ROTARY E A JUVENTUDE
Alberto Bittencourt - 2010
Entrevista
1) Qual o seu envolvimento com a juventude rotária e que boas experiências desse convívio o senhor pode compartilhar?
Durante dez anos, de 1995 a 2005, o meu Rotary Club do Recife-Boa Viagem foi padrinho de um Rotaract e de um Interact Clubs, coordenados por duas rotarianas dedicadas e atuantes, Vânia Amorim e Maria Ednice. Elas estavam sempre presentes às reuniões, atividades, eventos patrocinados por esses clubes de jovens. Dava gosto ver o entusiasmo com que os jovens planejavam e discutiam formas de ação. Incontáveis foram as realizações nesses dez anos de atividades. Os dois clubes sempre trabalhavam integrados, fosse na arrecadação de cestas básicas, fosse ajudando nas ações do clube padrinho, como por exemplo, nas carreatas para angariar donativos para vítimas de enchentes e deslizamentos de barreiras, realizadas aos domingos no bairro de Boa Viagem.
Posteriormente, como governador do Distrito 4500, ano 2004-05, trabalhei em conjunto com os clubes de jovens do Distrito 4500. Pude constatar que se tratam de verdadeiras escolas de liderança, onde líderes incontestes despontam a todo instante.
Todos são importantes, mas me marcaram especialmente os clubes do interior dos três estados, PE, PB e RN. Muitas cidades que visitamos, possuem três marcos rotários em praças públicas e locais de visibilidade, um do Rotary, outro do Rotaract e o outro do Interact, cada um posto em destaque, como se quisesse ser o mais bonito. Numa pequena cidade do interior da Paraíba, o Rotary Club tinha desaparecido há alguns anos, mas o Interact Club continuava ativo, sem perder o entusiasmo, com mais de 20 membros, mesmo sem ter clube padrinho, pois o mais próximo ficava distante cerca de cem quilômetros.
Os jovens constituem uma força de trabalho insubstituível. Nas conferências, assembléias, seminários, são quem recebem as inscrições, distribuem as pastas, organizam a mesa diretora, chegam até a servir água e café. Na minha Conferência do Centenário reservei espaços para os representantes dos Rotaract e dos Interact Clubs. Líderes dos clubes de jovens puderam apresentar ao distrito suas realizações e seus planos de ação e o fizeram com o maior desenvoltura, sem ficar nada a dever aos palestrantes mais experimentados. Nos RYLA, a participação dos clubes de jovens é fundamental.
Inesquecíveis são as ações cívico-sociais, iniciativas dos jovens, onde em praças públicas, montam oficinas de trabalho para atividades diversas com a população. São instalados postos para verificar a pressão sanguínea e fazer testes de glicemia, dar aulas de desenho, de corte e costura, de noções de higiene. Fazem oficinas de leitura, proporcionam à população corte de cabelo gratuito, e serviços como tirar identidade entre outros.
Nos hospitais constatamos a atuação de inúmeros clubes de jovens como "doutores da alegria" a divertir e brincar com adultos e crianças internadas. Palhaços, emílias, mickeys, levam o alívio e porque não dizer até um novo alento de vida aos pacientes.
O Rotarct Club de Igarassu, PE, montou um cursinho pré-vestibular onde os próprios jovens preparam alunos das escolas públicas, numa ação contínua que de vários anos, com resultados animadores.
O que mais os jovens reclamam é da ausência dos rotarianos. O diretor Hallage, disse na REGONNE- 2009 que quando um membro de um clube de jovem comparece a uma reunião rotária, em geral os rotarianos põem a mão no bolso, pensando que eles vão pedir dinheiro, mas o que eles querem é o apoio, a participação e a orientação dos clubes padrinhos, frisou o diretor.
Lamentavelmente, no meu Rotary Club, quando as duas companheiras tiveram que se afastar, não houve quem as substituísse e os dois clubes se dispersaram e desapareceram. Fazem uma falta enorme.
2) O
senhor acha que há resistência por parte de alguns clubes na admissão de
associados mais jovens ou já ouviu alguma queixa nesse sentido? Por quê?
Não acredito que exista esse
tipo de preconceito em algum clube do Brasil. Acho que a questão maior talvez seja
a falta de interesse dos rotarianos em convidar os jovens. A prova é que são
muito poucos os filhos de rotarianos que se associam a um Rotary Club. O que
existe são clubes acomodados a uma situação, o que os torna mais ou menos
fechados ao ingresso de novos sócios. Estes, na frequência são 100%, mas são
antes clubes de amigos do que de prestação de serviços.
3) O
Rotary ainda é uma idéia capaz de atrair e motivar nossos jovens?
Eu não tenho a menor dúvida
de que sim. Há exemplos de rotarianos que entraram muito cedo em Rotary. O ex-presidente
de RI, Luiz Vicente Giay, associou-se ao RC de Arrecifes, AR, aos 22 anos de
idade, embora, hoje em dia seja difícil tal acontecer.
Em geral, a falta de tempo,
por motivos profissionais, é o fator mais alegado pelos jovens para recusar um
convite ou mesmo sair de um clube.
Hoje, a idade média do quadro
social é elevada, o que torna ainda mais difícil o ingresso de sócios mais
jovens. A solução é convidá-los em grupos, onde o jovem leve seus amigos, seus
colegas de trabalho e dos tempos da faculdade. Só assim ele encontrará ambiente
para permanecer, só assim ele se sentirá à vontade para conversar sobre
assuntos de seu interesse, para propor novos projetos, tomar iniciativas.
Há um clube de Rotary do meu
distrito que adotou uma mensalidade diferenciada para que os filhos dos
rotarianos se associassem. Outro fez o mesmo com os menores de 35 anos. Mas eu
acho que o fator financeiro não é determinante. Veja o caso do RC Recife-Novas
Gerações, constituído pelos egressos dos Rotarct Clubs. A mensalidade é a mais
baixa possível. Cobre apenas os custos das per-capitas de RI e do governador.
Mesmo assim o número de sócios não consegue chegar a 20, muito embora sejam
atuantes e partícipes de todos os eventos rotários.
4)
Como vender uma experiência como o Rotary, moldado há mais de cem anos, para
uma geração que já nasceu num mundo tão diferente daquele em que Paul Harris
criou o rotarismo?
Para atrair e manter o jovem,
é preciso que eles se sintam importantes, valorizados. Um instrumento é a
internet. Criar um canal de comunicação e informação, especialmente com os
novos, enviar artigos e matérias de ações rotárias no mundo, convidá-los para
os eventos, sejam de serviço, sejam de companheirismo. Oferecer sempre alternativas
de hospedagem mais em conta, em pousadas próximas, ou nas casas dos
companheiros. Demonstrar as qualidades das informações trocadas, das
apresentações artísticas, as confraternizações e amizades daí decorrentes.
O novo sócio, jovem ou não,
quer se sentir útil. Quer sentir que pode ajudar a mudar o mundo. Quer
encontrar um canal para manifestar sua opinião, sentir-se respeitado como
cidadão.
O que falta, repito, é maior
eficiência por parte de nós mesmos, os mais antigos. Afinal, o futuro do Rotary
está em nossas mãos, do contrário, assistiremos passivamente os clubes
envelhecerem, declinarem e acabarem morrendo junto conosco.
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