ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

VISITA AO SÍTIO "CRISTO LIBERTA"


VISITA AO SÍTIO CRISTO LIBERTA
Alberto Bittencourt
Sexta-feira, 15 de junho de 2012









Conheci, na quarta-feira, dia 13 de junho de 2012, o Professor Lupércio Carlos Nascimento, homem humilde, de gestos calmos e atitude ponderada. Olhando assim, à primeira vista, ninguém dá nada por ele. Quem poderia imaginar, sem o conhecer de perto, que aquele ser, de aparência modesta, é na realidade, um verdadeiro gigante. Por trás da figura franzina, da voz baixa e fala mansa, se esconde uma pessoa dinâmica, relativamente jovem, capaz de abraçar uma causa, de empreender uma obra humanitária sem tamanho, de grandes proporções. 



Como cheguei até ele? Através da Helena, que precisava encontrar uma instituição séria que oferecesse tratamento para jovens quimicamente dependentes. Um local onde eles pudessem ficar internados por períodos de pelo menos seis meses, afastados do meio em que viviam e, principalmente, do flagelo do crack. Assim, perguntando a uns e a outros, chegamos ao Professor Lupércio. 



Foi no Sítio “Cristo Liberta” que ficou internado Rômulo, 36 anos, um jovem problemático, que não conseguiu completar os estudos, sem qualificação profissional que lhe garantisse um salário mais digno. Certa vez ele nos confessou que andava loucão, pelas ruas do Recife, em busca da pedra. Para conseguir dinheiro, começou roubando o que podia na casa de seus próprios pais. Depois, passou a praticar pequenos furtos como descuidista, até entrar em um apartamento vizinho no prédio em que morava e furtar uma sofisticada câmera fotográfica. 

Na certeza de quem fora o autor, as vítimas bateram à porta de seus pais e ameaçaram dar queixa na polícia se não lhes devolvessem o objeto surrupiado. Foi um duro golpe para o casal, já com idades avançadas e com a saúde enfraquecida, que, embora desconfiassem do envolvimento do filho com drogas, fingiam nada saber, no intuito de poder ajudá-lo. Enquanto a mãe se acabava de chorar, o pai agiu com a energia necessária. Conseguiu se comunicar com Rômulo pelo telefone e foi bem claro: Se você não devolver o objeto surrupiado, vai para a cadeia. 

Assim, na busca de um centro de tratamento que isolasse o jovem do meio em que vivia e das drogas, chegamos ao Professor Lupércio. Rômulo aceitou ficar internado por seis meses e hoje, decorridos mais de um ano, parece ter se libertado do vício. Trabalha como motorista e consegue se sustentar 

Após minha palestra sobre drogas para as mães na Associação dos Moradores do Chié, a convite de Albertina Farias, presidente do E-Club D-4500, A presidente do NRDC e da Associação, Conceição, pediu-me socorro para outra mãe em desespero como o filho. 

Consegui marcar reunião com o prof Lupércio no Centro de Triagem, situado no terminal de Rio Doce. Compareceram Conceição e Avelino, da Comunidade do Chié. Numa ampla casa, toda branca e de esquina, lê-se pintado no muro: Tratamento de Dependentes Químicos Professor Lupércio. Com portas e janelas bem abertas, ali é feita a triagem, etapa preliminar do internamento. É aonde chegam as pessoas que querem e precisam se tratar, geralmente acompanhadas por parentes e voluntários ajudantes. No meio estava o Professor Lupércio, recebendo gêneros e doações, entrevistando pessoas, dirigindo os trabalhos. Esse extraordinário personagem ainda mantém em Rio Doce mais duas casas chamadas Núcleos de Saúde, destinadas a acolher as pessoas que, vindas do interior, necessitam de tratamento médico e não têm onde morar aqui na capital. 

Dali, com mais dois carros e uma kombi, formamos uma comitiva de voluntários e dependentes, um dos quais cadeirante e, carregados de malas, materiais e alimentos, dirigimo-nos ao sítio aonde funciona o Centro de Tratamento “Cristo Liberta”, em Igarassu. 

Amplo e muito arborizado, lá encontramos cerca de setenta jovens em processo de desintoxicação, chamados simplesmente de alunos. Sendo a quarta-feira um dia livre, sem atividades de trabalho, quando lá chegamos, por volta das 15h30min, todos estavam no campo de futebol, organizados em diversos times, para um torneio rápido. O gramado bem verde, plano e uniforme indicava um campo de boa qualidade. 

No sítio, cercado de árvores frutíferas, existe a casa central onde ficam os escritórios e alojamento dos gerentes e diretores. No entorno há outras construções que abrigam alojamentos dos alunos, em camas beliches. Os próprios alunos estão construindo uma cozinha e um refeitório. No momento, a obra se encontra paralisada por falta de material, infelizmente. 





Nos demais dias da semana, a rotina é pesada. Às seis da manhã toca a alvorada, literalmente, em regime militar, com o toque de corneta reproduzido por uma gravação, porém não menos eficaz. Após o café, vem a atividade física, o culto religioso e depois, cada um vai executar sua tarefa: uns cuidam da horta e das plantações, outros dos animais – há cavalos, patos, galinhas caipiras e um açude com peixes. Os encarregados da cozinha preparam a comida, em um fogão improvisado, à lenha. Após o almoço, sinalizado pelo toque de rancho, as atividades continuam. Ao fim da tarde, outro culto (evangélico), avisado pelo toque de reunir, precede a hora do banho, às 18 horas. Depois vem o jantar, seguido do horário do silêncio, às 21 horas, quando todos se preparam para dormir. Não há médicos nem enfermeiros, tampouco são ministrados remédios. A cura se dá pelo despertar no jovem da vontade de se livrar da dependência e pelo afastamento do seu ambiente anterior. E tudo, tudo isso de graça, sem um centavo de custo.




Como se pode observar, a disciplina é rígida. Todos os volumes que chegam são minuciosamente revistados para evitar a entrada de drogas. Telefones celulares são mantidos desligados e na TV, somente é permitido assistir programas esportivos.

O Centro vive de doações e contribuições espontâneas. As necessidades são muitas, mas nada parece desanimar esse homem simples, trabalhando com gente pobre, em lugares de pouca importância, mas fazendo uma obra extraordinária. 



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