LUTA DE CLASSES - EXISTE NO BRASIL?
Alberto Bittencourt
Um certo amigo, estando em campanha para deputado estadual, pediu-me para visitar um canteiro de obras da minha empresa construtora. Queria falar aos trabalhadores, dar sua mensagem, dizer-lhes do seu propósito e de suas razões, pedir votos.
No dia marcado, cartazes do candidato foram previamente afixados nas paredes. Distribuí santinhos, folhetos e camisetas aos operários, em número aproximado de 120.
Num palanque improvisado meu amigo fez o discurso. Iniciou dizendo os motivos pelos quais estava ali, porque pretendia o voto dos operários. Falou que queria defender o povo. Sua missão era trabalhar pelos pobres, representar os trabalhadores, pugnar pela justiça social e distribuição de renda.
Expressava-se dessa maneira:
_ Quero o seu voto, não para defender esta empresa nem o dr. Alberto, que eles não precisam. Peço o seu voto para defender vocês, trabalhadores, porque vocês é que têm necessidade. Se eu for eleito lutarei pela melhoria de suas vidas, de suas famílias, por melhores condições de trabalho. Não pretendo defender o dr. Alberto, pois ele não precisa. Minha atuação será sempre voltada para o bem de vocês...
Nesse instante pediu licença um pedreiro, quase anônimo, desses que constantemente vão e voltam, entram no início da obra e saem no fim dos serviços. Constituem aquele núcleo base de trabalhadores que, pela fidelidade, pela presença, pelo trabalho, formam o patrimônio humano da empresa. Disse com espontânea simplicidade:
_ Dr, nós não precisamos que o sr. nos defenda. Nós queremos é que o sr. defenda o dr. Alberto porque se ele estiver bem, nós estaremos bem. Se o nosso patrão for mal, todos nós iremos mal. Portanto, dirija seu trabalho para que ele continue bem e nós estaremos garantidos.
O político foi pego de surpresa. Na demagogia de seu discurso, não soube responder. Ficou desarmado, chegou a gaguejar.
O ocorrido levou-me a considerar que o futuro do Brasil depende das empresas. São elas que garantem empregos, impostos, distribuição de renda, o fluxo da economia.
Na dialética marxista da luta de classes entre capital e trabalho, os interesses podem ser conflitantes. O empregado visa salário, o empregador visa lucro. Mas quando existem objetivos comuns de produção e garantia de emprego, o convívio harmônico é a solução. Todos só têm a ganhar.
O ramo da construção civil é uma atividade de alto risco. Absorve mão de obra em escala. Construir casas ou prédios no Brasil ainda é sobremaneira artesanal. Quarenta por cento do custo é mão de obra e encargos. Uma obra de cinco milhões gera mais de duzentos empregos diretos.
Já no ramo de serviços, principalmente financeiros, apenas cinco por cento do custo é representado por mão de obra e encargos. Uma enorme diferença.
Certa vez um colaborador me pediu ajuda para se livrar de um agiota. Fora obrigado a tomar emprestada certa quantia a juros de 10% ao mês, para concertar e evitar o desmoronamento do barraco. O agiota ameaçava a sua família e o operário estava com medo, por não ter como pagar. Ao resolver o problema, pensei cá comigo:
_ Pago 15% de juros ao mês toda vez que uso o cheque especial ou quando parcelo o saldo devedor de meu cartão de crédito. É o império da agiotagem oficial que transfere renda da classe média para os banqueiros.
O hipercapitalista americano Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, disse:
“A luta de classes existe, mas é, com efeito a minha. A classe dos ricos é quem conduz essa luta e nós a estamos ganhando.”
Ele está acostumado a ganhar dinheiro no papel, construindo pirâmides financeiras lastreadas em títulos de dívidas.
Tem toda razão Warren Buffett. Os ricos enriquecem nas costas dos pobres. Isso explica a situação precária das novas gerações no Brasil. Há mais de 1,2 milhão de jovens de 18 a 24 anos em total ociosidade, sem nenhuma perspectiva de futuro. Não trabalham, não estudam, não produzem, segundo a recém publicada Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.
Recentemente abriram concurso federal para procurador do Trabalho. Salário inicial superior a R$ 21.000,00. Na mesma época abriram outro concurso, também federal para engenheiro do DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes. Salário inicial: R$ 4.500,00. Na luta de classes, a dos advogados está vencendo por muitos corpos de vantagem.
Após mais de 30 anos como empresário da construção civil, tenho a firme convicção de que a classe dos trabalhadores estará bem na medida em que as empresas empregadoras estiverem bem. Esta é a verdadeira luta de classes em que acredito.
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