COMO ANDA O QUADRO ASSOCIATIVO
DE SEU CLUBE?
Alberto Bittencourt
Para responder a esta questão, procuremos entender
primeiro o que é o quadro associativo.
Sabemos que não há limites de idade para
ingresso no Rotary. Podem
entrar pessoas jovens, maduras ou idosas. Há, porém, requisitos quanto às
características comportamentais, no que se refere à reputação, caráter e
vontade de servir.
Antes de tudo, é preciso considerar que o
quadro associativo é um extrato da classe média, tal qual ela hoje se
apresenta, com suas incoerências, suas dúvidas, seus conflitos, suas paixões.
Para traçar um esboço atual do quadro associativo,
sigamos o pensamento de um filósofo moderno, o francês André Compte-Sponville.
Ele divide a sociedade em três faixas
etárias, para as quais distingue três paixões clássicas principais:
aos vinte anos, o amor;
aos quarenta anos, a ambição;
aos sessenta anos, a avareza.
É claro que existem os jovens avarentos, e os
idosos generosos, mas esses são por ele considerados como exceção à regra
geral.
Sponville ilustra essas paixões com uma historieta:
Um
empresário pede a um funcionário para subir no telhado e fixar uma placa.
Se o
funcionário tem sessenta anos, pergunta:
_O telhado é
seguro?
O empresário
repete a pergunta a outro funcionário, esse com quarenta e cinco anos.
Ele
responde:
_Quanto vou ganhar para subir no
telhado?
Se faz
a mesma pergunta a
um jovem de
vinte e cinco anos de idade:
_Você pode
subir no telhado?
Mal termina
a frase, o jovem já está no telhado.
Existem muitos conceitos estereotipados. O
fato é que os jovens são mais difíceis de atrair, enquanto os idosos são mais
difíceis de motivar.
Para entender o quadro associativo, vamos nos
fixar inicialmente na faixa etária dos idosos.
Sponville define a avareza, característica dos idosos, como sendo a paixão de guardar
e o medo de perder.
A avareza cresce normalmente com ao avançar
da idade, diz ele, porque o medo aumenta.
Os jovens sabem que as pessoas idosas se inquietam facilmente. Estas, no
entanto, procuram apenas se preservar e, por isso, são mais conservadoras.
Vem
daí o que se convencionou chamar de conflito de gerações. Aliás, quem geralmente tem
razão são os idosos.
Com a idade, todos os males se agravam. Se um
idoso fica apenas esperando o tempo passar, vai falar só em doenças. O tema preferido são as mazelas.
Por outro lado, pessoas ativas, melhoram.
Faça chuva ou faça sol, minha amiga Nevinha, de Campina
Grande, levanta-se todos os dias às 05h00, pega o carro, vai até o açude da
cidade, onde, em marcha acelerada, dá quatro voltas, completando 5.000m. De volta
para casa, faz uma hora de hidroginástica na piscina, com uma professora, a
filha e a irmã, após o quê, toma café e parte para uma jornada de trabalho em
seu escritório de contabilidade. Nevinha tem mais de 70 anos.
Para citar alguns outros, Eudes, Antonino, Reinaldo,
o saudoso e centenário Mattinhos, são pessoas que têm a mesma coisa em comum:
eles não se identificam com essas velhas imagens estereotipadas. Eles raramente
falam da idade, mas evocam mais facilmente suas atividades, seus interesses,
seus projetos para o futuro.
O velho paradigma da velhice e da doença cedeu lugar a
uma nova consciência de que o ser humano é a única criatura na face da terra
capaz de mudar a sua biologia pelo que pensa e pelo que sente. Um surto de
depressão pode arrasar o sistema imunológico. Apaixonar-se, ao contrário, pode
fortalece-lo tremendamente. A alegria e a realização nos mantêm saudáveis e
prolongam a vida. O desespero e a desesperança aumentam a incidência de ataques
do coração e de câncer, encurtando a vida. O estresse libera um fluxo de
hormônios destruidores.
O médico psiquiatra francês, radicado nos
Estados Unidos e precocemente falecido, vítima de câncer no cérebro, David
Servan-Schriber, cita em sua obra uma pesquisa realizada na Universidade de
Yale, nos Estados Unidos, quanto à
Influência dos estereótipos culturais no
funcionamento intelectual e físico dos idosos.
Segundo a pesquisa, a professora Becca Levy, em seu laboratório, mediu a memória, o modo de andar, a coerência cardíaca de pessoas com mais de
65 anos.
Em seguida, ela mostrou na tela de um
computador, palavras que apareciam tão rapidamente que o cérebro não tinha
tempo de registrar de modo consciente. De imediato, ela repetiu os testes. Após
palavras de alto astral, como sabedoria, amizade, amor, solidariedade,
verificou que a coerência cardíaca e a
memória melhoravam nitidamente e as pessoas passavam a andar mais
rápido. Ao contrário, após palavras de declínio, como doença, queda, perda,
constatou que a memória piorava, a coerência cardíaca se degradava e eles
andavam mais lentamente.
Eis a razão pela qual devemos acolher nossos
companheiros mais idosos com um carinho especial. Um sorriso, uma palavra de
apoio, um gesto afável, um abraço, um elogio, certamente irá reacender no
coração deles a chama do verdadeiro rotariano que sempre foram. Para
entendê-los, basta se colocar no lugar deles. É este o primeiro passo para
revigorar o quadro associativo de nossos clubes. E você estará praticando um grande
bem.
Tenho presenciado em Rotary, companheiros
veteranos, serem tratados com intolerância e discriminação por outros
companheiros mais jovens, a ponto de se sentirem tão mal que acabam deixando o
clube onde, por mais de 40 anos conviveram, com participação, dedicação e
trabalho. Saem deprimidos, ressentidos, o que lhes causa tremendo mal.
Em geral, pessoas idosas são conservadoras,
têm opiniões arraigadas, são avessos a inovações, intransigentes quanto às
normas e regulamentos. Para esses companheiros, o Rotary de hoje deve ser igual
ao de trinta anos ou quarenta anos passados.
A mensagem, é que devemos compreendê-los e
tratá-los carinhosamente, reconhecendo neles a experiência e o trabalho de toda
uma vida.
Discriminá-los, nunca. Ao contrário,
chamá-los para o nosso lado, para estarem presentes, vivenciarem junto conosco
as atividades do clube, partilharem nossas alegrias e tristezas, a fim de que
se sintam úteis, prestigiados e respeitados.
Ao meu ver, esse é o primeiro passo para o
soerguimento de um Rotary Club.
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