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FRAGMENTOS DE MEU DIÁRIO
Recife, 6 de janeiro de 2015.
EM CARUARU
Estamos em Caruaru. Eu, Helena, Simone, Gabriela e Rafael. Cauã, Rafinha e Bruna vieram antes, com Millena e Bruno. Viemos conhecer a casa "nova" do Bruno, um próprio residencial do DNIT, que ele recebeu após a aposentadoria do Dr. Luiz, chefe da UL Caruaru. Nessa casa, ele morou mais de 20 anos. Aí os filhos cresceram e se educaram. Agora, aposentado, volta a morar no Recife.
Bruno, da nova geração de engenheiros, assumiu a chefia da UL (unidade local) e com direito a essa moradia. A casa é o reflexo do que acontece com a maioria de imóveis pertencentes ao Patrimônio da União, entregue a órgãos que, completamente sem verbas destinadas a conservação desses imóveis, acabam sucateadas pelo uso e pelo tempo. Uma lástima! Construída no inicio dos anos 50, foi adquirida pelo antigo DNER, no tempo do Presidente Juscelino, quando começou o "boom" rodoviário no país. O DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem era um órgão prestigiado. Seus engenheiros tinham autonomia, trabalhavam e produziam verdadeiramente, segundo a política desenvolvimentista da época, conforme os slogans do presidente JK: "Governar é construir estradas"– "50 anos de progresso em 5". Ele sim, um verdadeiro líder que acabou colidindo com os rumos tomados pelos governos militares, após 1964.
Essa casa, em estilo modernista dos anos 50, muito bem planejada, com todas as novas exigências da época, requisitos e distribuição advindos da escola de Le Corbusier. É ampla, térrea, com área social contendo: hall de entrada, sala com ambientes de estar e jantar isolados por porta da parte íntima, constituída de cinco quartos sociais, sendo dois deles suítes, uma sala íntima de TV e jogos, uma ampla copa-cozinha e área de serviço completa, além de uma ampla garagem e rodeada por jardins. Deve ter quase 500 m2, num terreno de esquina, bem no coração do centro comercial da cidade, junto à bancos, colégios, supermercados, lojas e escritórios.
Como tudo o que acontece nesse país, deixaram esse patrimônio da União se deteriorar. Não por culpa do órgão, mas por culpa da falta de políticas públicas que preservem nossos bens materiais e imateriais, públicos que fazem nossa história e nossas riquezas. Essa construção atravessou anos sem nenhuma manutenção, as instalações elétricas, hoje encontram-se totalmente arcaicas, sub dime nsionadas, oferecendo sérios riscos aos usuários, inclusive o de provocar incêndio. Vejam o absurdo, há somente 3 circuitos para toda a parte elétrica! O que acarreta existir ar condicionados e chuveiros usando o mesmo circuito, com um único disjuntor e fiação abaixo da bitola necessária e com fis antigos, sem capeamento.
O mesmo se dá com a instalação hidráulica, uma calamidade! Tubos de ferro, com bitola estreita, completamente enferrujados e entupidos. E nem se fale no escoamento sanitário, feito em manilhas antigas de barro que, pelo uso e pelo tempo, afundaram e hoje provocam afundamento de alguns pisos, o que exala um mau cheiro insuportável nos banheiros.
Bruno vai fazer um orçamento e tentará conseguir verba para uma ligeira reforma e conservação do imóvel, nada mais justo. Acreditem, nesta semana, dois escorpiões foram encontrados nos banheiros e muitas baratas. Graças a Deus, Bruno conseguiu afastar essa ameaça fazendo dedetização no imóvel. Considerando as somas astronômicas que o governo gasta na conservação dos imóveis funcionais de Deputados e Senadores, Ministros e agregados, em Brasília, para uso de políticos, nada mais justo que invista também nos demais imóveis patrimoniais, que correm o risco de se acabarem.
Só desejamos que Bruno, Mill e as crianças sejam muito felizes aqui e que Deus os abençoe.
MINHA INFÂNCIA NO SUL
Revivi lembranças do tempo de minha infância, essa casa me faz lembrar a minha própria história de vida. Desde que me entendo, morei em mutos Próprios Residenciais, assim chamados na linguagem oficial. Foram Vilas Militares são numerosas no Exército, pois oficiais são constantemente movimentados de uma cidade para outra, geralmente a cada dois ou três anos. Meu pai, oficial do Exército, recebia imóveis para morar com minha mãe e meus irmãos e aí sempre fomos muito felizes. Foram períodos inesquecíveis! Dos 3 aos 6 anos de idade, lembro-me de Bento Gonçalves, quando meu pai serviu no 1º Batalhão Ferroviário, de 1945 a 1948, encarregado da construção do TPS – Tronco Principal Sul.
Depois de um certo período no Rio, fomos para Rio Negro, no Paraná, onde o rio Negro fazia fronteira com o Estado de Santa Catarina. Separadas pelo rio, do outro lado ficava a cidade de Mafra, onde costumávamos ir à pé, aos domingos, comer uma deliciosa kuka, um delicioso bolo ou pão de banana e canela, uma receita alemã. Lá morei dos 6 aos 9 anos, de 1948 a 1951. As casas da Vila eram de madeira, térreas, todas bem conservadas e confortáveis. As paredes duplas, tinham enchimento de material isolante, para fazer frente ao frio intenso do inverno. Meu pai era chefe do escritório técnico do 2º Batalhão Ferroviário – o Batalhão Mauá. Minha mãe, nos criava com liberdade, só possível numa cidade pequena, mesmo naqueles tempos. Ruas de terra, poucos carros, pouca gente. Nas Vilas Militares as famílias eram unidas e se apoiavam mutuamente. Era uma questão de necessidade, pois estavam bem longe dos parentes. Amizades verdadeiras surgiram nessas Vilas.
Daí, mudamo-nos para o Rio, onde meu pai faleceu precocemente em 1954, aos 41 anos de idade.
VIDA ERRANTE DE MILICO
Eu também, como oficial do Exército, morei na Vila Militar de Resende, na AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras, em referência aos picos da Serra de Itatiaia. A experiência se repetiu, fomos felizes, nasceram nossas filhas e fizemos muitos amigos. De lá, nos mudamos para a Praia Vermelha, quando cursei o IME. Saímos do Rio, após minha formatura, para servir na CRO-7, Comissão Regional de Obras, na 7ª Região Militar, sediada em Recife, quando tornamos a morar em Próprio Residencial, desta vez em apartamento, na Av. Agamenon Magalhães, no Edifício Vidal de Negreiros.
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