ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

quinta-feira, 14 de março de 2013

VIOLÊNCIA CONJUGAL


                                                                                





Pintura a óleo sobre tela de Anna Razumovskaya



Foi o Maior Barraco
Conto de Alberto Bittencourt



Quando cheguei em casa, exausta ao fim de um dia de trabalho, já encontrei Mário embriagado, coisa que não acontecia há mais de um ano. Ele estava em pé, na porta de casa, naquela euforia dos bêbados. Dançava, cantava, ria, gritava, parecendo ser o próprio palhaço, inteiramente fora do seu normal.

Entrei e fui direto para o banho, já antevendo os acontecimentos. Mário veio atrás de mim. Começou a despejar reclamações, dizendo que eu tenho a mania de desfazer de sua família, pelo simples fato de eu não gostar de certas comidas que sua mãe faz. Disse que meu filho Paulinho, de cinco anos, comia bem, gostava do que sua mãe fazia. 

Comemos um resto de carne de porco que havia, com arroz e fomos para o quarto, assistir à novela. Mas Mário continuou reclamando, insistindo que eu não gostava da família dele, "independente de qualquer coisa". Não conseguia parar, ficar quieto. Levantava, entrava e saía do quarto. Ia para o quintal, fumava, voltava, sempre a reclamar. Paulinho, com medo, juntou-se a mim. Mário dizia que estava cansado de arrumar a casa, de lavar os pratos, de levar Paulinho na escola, que ele não era a mulher da casa. Ia para a calçada e gritava: mamãe, eu te amo. 

Assistindo a tudo, os vizinhos davam risadas.

Depois de duas horas de humilhações e de estresse, eu falei que ia embora. Aí, o tempo fechou. Parecia que eu havia pronunciado uma palavra mágica. Mário começou a me agarrar, a me pegar pelo braço, cada vez com mais força, a me empurrar. Vendo isso, Paulinho começou a chorar. Eu, então, o coloquei no quarto, tendo, a essa altura, que suportar puxões de cabelo, empurrões, apertos no pescoço e xingamentos, de rapariga para baixo.

Paulinho chorava e pedia que Mário não fizesse isso com a mãe dele, ao que Mário respondia com outros xingamentos. Assustado, Paulinho dizia, num choro só, minha mãe não é isso não! Completamente descontrolado, Mário continuava com as agressões.

Nesta hora, assustadissima, tentei ligar para o meu ex sogro, mas, infelizmente ele não atendeu. Foi quando Mário me deu dois tapas no rosto. Eu afastava Paulinho dali, mas o pequeno não queria sair, voltava sempre, como se quisesse me defender, me proteger. Mário jogou as roupas do armário no chão e todos os objetos da prateleira e continuava me xingando pelos nomes mais baixos. Pegou o brinquedo novo de Paulinho, atirou-o no chão, pisou em cima, quebrando-o.

Finalmente consegui retirar Paulinho de casa, chorando, agarrado ao boneco quebrado e ao livro do gatinho, presente da avó materna. Ele, na sua pureza, pediu que eu nunca mais beijasse aquele cara, que, quando crescesse, não queria ter nenhuma namorada, e nem ter filhos. Saímos de casa fugidos e fomos para a casa de uma amiga.

Hoje, sou franca e mansa nas conversas com Paulinho. Tento apagar de seu pensamento um pouco daquelas imagens horrorosas, procurando amenizar o trauma por que passou. Mas, ele sempre me diz que não quer voltar para casa e que não acredita mais nele. Quando pergunto se ele o perdoa, é taxativo, diz que não.

No dia seguinte, fui à Delegacia da Mulher. Lavrei a ocorrência, fiz exame de corpo de delito, pedi proteção policial para ir à casa, buscar minhas coisas. A Delegada me enviou em uma viatura oficial, com policiais armados. 

Mário não apareceu, com medo de ser preso. 

Essa queixa ficará para sempre aberta, por um dispositivo da Lei. Como proteção à vítima, ela não pode ser retirada, nem mesmo que eu queira.

Mário agora, bem mansinho e delicado, está tentando se re aproximar de Paulinho e procura emprego. 

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Violência Conjugal
Crônica de Alberto Bittencourt

Dizem as estatísticas que o número de mulheres assassinadas por seus maridos, amantes ou companheiros aumentou substancialmente nos últimos trinta anos. Recentes dados do governo indicam que, no Brasil, uma mulher morre por dia, vítima da violência conjugal. Isso sem falar nas centenas de milhares de registros de agressões ocorridas no período. Tal não é um privilégio do nosso país. O aumento da violência conjugal vem ocorrendo no mundo inteiro.

Fica no ar a interrogação: as agressões físicas contra as mulheres aumentaram realmente, ou será que elas agora estão indo buscar mais proteção policial? 

Será que a violência aumentou ou é apenas mais denunciada?

Com o advento da Lei Maria da Penha, a criação das delegacias da Mulher e de outros mecanismos de apoio e ajuda à mulher agredida, é de se supor que, nos tempos atuais as mulheres são mais estimuladas a denunciar as violências de que são vítimas por parte de seus parceiros. Outro fato, é que, por conta da mídia, a maioria dessas mulheres, violentadas ou agredidas, está muito mais esclarecida, com um conhecimento maior dos procedimentos a serem adotados para cessação ou reparação desses crimes. Mas, a despeito de tudo isso, o número de agressões nunca deixou de aumentar. Por que? 

Especialistas afirmam que a violência física é uma forma do ser mais forte mostrar superioridade quando, em outras áreas, ele se sente diminuído e incapaz de fazê-lo. Os psicólogos, agentes policiais e assistentes sociais sabem que quem se expressa por meio de impulsos destrutivos, geralmente sofreu abusos na infância, maus tratos que forjaram uma personalidade vacilante, que mal aceita a sua própria insegurança, sua própria sexualidade. Nada disso, porém, justifica a agressão, seja ela de que forma for.

Tentar entender as razões para um tal comportamento, não é justificar esse tipo de crime, que muitas vezes se repete durante toda uma vida conjugal e familiar, gerando sofrimento em vários planos: físico, psicológico, emocional e, pior, transmitindo aos filhos, quando pequenos, insegurança, medo, raiva e revolta, pela visão da mãe como vítima submissa, quase permanentemente agredida por um pai agressivo e incontrolável. 

Acho que a única forma de enfrentar a violência é por meio da comunicação. Comunicar vem de "tornar as coisas comuns". Preconiza um sistema de trocas nos relacionamentos, a partir das quatro ações: pedir, dar, receber e recusar. 

Precisamos ter ciência de que os protagonistas dessa troca conjugal são três: ele, ela e os dois. A liberdade de ser, de dar e de receber, sem imposições, a capacidade de dizer não, sem ficar prisioneiro numa rede de culpas, de injunções e de constrangimento é o único caminho viável para resolver pendências, conflitos e proporcionar maior proximidade, entre dois seres racionais. Quando os dois seres estão próximos, a violência desaparece.

Tudo fica muito difícil porém, quando estão envolvidos sentimentos de baixa estima, de impotência, de frustração. É o caso que muito se vê quando o marido fica desempregado e a mulher carrega sozinha o fardo do sustento familiar. Desempregado, a auto estima do homem pode ser reduzida a zero. Se ele passa os dias na ociosidade, acontece muitas vezes ir buscar refúgio na bebida. Em muitas pessoas, o álcool atua sobre a parte do cérebro responsável pela agressividade, e tudo pode terminar de forma trágica, como no conto abaixo.

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12 comentários:

ANA HERTZ disse...

Oi, primo
Estarrrecedores, realmene, os índices apresentados.
Da mesma forma, fico na dúvida se a violência aumentou ou se as denúncias cresceram.
bjs
ana hertz

EDVALDO ARLEGO MARQUES disse...

É difícil de tratar de um tema dessa natureza sem perder a elegância literária.
Você o conseguiu. Parabéns.
Tomei a liberdade de repassá-lo para algumas amigas que vivenciaram tal problema.
Abraços,
Arlégo. 

Graças Silva disse...

O amigo Edvaldo arlego disse bem:a não perda da elegância literária...
Portanto,deixo aqui um forte abraço para estes dois escritores que tanto os admiro*Arlégo/Alberto

Unknown disse...

Caro Amigo Parabéns pela abordagem de tema tão delicado. Marcos Pontes.

ELIZABETH ANTÃO disse...

Alberto, meu eterno Governador,
Parabéns pela matéria refinada e interessante do seu blog.
Acredito que , com a Lei Maria da Penha as denúncias têm aumentado, mas o medo ainda faz reinar o silêncio. Um véu de vergonha encobre a brutalidade e a estupidez que marcam o desrrespeito à mulher.

Abraços, Elizabeth

TOINHO PORTELA disse...

Muito bom, grande amigo Alberto.
Abração de
Toinho Portela

MARLENE MANSO disse...


Marlene Manso 16 de março de 2013 20:11
Parabéns, companheiro!
Admito q são belas todas essas mensagens c/ buquês de flores e coraçõesinhos, fora os elogios à "rainha do lar".
Que se renda homenagem à mulher s/ esquecer, entretanto, q, apesar de suas conquistas, a verdade é q ela ainda é o sexo frágil, vítima, por vezes, da covardia de homens de todas as classes socioeconômicas, que as maltratam fisica e emocionalmente, desfigurando-as e destruindo sua autoestima.
Não compactuemos com o "silêncio dos bons"!

ASSIS BEZERRA disse...

PARABÉNS companheiro Bittencourt por "Violência Conjugal".
Eu entendi muito bem a sua mensagem. Fui um Paulo. Rogo-lhe aceitar a minha admiração pela sua clarividência.
Um forte abraço - Assis

ARTUR REIS disse...

Muito boa a sua postagem.
Recomendo a todos que leiam e divulguem!

MANOEL QUINTAS disse...

Parabéns amigo Bittencourt pelo artigo VIOLÊNCIA CONJUGAL especialmente pela sensibilidade e elegância ao tratar essa situação tão terrível e, infelizmente tão comum, que alguns homens praticam contra a mulher.
Aliás não são homens, mas monstros, pois se homens fossem a tratariam como anjos que são. Como monstros que são esquecem que Deus escolheu a mulher para para mandar a este mundo o seu Filho Salvador Nosso Senhor Jesus Cristo. Esquecem, ou mesmo nunca souberam, da importância e imprescindibilidade da mulher para a vida, tanto que a maior ofensa ao homem é ofender a mulher.
Abraços com a admiração de Manoel Quintas.

Lúcia Vasconcelos Lopes disse...

Caro amigo Bittencourt.
Sempre atual esse tema que de forma elegante mesmo, abordou. Penso que inserido nele, podendo talvez ser outro tema seu proximamente abordado, encontramos o problema do alcoolismo. Passando pelas cadeiras de Seminários de alguns especialistas, me foi passado ser esta a droga que, maiores dimensões alcança, causando fortes danos morais e sociais a qualquer Nação.
O álcool traz uma sensação de impunidade, onde experimentam homens e mulheres, sensações de serem semi-deuses ou deuses mesmo. E, não vamos longe.Como você brilhantemente abordou, o processo comunicativo passado às massas, pelas mídias mais "nobres" torna como que banal a utilização do álcool. É de espantar a legalidade das vendas de produtos alcoólicos nos mais variados lugares de diversão. As vinhetas de "beba com moderação" são super rápidas nos comerciais. Justamente para não entranharem-se no inconsciente coletivo. A mensagem, entretanto fica. E bem gravada!E, tudo isso é técnica! O mais triste de tudo, segundo ainda ouvi de pessoas que lidam com este problema, é a impossibilidade de reações da sociedade. Ela sabe recriminar a situação. E, isto nas mais altas rodas sociais e executivas. Mas, sempre com um copo de uísque na mão...Segundo aprendi, o vício do álcool vem dos mais remotos tempos. Já dizia Napoleão sobre o vinho: "Ele é importante nas vitórias e indispensável nas derrtoas". Na verdade, o que penso sobre todo esse triste panorama, talvez me faça colocar aqui uma utopia. Creio que tudo isso só poderá mudar, pelo viés de uma educação ampla, onde as insatisfações dos homens possam se tranformar em desejos reais de trabalhos, através dos quais busquem conscientes, o estudo como arma para suas reais ascençôes profissionais.Por mais simples que sejam estes trabalhos. Não se pode negar que há nos seres humanos uma força animal a ser trabalhada e orientada por um processo educativo, psicologicamente correto Quem sabe assim...?PARABÉNS mesmo caro Bittencourt, pela sensibilidade de sempre. Meu fraterno abraço.
Lúcia Vasconcelos Lopes.

Anônimo disse...

Casos como esse se espalha ante a ignorância que vigora Brasil afora... lamentavelmente