ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

terça-feira, 9 de outubro de 2018

SOLIDÃO E SOLITUDE




SOLIDÃO E SOLITUDE

Alberto Bittencourt




I- Solidão 

Há momentos de nossa vida, nos dias atribulados de hoje, em que nos sentimos sós, mesmo estando no meio de parentes, amigos, colegas. 

O homem do século XXI, especialmente nas grandes cidades, parece acostumando a viver numa corrida desenfreada, inclusive com a justificativa de garantir a sobrevivência, apesar de tudo o que isso acarreta de tensões, estresse, obesidade, doenças do coração e outros males. 

Em meio a toda essa agitação, o ser humano está preso às engrenagens de uma grande máquina montada em rede mundial.
Charlie Chaplin, em Tempos Modernos
Como o Carlitos dos “Tempos Modernos”, ele é arrastado pelas engrenagens dessa máquina bem lubrificada e se deixa levar como autômato.

Nas ruas, no trabalho, em casa, nos clubes, essa tensão gera a intolerância que por sua vez, tem gerado conflitos, a maioria por causas insignificantes. Os nervos à flor da pele explodem, a arrogância e a prepotência tomam o lugar da humildade, do diálogo, da razão. A convivência entre as pessoas fica mais difícil.
Não é de admirar por que o homem muitas vezes se sente só. Não há quem nunca tenha tido essa sensação de solidão. 
Mesmo nas grandes cidades, onde cruzamos com centenas de pessoas diariamente, sentimo-nos, por vezes, sós. Mesmo no meio dos colegas, amigos, parentes e familiares, mesmo nas diversões, lazeres, festas e confraternizações, mesmo nas discussões e conversas, não raro nos sentimos sós. 
Quando falamos, o essencial nunca é dito, ou pior, não conseguimos comunicar o que gostaríamos que os outros soubessem.
Eu me sinto tremendamente só, quando não dou a resposta que acho que deveria ter dado em determinado momento. Eu me sinto só, quando me calo, sem ter o que dizer, ante a prepotência e a arrogância. Eu me sinto só, quando me submeto, qual criança sendo repreendida pelo pai, ao assumir a culpa do que não fez, impotente para se defender ou reagir. Eu me sinto só, nas vezes em que concordo apenas por preguiça ou comodismo ou por medo de enfrentar.
 Às vezes penso que os outros não querem me escutar. Então eu me sinto desconfortável, sem assunto. Eu fico dentro de mim, mesmo quando estou no meio da rua. Minha imaginação constrói muros. Eu sei que eles não são reais, mas eu não tenho ânimo de transpô-los. 
Por fim, eu nem mesmo sei se a solidão é devida aos outros que não querem saber de mim, ou devida à mim mesmo que não quero saber dos outros. 
Sozinho, sei que não posso chegar à nada. 
Por isso eu sou voluntário. Estou num lugar onde posso encontrar talvez pessoas que vivem situações parecidas com a minha, para partilhar impressões, para começar projetos comuns, para nos ajudarmos mutuamente, para trocar bens e serviços, para me tornar útil e dar um sentido a minha vida. Encontrar, por outro lado, pessoas bem diferentes pode também me enriquecer. 
O convívio com os outros me dá também ocasião de avaliar as competências de saber ser, saber fazer e saber ter, dos indivíduos e dos grupos, dos projetos de estudos, de trabalho, de profissões, as chances de sucesso, de ser útil e de ser inserido e aceito no coletivo.
Finalmente, para sair da minha solidão, é preciso que eu abandone o velho e me lance na incerteza do novo. Que eu me jogue na correnteza, sem pensar que posso me afogar. Constatarei então que o corpo humano flutua e eu terminarei por saber nadar, como um peixe. 

II – Solitude



A raiz latina solitudine gerou as palavras solitude, francesa e solidão, portuguesa. Os poetas incorporaram solitude ao vernáculo camoniano. Nossos dicionários dizem que os dois vocábulos são sinônimos. Significam o estado ou condição de quem se sente ou está só. É a sensação de estar sozinho, isolado, sem ter com quem falar, mesmo no meio de outras pessoas.
Na língua inglesa, entretanto, os termos solitude e solidão encontram significados diferentes, através das expressões solitude e loneliness.

A Wikipedia, a enciclopédia livre da Internet, reconhece a diferença e a traz para o português:

"Solitude é o estado de privacidade de um pessoa, não significando, propriamente, estado de solidão. Pode representar o isolamento e a reclusão, não diretamente associados a sofrimento. Pode-se lembrar, como estado de solitude, do período em que Jesus se isolou para reflexão. Solitude é o isolamento ou reclusão voluntário, quando o indivíduo busca estar em paz consigo mesmo". 

A solitude, em sua essência, é diferente da solidão. Na solitude, a melhor companhia para qualquer indivíduo é ele mesmo. O indivíduo está só e em paz consigo mesmo, quando é capaz de fechar os olhos, mergulhar no silêncio, conectar-se consigo mesmo e se sentir completo. Isso é viver em solitude. 

Foi Einstein quem disse: "Eu penso 99 vezes, e nada descubro; deixo de pensar, mergulho num grande silêncio – e a verdade me é revelada".

As palavras de Einstein revelam que silêncio interior, meditação e solitude têm o mesmo significado. 

Estar em solitude é elevar a vibração, sintonizar a Força Criadora, expandir a consciência, orar, entrar em contato com o seu Mestre Interior, sentir-se uno e integrado com Deus e o Universo.

Estar em solitude é contemplar a natureza, ouvir os sons dos pássaros, ver o movimento das águas, sentir a carícia do vento e o cheiro da terra molhada.
Estar em solitude é sentir a vibração do amor, é se colocar no lugar do outro e entender as suas razões.
Kalyan Banerjee, Presidente do Rotary International, por ocasião da apresentação de seu lema, Conhece a si mesmo para envolver a humanidade, disse:
"Encontre sua essência, desenvolva sua força interior e, sem hesitar, siga em frente e abrace o mundo para envolver a humanidade".
Para tanto, é preciso abandonar o ego, deixar de lado as vaidades individuais e mergulhar na solitude. 







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14 comentários:

Tuca Möller disse...

Tio, me identifiquei muito com seu texto. Adotei um novo modelo de trabalho, alternando jornadas em casa e em um escritório, ora sozinha, ora acompanhada, e consegui finalmente entender porque às vezes sentia falta do contato dos colegas e outras minha própria companhia era suficiente. Saber exatamente o que estamos sentindo ajuda a encarar os momentos de solidão e curtir os de solitude. Estou feliz com a minha escolha.

Abraços, Tuca.

FRANK DEVLYN disse...

Hola Alberto:
Gracias por compartir este pensamiento.
Espero verte en Bangkok, Tailandia para nuestra convención internacional.
Un Abrazo,
Frank Devlyn
abril2012

HERMES PEREIRA DA SILVA disse...

Companheiro Gov.Alberto Bittencourt:
Boa tarde!
Sempre que leio algum assunto escrito por você, encanta-me.
Parabéns!
Parece-me que esta sensação de solidão, a medida que nossa idade vai aumentando ela também aumenta. Isto está acontecendo comigo. Quanto mais passa o tempo, maior esta sensação, maior o medo de ficar só, mais assustadora torna-se a idéia de que um dia poderei ficar limitado fisicamente e que não terei ninguém para me ajudar a carregar a cruz que Deus me destinou para carregar. Do jeito que o nosso Mundo se apresenta, a cada dia as pessoas mais distantes umas das outras, não posso imaginar que, se um dia eu precisar de uma atenção maior para viver, se terei alguém que se aproxime de mim. É uma dúvida que me acompanha. Veja que no próximo dia 03/05, se Deus quiser, completarei 73 anos de existência, felizmente ainda saudável. Mas, não ignoro, até quando?.
Sua matéria estabelece a comparação entre Solidão Solitude, mas deixa sair, e claramente o que é solidão. E desta eu tenho receio por que já a vivo, embora em pequeno grau. Já cheguei aquele ponto, por exemplo, de tentar em uma reunião de Rotary colocar aquilo que aprendi sobre ele e sentir nitidamente que não agrado, pois, imagine, nós que fomos governadores de distrito, temos, pelo menos a idéia de que sabemos um pouquinho mais sobre assuntos rotários, por isso exigimos maior disciplina de parte de alguns de nosso companheiros, o que, para eles, não faz bem. Esta atitude nos causa desagrado. Nos deixa entristecidos. Temos a sensação de que somos uma carta fora do baralho. Voltamos para casa, tristes e solitários. Isto faz muito mal.
Que você seja feliz e que continue deixando sair sua sabedoria e sua inteligência. Alguém haverá de aplaudí-lo! Você merece.
Abraços.
Hermes
RC de São Lourenço do Sul
2012,abril

TOINHO PORTELA disse...

Muito bom, amigo Alberto.
Muito bom, mesmo, seu artigo em que confronta solidão e solitude --espécies de um mesmo gênero de atitudes humanas que vêm da caverna e até hoje perpassam nossa alma, mas que se diferenciam por minúcias - se é que essas diferenças sejam, na prática da vida, assim tão sutis...
Não só mergulhei, nostálgico, naquilo que você tão bem descreveu, como me veio à cabeça, automaticamente, a música de Duke Ellington, de tantas versões maravilhosas do cancioneiro norte-americano (como a de Billie Holliday, por exemplo). Corri para pesquisar a letra, que não me lembrava de cor, e aí vai ela, embaixo deste meu (de Toinho Portela) grande abraço amigo:

Solitude
Duke Ellington

In my solitude you haunt me
With reveries of days gone by.
In my solitude you taunt me
With memories that never die.

I sit in my chair
Filled with despair
Nobody could be so sad
With gloom ev'rywhere.

I sit and I stare
I know that I'll soon go mad.
In my solitude
I'm praying:
Dear Lord above
Send back my love.

I sit and I stare
I know that I'll soon go mad.
In my solitude
I'm praying:
Dear Lord above
Send back my love.

Toinho Portela
2012,abril

FERNANDO CERQUEIRA disse...

Fernando Cerqueira
Parabéns pelo artigo Alberto.
Profunda reflexão existencialista do ser humano.
Grande abraço
Fernando
2012, abr

ESMERALDA TRINDADE disse...

Boa Noite Companheiro,
Estou aqui para lhe agradecer o artigo que me enviou e para o parabenizar pelo mesmo. Gostei demais.
As minhas mais Cordiais Saudações Rotárias.
Esmeralda Trindade
RC de Carnaxide, Portugal, D.1960
2012, abr

EDVALDO ARLÉGO disse...

Caro Companheiro.
Tenho lido desde há muito tempo textos no campo da Filosofia, Sociologia e Psicologia, até mesmo por conta de minha formação acadêmica. Mas, seu poder de síntese e de esclarecimento
sobre Solidão é por demais esclarecedor, e diria mais: Claro, Preciso e Consiso.
Por conta disso, repassei para vários de meus contatos.
Abraços, Arlégo.
RC Casa Amarela

DURVAL OLIVIERI disse...

Obrigado Amigo
Muito boa a reflexão.
Tinha me ocorrido que é, ao compartilhar pensamentos atitudes e comportamentos, que identificamos serem ou não BONS ou não bons.
Os franceses amigos fazem Rotary de um modo difrerente do que estamos acostumados - o Rotary americanizado...
La eles têm como lema
ENSEMBLE (juntos somo um só e mais forte e eficaz)
SERVIR (pensamento a ideia de...)
AGIR (ação, pois ideia apenas fica por ai no esquecimento)
IMPAKT(trasnformações...)
Obrigado
Durval D. 4550, Bahia

MARIA SALETE disse...

Belíssimo texto, Alberto! Peço permissão para publicá-lo na primeira edição do jornal da Cultura Nordestina.
Abs
Maria da Salete Rego Barros Melo
UBE - PE

ZURMA disse...

zurma grassano caldas caldas
Caro amigo,
Não me surpreende a sensibilidade e a profundidade com que você trara um assunto com divergências tâo sutís.
São essências de sabedoria que desenvolvemos através do companheirismo no mais alto estilo.
Abçs.
Zurma

LUCIA LOPES disse...

Olá Bittencourt,
Parabéns pelo oportunismo dos dois assuntos. Muita gente ignora mesmo o significado de solitude. Entretanto, eu lhe sugeriria uma espécie de dilatação da temática geral ligando esses dois estados ao processo da tecnologia que, a um embebeda e ou outro pouco espaço dá. Confesso-lhe que, estudando teologia e poder, apenas uma coisa atual e irreversível me enche de receios. Trata-se justamente dos resultados das ações dessa tecnologia que hoje administra a vida de quase todo o planeta Terra. Não abandone a temática. Todos precisam ouvir algo de alguém que pense e sinta como você. Fraternos abraços. Lúcia.

LOPES disse...

Lopes
12 abr
Caro Bittencourt
Recebi esse seu último trabalho.
Sempre senti em você uma inteligência privilegiada, mas que soube ser aproveitada com sua dedicação, desde os tempos que lhe conheci, quando frequentamos a mesma escola e o mesmo curso na AMAN - A ENGENHARIA.
Logo formado pelo IME, você pôs em prática o que aprendera e cedo suas tarefas se expandiram, fruto de seu permanente aprimoramento.
Tornou-se um empresário do ramo da construção civil, onde evidenciou-se o seu sucesso, juntamente com a Helena, sua esposa. Mas você não parou por aí, suas atividades foram se ramificando em outras labores, Rotary, por exemplo, onde assumiu os mais elevados cargos e ainda hoje é destacado nesse Clube que se dedica, sobretudo, ao bem comum.
Agora você me surpreende, de maneira agradável, com essa outra faceta que eu desconhecia.
Voltou-se para as letras e nesse mister tem mostrado que em nossa mente comporta todo tipo de atividade. O segredo, creio, é a obstinada dedicação.
Recebemos com satisfação suas obras, e Lúcia sempre faz um comentário, seja para colaborar, seja para demonstrar sua satisfação e o reconhecimento que você faz jus. Ela lê e analisa mais do que eu, e eu me deixo levar mais pela afeição que tenho pelo autor.
Só queria lhe dizer, caro amigo, que tenho muito orgulho te tê-lo como irmão de arma e amigo desde os tempos escolares.
Que você continue com esta disposição para produzir cada vez mais e sempre visando, como sempre o fez, o bem de todos.
Que Deus abençoe todos vocês.
Fraterno abraço LOPES

TOINHO PORTELA disse...

Alberto, meu sempre estimado amigo,
mais que música e letra, o conteúdo de suas palavras!
O significado do viver bem, driblando os inevitáveis zagueiros caceteiros que nos surgem em frente, ao longo desse jogo inútil que é a vida.
Sua lição de existir, para o existir. Seu carinho.
Todas essas coisas me comovem.
Me movem.
Afeto e admiração de novo,
Toinho

ELZA BORTOLETTI disse...

Oi Aberto, seu texto, muito bem escrito por sinal, foi perfeito para a minha reflexão de hoje. Eu continuo aqui executando e acreditando nas beneces do trabalho voluntário. Agora em Taubaté, SP.
Obrigada. Elza.
elzalu@uol.com.br