ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sábado, 13 de outubro de 2012

O CRACK





O CRACK
 
Uma história real
 
Alberto Bittencourt
 
 

 

Fausto, Fabiano e Fabrício, 11, 9 e 7 anos de idade. Vivem na favela dos Coelhos, onde têm uma importante tarefa a cumprir. Saem de casa todos os dias, pela manhã, com a missão de trazer dinheiro no fim da tarde. Moram com o pai, a mãe e a avó.

O dinheiro vai alimentar, não só a família, mas também o vício dos pais que se tornam enlouquecidos quando falta crack. Os dois menores fingem tomar conta dos carros estacionados nas ruas. Fausto, o mais velho, vive entre o ponto de venda de tóxicos e os drogados, a quem vende pedras, cocaina e maconha. É esse moleque de apenas 11 anos, quem financia o vício dos pais.

Nenhum dos três frequenta a escola. Não sabem ler nem escrever e assim, não têm nenhuma chance de sair dessa vida miserável. Fausto tem apenas um sonho, o de se tornar, um dia, o chefe do tráfico. É este o seu objetivo de vida. A avó, com os cabelos todos brancos, também não sabe ler nem escrever. Viu a filha se tornar mãe aos doze anos, assim como ela. Ambas são precocemente envelhecidas. Essa avó mostra no semblante desfigurado o que a vida já lhe trouxe - a morte de dois filhos na guerra do tráfico. Deseja agora salvar os netos, para que eles não tenham o mesmo fim. O pouco dinheiro, entretanto, transforma a vida num inferno. Como se tudo isso não bastasse, há ainda o suplício de ver a família caminhar para a destruição causada pelo crack. E, o que é pior, ver o pai e a mãe empurrarem as crianças para as drogas.

A comunidade assiste impotente à degradação da família. Vê a mãe levar os filhos menores para mendigar nas ruas o dinheiro do crack. As três crianças não têm a menor chance de sair dessa situação. Elas precisam de ajuda, de uma mão libertadora.

Quando tudo parecia perdido, algumas pessoas de bem decidiram mudar o futuro daqueles meninos, ajudando-os a deixar essa vida, que não leva a lugar nenhum. É uma corrida contra o relógio, bem o sabem. Das autoridades, nada esperam! É preciso fazer alguma coisa. Agora ou nunca!

O único meio de salvar os meninos seria afastá-los dos pais drogados e viciados. Então tomaram a única decisão possível. Expulsaram na base da porrada o casal da favela. No mês seguinte apareceu,  num terreno à margem do rio Capibaribe, um corpo de mulher. Abraçada a uma boneca de pano, trazia seis perfurações a bala. Reconhecida pela avó, pagara o preço do acerto de contas com o tráfico.

Uma instituição cuida de Fausto, o mais velho. Ele já está numa idade mais delicada, precisa de mais cuidados, de pessoal competente, habilitado para tratá-lo, psicólogo, médico, pedagogo, para disponibilizá-lo à adoção, reconduzi-lo de volta à vida, ao lado de pessoas que o respeitem e que o amem.

A avó tomou a si o encargo de cuidar dos dois menores. A comunidade os protege, pois todos sabem da violência do tráfico e de sua crueldade. Essa verdade é para todos, mata-se mais jovens hoje, vítimas do tráfico, que em muitas guerras do mundo.

A avó mudou de rotina. Acorda cedo, prepara o café, quando tem e, diariamente, leva as duas crianças para a escola. Ali ela sabe que eles receberão as refeições bem balanceadas e preceitos de saúde e higiene, além de conceitos éticos e ensinamentos básicos para a nova vida que se abre agora para eles também.

É uma luta de gato e rato. O tráfico continua seduzindo crianças e adolescentes. Enquanto uns sucumbem, outros conseguem subsistir, ou subexistir. Ninguém espera nada das autoridades, nem dos politiqueiros, que só aparecem nas campanhas, nas eleições.

Essa avó está decidida a não perder os dois netos, mas ela sabe que não tem muito tempo à sua frente. A vida lhe é escassa, falta-lhe energia e disposição. Essa mulher idosa, bastante desgastada, reúne as últimas forças e, animada por um sonho, ainda luta pelos netos, pensando em torná-las homens de bem, trabalhadores honestos, mesmo que pobres, mas longe das drogas. Sente o apoio da comunidade, que a ajuda e dá força, para que estes dois meninos não façam parte das frias estatísticas dessa guerra insana e cruel.   

     

5 comentários:

dandomaispalpites disse...

Uma das guerras mais cruéis e violentas desse mundo moderno. O texto está muito bom!

TOINHO PORTELA disse...

Alberto, sempre amigo:
No texto benfeito, a revelação de uma desesperança.
Desesperança dos que sofrem com isso, desesperança minha no futuro (e no passado e no presente) de uma humanidade tão iníqua a que pertenço, descrente eu hoje de tudo.
Poupo-me (contrafeito) de comentar agora toda essa miséria.
Louvo os que se preocupam com ela.
Ainda falaremos sobre isso.
Seu amigo
Portela

GERALDO OLIVEIRA disse...

Meu estimado governador Alberto Bittencourt,
Continuo apreciando os seus belos e oportunos trabalhos.
Na minha modesta opinião pessoal, baseada em um sério trababalho de um economista americano que foi contemplado com o prêmio Nobel de Economia, há mais ou menos cinco anos, só há uma solução para o problema das drogas: a liberalização de todas as drogas.
Neste caso, o governo teria o controle da qualidade das drogas vendidas, teria um melhor conhecimento dos consumidores para ajudá-los com tratamento médico, o governo arrecadaria impostos sobre a venda das drogas para as despesas necessárias ao tratamento e orientações aos dependentes e o tráfico de drogas ficaria desinteressante.
Só há traficantes porque existe a demanda de consumidores. Combater o traficante jamais resolverá o problema.É burrice.
Acontece, meu Governador, que o sistema financeiro internacional "lava" cerca de US$ 500bi a 700bi de dinheiro sujo proveniente das drogas, a/a. Acho esses cálculos um pouco exagerados, porém, é certo que a "lavanderia" existe e é mantida por capitalistas poderosos e governos corruptos.
Parte deste imenso volume de dinheiro ajuda a eleger "democraticamente" políticos "honrados" em várias partes do mundo.
Há anos, o Comandante da Polícia Militar do Estado de São Paulo afirmou em uma palestra, o seguinte: "toda a sociedade gosta quando mandam a minha polícia invadir as favelas à procura de traficantes. Acontece que os verdadeiros traficantes encontram-se em seus palacetes nos bairros nobres da cidade. E lá, não somos autorizados a entrar".
Todos nós sabemos desta verdade; o resto é hipocrisia.
Agradeço-lhe sinceramente pelos artigos.
Abraços
Geraldo


HERIVELTO ALEXANDRE disse...

Caro Companheiro Alberto.
É devastador essa droga que aniquila o bem mais precioso da sociedade.a família.
Acho que o momento é oportuno para que o Rotary em uma ação conjunta envolvendo todos os clubes do Distrito 4500, através de um projeto de inclusão e qualificação profissional de crianças e adolescentes que vivem perambulando pelas rua da cidade ,vítima de abandono,maus tratos e negligência, onde cada clube ficaria encarregado pela população do seu entorno sobe uma coordenação geral da Governadoria. Afinal é um dever de todos,imclusive a sociedade, fazer valer o estaturo da criança e do adolescente em seu artigo 227:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

JOSE HATERAS disse...

Meu Caro Alberto Bittencourt,
Sobre seu E-mail " O CRACK ".
É uma triste realidade, a qual o Rotary é pequeno para isoladamente tentar uma solução. Trata-se de fato de um e grande Problema de Estado.
Obrigado.
Um Grande Abraço
Háteras