ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

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ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

terça-feira, 27 de outubro de 2009

CILINHO



ONTEM, domingo fiz, com Helena, uma visita a um velho amigo, coronel da reserva do Exército, arma de Engenharia. Chamá-lo-ei de Cilinho e à esposa Selma. Ambos nos receberam com a maior alegria. Cilinho tem 75 anos de idade, mas não aparenta. Selma deve ter um pouco menos. Moram num confortável apartamento perto da minha casa. Oficial do Exército, aspirante a oficial da turma de 1956, a famosa turma Havaí, cuja sigla, “Estamos aí!”, lembro-me bem, era sempre pronunciada pelos capitães, nos idos de 1968, ao adentrarem todas as manhãs no cassino de oficiais da AMAN. A vida de Cilinho daria um bom livro de aventuras. Tanto que eu me propus a escrever a sua biografia, como parte de meu projeto de “personal biographer”.

Cilinho pouco sai de casa. Passa o dia a ouvir a radio CBN. Não pode ler, apenas ouvir noticiários e jogos de futebol, torcedor fanático do Flamengo. Perdeu mais de 95% da visão, conseqüência de um distúrbio neurológico que destruiu os canais lacrimais e foi degenerando até beirar a cegueira total. A mente contudo, continua lúcida, perfeita. A voz e os movimentos inteiramente normais. Cilinho preocupa-se em afastar o mal de Alzheimer. Pratica de cabeça exercícios matemáticos e treina memorização. Caminha diariamente no sítio da Trindade, faz musculação com halteres. Ficou animado com a idéia de escrever a memória. Disse que tem muita coisa a contar.

Aparentemente seu astral é elevado. Não notei o mínimo sinal de depressão. Fala com ânimo e esperança na possibilidade de um transplante de córnea. É de admirar a vontade desse coronel, sempre jovial e alegre, como nos velhos tempos em que dominava a bola e furava gols nas quadras de futebol de salão dos quarteis.

Ele mora em apartamento alugado. Disse que não tem mais nada. Perdeu tudo com a falência do colégio que construiu, um educandário de excelente conceito na cidade, que preparava alunos para o ITA e sempre obtinha as melhores posições nos exames vestibulares. Segundo ele, o legado do colégio foram dívidas, principalmente trabalhistas, cujos processos ainda tramitam na Justiça.

Quantos colégios particulares, de tradição e qualidade, fecharam as portas em conseqüência de uma legislação, demagógica e injusta, que vigorou por anos no país. Provocou a quebra de inúmeros educandários de renome, com histórico de comprometimento com o ensino.

O testemunho de Cilinho é contundente:
"Por força da lei, o aluno, mesmo inadimplente, não podia ser posto para fora antes do término do ano letivo. Resultado, o pai fazia a matrícula e deixava de pagar o ano todo. Dizia: - Eu sei que não é correto, que não é justo, mas é o meu direito. Está na lei."

E o colégio tinha que fazer às vezes de Estado: arcar com ensino gratuito para os alunos inadimplentes, cujos pais se viciaram na prática de mudar de colégio de ano em ano. A situação era agravada pela atuação do sindicato dos professores, super eficiente na cobrança dos direitos, sem contudo, pensar na contrapartida dos deveres, nivelando a todos por baixo. Isso tudo, aliado aos impostos escorchantes e a uma legislação trabalhista tendenciosa, inviabilizou a maioria dos colégios particulares.

Felizmente aprovaram recentemente uma mudança na lei, pela qual após três meses de inadimplência, o aluno pode ser desligado no meio e no fim do ano. Já é alguma coisa, em prol da qualidade no ensino.


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