Manutenção da Paz, Imposição da Paz e Construção da Paz
Alberto Bittencourt - 2013
Existe uma diferença entre os conceitos de Manutenção da Paz,
Imposição da Paz e Construção da Paz.
a) MANUTENSÃO DA PAZ
As Forças internacionais da Paz, das Nações Unidas, como a
Minustrah do Haiti, têm a função de manter a paz e são exercidas através
do Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil tem por tradição integrar essas forças internacionais de
paz desde a guerra do Yon Kypur, entre Israel e os países árabes, quando foi
instituída a Força da Paz de Suez. São Domingos, na América Central, e o Timor
Leste, na Ásia, foram outras nações que receberam soldados brasileiros
integrantes das Forças de Paz da ONU. Graças à atuação dessas forças, foram e
estão sendo devolvidas à Paz regiões cheias de conflitos, de tensões, sejam de
origem étnicas, políticas ou religiosas. A eficiência dessas intervenções tem
evitado que os conflitos se prolonguem no tempo e se expandam causando aumento
do sofrimento de populações civis, gerando levas de refugiados e de pessoas
desabrigadas, acomodadas em acampamentos.
b) IMPOSIÇÃO DA PAZ.
Sempre que há um conflito e uma ameaça à paz internacional, como
ocorreu na guerra da Bósnia e da Líbia, e no Oriente Médio, uma coligação de
países, muitas vezes sob liderança da ONU, exerce o seu poderio bélico para
encerrar os conflitos e impor a paz.
c)
CONSTRUÇÃO DA PAZ
Por outro lado, a Construção da Paz envolve um conceito
inteiramente diferente.
É prevenção de conflitos a longo prazo, um assunto muito mais
complexo. Às vezes, é fácil tomar atitudes bélicas para manter a paz. Para
construir a paz, nem sempre é uma decisão simples.
Os orçamentos dos países destinam bilhões de dólares para garantir
o aparato militar, sob o pretexto de Manutenção da Paz. Há toda uma
estrutura industrial bélica sob o pretexto de exercer o poder dissuasório.
Afirmam os belicistas que a manutenção do aparato bélico, da capacidade de
destruição, tem a finalidade de desencorajar as pretensões belicosas de
vizinhos, assim como a conhecida expressão: Si vis pacem, para bellum - Se
queres a Paz, prepara-te para a guerra. Com esta idéia, surgem algumas
“operações de manutenção da paz” que geram investimentos que ultrapassam US$ 2
bilhões.
Em contrapartida, não se consegue US$30 milhões para operações de Construção
da Paz. Construir a paz é empreender uma ação preventiva. Acontece, porém,
que essas ações preventivas não trazem consigo nem a glória, nem o
reconhecimento para quem as executa.
Condecoram-se os generais que vencem as batalhas, mas os realmente
importantes são os que evitam a eclosão das guerras. Só estamos acostumados com
os resultados concretos, que aparecem nos jornais e na TV, então, se nada
acontece, e é exatamente isso que desejamos, aí ninguém reconhece que o fato se
deve ao trabalho contínuo, permanente, feito nos bastidores, em pequenas
doses e muito abrangentes. É o que fazem os rotarianos no mundo inteiro.
Há um ditado sul africano, Zulu, que diz:
Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco
importantes, consegue mudanças maravilhosas.
Esses são os verdadeiros pacifistas, ou construtores da paz.
A Construção da Paz é um estado da sociedade para qual todo
cidadão contribui, a cada instante, na família, na escola, no trabalho, nos
parlamentos, nos bares. As possibilidades de paz precisam ser construídas
diariamente. A cultura da paz se constrói dia a dia, com justiça, dignidade,
igualdade e solidariedade.
Construir a Paz não significa reparar os danos, mas sim evitar que
eles se produzam. Isso só é possível com a participação da sociedade civil
nessa tarefa e que cada indivíduo se ocupe dela pessoalmente.
Para a Manutenção da Paz no Oriente Médio, foram investidos US$150
bilhões, enquanto que, para Construir a Paz no mesmo Oriente Médio, nem um
centésimo disso foi aplicado. Isto porque Construir a Paz não é um ato de
serviço, mas sim uma ação de servir, preventiva, que não traz lucros nem gera
dividendos imediatos, posto que ela é uma ação para o futuro, quase invisível e
seus efeitos só são percebidos a longo prazo.
“A Paz através do Servir”, versão brasileira do lema do presidente
Sakuji Tanaka, 2012-13, Peace Through Service, significa construir a paz. É a
prevenção, o trabalho contínuo, diuturno, de mudança das condições de vida das
pessoas, de aliviar o sofrimento dos oprimidos, dos excluídos, de diminuir as
diferenças sociais através da educação, da valorização do homem, do ensino de
comportamentos úteis, da prática indiscriminada do bem.
Segundo Paul Harris expressou no livro de sua autoria, Esta Era
Rotária, escrito em 1935: a Imposição da Paz não é um serviço, pois, sob o
pretexto da busca da paz, emprega a força, o poderio bélico e a violência. Visa
antes satisfazer aos interesses belicosos e expansionistas dos dirigentes das
nações.
A Manutenção da Paz pode ser considerada um serviço, para evitar o
retorno dos conflitos e da violência.
A Construção da Paz é o que fazem os rotarianos do mundo inteiro,
através de seus programas humanitários e educativos. É ação de servir.
Estes são meus pensamentos a respeito dos dois substantivos –
Servir e Serviço - usados nas versões, brasileira e portuguesa, do lema do
presidente Sakuji, Peace Through Service, lembrando sempre que:
O servir constitui a
essência da filosofia e do ideal do Rotary.
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