ÁGUAS DO JUCAZINHO
Alberto Bittencourt - 2005
Dizem os futurologistas que
a água potável será, neste Terceiro Milênio, a maior riqueza do planeta, tanto ou quanto é o petróleo nos dias de
hoje, vindo a constituir-se, por conseguinte, numa permanente fonte de conflitos
entre povos e nações.
Não é sem fortes razões que
a CNBB, em 2004, estabeleceu como tema da Campanha da Fraternidade, “Água,
Fonte de Vida”, e que o presidente Glenn Estess manteve “Recursos Hídricos” como uma das quatro
ênfases de sua presidência.
Realizamos, no Distrito
4500, em 2005, ano do centenário, três Seminários Interclubes centrados nos
Recursos Hídricos, o primeiro deles patrocinado pelo Rotary Club de Surubim,
sob o título “Águas do Jucazinho”,
os demais pelos Rotary Clubs de Pesqueira e de Afogados da Ingazeira. Todos
contaram com a excelente participação do presidente da COMPESA, dr. Luís
Gonzaga Perazzo.
A barragem de Jucazinho está localizada no município de Surubim e é o terceiro maior reservatório de água do estado de Pernambuco.
A barragem de Jucazinho está localizada no município de Surubim e é o terceiro maior reservatório de água do estado de Pernambuco.
Milhões de crianças morrem
no mundo todo dia por falta de água potável e de saneamento. O Brasil, por
deter um terço das reservas mundiais, pode se considerar um país privilegiado
nesse aspecto.
Mas o povo precisa ser
educado para preservar as fontes, os rios, as cascatas, os mananciais que
alimentam cidades e vilas. Não são apenas os esgotos despejados “in natura” nas
fontes de vida, mas lixos, restos de comida, garrafas “pet” vazias, plásticos e
até móveis, mobílias, geladeiras, fogões, de tudo encontramos a poluir pequenos
riachos, canais ou córregos que cortam aglomerados urbanos.
O programa “Preserve o
Planeta Terra”, instituído no Rotary International pelo saudoso ex-presidente,
Paulo Viriato Correia da Costa, visa
educar o povo e conscientizá-lo para a preservação dos recursos naturais, de
modo a legar às gerações futuras um mundo melhor e mais humano. Somente a
educação, por meio de campanhas contínuas e sistemáticas pode ensinar o homem a
cuidar do meio ambiente, a fazer
reverter a situação de poluição e degradação dos recursos naturais.
Percorremos, eu e Helena,
como governador do Centenário do Rotary, os quatro cantos do distrito 4500.
Cidades que, para nós, eram apenas pontos no mapa e nada mais, cidades cujas
distâncias ao Recife se nos afiguravam abissais, hoje conhecemos como as palmas
de nossas mãos. Os abismos se esvaíram em estradas, percorridas com a maior
alegria.
Testemunhamos em nossas
primeiras visitas ao semiárido nordestino, o termo de um ano de excepcional
pluviosidade, os açudes sangrando, as barragens transbordantes, a textura forte e brilhante de uma vegetação de diferentes tons de verde, a terra regurgitante
de vida.
Ao voltarmos, seis meses
depois, outro quadro se nos afrontou. Deparamos com o nordeste sofrido, das
chuvas mal distribuídas, das frentes de trabalho, das crianças subnutridas, do
gado esquálido, das carcaças, dos leitos secos, da paisagem espinhenta, cinzenta e choca, do solo gretado
clamante por água.
Tristeza! Nada ou quase
nada vimos de horticultura, nem mesmo às margens das poucas águas que restavam.
Encontramos apenas capim e mato rasteiro, vastas extensões de terra estéril.
Imaginem se produzissem hortaliças, verduras, frutas, cereais, tubérculos,
vagens. Quando veremos neste Brasil corroído, o homem dominar a natureza,
vergar o clima, transformar realidades como, alhures, nos desertos de Nevada nos
EUA, e de Neguev em Israel, onde os Kibuts, fazendas agrícolas coletivas
esbanjam alta produtividade.
Mas nem tudo está perdido.
Algo mudou. Em muitas cidades deste Nordeste, os produtos orgânicos freqüentam
as prateleiras dos supermercados. Já existem as feirinhas orgânicas, diretamente
do produtor ao consumidor.
A agricultura orgânica
se afirma como uma possível redenção
para países cujo desenvolvimento se encontra atrelado aos grilhões de uma
dívida externa impagável e tirana. Enquanto a agricultura convencional não
compete com os subsídios dos países desenvolvidos, os produtos orgânicos não
têm preço. Todos querem e pagam mais caro, na certeza de que estão adquirindo
alimentos sem agrotóxicos, sem fertilizantes, sem defensivos químicos. O mundo
tem sede e fome de produtos orgânicos devidamente certificados e qualificados.
Vimos muitas coisas belas e
bonitas no sertão Nordestino. O pólo
hortofrutícola e granjeiro do Vale do São Francisco é de uma realidade esfuziante. Nas capitais consome-se
frutas, manga, melão, uvas e vinho da melhor qualidade, também exportados para Europa e outros
continentes.
Há ainda as cisternas, as
mandalas, as barragens subterrâneas, as estufas, os poços para irrigação, a
pesca artesanal em nossos rios e lagos, frutos de projetos de Subsídios
Equivalentes da Fundação Rotária, iniciativas de muitos Rotary Clubs, tais como
Recife- Largo da Paz, Recife-Setúbal, Cajazeiras, João Pessoa Norte e Sul,
Caruaru, Campina Grande e outros.
Hoje somos felizes, mesmo
porque já se divisa uma mudança nos hábitos alimentares seculares do
nordestino. Da carne de sol, macaxeira, farinha e feijão verde, o sertanejo
parte para o consumo frutas, legumes e
verduras, o que há algum tempo atrás era simplesmente inimaginável.
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