“Virá alguma coisa boa de Chicago?
Quando
algum de nós menciona as origens do movimento rotário, sempre se reporta à
violência da cidade de Chicago no ano de 1905, onde Paul Harris se sentia
isolado, em meio à turbulência geral.
No capítulo intitulado “Virá alguma coisa boa de Chicago?”, do livro "Esta Era Rotária" (This Rotarian Age), escrito por Paul Harris em 1935, ele transmite com precisão uma visão panorâmica da cidade de Chicago, do fim do século dezenove e início do vinte.
Embora a máfia somente tivesse se organizado em Chicago a partir de 1910 e Al Capone tivesse imposto sua hegemonia entre 1925 e 1932, período da vigência da lei seca americana, (1920 a 1933), a degradação era de tal ordem, a inversão valores e dos costumes sociais era
tamanha, que nada de bom podia se esperar vindo daquela cidade, já no ano de 1905.
Vale
a pena a ler e comparar com as megalópolis de hoje.
Transcrevemos
a seguir, alguns trechos:
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“Chicago,
após a guerra civil tornou-se um centro de grande progresso”.
“Homens
fortes e resolutos de caráter diversos, reunidos no impulso comum de se
enriquecer, dificilmente poderiam viver em
paz.”
“O
jogo desenfreado, as casas de tolerância e as tavernas foram os primeiros
vícios. O crime e a corrupção política, chegaram antes mesmo da lei seca. As
casas de bebida predominavam. Chicago era uma cidade anti-higiênica e
desmantelada. Sem esgotos suficientes, os odores fétidos se espalhavam. O rio
Chicago, lânguido e preguiçoso, recebia os esgotos, e os restos do matadouro,
para lançá-los no lago, de onde a cidade recebia água-potável. Esse rio tortuoso e mal
cheiroso em certas ocasiões incendiava-se com as pontas de cigarro que eram
lançadas à sua superfície gordurosa. As impurezas lançadas no lago eram
suficientes para poluir a água potável causando epidemias freqüentes de febre
tifóide.”
“Lutavam
para conservar as posses aqueles que ainda as tinham e os que nada tinham
lutavam a fim de obter o necessário para viver. Os aluguéis se atrasavam; os
varejistas não pagavam suas dívidas, obrigando, deste modo, os atacadistas a
faltarem com seus compromissos para com os manufatureiros.
Os
tribunais abarrotavam-se de ações de apropriações indébitas, manutenções de posses,
embargos, hipotecas vencidas, desembargos e arrestos."
“Chicago
jamais poderá esquecer os dias posteriores à sua primeira Exposição Mundial. O
espetáculo das portas fechadas dos hotéis, das pensões e das casas comerciais,
bem como os anúncios numerosos de “Aluga-se” causavam uma impressão desolada”.
“O
desemprego aumentou ao máximo. Ao término do século XIXX havia milhares de
mendigos e a miséria era abundante”.
“Os
famintos precisavam comer, mas era necessário também que trabalhassem, porque a
ociosidade gera todos os vícios”. “Os temporais de neve eram bem vindos, pois
forneciam ocupações temporárias aos rejeitados e extraviados.”
“Abriram-se
cozinhas para fornecimento de sopa aos famintos. Nas noites de inverno rigoroso
eram abrigados na prefeitura milhares de homens, mulheres e crianças. A cadeia
achava-se abarrotada daqueles que, para obterem abrigo, cometiam delitos
propositadamente. Conseguir entrada na cadeia era mais difícil do que obter
saída. Sentia-se feliz quem tivesse ordem de prisão decretada por seis meses.
Nesta reversão aos costumes primitivos, os comerciantes até então criteriosos,
abandonavam seus padrões de ética. O grito de solidariedade “servir acima de
tudo” transformou-se em “Defenda-se quem puder”. Não havia organização que
fosse capaz de enfrentar a corrupção vigente, senão a força espiritual do povo
expressa na respeitável máxima da cidade de Chicago – EU VENCEREI”.
“Os
dizeres “Virá alguma coisa boa de Chicago? lançado pelos céticos,
procuravam atingir o Rotary:
Rotary
poderia de fato ter vindo à luz sob céus mais auspiciosos, num clima mais
uniforme, numa cidade de maior harmonia. Mas, insistem seus amigos, não haveria
pátria natal mais favorável para um movimento como o Rotary do que a paradoxal
Chicago, onde se lutava sem tréguas em prol da retidão cívica”.
“Prevaleciam
em outras partes os males que afligiam Chicago na primeira quadra do século
vinte. Os negócios em geral não corriam bem. Com relação aos consumidores, aos
concorrentes e aos empregados, a prática não estava de acordo com os princípios
elevados da ética. Aplicava-se ao consumidor da doutrina “caveat emptor” (o
comprador que se defenda).
A
má vontade e a desconfiança do concorrente eram intensas e destrutivas.
Prejudicar
um concorrente era prática geral. À doutrina “o comprador que se defenda”, poderia
acrescentar-se: ”abaixo o concorrente!”
“As
companhias de transporte fluvial foram suplantadas pelas estradas de ferro que
reduziram os preços abaixo dos custos, voltando porém às tarifas habituais
quando alcançavam o alvo de destruir os concorrentes”.
Na
diretoria das estradas de ferro prevaleciam o desprezo pelos direitos do povo,
expresso nos dizeres dos magnatas ferroviários: _“abaixo o público!”
Naqueles
dias de opressão os empregados eram mal remunerados. Não passavam de um
acessório para ser aproveitado ou descartado ao capricho do patrão.
O
espírito de comunidade foi levado pela maré vazante.
Os
milionários, não tendo objetivos altruístas, deixavam suas fortunas aos filhos
que não estando habilitados a manter as responsabilidades relativas ao patrimônio,
não tiravam dele nenhum proveito, nem beneficiavam as comunidades em que viviam. Esbanjavam
a riqueza com vinho, mulheres e jogo.
Para
o moço americano do século dezenove havia pouco a escolher: ou era o comércio
ou a destruição. Os jovens ricos abriam os caminhos para a perdição.
Não
existiam os programas que atualmente temos em benefício dos jovens e os pais
negociantes, negligenciavam quanto ao ensino dos filhos. A idéia popular era
que a disciplina doméstica era de responsabilidade das mães, exceto quando a
força física fosse necessária. A palavra Mãe possuía um sentido profundo e
precioso e a palavra Pai muitas vezes sugeria tirania e abuso injusto.
O
dinheiro que facilitava aos chefes de indústria lançarem seus filhos pelo
declive da perdição, foi arrancado de duas classes: do consumidor e do
empregado, nenhuma das quais tinha organização, nem se achava preparada para
defender os seus direitos.
No
entanto, os comerciantes sem escrúpulo, os politiqueiros corruptos, os gerentes
das casas de jogo, de casas de bebida e das tavernas, começavam a provocar
reações de todas as partes.
A
história de Chicago é mais do que uma história de crime e corrupção, é a
história das vidas de homens e mulheres resolutos e inspirados pela fé:
Confrontando
todas as ações más que de Chicago têm sido anunciadas para o mundo, há centenas
de outras boas ações, reconhecidas e sem arautos. Como as águas de um rio que
se encrespam ao vento, em ondas leves, assim o crime e a corrupção fazem
distúrbios na vida de Chicago. A grande correnteza, porém, continua forte e
tranqüila”.
“Rotary
não terá motivos de se envergonhar da cidade de sua origem. Foi precedido por
uma linhagem ilustre de movimentos patrióticos e idealistas, sustentados, com
entusiasmo e resolução; não poderia haver ocasião mais oportuna do que o começo
do século vinte para início de um movimento como o do Rotary, nem poderia haver
cidade melhor aparelhada do que a forte, agressiva e paradoxal Chicago, na qual
ele se nutrisse e recebesse sentido e direção.
Que
o espírito de Chicago expresso pelo lema “EU VENCEREI” responda, com as
palavras de Daniel Burnham, arquiteto da Primeira Exposição Mundial de Chicago
e projetista da bela cidade de Chicago:
“Não
faças pequenos planos; eles não possuem a magia para revolucionar o sangue dos
homens e, provavelmente não se realizarão. Faças grandes planos; coloques alvo
elevado, na esperança e no trabalho, lembrando-te de que um ideal nobre que
seja lógico, uma vez registrado, não morrerá; porém muito depois quando
deixarmos de existir, será imortal, confirmando-se com intensidade sempre
crescente. Lembra-te de que as gerações futuras farão coisas maravilhosas. Seja
o teu lema a ordem e o teu fanal a beleza.”
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Podemos
imaginar a resposta à pergunta “Virá alguma coisa boa de Chicago?”. Ela pula
das entrelinhas, ressalta à nossa vista, clara e límpida, ressoa aos nossos
ouvidos como uma premonição sentida por Paul Harris em 1905, quando reuniu seus
três amigos e fundou o Rotary:
_“Virá alguma coisa boa de Chicago?”
_ SIM, VIRÁ. VIRÁ UM MOVIMENTO QUE MUDARÁ A VIDA DE
MUITA GENTE.
_COMEÇARÁ COMO UMA PEQUENA CÉLULA, CRESCERÁ, SE
MULTIPLICARÁ EM
MILHARES DE OUTRAS , SE ESPALHARÁ PELO MUNDO. SUA MISSÃO É
LUTAR PELA ÉTICA, PROPAGAR A PAZ, FAZER O BEM, DEFENDER A NATUREZA. SEU NOME É
ROTARY, SUA FORÇA SÃO OS ROTARIANOS, SEU ALVO É A HUMANIDADE.
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