REFLEXÕES SOBRE O ROTARY NO BRASIL
Alberto Bittencourt -
29 abr 2015
Fragmentos de meu diário.
1. Por que os profissionais jovens não têm interesse no Rotary?
Eles não querem fazer parte de um clube que não faz nada, sequer possui um plano anual de gestão para debater e seguir.
A maioria não sabe o que significa, nem quais os objetivos do PLC - Plano de Liderança de Clube.
As Comissões Executivas dos clubes não se reúnem e tampouco funcionam.
Os presidentes dos clubes, na maioria, desconhecem inteiramente a sua missão. Em geral, os PETS - Seminários de Treinamento de Presidentes Eleitos - são feitos apenas para cumprir o cronograma do Rotary.
Muitas vezes o presidente foi eleito apenas para tapar um buraco e o clube empurrar com a barriga, mais um período de gestão rotária.
Protocolo, Tesoureiro e Secretário em geral são apenas figuras decorativas.
O governador deve exigir dos presidentes o seu Plano de Gestão. Este deve ser feito em reunião conjunta do presidente com sua diretoria. Não confundir exigir com pedir. Se pedir, ninguém faz.
Quem quiser ser rotariano, tem obrigação de cumprir e seguir as normas e regulamentos do Rotary International. O Rotary, antes de ser um clube de amigos, é um clube de serviços.
O jovem não está desmotivado para ingressar no Rotary. O que não o atrai é a pouca ou nenhuma capacidade de inovar de nossa organização. Inovar no sentido de provocar transformações sustentáveis na vida e no futuro de pessoas e comunidades.
O que podemos oferecer ao jovem, em troca de seu dinheiro e tempo?
Que podemos oferecer em troca de mensalidades que, hoje, em 2015, já podem chegar aos R$200,00 além de uma reunião insossa, sem objetivos, sem realizações?
Alguns rotarianos reagem até com brutalidade quando são abordados para contribuir com algum valor para a Fundação Rotária, como aconteceu agora no meu clube, quando da oferta de bilhetes de rifa, lançados pelo governados do Distrito.
Os jovens não vêm sentido na hierarquia do Rotary, quando não existe um
propósito explícito e concreto para atender a alguma demanda da sociedade.
2. Como mobilizar os companheiros para praticar ações do Rotary na comunidade?
Desenvolver compromissos para a melhoria da comunidade.
Promover Rotary Days > mutirões de ações em benefício da comunidade, por exemplo, deixar a escola mais limpa e bonita.
Mostrar para a comunidade que praticamos o trabalho voluntário.
Promover o desenvolvimento sustentável > preservando a natureza e o meio ambiente, o que é diferente de realizar projetos sustentáveis.
Participar de diretorias de associações de classe. Eu, por exemplo, participei da ADEMI - Associação das Empresas do Mercado Imobiliário, do SINDUSCON - Sindicato da Indústria da Construção, do SECOVI - Sindicato dos Corretores e Condominios.
O Rotary tem o compromisso com a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Quanto mais comprometido e organizado for o grupo, maior a dedicação dos seus membros.
O Rotary tem quase cem anos no Brasil (O RC Rio de Janeiro foi fundado em 1923). Os últimos 25 anos foram os mais difíceis para o desenvolvimento do Rotary no Brasil. Aqui, a partir da década de 90, ocorreu um grande crescimento e amadurecimento das ONGs.
Em virtude principalmente do processo de redemocratização brasileiro, as ONGs europeias, ligadas ou não a igrejas católicas ou evangélicas, passaram a investir alto na formação de lideranças nos movimentos sociais.
Universidades como USP e FGV passaram a oferecer cursos de formação em
gestão de ONGs. O governo federal passou a comprar servicos oferecidos pelas
ONG, que nas décadas anteriores se fortaleceram recebendo subsídios de
organizações internacionais.
3. Características do desenvolvimento comunitário no Brasil:
Aumento do número de ONGs
Despertar para os direitos humanos e constitucionais, com a institucionalização de organismos jurídicos tipo::
CDC - Código de Defesa do Consumidor
Estatuto do Idosos
Lei Maria da Penha.
O Estado Brasileiro se fez mais presente na vida dos pobres e, em consequência, eles não mais dependem só da ajuda dos clubes de serviços.
O desenvolvimento econômico do Brasil provocou o envelhecimento dos clubes do Rotary que passaram a ter dificuldades em atrair pessoas mais jovens.
Os clubes deixaram de investir na valorização e na ética profissional. Deixaram de chamar a atenção para as responsabilidades técnicas dos profissionais.
Os profissionais deixaram de ter no Rotary o status que antes lhes garantia algum benefício social. No Brasil, há 30 ou 50 anos, ser rotariano era sinal de status, pois o Rotary era poderoso financeiramente.
Hoje, há muitas organizações locais do Terceiro Setor, que agregam muito mais recursos que um Rotary Clube.
Por outro lado, Rotary Clubs não se prepararam para os desafios dessas
mudanças.
4. Que quadros se apresentam hoje, nas grandes cidades?
Rios contaminados, poluídos, secando, pelo desmatamento das áreas nascentes.
Doenças já erradicadas, como a febre amarela, o sarampo, a dengue e a hanseníase, estão voltando mais fortes.
Novas doenças como a zica, chicungunha, se propagam, fruto do aquecimento global.
Sem falar na pandemia da Covid-19, destruindo centenas de milhares de vidas.
As escolas públicas formam analfabetos funcionais, conforme resultados das provas do ENEM.
Monumentos públicos são destruídos e roubados pela sanha de vândalos, abandonados que são pelas autoridades constituídas.
As cidades acumulam lixo por toda parte.
Há falta de ética nas relações profissionais.
Há falta de civilidade nas relações sociais.
Há falta de respeito humano no trato com as diferenças e minorias
sociais.
A violência entre a juventude nem-nem, que nem estuda, nem trabalha, virou uma endemia nacional. Oitenta por cento dos assassinatos por armas de fogo no país vitimam jovens de menos de 24 anos de idade, pobres, de cor parda ou negra, do sexo masculino.
As distâncias urbanas e deficiências no transporte público levam os jovens a terem que tomar dois ou três modais e a demorarem mais de duas horas nos deslocamentos entre a casa e o trabalho.
Há escassez não apenas de transporte, mas principalmente de saúde pública, moradia e segurança.
Há disseminação de fraudes na gestão pública, em todos os setores, desde uma pequena prefeitura do interior, até nas grandes capitais.
Falta um projeto institucional que desperte o ideal de servir, funcione como uma causa e uma bandeira entre os voluntarios do Rotary.
Vejam o documentário SAL DA TERRA sobre a obra do fotógrafo da ONU,
Sebastiao Salgado. Um exemplo a ser
seguido por todos.
5. PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR:
1. Por que nossos filhos, genros, noras, não aceitam participar do Rotary?
2. Por que profissionais jovens não se interessam em participar do Rotary?
3. Eu continuo rotariano, muito menos pelo que representa o grãozinho da doação de mim mesmo, do que em função das ações de meu Rotary Club.
Parodiando o título da palestra de Cezar Romão: Seja protagonista de
seu futuro, conclamo o rotariano de hoje:
SEJA PROTAGONISTA DO
FUTURO DE SEU ROTARY CLUB.
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