ÉTICA
Antonio Augusto Junho
Anastasia
Governador do estado de Minas
Gerais 2010-14
Palestra realizada no
XXXI-IRB de Belo Horizonte, 20/09/2008
Gravação e trasncrição
por Alberto Bittencourt.
Divulgação autorizada
pelo autor.
Ver currículo resumido no
final
Senhoras e Senhores
Em primeiro lugar gostaria de enfatizar que abordarei o tema da ética em
função de minha experiência profissional. Da leitura de meu currículo resumido,
se percebe que, desde minha graduação na Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais até hoje, quando ministro aulas de Administração
Pública na cadeira de professor de Direito da Administração, sou uma pessoa que
se dedicou ao serviço público, ora no Estado de Minas Gerais, ora na União
Federal.

O tema da ética remonta às preocupações greco-romanas. Da Grécia antiga
se espalhou pelo Império Romano. Na verdade, há pouco mais de 200 anos, o
grande pensador Kant passou a balizar todos os pensadores da filosofia cristã
ocidental, influenciando também a administração pública, colocando-a sob o
rótulo da moralidade.
Nas questões da administração pública, a ética e a moralidade
administrativa são irmãs siamesas. Poderíamos dizer até que a moralidade seria
filha da ética. É muito difícil definirmos, de modo objetivo, conceitos tão
distintos, não só nas cabeças das pessoas, mas em especial dentro da visão que
cada cultura, cada sociedade, tem sobre a conduta humana, em determinado lugar
da Terra, em determinada época,
Tanto a ética, quanto a moralidade administrativa estão fundamentalmente
construídas sobre as relações humanas. Não há ética, nem moralidade, quando as
pessoas não se relacionam. O pressuposto da ética é o relacionamento. Como a
sociedade civilizada se pretende contrária à barbárie, esse relacionamento,
essa integração, essa harmonia social cada vez alcança importância maior.
O exemplo mais importante da convivência harmônica, se me permitem, é o
exemplo da própria civilização, no qual as pessoas se sentam para discutir,
identificar problemas e trabalhar na solução desses problemas. Naturalmente
nesse ambiente nós temos a plena possibilidade do aparecimento dos mais
elevados sentimentos éticos de conduta. Evidentemente, também, dentro do poder
público, no qual me insiro, onde as relações humanas formam uma teia, o
relacionamento permite estabelecermos as formas de condutas humanas, probas,
morais e adequadas.
Desse modo, se indaga: o que seria um comportamento ético? Naturalmente
cada qual tem uma resposta, mas acredito que aqui, neste ambiente em que
estamos, numa plateia seleta de pessoas formadoras de opinião, líderes em suas
comunidades, a linha de raciocínio é, grosso modo, a mesma. Em outros
ambientes, entretanto, não é tão uniforme. Se nós estivéssemos em um estádio de
futebol, por exemplo, e discutíssemos ética, o que dizer do famoso exemplo da
copa do mundo de alguns anos atrás, quando Maradona fez um gol com a mão e
todos aplaudiram, especialmente a torcida argentina? No âmbito do futebol é
interessante. Todos nos travestimos de jogadores e torcedores, os mais
inflamados. Aquele golzinho marcado no ultimo minuto, em impedimento, não nos
aborrece, ao contrário nós ficamos até satisfeitos com a vitória nessa
condição. Claro que a ética estaria aí sendo maculada. Eu dei exemplo do
futebol, mas poderia dar outros exemplos na nossa própria vida profissional, na
vida familiar, na vida institucional. Eu estou dando esse exemplo não somente
para demonstrar a todos como é difícil distinguir as fronteiras daquilo que
seria ético e do que não seria ético, entre as áreas de atuação humana.
Portanto, parece-me que a ética é um aspecto muito mais de caráter
individual, da formação de cada um. Daí algumas sociedades possuírem um
comportamento ético, digamos, mais flexível do que outras sociedades. A famosa
expressão da forma do brasileiro se comportar, tão equivocada, tão triste, mas
tão presente igualmente na nossa sociedade, do “jeitinho brasileiro”, daquela
antiga propaganda, a famosa lei de Gerson, de tirar vantagem em proveito
próprio, de estacionar o carro na fila dupla, de atender o telefone celular
dentro do cinema, tenho certeza que não é evidentemente um comportamento sempre
presente no cotidiano das pessoas. É o tipo de uma postura, digamos, um pouco
egoísta, mas não um egoísmo feito de propósito, para ferir o outro, isso eu não
acredito, até pelo estilo mais amigável do povo brasileiro, mas é muito mais
dentro daquela questão relativa: eu vou resolver o meu problema e o outro que
se acomode à minha resolução. Lamentavelmente esse estágio me parece não só,
ferir um pouco dessa ética do comportamento, como pior, sinaliza um grau de
imaturidade do nosso comportamento civilizatório.
Nós no Brasil estamos evoluindo. Somos ainda, sob esse aspecto, uma
nação jovem, e aqui a juventude não quer dizer nada com relação à antiguidade.
Digo com pena: somos mais antigos do que muitos povos e países da América e nem
por isso, nós somos mais avançados em relação ao comportamento social.
Na própria China, durante as Olimpíadas de 2008 que nós todos
acompanhamos recentemente, o que aconteceu? Estabeleceu-se lá um grande esforço
para instituir a figura da fila. Não há nada mais civilizado do que a fila. Se
há uma grande demanda sobre um produto, qual é a ordem natural das coisas? A
fila. Os chineses, possuidores de uma cultura mais que milenar, talvez a mais
antiga do mundo, não tinham o hábito da fila. Tudo era na base do amontoado. A
fila, uma instituição tão singela, tão simples, típica da civilização, que é a
precedência pela ordem de chegada, não era praticada na China.
Olha só o que acontece no Brasil: a fila está instituída, mas aí criaram
a fila para as pessoas mais maduras, para as pessoas que têm idade mais
avançadas. Então os espertos pegam seus avós e levam para a fila, para evitar a
fila maior. Há também a fila das gestantes e das crianças recém-nascidas. Eu
mesmo já fui testemunha de que as pessoas levam as crianças que deviam estar em
casa, em resguardo, sujeitando-as até a pegar doenças, para aproveitar as filas
especiais.
No caso brasileiro, nós temos instituições aplaudidas. Entretanto,
lamentavelmente, não temos ainda enraizado entre nós, na nossa sociedade, um
comportamento ético de pleno respeito ao outro. Acho que já evoluímos muito do
passado, mas ainda claudicamos em alguns aspectos fundamentais desse
comportamento, da ética do cotidiano, do convívio com os nossos familiares.
Nem preciso ir muito longe para dar um exemplo de convívio na nossa
vizinhança, na nossa comunidade. A tão decretada lei do silêncio, que afeta a
nós todos. Aqui, recentemente, em Belo Horizonte, a Câmara Municipal debateu
vários projetos na tentativa de definir qual o alcance da lei do silêncio.
Tivemos vetos, os vetos foram derrubados, a matéria foi discutida no
judiciário. Vocês podem perguntar o que é que tem isso haver com ética? Mas,
até onde eu vou incomodar o meu vizinho, é uma questão fundamentalmente ética.
Por outro lado, até onde eu tenho liberdade de realizar em minha casa uma festa
que dure até três ou quatro horas da manhã, uma vez por mês, para comemorar
determinados fatos na medida em que eu seja festivo, é uma questão delicada.
O naufrágio do Titanic, para dar um exemplo histórico, simboliza hoje de
maneira muito clara, onde o caráter das pessoas não se une à ética. A regra,
primeiro as mulheres e crianças e depois os homens adultos foi de pronto
corrompida. O que se viu foi uma corrida aos escaleres de sobrevivência por
algumas pessoas da primeira classe, homens que não tinham direito de, naquele
primeiro momento, se refugiar lá. De outro lado, tivemos homens de famílias
tradicionais da América do Norte e da Inglaterra que preferiram sobriamente, de
maneira pública, naufragar e morrer afogados, para manter a sua honra,
dignidade e o comportamento ético, do que recorrer aos escaleres salva-vidas.
Há uma expressão, um ditado que nós todos aprendemos na nossa infância,
que minha liberdade vai até onde começa a ferir a de terceiros. Isso seria um
exemplo cristalino se nós tivéssemos uma régua, uma condição de medir,
exatamente, até onde nosso direito interfere no direito de terceiros ou não.
Então os senhores percebem, como líderes em suas comunidades e nós, como
gestores públicos, que somos todos igualmente responsáveis pela melhoria das
condições de vida do país. Nós somos cidadãos, vamos dizer assim, protagonistas
na sociedade. Qual é a nossa responsabilidade? Um exemplo famoso é aquele da
mulher de César: “não basta ser honesta tem de parecer honesta”.
Nós, líderes e pessoas públicas somos mais expostos
porque temos de dar exemplo de comportamento mais adequado, para inspirarmos,
não só às gerações mais jovens, mas também aos que não tiveram acesso à
educação formal, nem às questões de cultura e de civilização. Muitas vezes esse
nosso esforço resulta debalde e esse nosso grande entusiasmo, toda a energia
despendida se queda inerte, em razão da pouca adesão obtida.
Essas observações genéricas servem tão somente para demonstrar aos
senhores como esse campo é movediço, é difícil. Ele varia intensamente em razão
do caráter e da percepção de cada pessoa e dos exemplos que nós temos na nação,
na sociedade e na família.
Desse modo, senhores, é muito difícil, falar e precisar sobre ética. Se
me permitem, eu prefiro terreno para mim menos movediço, mais seguro, mais
pavimentado, aonde eu tenho oportunidade de navegar melhor que é a
administração pública, e falar desse tema que interessa a todos que é a
moralidade administrativa, a qual, nada mais é do que a ética no serviço
público.
Nesse caso nós temos princípios e regras melhores porque nós temos as
leis e onde existe a lei, existe a sansão. A justiça tem sempre a balança numa
mão e a espada na outra, para desestimular e lembrar às pessoas que, ao não
cumprimento da regra, vem naturalmente a sansão para espetá-lo.
O caso da espada me lembra pequena história de um famoso professor de
direito administrativo, se me permitem um breve parênteses. Ao fim de uma
palestra muito longa, muito teórica, os alunos observaram: - professor a sua
palestra foi como uma espada. - Ah!, disse o professor, profunda, elegante
fina? - Não, responderam os alunos, longa, fria e cansativa.
Mas, no caso da administração pública a moralidade administrativa é um
princípio até constitucional. Moralidade vem da palavra mores. Como os senhores sabem, no latim, mores, significa costume, então moralidade assim como a ética, está
baseada nos costumes. O que é um costume para nós, não é, por exemplo, um
costume para os países islâmicos, sem nenhuma desonra para eles nem para nós,
posto que são costumes distintos.
Os costumes de hoje não são os costumes de antigamente. No Brasil, há
150 anos, a escravidão, era legal. Dizem que hoje, ainda há escravidão em
alguns países da África, ou pelo menos, servidão. Para nós isso é uma
aberração, mas os costumes justificam a adoção, pela sociedade respectiva, de
determinadas práticas, e essas práticas senhores rotarianos, é que formam esse
emaranhado da moralidade. O poder público acolhe esses princípios.
Hoje a moralidade administrativa é estar palmo e passo sendo objeto de
normas que vão tecendo e determinando o comportamento da administração. Entretanto, a expressão moralidade acabou ficando um
pouco ampla e vaga. É bom lembrar que os ideais políticos e os ideais da
administração pública são visceralmente vinculados. Antes deles,
estruturando-se para o funcionamento do estado no sentido amplo da expressão,a
moralidade acaba recebendo algumas observações interessantes que afetam também
à política.
Aproveitando o momento atual, pois estamos, no Brasil em pleno período
eleitoral, vale uma outra pequena observação. A origem da palavra candidato vem
do latim cândido, imaculado. Em Roma antiga, aqueles que pretendiam ocupar
cargos públicos, vestiam togas brancas, e com essas togas brancas se
apresentavam à sociedade. Aqueles que não eram considerados morais, probos,
corretos, recebiam lama, ou seja, as pessoas jogavam lama na toga branca. Os
que não recebiam lama nenhuma, por consequência a toga ficava branca, era
imaculados, eram cândidos, eram candidatos. A questão da famosa lista suja da
Roma antiga, ainda hoje vigora. A legislação esbarra no princípio ético de que
ninguém é culpado até a sentença definitiva. Nós não podemos afastar do pleito
aqueles que estão até condenados em primeira e segunda instância, mas ainda não
foram condenados na instância final perante os tribunais superiores, cujos
processos sabemos todos demoram décadas. É uma questão ética que afeta a
moralidade administrativa, por isso candidatos com processos de improbidade,
até homicídios, estão aí se elegendo pelo Brasil afora. Então podemos observar
como a ética dentro da administração sob o prisma da moralidade administrativa
acaba afetando a nossa conduta no dia a dia. Mas a moralidade em si acabou
referindo-se a um aspecto um pouco mais preciso, ou pelo menos houve esse
grande esforço de tentar objetivar, o conceito de moralidade administrativa já
que o conceito ético é fluido, gasoso.
Então, com base nos costumes que fazem da moralidade algo mais concreto,
nós temos um princípio constitucional que cuida da moralidade administrativa.
Passamos, assim, a ter legislação abundante sobre os diversos institutos para
cuidar da moralidade. O que aconteceu na prática foi uma abundância, um furor
legiferante, uma vontade de criar normas, estabelecer comportamentos, buscando
preservar a moral da administração. Tal fato engessou a administração pública.
É o remédio que mata paciente. O exagero no controle, as regras em excesso, as
peias, as cordas, as rédeas apertadas, quase uma camisa de força, a impor um
comportamento muito rígido sobre a administração correta, em razão dos abusos
cometidos, foi por certo exagerado, comprometendo a eficiência. Nós criamos no
país um impasse, porque as exigências de controle tornaram-se tão fortes, tão
robustas, tão poderosas que nós passamos a ter toda a administração pública
voltada para atender a esses controles, tornando-nos a todos, portanto,
súditos, ao nos fixarmos nos procedimentos administrativos de natureza meio,
nos rituais, nas formalidades, em vez dos resultados. E a administração pública
fica paralisada, as pessoas corretas passam a ter medo de agir, porque qualquer
equívoco, qualquer engano, normal na atividade humana, qualquer pequena
irregularidade, passou logo a ser taxado como ato imoral na esfera
administrativa, sancionado como improbidade administrativa. Então a pessoa se
assusta, se acovarda e nós não podemos repreendê-la, resultando paralisia,
atonia generalizada na administração pública. O Brasil a necessitar de serviços
públicos tão vigorosos, tão necessários, passou a ter serviços públicos de
padrões, não de terceiro, mas de quinto mundo, enquanto a nossa economia
felizmente viceja, se fortalece, alcança indicadores extremamente positivos.
Felizmente e aqui me permitam, não posso deixar como vice governador do
estado, de divulgar aos senhores de maneira bem modesta porque isso não é uma
ação exclusiva do governo do estado, os indicadores desta semana, os quais
mostram que o Brasil cresceu e Minas também cresceu, o que, é óbvio, demonstra
que nossas economias vão muito bem. Mas, de que adianta ir aqui bem se nós não
temos serviços públicos de qualidade, se nós não temos estradas para
transportar, se nós não temos portos para exportar, se a nossa educação não tem
qualidade necessária para o preparo das pessoas que vão trabalhar em nossas
empresas, se a saúde pública tem padrões pouco evoluídos, se os nossos indicadores
de cultura, de controle ambiental, de ciências e tecnologia, de patentes e eu
poderia aqui cansá-los com uma miríade de exemplos contra a eficiência da
administração pública. Uma das causas, lamentavelmente, é essa concentração
absurda dos controles formais resultado, estranho que possa parecer, mas
verdadeiro, de um temor ou de uma tentativa de salvaguarda incomensurável,
imensa, além do necessário para a própria comunidade. Nesse caso vale também o
ditado popular, os bons pagam pelos pecadores, porque nós todos somos vítimas
dessas deficiências que resultam nos controles exagerados, criados para
combater os poucos que lamentavelmente existem, que têm o desvio de caráter e
que agem de modo doloso e de má fé. O resultado é a administração que se prende.
A moralidade administrativa que era o espelho e princípio, acaba se
transformando em uma muralha extremamente sólida que impede o funcionamento
regular das instituições. Há como solucionar esse problema, esse drama? É
difícil, porque nós estamos vivendo hoje como se fosse um antagonismo entre
forças.
Percebendo essa situação, o constituinte
brasileiro, a par dos aspectos formais da legalidade, da moralidade e da
impessoalidade, sob o mesmo foco na ética, colocou o princípio da eficiência,
pelo qual o poder público, além de agir corretamente, tem também que se preocupar com os resultados, tem que
apresentar à comunidade, aos cidadãos, melhorias nos indicadores dos serviços
públicos porque do contrário seria muito simples, muito fácil, ele ficar preso
só às questões formais e não ter nenhum compromisso com os resultados. Então a
moralidade foi levada a tal valor juntamente com os aspectos formais que
paralisam e inibem a ação dos resultados.
Eu deixo aqui um exemplo que tenho usado em minhas palestras em Minas e
pelo Brasil. Quando nós construímos um estabelecimento de ensino, uma escola,
nós perguntamos: esta escola foi construída mediante licitação pública? Foi.
Muito bem, seus professores foram concursados? Ah! foram. Excelente. As suas
dotações orçamentárias estão sendo gastas de acordo com a lei do orçamento?
Sim. Então, pelo ponto de vista formal esta escola é uma beleza, vamos
aplaudi-la. Nunca se perguntou, nunca, jamais, em tempo algum, se a escola
ensinava, porque só os aspectos formais era importantes. Os órgãos de controle
de qualidade funcionam? Os alunos que estão ali estão tendo notas boas nos
exames nacionais? Essa preocupação com o resultado é recentíssima. Nós temos,
desde a independência, pelo menos quase duzentos anos de estado brasileiro, e não
tem cinco que o Brasil passou a se preocupar com a questão dos resultados e as
escolas passaram a ser avaliadas. Então nós temos um atraso imenso de prazos,
resultado de que? Exatamente de um esforço muito grande levado para combater os
aspectos de imoralidade. Correto, necessário, mas que não poderia ser o único
esforço. Nós não podemos colocar todos os ovos numa cesta só, nós temos que
dividir o esforço governamental em diversas ações. Uma das ações é exatamente a
luta pela eficiência. Acredito que essa busca pela eficiência, pelos
resultados, a perseguição das metas também é moralidade administrativa, porque
a moralidade administrativa é a moralidade fiscal, significa gastar bem o
recurso do povo. Por exemplo, uma determinada unidade federal pode gastar 25%
com a educação. Mas, gastou 25% aonde? Verifiquemos os resultados. Uma pessoa
pode gastar bem mil reais, fazendo o que é necessário, ou pode entrar no
primeiro shopping luxuoso, fazer uma festa e gastar os mil reais, pois é bom
gastar, sem nenhum compromisso com a qualidade. Especialmente quando se pensa
que o dinheiro advindo do poder público não é de ninguém, pensamento típico do
atraso brasileiro.
Vale registrar a frase famosa e bem vinda de Armínio Fraga, quando ele
fala que, na verdade o dinheiro público é o meu o seu e o nosso e por isso ele
tem que ser bem gasto, sendo qualidade fiscal, aplicá-lo bem. Quer coisa mais
moral do que isso? Há moralidade administrativa, comportamento mais ético, do
que gastar bem o dinheiro nosso, em prol do atingimento de resultados? Ao
contrário, não existe um comportamento mais imoral, anti-ético, nocivo, do que
despender recursos de modo irresponsável como se o dinheiro público desse em
árvores. Lamentavelmente é esse o quadro nacional neste momento, é esse o drama
que vivemos no Brasil nessa hora. Felizmente, passamos a ter nos últimos anos,
em várias esferas da administração brasileira a preocupação com esses
resultados. A consequência é exatamente que a moralidade passa a ter todos dois
aspectos: o aspecto formal, necessário, volto a dizer, e ao mesmo tempo o
aspecto final, o compromisso com o resultado, de devolver à sociedade sob a
forma de serviços, de melhorar a sociedade, porque neste caso o que nós
queremos é a ação governamental proativa, a boa dotação dos recursos públicos e
a boa qualidade fiscal. Cremos que isso vai melhorar o funcionamento do estado,
vai melhorar a educação, a saúde, o transporte, a segurança e é claro, vai
elevar o patamar civilizatório. Se nós melhorarmos o patamar civilizatório o
que nós teremos? Nós teremos necessariamente um avanço do nível de consciência
da sociedade em relação ao comportamento moral e por consequência à própria
ética. Desse modo, temos condições, de maneira muito clara, de identificar que
esse comportamento proativo da moderna administração pública brasileira, está
introduzindo idéias novas dentro da visão ética do funcionamento do estado
brasileiro. Porque a ética deixa de ter aquele aspecto teórico, antigo, para se
transformar em algo mais dinâmico, mais próprio da nossa vida e do nosso
cotidiano, que é um funcionamento adequado das instituições públicas.
No Brasil nós temos hoje, caros amigos, lamentavelmente, a pior das
crises. Não é a crise econômica, não é a crise americana, não é a crise da
falta da abundância do petróleo, não é a crise da segurança pública, não é a
crise dos nossos indicadores ruins da educação e da saúde. A pior crise do
Brasil é a crise de autoridade. Esta é a crise pior de todas, é a falta do
sentimento de autoridade na sociedade brasileira. Autoridade é uma coisa, não é
autoritarismo. O que é autoridade? É o respeito às instituições, o respeito a
uma hierarquia própria da sociedade, respeito por professores em sala de aula,
aos pais, às pessoas mais experientes, à ordem urbana no mínimo. Atualmente,
não existe isso, como não há mais sentimento de autoridade. Eu não sei os
motivos e nem me aventuro a entrar nisso. Por consequência, a polícia está
desmoralizada, as autoridades públicas não têm força para determinados
comportamentos, há um deboche generalizado das figuras políticas que também se
debocham. Nós podemos assistir na televisão e especialmente na propaganda
eleitoral, coisas estarrecedoras, como resultado dessa crise de autoridade. A
crise de autoridade, no sentido positivo da expressão, de criar uma nação com
sentimento, com N maiúsculo, é exatamente uma crise ética e é uma crise de
comportamento que lamentavelmente se infiltrou da forma mais maligna possível,
na sociedade, nas famílias e nas instituições.
É claro que nós temos exemplos inversos e aqui estamos perante um deles.
Instituições como o Rotary e eu poderia citar outras tantas que têm o esforço
no sentido contrário. Mas é um esforço titânico, o de tentar reverter essa
falência das instituições que assistimos no Brasil. Isso também não é privativo
do Brasil. De um modo geral, essa decadência de valores tem grassado mundo
afora, inclusive na Europa Ocidental, mas é fundamental que as pessoas se
apercebam dessa necessidade, do contrário, se não houver a restauração desses
princípios mínimos de autoridade, volto a dizer, no sentido positivo da
expressão, de nada adiantará melhorar a educação, a saúde, a segurança, se nós
não temos a estrutura, o esteio para sustentar todo edifício da nação.
Meus irmãos, as idéias éticas e os princípios da moralidade
administrativa para a administração pública, estão vinculados de modo tão firme
e tão rígido que necessitam dessa modificação de comportamentos na sociedade.
São estas pois, as idéias que deixo para reflexão de tão seleta e
ilustre plateia, não como conceitos postos ou verdades ditas, mas exatamente
como conjecturas para que os senhores pensem, discutam sempre, para que nós
todos, em uníssono, em última análise, tenhamos o compromisso e a força para
reverter esse quadro que não é bom, mas que está melhorando. Por isso este meu
otimismo para colocarmos este país de modo definitivo nos trilhos não só do
progresso econômico mas, mais importante, nos trilhos da civilização.
Muito obrigado. (aplausos)
-x-x-x-x-
CURRÍCULO RESUMIDO
Antonio Augusto Junho Anastasia
Nascido em Belo Horizonte,
a 9 de abril
de 1961, é
um professor
e político
brasileiro.
É graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais,
onde também obteve o título de mestre em Direito e é professor de Direito Administrativo.
Exerceu os cargos públicos de secretário estadual
adjunto de Planejamento e Coordenação Geral, secretário estadual adjunto de
Planejamento e Coordenação Geral, secretário estadual de Cultura, secretário
estadual de Recursos Humanos e Administração e de presidente da Fundação João Pinheiro, todos na administração
pública do estado de Minas Gerais.
No governo federal, exerceu os cargos de secretário
executivo do Ministério do Trabalho e do Ministério da Justiça. Foi ministro interino do Trabalho, no governo Fernando Henrique Cardoso, de 31 de março
a 6 de abril
de 1998.
No primeiro mandato do governador mineiro Aécio Neves
(2003— 2006), acumulou os cargos
de secretário de estado de Planejamento e Gestão e secretário de estado de
Defesa Social de Minas Gerais.
Foi eleito em 2006 vice-governador de Minas Gerais
pelo PSDB e
em 2010 governador do estado.
F I M
2 comentários:
Prezado ALBERTO:
Grato pelo envio do texto do Gov. Anastasia. Destaco algumas coisas como a minha estranheza ao saber que o povo chinês não estava habituado a fila e nem a tinha incorjporado ao seu comportamento como maneira de organização e de garantia de direitos regulares.
Também no tocante á administrção pública o que chamou de crise de aujtoridade. Não valorizamos a autoridade, etc.
EM TEMPÇO:
Ontem, DIA 18.10.2012, à noite, participamos de INTERCLUB no Cabanga Iate Club, puxada pelo RC Largo da Paz, em homenagem ao distinto companheiro Nillzardo Carneiro leão. O tema "Ética em Rotary" esteve em debate, com exposição do EGD Aluzio Freitas, com brilahtismo, constituindo-se em um dos três paineis apreciados na reunião, que por isso ficou muito sobrecarregada. Foi uma reunião muito rica e proveitosa.
Abraços
ADALBERTO ARRUDA
Excelente.
abs,
Alexandre
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