obrigado, que
Deus os abençoe.
Contem
conosco.
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