ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O GENERAL R.O.

 O GENERAL R.O.

                                                           Alberto Bittencourt - 2024

                                                       Memórias de meu diário

Tivemos o privilégio e a honra de conhecer o Gen R.O. de perto.  Ele comandou o 2º. Batalhão Ferroviário, sediado em Rio Negro, Paraná, ao tempo em que meu pai, major Kelvin Ramos Bittencourt, era chefe do Escritório Técnico, de 1949 a 1952. Morávamos todos na Vila Militar, um correr de casas de madeira à frente do quartel, de 1949 a 1952.  

No Rio de Janeiro,  lembro  de ter acompanhado meus pais em visitas à casa onde moravam o general, a esposa Celeste e os filhos. Eles moravam numa casa confortável situada à rua Marechal Trompowiski, na Muda da Tijuca. onde, por coincidência,  também residiam meus sogros, Jean Yves Victor Lezan e Iracema Seigneur Lezan, que vim a conhecer mais tarde..  Eram visinhos e amigos. 

O casal Rodrigo Octávio e Celeste era apreciado e amado por todos quanto os conhecessem. Ouvi, diversas vezes, referências elogiosas a ambos, por parte de pessoas que não sabiam que eu os conhecia.     Uma vez foi numa parada militar, no dia 7 de setembro. Não lembro em que ano.  Estávamos num dos terraços do prédio do então Ministério da Guerra, à Av. Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, aguardando o início do desfile militar. Um grupo de convidados comentava sobre o casal, com referências sempre elogiosas quanto à liderança, atenção, disponibilidade, educação e postura refinada, demonstrando o quanto eles eram queridos e amados por toda a sociedade militar.  Podemos dizer, sem medo de errar que o casal Rodrigo Octávio e Celeste eram uma unanimidade em se tratando de pessoas humanas, justas, coerentes e amigas de todos. Não havia desafetos.  Constituíam um exemplo para todos.  Não eram prepotentes, vaidosos ou arrogantes. Pelo contrário, posso dizer que sempre foram humildes servidores da causa maior que era o Brasil e o EB. 

D. Celeste dizia que o marido era V.O. -Verde Oliva- até a alma. Certa vez ele se licenciou por um ano do EB, para atender ao convite de uma grande empresa multi nacional, se não me engano a Light, concessionária e distribuidora de energia elétrica no Rio de Janeiro e outros estados. Assumiu o cargo de diretor da empresa, com um salário bem elevado para os padrões do EB. Não deu outra. Terminado o período de licença, recusou os convites para continuar à frente da empresa e retornou para a caserna.  

R.O. sempre defendeu com rigor seus pontos de vista. Era um líder autêntico e verdadeiro. Durante a presidência de João Goulart, sendo coronel da ativa, levou 23 caronas na promoção a general, sem jamais arredar o pé.  Nunca abriu mão de suas convicções. A injustiça foi corrigida logo após a queda do presidente Jango, em 1964. 

Nos anos setenta, como Ministro do STM- Superior Tribunal Militar, condenou os excessos do regime militar. e pregou  a volta à normalidade democrática. Essa postura o fez ser preterido na presidência do STM, embora por direito de rodízio e antiguidade houvesse chegado a vez dele.  

Ao passar para a reserva, em 1979, o gen R.O. alugou em Manaus um pequeno avião, monomotor, com piloto, para um circuito de despedida pelas fronteiras e litoral do Brasil.  Fechou o perímetro completo do Brasil. 


A SURPRESA! 

Ao passar pelo Recife, num sábado pela manhã, R.O. bateu na porta de minha casa, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Estava sozinho, num carro alugado. O grande chefe, o líder inconteste da Engenharia Militar, o lendário R.O. protagonista da História do Brasil, veio se despedir, do filho do amigo, no que eu reputei ser uma grande homenagem ao meu pai. Foi atendido pela Helena, pois eu não estava em casa. Nossa casa situava-se aos fundos de um grande jardim, com muros altos. O general e Helena conversavam, sentados no jardim, quando, de repente, nosso cão de guarda, pastor alemão, de nome Lex, soltou-se do canil e avançou para o general. Helena, num impulso, abraçou-se com o cão e chamou o empregado, que o conduziu de volta ao canil. Já imaginou o susto?

Rodrigo (assim o chamava a esposa) e Celeste tinham dois filhos. Um casal:  Rodrigo Octávio Filho, apelidado de Duga e Roseli.  

Duga era capitão da Arma de Artilharia e casado com uma professora oriunda do Instituto de Educação. Morava num apartamento em predio tipo caixão, situado à mesma rua Mal. Trompowiski, visinho, janela com janela, da casa de meus sogros.  

Naqueles anos sessenta, eu era recém casado com Helena, servia como instrutor do Curso de Engenharia da AMAN e morava em Resende, Estado do Rio. A casa de meu sogro tinha um primeiro andar onde havia um quarto bem grande que servia de dormitório para as três filhas, enquanto solteiras. O rapaz, Antônio Cláudio dormia em um pequeno quarto separado. Havia apenas um banheiro em cima e outro no andar de baixo da casa. 

Certo dia Eliane, irmã mais nova da Helena, estudante de economia da PUC do Rio me prendeu no banheiro. O país vivia a época do movimento estudantil, antes do AI-5. Ela passou a chave pelo lado de fora de modo que eu não tinha como sair  sem ajuda dela. Dando para o apto vizinho, havia apenas um basculante emperrado, sempre aberto. 

Aí veio a chantagem: 

— Só abro a porta se você gritar três vezes e bem alto, (para que fosse ouvido pelo Duga): 

—ABAIXO A DITADURA!

Tentei negociar, mas não teve jeito. Tive que cumprir para poder sair do banheiro. Espero que o capitão não tenha ouvido.

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