TEMPO DE MUDANÇAS
Alberto Bittencourt - De meu diário
07 de novembro de 2005
Tempo de mudanças, no trabalho e,
consequentemente, nas circunstâncias que me cercam. Começa uma nova era, um
novo estilo de vida. As decisões estão tomadas, o caminho é irreversível.
Contabilizar as perdas é o inevitável. Decisão que pode deixar marcas
indeléveis. Em mim, a prática da fuga é um hábito. Refugio-me na atividade
física, malho, corro, alongo-me o mais que posso. Bom seria que eu conseguisse
meditar, concentrando-me, focando minhas ações no melhor caminho para alcançar
meus objetivos. Minha mente, porém, não se adapta à meditação. Ela é rebelde,
indomável, os pensamentos pulam de galho em galho, qual um macaco. Então,
refugio-me nos escritos do Rotary.
Preparo um novo livro com meus artigos. Já vai lá
pelas duzentas páginas.. É só arrumar e coordenar tudo o que escrevi e as
palestras que proferi.
Fujo das reuniões, quero me voltar para mim mesmo.
Fujo dos diálogos. Fujo de todos os relacionamentos. Eu sou apenas eu, eu só.
Quero ser livre como o pensamento, fazer o que me der na telha, sem pensar em
ninguém. O pensamento é a única coisa que limita o homem. O pensamento voa
livre, mas é o que nos faz prisioneiros de nós mesmos. Millôr dizia: Livre pensar é só pensar.
Resolvi fechar as empresas e me aposentar. Parece
ser o fim de tudo, mas o fim de tudo é sempre um recomeço, um novo começo.
Assim é a vida, mortes e renascimentos, morrer e renascer, de novo e de novo,
em ciclos que não se repetem, pois cada um é diferente do anterior. O fim de
uma atividade que durou trinta e quatro anos, meu sonho. Sonhava em ser
engenheiro, muito antes de ser militar. No início, meu tempo era dedicado às
atividades desempenhadas no Exército, Depois, montei minha empresa de
engenharia. Cresci, me desenvolvi, aprendi muito. Faltou-me entretanto a visão de futuro. Nunca pensei no futuro,
em construí-lo, sempre agi apenas em função do presente. Construir o futuro
exige sacrifícios, economia, visão, previsão. Hoje, minhas frustrações são por
não ter pensado no futuro.
Coloquei à venda nossa casa que usufruímos com
alegria e felicidade durante mais de 25 anos. Os tempos mudaram e nós nos tornamos
mais velhos. Depois que nossos filhos se casaram, ela se tornou enorme e
insegura, para nós dois, que gostamos de sair e viajar, rever nossos filhos e
netos, nossos familiares que moram em outras cidades. O valor de revenda de uma
residência como a nossa seria muito mais elevado se tivéssemos optado por
construí-la em outro bairro com mais serviços básicos municipais, mais central
ou mais comercial. Faltou-me visão de futuro.
No meio de toda a turbulência que é desativar uma
empresa, contas para liquidar, rescisões e indenizações, tudo é motivo de
angústia e preocupação, depois de tantos anos ao lado de funcionários e
colaboradores dedicados que se tornaram amigos muito chegados, é quando mais
sinto a presença de um anjo da guarda, zelando por minha proteção e segurança.
É incrível o papel dos anjos da guarda. Eles estão sempre ao nosso lado, nos
protegendo, atentos a qualquer perigo. E... posso dizer com certeza que o meu,
trabalhou muito durante toda a minha vida e continua ao meu lado, sem cobrar
nada por isso, ele é só doação – dar de si sem mesmo pensar em si – podem crer,
essa é a maior felicidade, contar com um anjo como este ao meu lado, por isso
sou feliz. Tenho a consciência do meu anjo junto a mim, que está e estará
sempre comigo, pois não existe distância nem tempo para nos separar. O meu anjo
existe, ele é real, eu o vejo, eu o sinto e converso com ele, por isso nunca me
sinto só.
Nossas vidas são marcadas por muitos dharmas e carmas.
A roda da vida – samsara, na língua
sânscrita continua a girar. E assim vamos vivendo, sempre acreditando no
melhor.
3 comentários:
Compreendi cada linha de seu texto, caro EGD Alberto.
É tempo, a dimensão que o Homem criou e que os relógios e os calendários e agendas apenas registram, mas não controlam.
Alberto, bom dia
Ainda não fiz como você, juntar meus escritos, meus pensamentos, palavras e obras. Muita coisa, a maior parte, já não tenho mais como fazeê-lo. Parabens, mais uma vez, por tudo que tem feito. Tem "fugido" para ajudar, criar, plantar....É assim que tornamos todo o nosso tempo em tempo de mudança. Um abraço, Carneiro
Foi preciso coragem e confiança para tornar público um eu verdadeiro. Um eu confesso sem mêdo da punição. Afinal, porque ter mêdo se há um anjo que não lhe paira ao redor apenas, mas que localiza-se em suas entranhas. Suas angústias passadas são quase palpáveis. Mas, essencialmente amigas.
De todas as suas crônicas, amigo Bittencourt, essa foi a que mais chegou-me ao coração. Sua carne exposta me faz curvar-me em cumprimentos. Isto é vida....Parabéns!
Lúcia Vasconcelos Lopes.
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