MICROCOSMO DE UM MUNDO EM PAZ
Alberto Bittencourt
O Rotary é um microcosmo de um mundo em paz, um modelo que as nações fariam bem em seguir.
Paul Harris
Por duas vezes tive oportunidade de sentir “na pele” a grande verdade dessa assertiva do fundador do Rotary, Paul Harris.
Tudo se passou no ano de 2002, durante o meu IGE - Intercâmbio de Grupos de Estudos - um programa do Rotary destinado a enviar e receber grupos de profissionais de um país a outro, num intercâmbio de um mês de duração. Naquele ano de 2002, o nosso Distrito 4500 emparceirou com o Distrito 5300, que compreende Rotary Clubs dos estados de Califórnia e Nevada, nos Estados Unidos.
A experiência foi tão rica que registrei tudo num livro intitulado: “Ajudando a Construir a Paz”.
Eu era o líder de um grupo de quatro jovens não rotarianos, profissionais da maior categoria – dois homens e duas mulheres – um auditor fiscal, Saulo Souza, de Caruaru, um cientista, farmacólogo, Isac Medeiros, de João Pessoa, uma dentista, Viviane Mergulhão, do Recife e uma professora de inglês, Márcia Ferreira, de Natal.
Durante um mês fomos recebidos pelos rotarianos americanos, acolhidos como membros de suas famílias, quando tudo nos foi dado, tudo nos foi mostrado, tudo nos foi proporcionado. Aquela gente abriu para nós, brasileiros, as portas de suas casas e de seus corações. A preocupação única era a de nos oferecer o melhor, não deixar faltar nenhum detalhe. Só quem viveu tal experiência pode fazer ideia do que seja esse programa da Fundação Rotária.
A intensa programação começava pela manhã, bem cedo e se estendia até a noite, todos os dias. Havia vários tipos de atividades, a começar pelas visitas profissionais, onde cada integrante da comitiva era levado a um ambiente dentro de sua profissão, procurando atender suas aspirações. Não eram apenas visitas técnicas, mas recebíamos verdadeiras aulas sobre métodos de trabalho, aspectos teóricos e práticos, em todos os detalhes.
Nas prefeituras fomos recebidos pelas autoridades, conhecemos os sistemas políticos e de gestão pública americanos. Visitamos os departamentos de Polícia e dos Bombeiros, fizemos exercícios do mesmo modo que eles fazem nos treinamentos. Aprendemos como eles fazem o controle do trânsito, passamos pelas obras sociais dos clubes, visitamos escolas, abrigos de idosos, centros de recuperação. Estivemos em fábricas, centros espaciais, empresas de rotarianos, sempre ganhando muitos brindes e presentes. Mas a parte turística excedeu todas as expectativas, um verdadeiro sonho. Tudo está descrito em detalhes no meu livro.
Enfim, vivenciamos um mundo de amor, de alegria, de felicidades. Eu até já havia me esquecido de todos os males e agruras que afligem o ser humano de hoje, especialmente nas grandes cidades.
Constatei que o Rotary é um microcosmo de um mundo em paz, quando nosso grupo, conduzido por dedicados companheiros americanos, se deslocava em vans refrigeradas pela rodovia que liga Los Angeles na Califórnia à Las Vegas em Nevada onde se realizaria a Conferência do Distrito 5300. A rodovia atravessa o deserto de Mojave, uma das regiões mais áridas da Terra, temperatura altíssima de dia e baixíssima de noite, um lençol de areia e sal onde outrora fora mar, a se estender por quilômetros e quilômetros até as encostas da cadeia de montanhas. Nesse deserto situam-se vários Army Centers, quarteis do Exército americano, locais de treinamento e desenvolvimento de armas. De repente, numa ferrovia paralela à estrada, deslocava-se no sentido contrário, uma composição imensa, com vagões, abertos, sobre os quais se enfileiravam tanques de guerra ou carros de combate, às centenas, aos milhares. Imediatamente deduzi que se deslocavam para o porto de Los Angeles, para dali partirem para a invasão do Afeganistão. Estávamos no mês de maio de 2002 e o atentado às torres gêmeas se dera a 11 de setembro de 2001, poucos meses antes.
Então caiu a ficha. Enquanto vivíamos num mundo de paz, de comunhão, de harmonia, de amor, lá fora, a poucos metros se descortinava um outro mundo, o da guerra, da violência, da destruição, do sofrimento. Paul Harris tinha razão: o Rotary é um microcosmo de um mundo em paz. A guerra, naquele momento, não fazia o menor sentido para nós.
Em outra ocasião, já no final de nosso mês de intercâmbio, novamente tivemos essa prova. A coordenação do programa chamou-me para uma conversa. Queriam saber de minha opinião sobre o programa e o acolhimento recebidos por nós. Queriam saber dos pontos falhos, do que deveria ser corrigido ou poderia ser melhorado, com vistas ao aprimoramento do programa para o ano seguinte, 2003.
Foi então que pasmei. Eles estavam se preparando para receber um IGE da Rússia. Queriam recebê-los da melhor forma, abrir, como o fizeram para nós, as portas de suas cidades, de suas casas, de seus corações, mostrar tudo, sem restrições. Eu custei a acreditar. Só me lembrava do período da Guerra Fria, terminada com a queda do muro de Berlim, a 09 de novembro de 1989. Naquela época, todo russo, não importando a origem, fosse da embaixada, dos consulados e empresas, ou mesmo simples turistas, era tido como espião. E todo espião é inimigo do Estado e, como tal, eram discriminados.
Agora, tudo ficou para trás. No microcosmo do Rotary não existem guerras, aqui somos todos irmãos. Vivemos num mundo de paz, amor e solidariedade.
VIVA O ROTARY!!!!
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