O SOLDADO DE ENGENHARIA PONTONEIRO
Alberto Bittencourt
O filme trouxe-me à lembrança a ponte B4-A1 que, nos idos de 1964 equipava o BESE e os BECmbs. Era uma ponte flutuante, pesada, de difícil transporte, em que o taboleiro, composto por pranchas e vigotas de aço, era montado sobre pontões de aço e fixados uns aos outros, popa a popa, por talas de ferro.
Participei de várias demonstrações para a EsAO, além de manobras conjuntas com outras unidades.
Numa delas, em 1965, a missão era fazer a travessia de um carro de combate de 35 ton em uma portada no rio Guandu. Havia chovido, as margens estavam enlameadas, o rio cheio, a correnteza vertiginosa.
A rampa de acesso se apoiava em cavaletes afixados por estais amarrados em estacas de aço cravadas no solo. .
O comandante era o Ten cel Edgard Barreto Bernardes, um brilhante e sério oficial de engenharia.
No meio da montagem recebemos a visita do ministro de Viação e Obras Públicas do governo Castelo Branco, Marechal Juarez Távora. Avisado pelo comandante, ele veio falar comigo:
“você é neto do meu amigo, Gen Amaro Bittencourt? Venha cá um abraço. “
A comitiva foi embora e eu, meio sem jeito, continuei o trabalho junto com meu pelotão. Meu avô falecera em 1963 aos 78 anos de idade.
Quando o primeiro Carro de combate entrou na portada, o nível do rio havia baixado, e a chuva continuava a cair. Os cavaletes da rampa de acesso afundaram na lama igual palitos. O primeiro par de pontões, sob o peso do CC afundou até quase a borda. Inesperadamente uma estaca de madeira cravada próxima à margem do rio varou o fundo do pontão. Vi a hora do naufrágio da portada com carro de combate e tudo.
Por uma manobra milagrosa, o piloto acelerou até o meio da portada. Se ele parasse ali teria sido um desastre. Assim foi feito e a portada voltou a se equilibrar com o CC em cima. A estaca sumiu e nós passamos a noite esvaziando a água que entrava pelo buraco aberto no fundo do pontão.
No dia seguinte, já sem chuva, substituímos o pontão avariado, reparamos os danos e pudemos transportar o CC a salvo para a outra margem do rio.
Vida difícil do soldado de engenharia pontoneiro, não?
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