Reflexões. Re-pensando sábios pensamentos
“Somente na
velhice nos reencontramos com a infância, com a nossa infância.”
Rubem Alves
Minhas reflexões
Sobre os
pensamentos de:
T. S. Eliot:
“E ao final de nossas longas explorações, chegamos
finalmente ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira
vez...”
“Para isto caminhamos a vida inteira: para chegar
ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é a surpresa. É como se nunca o
tivéssemos visto.”
“Li que na antiga tradição samurai, quando um guerreiro recebia a ordem de
cometer o suicídio ritual, chamado sepuku,
antes do gesto final ele deveria escrever um haicai.
Haicais são poemas mínimos nos quais a condensação
poética é levada ao seu grau máximo.
A morte exige brevidade de palavras porque o tempo
é curto. E sendo curto o tempo, as palavras devem dizer o essencial.”
Estou completando
setenta anos.
O tempo é curto. É
preciso aprender a escrever haicais. É preciso dizer o essencial.
Guimarães Rosa:
“Poesia é magia, é feitiçaria.”
Feiticeiro é
aquele que diz uma palavra e, pelo puro poder da palavra, o dito acontece.
Deus é o
feiticeiro-mor: falou e o Universo foi criado.
Os poetas são
aprendizes de feiticeiro.
Ensinar,
esclarecer, interpretar, são coisas da razão, não vêem dos poetas.
Rilke:
“Quem assim nos fascinou, para que tivéssemos esse
olhar de despedida em tudo o que fazemos?”
As crianças ficam
felizes com pouca coisa. Não precisam dizer o nome dos deuses. Nem elas o
sabem. O sagrado aparece sem nome, no capim, nos pássaros, nos riachos, na
chuva, nas árvores, nas nuvens, nos animais. Isso lhes dá alegria, como no
Paraíso. No Paraíso não havia templos.
Por esta razão Jesus disse
que era preciso que nos tornássemos crianças de novo para ver o Paraíso
espalhado sobre a Terra.
Alberto Caeiro:
“As crianças são de novo nascidas a cada momento
para a eterna novidade do mundo: mundo sempre novo, diferente, surpreendente,
fantástico, assombroso, incrível, desafiante.”
“Decifra-me ou te devoro!” E as crianças, como
Édipo diante do desafio da Esfinge, se põem a decifrar o mundo.
Você ajuntou
muitas coisas.
Para quem ficará
tudo o que acumulaste?
Se forem bens e
dinheiro, a resposta é fácil. Cada pessoa tem um tesouro que é único, só seu.
No meu tesouro há
uma quantidade enorme de coisas absolutamente inúteis, que não têm nenhum valor
de mercado. Livros usados, CDs, quadros, fotografias, cartas. ... Memórias.
Memórias são
também objetos que acumulamos. Ficam guardadas no nosso tesouro.
Faxina nas
memórias que nos fazem sofrer. Quando eu morrer, minhas memórias vão se perder.
Quando escrevo,
luto contra a morte.
O que a gente
acumula faz parte da gente. O acumular é uma ilusão, não é possível acumular
coisa alguma.
Criança é isto:
desejo de prazer, corpo entregue ao brinquedo, atividade que é um fim em si
mesma, pela pura alegria que produz.
O Poder só tem
sentido para uns, se produzir objetos de prazer.
Robert Frost:
“Os bosques são belos, sombrios, fundos.
Mas há muitas milhas a andar
E muitas promessas a guardar,
Antes de se poder dormir,
Sim, antes de se poder dormir.”
“Por favor, na minha ausência, não se esqueça de
regar a minha planta.”
Aquilo que
realmente desejo dar para meus filhos, não pode ser dado. É coisa que só pode
ser semeada, na esperança de que venha a crescer.
O Testamento é o
que restou depois de feitas todas as somas e subtrações. É aquilo que passa às
mãos dos que continuarão a viver depois de nós, com um pedido:
Ravel:
“Há tantas músicas a serem escritas.”
Acrescento: Há
tantos poemas a serem lidos!
Entrando na
memória, eu vôo para o passado. Escrevendo as minhas memórias, eu levo outros a
voar comigo.
Sonhar é uma
forma de viver.
As crianças
verdadeiramente ficam felizes por pouco, pouca coisa, pois possuem o poder
mágico de transformar o que é nada em algo que é muito. Pelo poder da
imaginação, um cabo de vassoura se transforma num cavalo e uma caixa de sapatos
vazia amarrada a um barbante, é um carrinho.
Sejamos como as
crianças, saibamos transformar o nada em maravilhas.
Henri Bosco:
“Eu retinha, com uma memória imaginária, toda uma infância que
ainda não conhecia e que, no entanto, reconhecia.”
Imaginação –
Aquilo que nunca foi.
Fernando Pessoa:
“Quando te vi, amei-te já muito antes.”
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Sim, meu amor por ti já estava em mim,
Antes que te conhecesse.
Então eu te conhecia sem o saber!
Agora, que te encontrei, re-conheci o rosto que já amava sem
saber.
Tu, minha amada, já existias em mim
Desde antes do começo dos mundos!”
Os apaixonados
felizes não podem produzir literatura por não estarem diante do vazio.
Estão diante do
pleno.
Literatura e
poesia são palavras que colocamos no vazio. O vazio que se instaura após o
pleno, quando fica a saudade.
Heráclito:
“Tudo flui, nada permanece.
Tudo é rio, águas que passam e não voltam mais.”
Juventude é como
aquelas barcas que navegavam o São Francisco, subindo e descendo o rio. Vai
muita gente junta, tudo é festa, apreciam as mesmas músicas , todos dizem as
mesmas coisas, todos dançam, todos se abraçam.
Velhice é quando
mandamos construir a canoa, e nos vemos sozinhos a remar, não por vontade, mas
por precisão: já não se entende o que o outro fala, já não se ri das mesmas
graças, vamos ficando para trás...
Cecília Meirelles:
“Sou e não sou no que estou sendo.
Todo ser é um permanente deixar de ser.”
Se você quiser
descobrir segredos, preste atenção nas coisas pequenas, aquelas coisas que
ninguém nota, é nelas que se revelam os segredos.
Não existe nada
mais comovente do que uma criança adormecida, ela emana silêncio e
tranqüilidade.
Na manjedoura
dorme uma criança.
Somos todos nós,
pois dorme em nós o pequeno Deus.
A literatura
carrega em si os poderes de Deus, pois ela faz existir coisas que nunca
existiriam e chama as coisas que não são, como se o fossem.
A literatura nos
permite viajar por dentro, sem sair do lugar.
Manoel de Barros: (Rude poeta do
Pantanal)
“Tem mais presença em mim do que me falta.
Plantei árvores, tive filhos, tenho muitos amigos e, sobretudo,
gosto de brincar.
Que mais posso desejar?
Se eu pudesse viver a minha vida novamente, eu a viveria como a
vivi, porque estou feliz aonde estou.”
É isso aí.
É isso aí.
7 comentários:
Muito bonitas as reflexões. Parabens pelas escolhas e tambem pelos 70 anos que estão chegando.
Tudo de bom para você que é uma pessoa especial.
Abraços saudosos,
Paulo Roberto Magalhães.
Oi, que a Graça e a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, esteja contigo e todos seus familíraes e amigos, meus parabens pelo os 70 anos, segue um texto Bíblico para sua reflexão, DEUTERONÔMIO NR 6 ATÉ O NR 25, um abraço. RODRIGUES
Professor, b noite.
Novamente, enchendo-me de prazer.
Palavras nos remete ao pensar, ao questionar, ao reviver. O senhor transpondo os 70 e eu chegando bem perto, agora os 50 e logo mais, se assim, Deus permitir chego lá.
Chegar lá, porque nem todo homem, ali ou aí, chegará.
Obrigado.
FC
Gostei mto do seu texto tio. Parabéns! E que os 70 anos venham cheios de saúde, paz e luz. Bjo
Alberto, velho (!) amigo:
Até tentei comentar interneticamente, mas, sempre burro (numerus stultorum infinitus est), sobretudo nesse clica-aqui-clica-ali, preferi me dirigir a você cara a cara (!), como faço agora, para lhe dizer - meu bravo general de mil estrelas - como apreciei sua proposta de reinvenção da vida! Bravo! Bravo!
Veja bem, eu, que completei meus setenta em dezembro passado, não acreditei que você também estivesse batendo esse recorde olímpico. Tinha-o (tenho-o) ainda como um jovem capitão pai de Annie e Simone e amigo de um sujeito que morava ali na esquina, no Espinheiro, pai de Ludmila e Tatiana... PÃ?! Eu também viajava, então, nas águas doces dos quase-quarenta...
Nem acredito que, de lá para cá, nosso relacionamento então (e sempre) amistoso tenha se resumido a alguns papos eventuais, a algumas negociações com imóveis, a uma passagem fortuita por uma casa de m assagens (eita! agora devo estar delirando, inventando...), a uns lançamentos de livros seus (um deles teve capa de Mila, não foi? Era uma viagem sua e de Helena à Europa), a um cafezinho ali embaixo do prédio de nossa assessoria de imprensa, a Verbo, na Suassuna, a uns trâmites simples para publicação de artigos seus no Jornal do Commercio (do qual fui desligado, em abril passado, por uma regra da empresa que expulsou quantos tivessem 65 anos ou mais) e por alguns outros eventuais, fortuitos e-mails...
Verdade é que, nesses quarenta anos, perdemos você eu o nosso bom contato, pois a vida cotidiana fez cada um de nós enveredar por um rumo. Comigo houve muitas situações imprevistas, isto é, distanciei-me de outras pessoas admiradas por força das tais contingências da vida. Eu próprio, você bem sabe, tive um novo casamento e, com isso - é inevitável - passei a orbitar outros planetas, outros mundos do existir diário.
Também, nes tes pré-70, mergulhei em algo que a psiquiatria consultada não diagnosticou precisamente como depressão, mas
que, na prática, significou, a meu ver, uma coisa que se poderia chamar de desesperança, ou desassossego, ou, em miúdos, uma enorme vontade de mandar tudo para o inferno - ou, mais claramente falando, para a puta que pariu!
Hoje pareço estar melhor disso, embora nem tanto, ainda que reunindo toneladas de vontade de sair do buraco. E vou sair.
À medida que vou voltando à tona, quero retomar, quanto possa, nossa velha e agora setentenária amizade.
Renovo minha admiração por seu blog, pelas lúcidas reflexões que ele contém.
Com o abraço carinhoso de sempre,
Toinho Portela
Meu nobre amigo e companheiro,
Alberto Bittencourt,
Tive a satisfação de conhecê-lo via GEROI. Depois, passado algum tempo, pessoalmente, no Instituto Rotary do Brasil, em Gramado, aqui no meu amado Rio Grande do Sul.
Se o admirava pelo que escrevia, a partir daquele encontro, ainda mais. Lembro-me de que conversamos diversos assuntos importantes, principalmente sobre Rotary. Valeu a pena. Foi mais um amigo que veio enriquecer o rol dos meus amigos que, é bom que eu diga: não são muitos, pois amigos são figuras raras em nossas vidas.
Li com total atenção sua mensagem: "SE EU PUDESSE REINVENTAR MINHA VIDA". Linda, muito linda. Composta de elevadíssimos pensamentos e, muito bem elucidados por seus comentários.
Você chegou aos 70 anos de vida. Pelo que tenho lido através dos seus artigos, você é um homem extremamente inteligente, culto e muito bem preparado para vida, o que demonstra que você aproveitou muito bem o tempo que viveu até agora. Ai, então, eu fico imaginando que o seu espírito, ao se desprender de sua matéria, naquele dia que certamente virá, Deus o aguardará com grande festa pois, seu grupo dos Espíritos Iluminados se fortalecerá com sua presença.
Uma das coisas que você faz despertar admiração é não ser egoísta, pois, divide com todos tudo aquilo que sabe; você distribui sabedoria; faz questão de esclarecer, orientar, sem que para isto imponha alguma coisa. E esta sua atitude me causa enorme admiração.
Estou com 73 anos. Amo a vida, o maior presente que Deus poderia ter me dado. Tenha certeza: sua mensagem veio para me fazer amar ainda mais esta Dádiva Divina.
Seja feliz de modo que possa viver intensamente os seus 70 anos, sempre levando a todos os que tem a felicidade de lê-lo, suas belas mensagens.
Carinhoso abraço.
Hermes Pereira da Silva
Oi,Alberto.
A respeito do assunto,quando,como nós,começam a aparecer uns "vazios", tipo filhos desmamados,vida profissional positiva e até ex-companheiros que nos deixaram, estou lendo um livro do Pierre Weil,a quem admiro (da Unipaz,de Brasilia),chamado Mutantes,da Verus Editora,onde localizei entre as pag.78 e 83,aspectos muito interessantes,não de auto-ajuda,mas de trajetória de Vida.
"Caiu-me em bom momento",aliás fala muito nas sincronicidades,bem embasado!
Se puder dar uma 'bisbilhotada na Liv. Cultura,... .
Abs.
Feliz se puder ajudar.
Saúde a todos .
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