DELINQUÊNCIA JUVENIL
Alberto Bittencourt - maio, 2014
Everton tem seis anos. Desde que veio ao mundo, habituou-se a ficar pelas ruas. Antes, nos braços de sua mãe. Depois, por ele mesmo, a esmolar. Finge tomar conta dos carros para receber uma moedinha qualquer que, no fim do dia, leva para ajudar a matar a fome da mãe e dos irmãos, pois a sua, por hora, está controlada, graças à caridade de muitas almas passantes.
Embora tenha sido matriculado na escola, lá só compareceu no primeiro dia.
Mora na favela de Santo Amaro, num barraco insalubre, mal cheiroso, quente no verão e frio no inverno ou à noite. A mãe, quando não está bêbada pela cachaça que ingere todos os dias, está cheia de crack. Nos momentos de lucidez, também ela vai para as ruas pedir esmolas para comprar mais droga.
Everton olha para as pessoas, as que vêm de carro para estacionar e lhe dão uma moeda, como se fossem seres do outro mundo – para ele, elas pertencem realmente a um outro mundo, lá bem distante, o Mundo dos Ricos. Ao cometer pequenos furtos, aproveitando quase sempre desleixos e descuidos próprios de quem tudo tem, de quem pouco valoriza seus objetos por excesso de possuídos, em sua concepção, o garoto acha que está apenas indo buscar o que lhe é devido.
Everton não tem nenhum amor no coração. Palavras como amor ao próximo, valor humano, bondade, respeito, educação, civilidade, são palavras nunca sentidas. Até hoje só conheceu o medo, medo de apanhar da mãe, medo dos espancamentos constantes, sem pretextos. O que preenche seu espírito é o ódio. O ódio por todos, mas principalmente pelas mulheres, como a mãe que o espanca. Ele tem lá dentro um oco enorme que precisa ser preenchido, precisa ser completado. É um oco do tamanho das suas entranhas, da sua fome, da sua falta de amor. Ele tem uma idéia fixa, recuperar tudo que a vida lhe deve, por tanto ter doado aos ricos.
Everton nunca recebeu nenhuma assistência desses órgãos do governo que existem para ajudá-lo, encarregados que são de garantir o bem estar da sociedade.
Everton é quase um bicho, vive por instinto e assim, vai sobrevivendo, a duras penas, na selva de pedra e asfalto, nas calçadas e ruas, de onde olha para muros e guaritas, tais como fortalezas proibidas.
Aos quinze anos descobriu o uso da força e da violência para roubar. Aprendeu que os ricos não reagem, não resistem, vão logo entregando tudo o que têm. Everton se sente poderoso. O cidadão, sua vítima em potencial, fisica e moralmente desarmado, assustado, é um prato cheio para as mais desmedidas ambições. A omissão dasautoridades, a inércia, corrobora para respaldar esse sentimento de revolta no espírito de adolescentes como Everton e, nessa lógica, as vítimas que resistem devem ser punidas. Ele já puxou três vezes o gatilho, a arma apontada para o miserável que deu a partida no carro. Não quis ouvi-lo, então, merece morrer!
Everton é um pária, não está nas prioridades nem da Polícia, nem da Justiça.
Ele, nas ruas, sente-se rei.
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4 comentários:
Olá amigo,
Que triste realidade. Como você a relata bem.
Um grande abraco,ana e axel
É isto mesmo, Alberto. Impunidade é a palavra.
Certa época dirigi uma casa para criança carentes dos 5a aos 18anos. Com 3 refeições diárias, escola e curso profissionalizante.
Havia uma menina linda com 5 anos mas, a mãe não a deixou permanecer pois ela tinha que sair apos o almoço para ajuda-la a pedir no sinal.
Não era permitido sair antes das 17h. Durante 6 meses esperamos, conversando e permitindo o que ela queria na tentativa de tentar sensibilizar a genitora e nada.
Com muita pena da criança, tivemos que dispensa-la.
Assim, NÃO a esmola na rua!
Certamente deve ter se tornado mais uma criança perdida. Pena!
Estimado companheiro Alberto,
Seu texto, além de belo, é um chamamento à nossa consciência. Precisamos espalhar mais amor, bondade, paz, começando por tratar dignamente os que trabalham, pagando-lhes salários dignos, despertando-os para buscarem a realização de seus sonhos de uma vida digna e amorosa. Já não foi dito que é preciso educar a criança para não precisar punir o homem?
Lívia Monteiro
Obrigado companheiro Alberto pelos bons textos
Enriquece nossa campana distrital nas escolas:
Companheirismo Sim, Violencia e Drogas Nao.
Rotay Vale a Pena e o Mundo Precisa de Nos
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