ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

AS APARÊNCIAS ENGANAM - Ficção.



NEUROSE - Ficção

Alberto Bittencourt


Perto dos meus vinte anos, visitei, junto com dois amigos, o que naquele tempo chamavam de "Casa de Tolerância" e hoje chamam de "puteiro" mesmo. 
Era no fim de um dia sem nome. 

De início, homens e mulheres ficavam na sala conversando, brincando ou dançando. As meninas eram gentis e delicadas. 
As escolhas se faziam de modo natural, cada um atraído pelo tipo de mulher que mais o apetecia e vice-versa. 
Fiquei com uma morena, mignon, tês clara, branquinha, cabelos negros, compridos e lisos. 

Logo estávamos afins e a fim um do outro a dançar agarradinhos, trocando juras de amor eterno. 


Então, uma das garotas aproximou-se de mim e disse, batendo de leve com a mão espalmada no meu rosto: 
"Faz assim no rostinho dela que ela goza rapidinho, rapidinho e muitas vezes". 

Do salão, cada par subiu para a suíte particular da escolhida. Cada menina tinha uma, decorada às próprias expensas e à sua maneira. Basicamente dispunham de cama de casal, colchão, guarda roupa, cômoda, espelho além de um pequeno sofá e lavabo. 

Começamos a nos preparar para os jogos do amor. Embora entendesse o recado da amiga, não tive coragem de tomar iniciativa. 

Não me recordo do nome, apenas do apelido, "Cu de Sapo" dado pelas colegas. 


Eis que, de repente, colocando seu rosto bem juntinho ao meu, ela sussurra

"Cadê o homem que disse que ia me bater?" 

Recado dado, recado entendido. Passei a mão espalmada carinhosamente no rostinho delicado da Cu de Sapo e soltei uma tímida palmada na face. 

A princípio ela abaixou a cabeça e escondeu o rosto com as mãos. Depois levantou os olhos desafiadores e repetiu: 
"Cadê o homem que disse que ia me bater?" 

Fiquei sem graça. Então, acariciei o rostinho fino, levemente avermelhado e soltei a bofetada. Estalada. Ela ficou com as marcas de meus dedos na bochecha. Cu de Sapo começou a chorar. Eu também. Dentro em pouco, recomposta, ela espalma a delicada mãozinha em minha face, começa a alizar e pergunta: 

"Quem é homem pra bater em mulher, também é homem pra apanhar de mulher. Posso?" 

Mal acenei com a cabeça, ela soltou uma tremenda bofetada. O estalo se ouviu lá no salão. Ao impacto, minha visão ficou coberta de estrelas brilhantes, e eu passei a ouvir trinados de passarinhos, literalmente. 

Ela não esperou que eu me recuperasse. Soltou a outra mão num impacto ainda mais forte contra a outra face. Fiquei tonto. Vi mais estrelas brilhantes e ouvi mais passarinhos cantantes. 


A voz da Cu de Sapo soou distante: 

"Tá vendo como é que eu quero, meu amor. Cadê o homem que disse que ia bater em mim?" 

Ainda sob efeito da bofetada anterior, as duas faces ardendo, vermelhas, soltei com vontade uma tremenda mãozada naquele rostinho de anjo, delicado e bochechudo. A garota caiu de lado, revirou os olhos , começou a tremer, chorar, gemer, alto. Entrou em convulsão, como se estivesse nos estertores da morte. Fiquei apavorado. Ela se contorcia, revirava os olhos em sucessivos e prolongados espasmos, um seguido de outro. Logo percebi que eram ondas de orgasmos, voluptuosos, como vagas de um mar revolto. 

Nos abraçamos. A essa altura eu também chorava copiosamente. Misturamos nossa lágrimas, nossos suores, nossos cuspes. Nossas bocas e línguas se interpenetraram, mutuamente. Ela arreganhou a vagina e eu a penetrei, profunda, completa e demoradamente. Gozamos juntos, fundidos e fudidos, um no outro, totalmente integrados. 
E, milagre! Chegamos aos céus. Ao verdadeiro paraíso terrestre, mistura de dor e prazer sem limites. 
Ao término, Cu de Sapo relaxou e dormiu. 

Eu não.

Minha mente em ebulição transportou-me para o passado. Entrei num estado de regressão mental e psicológica. Vi-me criança, aos oito anos de idade.

"Não, pai, não. Não, pai..."
A bofetada estalou no meu rosto atingindo o canto do olho e eu rolei pelo chão. Fiquei sem forças, fraco. Cuspi sangue. Custei a me levantar até ouvir as palavras ríspidas:
"Vá buscar o chicote para apanhar mais." 
Sai em prantos, trocando os passos, peguei o instrumento pendurado atrás da porta. Voltei chorando, trôpego até a presença de meu pai. Fiquei em pé na frente dele, o olho esquerdo já inchado e fechado. Estendi-lhe o chicote. E chorava, chorava entre soluços e suspiros. As lágrimas corriam, ensopavam a camisa. 
Finalmente meu pai se apiedou e mandou guardar o chicote. 

Quando tornei da viagem, naquele momento, eu chorava, chorava, tremia o corpo inteiro, não conseguia parar. 
Cu de Sapo se aninhou comigo, me acariciou: 

"Relaxa meu amor, relaxa". 

E dormimos profundamente até o dia amanhecer.

No outro dia fui embora e nunca mais tive notícias da Cu de Sapo.

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